quinta-feira, março 15, 2012
Batalha pelas terras raras - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 15/03/12
Uma batalha planetária foi deflagrada às margens do lago Lemano, na tranquila cidade de Genebra. Quem são os adversários? De um lado, a China. Diante dela, três campeões: Europa (UE), Estados Unidos e Japão.
E o que está em jogo? O gálio, o germânio, a fluorita, o índio e alguns outros minérios cujo nome não é muito fácil lembrar, mas que compõem a família das terras raras, as terras que hoje constituem objeto de um litígio.
E para regular o comércio destas terras raras a Europa, os EUA e o Japão protestam agora na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a China, ou seja, contra o primeiro e praticamente o único país produtor.
Mas por que esta explosão de paixões e de interesses a respeito de minérios que poucas pessoas conhecem e cujos nomes são no mínimo bastante esquisitos? Ocorre que estas terras raras são indispensáveis às indústrias de ponta. Sem elas, não haveria smartphones, nem celulares, trens que andam a mais de 500 quilômetros horários, nem veículos híbridos, fazendas eólicas, lâmpadas fluorescentes. A China produz sozinha 97% das terras raras mundiais. Consequentemente, se ela suspendesse as exportações de terras raras, toda a indústria de ponta do mundo ficaria estrangulada.
Torneira. Felizmente, a China é um membro da OMC. Portanto, não tem o direito de fechar a torneira das terras raras. Por outro lado, ela se deu a liberdade de estabelecer cotas de exportação. E as justifica da seguinte maneira: a extração, e principalmente o refino, das terras raras são extremamente poluentes. A China se recusa a destruir seu meio ambiente "pelos belos olhos" da indústria japonesa ou americana. Este argumento ecológico é até convincente. No entanto, é enganoso. Todo mundo sabe que se a China quiser reduzir as vendas de terras raras, será com a finalidade de criar uma indústria própria de ponta, integrada, contra a qual país nenhum poderá lutar.
O paradoxo é que as terras raras não são absolutamente raras. Elas podem ser encontradas nos cinco continentes. A China, que produz 97% delas, possui apenas 35% das reservas mundiais; os Estados Unidos 10%, a Rússia 15%, a Austrália 5%. Mas sua exploração é muito complicada, muito cara e muito poluente.
Antes de 1980, os EUA forneciam terras raras à metade do planeta. Mas, por volta de 1990, a China entrou no circuito, e começou a explorar suas próprias terras raras. Graças a uma mão de obra inesgotável e muito mal paga, conseguiu produzir a preços tão baixos que a maior parte das outras explorações, fora da China, teve de fechar as portas, até deixar a Pequim praticamente o monopólio destes minérios.
Hoje, a China se beneficia dele - por um lado aumentando ferozmente o preço, por outro, limitando suas exportações. Um país como o Japão, desprovido de terras raras, mas dotado de uma enorme indústria high tech seria ameaçado se a China restringisse exageradamente suas exportações.
É este o motivo das reclamações que Europa, Japão e EUA apresentam à OMC. Entretanto, em Genebra as perspectivas são bastante pessimistas.
Um diplomata americano na Suíça teme que as reclamações não cheguem a resultado algum, porque os argumentos são frágeis. Do lado americano, a ação parece ser motivada principalmente por razões políticas. Do outro lado, o argumento ecológico apresentado pela China, ainda que oportunista, não deixa de ter certa força. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA
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