domingo, fevereiro 26, 2012

A terceira idade - ALDIR BLANC


O GLOBO - 26/02/12



Do jeito que tenho me sentido, seria preferível escrever logo sobre a Quarta Idade, mas não quero queimar etapas, porque pode ser que não reste mais nada pra queimar...

A Terceira Idade, apesar de todos os brilhantes conselhos dados por especialistas em jornais e TVs, é uma M gigantesca (parodiando o saudoso Francisco Alves, em "Adeus", de Silvino Neto, cinco letras que fedem...). Você acorda - se podemos chamar aquilo de acordar - e toma os primeiros remédios. Diz, tentando ser otimista, "Bom dia, mundo!" e, por vício, aciona a telinha, dando de cara com mais um massacre de sírios perpetrado por Assad. Não dá para entender. Ribamar Mubarak e Edson Kadhafi caíram por bem menos - sem contar com os horrores no Iraque I e II, e com o Afegalisteu, desculpem, Afeganistão, onde todos voltaram a traficar heroína. Ouvindo ruídos no quarto, o megalabrador Batuque salta, com seus belos 60 quilos, sobre o dono amado, e urge ingerir um Tramal porque a coluna foi à... à... Terceira Idade. O café tem ervas (diabetes) de fazer o sempre lembrado tríplice coroado Itajara babar - o que se repetirá na sopa do almoço e no presumível jantar. Bom, nada direi sobre fazer as necessidades porque, como já escrevi, se esforço contasse ponto, eu seria volante da Seleção Canarinho. Telefone: os direitos autorais continuam desabando. Vamos ao e-mail: a situação dos direitos autorais é pior do que a descrita no telefonema anterior. Aproveitando que estou na máquina (da qual fujo como diabo da cruz), assessorado pela netinha Joana, passo uma mensagem para a filha caçula, a Bel, e comento que ando bebendo com valentia Judges (suco em inglês, que os que não conhecem a língua confundem com juicy, que significa juiz). Declaro minha preferência pela mistura de Armendariz e Selmahayek, frutas exóticas deliciosas, mas que é preciso peneirar muito, após bater no liquidificador, por causa dos pelos abundantes. De passagem, magoado, conto que meu parceiro João Bosco fez uma dupla com o neto paulistano, Vinicius, e não me avisaram. Também comento o filme "Mansão Improvável 7 - Não Controlo essa Asma", com o Breaddy Pitta, que se casou com a Ângela Rô Rô. Aproveito para elogiar, embora não tenha entendido tudo, o documentário sobre soluços "Hip! men". Uma hora depois, o geriatra Tarso Mosci está na minha porta! Chamaram um médico, como se eu não estivesse com excelente saúde e em pleno gozo de minhas faculdades mentais. Pude comprovar esse fato com a leitura do livro de neurociências "Muito Além do Nosso Eu", de Miguel Nicolelis (ele é brilhante. Poucos sabem que, sob o pseudônimo de Down Brownie, escreveu "O Código Me dá As Vinte"). Recuso o exame médico, uma afronta, e ligo para um amigo de toda vida, o artista plástico Mello Menezes, que está batendo um bolão, catando folhas no telhado para prevenir a entrada de gambás... E não é que o cara me goza!

- Blanc, acho que você não está na Terceira Idade, mas na Segunda Infância!

Que seja. Aproveitarei para realizar um velho sonho: invadir, só de cueca samba-canção, o consultório do Dr. Roberto Aires, o melhor pediatra do mundo, me deitar na mesa de exames e cair no choro, não porque os dentinhos estejam crescendo, mas pela perda progressiva de cada um deles, e, lá na zona do agrião, tenho ouvido a voz do pintinho, não se lamuriando pela patética fimose de bico, mas também zoando:

- Você me botou em vários lugares e situações constrangedores. Paguei dois ou três micos porque você estava de porre. Chegou a hora da forra. Quero o merecido relax. Vai encomendando os engradados, não mais da cerveja Original, mas de Viagra... No que depender da minha colaboração, vai precisar!

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