segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Interesse pela África - GEORGE VIDOR


O GLOBO - 06/02/12
Há pelo menos 200 empresas brasileiras dispostas a investir na África, em mineração, energia renovável e agronegócio (etanol, biodiesel, etc.). Mas antes precisam conhecer o "caminho das pedras", e na agenda do governo cabe ao BNDES cumprir essa tarefa. O banco já tem um fundo específico, em convênio com o BID, para financiar projetos brasileiros em Angola.
A ideia é estender a experiência a outros países.

Interesse pela África O professor Luciano Coutinho, presidente do BNDES, aproveitou sua presença no Fórum Econômico Mundial, em Davos, para conversar com dirigentes do banco de desenvolvimento africano que lá estavam. Vinte nações participam da instituição. Os africanos veem os investimentos brasileiros com simpatia, pois os projetos sempre embutem o compromisso de transferência de tecnologia e a promessa de geração de empregos.

Os chineses, que saíram à frente, têm causado decepção, exatamente por não atenderem a esses requisitos.

A nova classe média hoje representa mais de 20% da população nos países que mais crescem no continente (mais de 5% ao ano, só perdendo para as economias asiáticas), o que torna a África subsaariana uma ótima oportunidade para negócios.

Nos últimos dez anos, a corrente de comércio Brasil-África se multiplicou por sete vezes.

Só para Angola (sexta economia do continente africano), os financiamentos do BNDES para exportações brasileiras, na modalidade pósembarque, chegaram a US$ 466 milhões no ano passado.

Nos diversos laboratórios do Inmetro trabalham mais de 200 doutores (PhDs). Há sete anos eram apenas doze. Até o fim de 2012 provavelmente chegarão a 300. Alguns acabam laçados por outros centros de pesquisa ou empresas, mas a maioria se sente atraída pelo instituto, cujas tarefas estão relacionadas tanto ao dia a dia da produção como a desafios tecnológicos.

Do laboratório de química - coordenado por um jovem profissional de 31 anos - saem ampolas contendo a referência que serve para calibrar os equipamentos que ajudarão as usinas a produzirem etanol e biodiesel dentro dos padrões exigidos pelas normas do país e do mercado externo.

Do mesmo laboratório saem também as referências para o Arla 32, o catalisador à base de ureia, que terá de ser necessariamente usado pelos ônibus e caminhões que circularão com motores Euro 5, mais avançados e preparados para o diesel S-50, bem menos poluente. O Arla 32 não pode ser feito com a mesma ureia usada em fertilizantes agrícolas, por exemplo. Na Colômbia, isso tem causado enorme estrago nos motores e, o que é tão ruim quanto, anula o efeito desejado de redução das emissões de gases poluentes em 80%.

Tal laboratório não existia há poucos anos. Da mesma maneira que o de nanotecnologia, apoiado em poderosos microscópios, ultrassensíveis, que possibilitam aos pesquisadores estudar o comportamento de novos materiais, como o grafeno. Provavelmente futuras gerações dos semicondutores que processam e armazenam dados nos equipamentos eletrônicos, computadores, tablets, celulares, etc. serão produzidas a partir do grafeno.

Esses laboratórios, na vanguarda da tecnologia, convivem com outros que estabelecem as referências para os testes de conformidade (que verificam se estão de acordo com as normas) de diversos produtores. Trezentos mil tipos de brinquedos já passaram por esses testes e, por isso, levam o selo do Inmetro.

Próteses ortopédicas e "parafusos" dos implantes dentários igualmente são testados.

O órgão também classifica os eletrodomésticos pelo consumo de energia ou água. Essa classificação tem levado a indústria a investir em aparelhos mais eficientes, e o consumidor consegue diferenciálos por uma etiqueta (os do topo são premiados por um outro programa, o selo Procel, da centro de pesquisas da Eletrobras).

O Inmetro nasceu para aferir pesos e medidas, mas por trás disso há o vasto campo da ciência e da tecnologia. Foi uma satisfação voltar ao campus de Xerém, em Duque de Caxias, onde trabalham mais de mil pessoas, entre técnicos, mestres e doutores (jovens, em grande maioria, dirigidos por um primeiro time de "cabeças brancas" cedido por universidades), e observar in loco o aprimoramento de tão importante instituto para o país. Não por acaso, a Universidade Federal do Rio de Janeiro abriu uma filial por lá, com alguns cursos já em funcionamento (metrologia, evidentemente). A escola técnica mais procurada no Brasil está em Duque de Caxias. E em breve, nas redondezas, surgirá uma universidade municipal.

Duque de Caxias, há algumas décadas, era somente visto como um município violento e pobre. Talvez por isso poucos saibam que no topo da serra de Petrópolis exista tamanho celeiro tecnológico, próximo a variados tipos de indústria.

O Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) nasceu no então departamento técnico da Bolsa de Valores do Rio, sob comando, na época, de Luiz Sérgio Coelho de Sampaio, uma das cabeças mais brilhantes que conheci na vida. Para dar status ao instituto, o embaixador Walther Moreira Salles foi escolhido para presidi-lo. Quem o sucedeu foi Octávio Gouvêa de Bulhões.

O braço educacional do Ibmec ganhou voo próprio, inicialmente enveredando por MBAs, e depois na graduação superior.

Mas o Ibmec original ainda existe. À frente do seu conselho permanece o ex-ministro Reis Velloso, e agora na presidência executiva está Tomás Tosta de Sá. Funciona em uma sala no prédio da Associação Comercial do Rio de Janeiro.

Tosta de Sá vem há anos se dedicando ao desenvolvimento do mercado de capitais. Foi um dos responsáveis pelo plano diretor que ajudou o mercado a decolar. Mas esse instrumento que faz a ligação entre as empresas e os investidores ainda é incipiente, considerando- se o estágio já alcançado na economia brasileira.

O primeiro plano diretor foi exitoso, mas a dinâmica do mercado se adiantou e o arcabouço institucional precisa agora correr atrás. Tosta de Sá tem experiência nesse campo, pois foi um dos primeiros superintendentes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

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