quarta-feira, fevereiro 01, 2012
Presidente versus partidos - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 01/02/12
Os ministros muitas vezes esquecem que sua lealdade principal deve ser ao país e à presidente, e não ao partido. Na política, eles costumam colocar a agremiação em primeiro lugar
A novela em torno da substituição de alguns ministros indica que em 13 meses de governo os partidos aliados ainda não aprenderam a lidar com o estilo da presidente Dilma Rousseff de triturar auxiliares que ela considera inadequados para determinados cargos. Mário Negromonte, das Cidades, que o diga. Ele não foi convocado para os encontros preparatórios da primeira reunião ministerial, mas continua ali por um simples motivo: Dilma ainda não está segura sobre quem teria o perfil técnico adequado para substituí-lo.
Dentro do PP, o fogo amigo contra Negromonte ferve, com vários parlamentares de olho na vaga. A lista de substitutos é grande, mas a presidente não se decidiu. E, se o PP continuar assim, com esse empurra-empurra pela pasta, pode ver comprometida a sua estratégia de manter o ministério responsável pelo Minha Casa, Minha Vida.
Um dos problemas hoje entre a presidente Dilma Rousseff e seus ministros é o fato de que os indicados muitas vezes esquecem que sua lealdade principal deve ser ao país e à presidente e, não ao partido. Na política, eles costumam colocar o partido em primeiro lugar.
Se alguém for dar uma olhada nas indicações de ministros, verá que todas as legendas que apoiam o governo, sem exceção, têm indicado pessoas com perfil mais político do que técnico. E aí, Dilma torce o nariz, arqueia as sobrancelhas. A nomeação emperra.
Por falar em torcer o nariz...
É preciso que os interessados se deem conta de que o governo é de continuidade, mas muita coisa mudou. Os partidos estavam acostumados a enviar um nome ao Planalto e ponto. Poucos indicados foram barrados no baile nos governos passados. Um dos poucos casos no governo Lula foi o do ministro de Minas e Energia que iria substituir Silas Rondeau. Os nomes cogitados não emplacavam e Nelson Hubner, o secretário-executivo, ficou interinamente como ministro por quase um ano.
A interinidade só terminou quando o presidente do Senado, José Sarney, sacou o nome do senador Edison Lobão, seu fiel escudeiro de todas as horas. Lula, que devia e deve muito a Sarney, aceitou. À época em que Lobão havia sido indicado, houve quem dissesse que ele não era da área e coisa e tal. Aos poucos, entretanto, o ministro conquistou espaço.
Por falar em técnico...
Lobão é hoje um dos poucos sobreviventes entre os que chegaram ao governo sem o perfil técnico que Dilma almeja para sua equipe. Os partidos, entretanto, querem furar esse bloqueio da presidente. No Trabalho, o PDT tenta colocar alguém ligado ao ex-ministro Carlos Lupi. O PR tem feito pressão para fazer do deputado Luciano Castro (RR) ministro dos Transportes. Planeja com a indicação resgatar a área perdida com a saída de Alfredo Nascimento, no ano passado.
No momento, o PP indica um leque de parlamentares para substituir Negromonte nas Cidades. Recentemente, o PMDB fez de tudo para emplacar deputados na Agricultura e outro no Turismo. Dilma deu a volta nos líderes partidários e pinçou dentro do PMDB quem considerava mais leal a ela do que ao partido. Assim, saíram ministros Mendes Ribeiro, na Agricultura, e Gastão Vieira, do Turismo.
Por falar em lealdades...
Dentro do Congresso e fora dele há quem diga que, enquanto essa definição das lealdades não forem resolvidas e entendidas pelos políticos, a tensão entre Dilma e a base não terminará. E para resolver, alguém tem que ceder. Ou os partidos indicam pessoas com perfis mais técnicos, dispensando a cessão dos cargos a parlamentares, ou veremos muitos deputados serem chamados de "santinhos" pela presidente da República. E, dentro do Planalto, quem convive diariamente com Dilma sabe: na hora em que a chefe chama o interlocutor de "santinho" é bom ele realmente começar a apelar aos céus porque, como dizem por aí, "a batata está assando".
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