quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Visão do BC - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 29/02/12


Faltam seis dias para a divulgação pelo IBGE do PIB oficial de 2011.O número será baixo. O BC previu 2,7%. Como explicação antecipada para o baixo desempenho, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, avisou ao Senado que há três trimestres o Brasil cresce abaixo do seu potencial. A queda do crescimento o ajudou, por outro lado, a explicar as mudanças na forma de atuação do BC em relação aos juros, até com anúncio de quedas futuras.

Se for confirmado o número divulgado pelo Banco Central, o Brasil teve o pior desempenho entre os emergentes, um dos mais baixos da região, e menos até do que a Alemanha que está no centro da crise na Europa. Mas o número fortalece o argumento do Banco Central para explicar por que derrubou os juros no ano passado, quando a inflação ainda estava acima do teto da meta, e por que avisou antecipadamente que a taxa será de um dígito, antes de garantir que a inflação chegue à meta de 4,5%.

Ao dizer que derrubou os juros porque o país cresce abaixo do seu potencial, ele respondeu a quem o critica por excesso de juros e a quem o critica por estar convivendo com a inflação acima da meta. “Não é por outra razão, disse ele, que o BC vem ajustando a sua taxa de juros para baixo nesse período.” A razão é que o país cresce menos do que poderia crescer.

A seu favor, Tombini tem um bom argumento: a inflação, mesmo alta, tem caído nos últimos meses, no acumulado de 12 meses, apesar de a queda ser puxada basicamente pelos produtos que ficam mais baratos como efeito do dólar baixo. A inflação de serviços, que não tem influência de moeda estrangeira, continua em 8,5% e será pressionada pelo aumento de 14% do salário mínimo. Para este ano, a previsão do presidente do BC é que o país vai crescer mais do que no ano passado e aumentará o ritmo no segundo semestre, em relação ao primeiro.

O ano, segundo Tombini, está mostrando recuperação de ativos nas bolsas de todo o mundo, principalmente nos países emergentes (vejam no gráfico). Mas ficou claro na sua apresentação que a incerteza internacional continua. A elevação da bolsa pode ser apenas efeito da impressionante enxurrada de liquidez do Fed, Banco Central Europeu (BCE), Banco do Japão (BoJ) e Banco da Inglaterra (BoE). Entre 2008 e 2012, a oferta de dinheiro por parte dessas autoridades monetárias foi de US$ 4,6 trilhões, um aumento de 112% (vejam no gráfico). O volume ficará ainda maior porque o Banco Central Europeu despejará mais € 500 bilhões esta semana. Isso, sem falar nas taxas de juros que vão do zero do Japão; 0% a 0,25% nos Estados Unidos; 1% na Zona do Euro; e 0,5% na Inglaterra. Nunca se viu juros tão baixos por tanto tempo.

A grande pergunta que fica, para quem avalia esses números apresentados ontem por Tombini ao Senado, é se esse volume de oferta de dinheiro aos bancos pelos bancos centrais mais poderosos do mundo não está mascarando o problema global da economia. O dinheiro excessivo cria fluxos que provocam altas em bolsas, reduzem custos de financiamento, mas apenas porque o capital está procurando rentabilidade, e não porque a situação econômica tenha melhorado de fato. Um efeito indesejado desses fluxos é o de supervalorizar moedas como a brasileira. Outro é elevar o preço de alimentos e do petróleo.

Para Tombini, a perspectiva da economia global está melhor, mas não muito. Nos Estados Unidos, o desemprego cai ligeiramente, o mercado imobiliário se recupera e indicadores de consumo estão acima da expectativa. Apesar disso, ele alertou que o endividamento das famílias ainda é alto, o desemprego, também, e há pouco espaço para elevação de gastos para reativar a economia.

A economia global cresce pouco. Na Zona do Euro, seis países estão oficialmente em recessão: Grécia, Portugal, Itália, Bélgica, Holanda e República Checa.

Para o Brasil, ele promete mais PIB e menos inflação em 2012. O país vai crescer mais e com a inflação convergindo para a meta. Ele admitiu que a classificação de risco do país ainda é alta, mas disse que o custo de financiamento da dívida pública brasileira no mercado internacional é o menor em 40 anos.

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