sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Ricardo Teixeira: não é hora de renúncia - MARCIO BRAGA

FOLHA DE SP - 24/02/12


Sem recursos, em 1987 a CBF nem organizou o Brasileirão; Teixeira estabilizou a entidade, levou a seleção a três finais de Copa e trouxe o evento ao Brasil

Há mais de 40 anos participo ativamente da vida esportiva nacional. Nesses anos todos, ninguém foi mais crítico ao sistema de poder consolidado no futebol brasileiro e mundial.

A novela atual sobre possível renúncia de Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e sobre a sua sucessão, que está sendo articulada apenas por grupos de federações estaduais, evidencia mais uma vez a lacuna de representatividade dos clubes brasileiros.

Eles, embora tenham conquistado o direito de participar do processo eleitoral da CBF, não podem apresentar candidatos.

Não há nenhum fato novo, nenhuma razão objetiva concreta, para a renúncia do presidente. É fácil aproveitar a onda de críticas para empurrá-lo nessa direção como se, apesar dos pesares, a CBF e o futebol brasileiro não tivessem evoluído muito nos últimos tempos.

A seleção brasileira, em todas as categorias, ganhou a maior parte dos seus títulos de 1989 pra cá. Só a categoria principal chegou a três finais de seis Copas do Mundo que disputou. Ganhou duas vezes, conquistando também cinco títulos da Copa América e dois da Copa das Confederações.

Há 50 anos, os jornais anunciavam que o governo federal estava salvando o futebol ao prover o dinheiro necessário para que a seleção embarcasse para a Copa no Chile. Em 1987, a CBF anunciava que não organizaria o Campeonato Brasileiro por não ter recursos suficientes em caixa.

Hoje, a CBF tem uma situação financeira estável, com contratos sólidos e reservas que ultrapassam R$ 200 milhões. O Campeonato Brasileiro, que nunca tinha sido disputado por mais de dois anos seguidos com o mesmo formato, tem agora uma fórmula consagrada desde 2003.

Ele conta atualmente com quatro divisões, garantindo atividade permanente a cem clubes do país inteiro. O campeonato promove uma atividade econômica com potencial de responder por 1% do PIB brasileiro, gerando emprego e renda para milhares de pessoas.

Outro aspecto importante que se deve ressaltar se refere à Copa do Mundo de 2014, que pode servir de catalisadora para reformas estruturais no futebol brasileiro.

A escolha do Brasil como sede da Copa é prova da habilidade política dos nossos articuladores, liderados pelo próprio Ricardo Teixeira, que conseguiram o apoio de todos os países da América do Sul para que o Brasil fosse o único candidato -geralmente, isso não acontece, pois os países se engalfinham para disputar o direito de sediar uma Copa.

Não é hora de renunciar, mas sim de avançar ainda mais. A desconstrução do Clube dos 13 abre caminho para a criação de uma liga do futebol profissional, que permitirá aos clubes desenvolverem plenamente os seus potenciais desportivo e econômico.

A CBF precisa estar na linha de frente desse movimento. Não é hora de perder tempo com discussões deletérias. É hora de trabalhar para aproveitar esse momento especial que o Brasil vive, em especial no esporte. Ricardo Teixeira não pode ser sucedido por um Zé das Medalhas qualquer.

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