quinta-feira, março 22, 2012
Armas e influência - KENNETH MAXWELL
FOLHA DE SP - 22/03/12
Em breve, o Brasil decidirá sobre os caças que reequiparão sua Força Aérea. A decisão foi adiada pela presidente Dilma Rousseff no ano passado.
Os concorrentes são o Dassault Rafale, da França, o Boeing F-18 Super Hornet, dos EUA, e o Saab Gripen, da Suécia. Os três países recorreram a lobistas bem conectados.
O pedido inicial será de 36 aviões. Em outubro, a Boeing indicou Donna Hrinak, ex-embaixadora norte-americana em Brasília, como sua representante no Brasil. O ex-presidente Lula, ao que se sabe, favorece os franceses. O premiê sueco visitou Brasília.
A Índia recentemente fez do Rafale sua escolha. A Força Aérea Brasileira, em dado momento, parecia preferir o Gripen sueco. Os EUA prometeram não vetar a transferência de tecnologia. Mas a decisão da força aérea norte-americana de cancelar o contrato de US$ 335 milhões para a aquisição de 20 turboélices leves de ataque Super Tucano reforçou a percepção de que os EUA não são um parceiro confiável.
Integrantes da liderança militar e política brasileira suspeitam dos EUA. Celso Amorim, ministro da Defesa do governo Dilma, e Marco Aurélio Garcia, assessor de política externa do Palácio do Planalto, provavelmente compartilham dessa opinião. Diz-se que Dilma favorece a Boeing.
O Brasil tem potencial para tornar-se participante importante no mercado de defesa. As mais recentes estatísticas do Instituto Internacional de Estudos da Paz, em Estocolmo (Suécia), reportam que os gastos brasileiros com a defesa foram de US$ 28 bilhões em 2011, ou 1,6% do PIB.
Os gastos indianos com a defesa foram de US$ 34 bilhões. O instituto reporta que as transferências de armas convencionais entre 2007 e 2011 foram 23% mais altas que no período 2002-2006.
A América Latina responde por apenas 11% do comércio internacional de armas, a menor proporção entre as regiões mundiais. Mas a importação de armas pela América do Sul cresceu em 77%, com Chile e Venezuela respondendo por 61% do total. As importações venezuelanas de armas subiram em 555% entre 2002 e 2011, e a Venezuela conta com uma linha de crédito de US$ 4 bilhões na Rússia para futuras compras de armas.
O Brasil já elevou suas importações de armas. Um contrato com a França envolve submarinos e helicópteros, e a Marinha encomendou ao Reino Unido barcos para patrulha marítima. A decisão sobre os caças é parte desse processo de modernização.
As Forças Armadas brasileiras ainda não pagaram pelos crimes cometidos durante a ditadura militar. Se o Brasil resolvesse esse problema, ajudaria a definir um papel novo e vital para as Forças Armadas no futuro do país.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Nenhum comentário:
Postar um comentário