segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Mantega conserta a Europa - VINICIUS MOTA


FOLHA DE SP - 27/02/12



SÃO PAULO - Meses de desgastantes reuniões entre chefes de Estado, ameaças de calote, estouro nos juros, quedas de governo, rebaixamento de notas de crédito, bancos na corda bamba, Bolsas na montanha-russa... Até que o ministro Guido Mantega, do Brasil, revela a receita para consertar a economia europeia.

Ao jornal britânico "Financial Times", o titular da Fazenda pediu "mais flexibilidade" para que países possam abandonar o euro. Mantega desconfia que nem todos os usuários da moeda comum -o caso grego vem logo à cabeça- têm condições de manter-se no bloco.

Os países mais vulneráveis da eurozona não contam com o recurso de desvalorizar a moeda em momentos de emergência -um subterfúgio capaz de minimizar o impacto recessivo das tormentas financeiras. Esse defeito de fabricação, recomenda o ministro brasileiro, deveria ser repensado tão logo seja vencida a fase crítica dessa crise, quando algumas nações poderão deixar o euro, vaticina.

E Mantega foi além. Ofereceu a solução para acabar com a crise atual. Consiste em dividir os países em dois grupos. Um deles, de nações endividadas até as tampas, seria submetido a um rígido corte de gastos. O outro, dos remediados, adotaria também medidas para acelerar o crescimento econômico. Os alemães deveriam perguntar-se por que não pensaram nisso antes.

Desde que ganhou o mundo a expressão "guerras cambiais", usada por Mantega para criticar o abuso de países que enfraqueciam desesperadamente as suas moedas, o ministro solta a franga quando ocupa a ribalta da finança internacional. Tornou-se uma espécie de senador Suplicy do G20, disposto a dar palpites variados aos colegas globais.

A repercussão de suas frases conota uma mudança e tanto. Nós, que por décadas tivemos de escutar humildemente as prescrições e as bobagens sugeridas pelos europeus, estamos vingados. Mantega neles.

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