quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Partido. Que partido?! - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 22/02/12


Uma Câmara que há três semanas não consegue se entender para a simples distribuição de presidência das comissões técnicas não conseguirá votar a reforma política tão cedo

Se você puder, faça um teste. Ao visitar uma cidade do interior do Brasil, puxe assunto com o caixa do supermercado, o frentista do posto de gasolina, a chef do restaurante da pousada: “Quem é o prefeito aqui?”. O nome do cidadão, a maioria sabe. E, no meio da conversa, não hesite. Acrescente, sem tom de cobrança: “Qual é o partido dele?” O sujeito vai coçar a cabeça, olhar pro céu, pro colega do lado e, se brincar, vai se sair com esta: “Acho que é um pequeno, não sei, não... Não sou muito ligado nesse negócio de partido”.

Fiz esse teste na pequena Cavalcante, no último fim de semana. Lá, os oposicionistas costumam chamar o prefeito, Josias Magalhães, de “o homem do fim do mundo”. A cidadezinha, um dos polos turísticos da região da Chapada dos Veadeiros, parece abandonada. Ruas esburacadas, praças mal-cuidadas. Uma tristeza. O passeio vale pelas cachoeiras. Especialmente, Santa Bárbara, no sítio histórico dos Kalungas, descendentes dos quilombos.

Não me dei ao trabalho de procurar o prefeito, porque, sinceramente, nenhuma explicação, seja falta de recurso ou outra qualquer, seria plausível para justificar o que se vê ali. O que me impressionou, e às outras 13 pessoas que compunham o nosso grupo, foi o fato de a população não vincular as (não) realizações ao partido do prefeito.

Por falar em partido...
O descaso do povo de Cavalcante com o partido do prefeito Josias é o retrato do que ocorre em grande parte do Brasil. Nossa visão da política ainda é messiânica e personalista. E nada indica que isso será alterado por conta da reforma política em curso. Isso porque nenhum partido se agarra para valer nesse serviço.

Há dois anos, quando deixava o Palácio do Planalto com o título de ex-presidente, Lula afirmou que iria se dedicar a essa proposta. Mencionou a necessidade de fortalecimento dos partidos. E, agora, curado da doença que lhe impediu de levar avante vários projetos, Lula se dedicará mais em fortalecer os candidatos petistas a prefeito, leia-se Fernando Haddad em São Paulo, do que da reforma política.

Por falar em eleições...
No Congresso, embora todos apresentem o tema como prioridade em discursos, ninguém acredita no sucesso da reforma política a curto prazo. Uma Câmara que, há três semanas, não consegue se entender para a simples distribuição de presidência das comissões técnicas, não conseguirá votar a reforma política tão cedo.

Nesta Legislatura, infelizmente, os congressistas incorrem nos mesmos erros das anteriores: os senadores e os deputados analisam, cada um, uma reforma diferente. Depois, mandam para a outra Casa, que termina engavetando a proposta porque o partido A ou B está na fase da “onda” em que prefere não reformar nada.

Por falar em “onda boa”…
O primeiro a perceber esse tipo de movimento de “onda” foi o antigo, PFL, hoje DEM. Na época em que nadava de braçada na posição de maioria, a pefelândia liderada por Jorge Bornhausen fez de tudo para impor todos os limites possíveis à mudança partidária. Bom de faro na política, o “Alemão”, como os pefelistas se referiam a Bornhausen, percebeu que a “onda boa” do PFL estava terminando seu ciclo e propôs a reforma política como forma de dar uma sobrevida. Os partidos de esquerda não quiseram levá-la adiante.

Agora, embora os petistas falem da reforma e tenham até o relator na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), dificilmente o projeto caminhará a contento. Isso porque, dentro do Congresso, há muita gente desconfiada de que o PT deseja aprovar a reforma política agora apenas para instituir o financiamento público das campanhas e, assim, arrumar um discurso alternativo ao mensalão a ser julgado este ano. E, sendo assim, quem não vai querer a reforma são as outras legendas. E, assim, a população vai continuar com sua política messiânica, em busca de um salvador, sem ligar para os partidos, como ocorre em Cavalcante.

Por falar em Cavalcante...
Houve quem me dissesse, cheio de certeza, que o partido do prefeito da cidade de Cavalcante (GO) era o PSDB. Não é. Josias Magalhães Costa Sobrinho é do PTN. E, para sua informação: o site webdemocracia.com o apresenta como um dos piores no ranking dos prefeitos dos municípios goianos. Só perde para os de Aurilândia e Guarinos. É, pois é.

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