quarta-feira, março 28, 2012

A cachoeira de Demóstenes Torres - ELIO GASPARI

O GLOBO - 28/03/12


Demóstenes Torres, ex-líder do Dem no Senado, foi delegado de Polícia, promotor e secretário de Segurança de Goiás. Fosse um frade, seria possível dizer que se aproximou do contraventor Carlinhos Cachoeira por amor ao próximo. No ano passado, aceitou um fogão e uma geladeira (importados) de presente de casamento. Vá lá que, pela sua etiqueta, "a boa educação recomenda não perguntar o preço nem recusá-los". Em 2009, Demóstenes recebeu de Cachoeira um aparelho Nextel, habilitado nos Estados Unidos, e utilizava-o para conversar com o amigo, sem medo de grampos. Segundo um relatório da Polícia Federal, as chamadas contam-se às centenas. Isso e mais um pedido de R$ 3 mil para quitar uma conta de táxi aéreo. Geladeira e fogão são utensílios domésticos. Rádios com misturador de voz para preservar conversas com um contraventor, cujas traficâncias haviam derrubado, em 2004, o subchefe da assessoria parlamentar da Casa Civil da Presidência da República, são outra coisa.

Em 2008 (e não em 2009, como o signatário informou no domingo), o senador foi personagem da denúncia de um grampo onde teriam capturado uma conversa sua com o então presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. A acusação custou o cargo ao diretor da Agência Brasileira de Informações, delegado Paulo Lacerda. Mendes, cuja enteada é hoje funcionária do gabinete do senador, disse na ocasião que o país vivia "um quadro preocupante de crise institucional".

As investigações da Polícia Federal em torno das atividades de Carlinhos Cachoeira haviam começado em 2006. Uma sindicância da Abin e outra da PF não conseguiram chegar à origem do grampo, cujo áudio jamais apareceu. Gilmar Mendes disse, posteriormente, que, "se a história não era verdadeira, era extremamente verossímil".

O futuro do senador Demóstenes está pendurado na distância que separa o verdadeiro do verossímil. O verdadeiro só aparecerá quando ele e a patuleia tiverem acesso a toda a documentação reunida pela Polícia Federal. Nesse sentido, não é saudável que seja submetido à tortura dos vazamentos administrados. (Paulo Lacerda foi detonado por um deles e não se descobriu quem o administrou.) Se o negócio é verossimilhança, o senador está frito.

Patrulha e censura

Diga qual foi a publicação onde aconteceu isso:

Tendo publicado em seu site uma resenha favorável a um livro, ela foi denunciada pela direção de um partido político e daí resultaram os seguintes acontecimentos:

1) A resenha foi expurgada.

2) O autor do texto foi dispensado.

3) Semanas depois, o editor da revista foi demitido.

Isso aconteceu na revista História, o livro resenhado foi "A Privataria Tucana", a denúncia partiu do doutor Sérgio Guerra, presidente do PSDB, o jornalista dispensado foi Celso de Castro Barbosa e o editor demitido foi o historiador Luciano Figueiredo.

Em nove anos de poder, não há registro de que o comissariado petista, com suas teorias de intervenção na imprensa, tenha conseguido desempenho semelhante.

A revista é editada pela Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional, que pouco tem a ver com a administração da veneranda instituição. No episódio, sua suposta amizade ofendeu a ideia de pluralidade essencial às bibliotecas.

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