sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Futuro previsível - TITO RYFF


O GLOBO - 24/02/12



"É muito difícil fazer previsões, sobretudo quando se trata do futuro." A autoria da frase é controvertida, embora muitos atribuam essa observação irônica a Niels Bohr, um dos pais da física quântica. Sem dúvida, prever o futuro não é tarefa fácil. Ainda assim, é ele, o futuro, quem dita o destino de indivíduos, povos e nações. Melhor tentarmos nos preparar para o que ele pode nos reservar, mesmo sem saber, com certeza, do que se trata.

Mas não é preciso invocar os oráculos para vislumbrar, neste começo de século, a onda crescente de uma formidável revolução tecnológica. Os progressos da nanotecnologia, da robótica, da engenharia genética, da biotecnologia e do que se convencionou chamar de Tecnologia da Informação e da Comunicação - a combinação da informática, da eletrônica e das telecomunicações - vão impactar não apenas a produção de bens e serviços, mas vão pôr à prova, também, nossos valores e a forma de nos relacionarmos na vida social. Mais do que isso, é o cruzamento entre esses diferentes eixos do conhecimento científico e tecnológico que abrirá caminho para um "admirável mundo novo" que não conseguimos sequer imaginar. A nanotecnologia, associada à engenharia genética e à informática, revolucionará a medicina. Novos materiais, mais baratos, resistentes e, quem sabe, facilmente biodegradáveis surgirão da convergência da nanotecnologia e da biotecnologia. A biotecnologia, a engenharia genética, a  nanotecnologia e a informática, se unirão para criar super-humanos, com desempenho físico e mental muito superior ao dos seres humanos de hoje. E, como não podia deixar de ser, essas novas tecnologias vão produzir uma revolução industrial mais abrangente e tão, ou mais, importante, em seus efeitos, do que aquela que mudou os destinos da humanidade no alvorecer e decorrer do século XIX. Ainda mais preocupante é o fato de que essa nova revolução industrial terá forte impacto na indústria bélica e, portanto, nas formas de controle e dominação militar.

Estamos nos preparando para essas transformações? A educação em nossas escolas, a convivência social e a nossa mídia valorizam, como deveriam, o conhecimento científico e tecnológico? Nossas empresas, universidades, centros de pesquisa e governos interagem o suficiente para trabalhar em conjunto pelo desenvolvimento de inovações nesses novos domínios críticos do conhecimento? Já definimos, com clareza, quais as áreas tecnológicas que são estratégicas para o nosso desenvolvimento econômico e social e que, por isso, serão consideradas prioritárias na distribuição dos escassos recursos públicos? Já construímos uma matriz que relacione nossas necessidades e vocações econômicas com o potencial de inovações desses vetores do conhecimento científico e tecnológico que moldarão o século XXI? Se já existem respostas para essas perguntas, onde elas podem ser obtidas pelo povo brasileiro?

Niels Bohr que me desculpe, mas arrisco-me a parafraseá-lo: "é fundamental fazer previsões, sobretudo quando se trata do futuro." Por isso, atrevo-me a afirmar que a revolução que já está em curso separará, de maneira irremediável, as nações em duas categorias distintas, que não serão mais aquelas tradicionais, denominadas, no passado, de "desenvolvidas" e "subdesenvolvidas´, mas que poderíamos chamar de "supertecnológicas" e "subtecnológicas". As "subtecnológicas", lamento dizer, serão nações de segunda classe. China e Índia, nossas companheiras nos Brics, já anteviram as ameaças e as oportunidades futuras e buscam o caminho para transformar-se em nações "supertecnológicas". Sendo que a Índia, por enquanto, dispõe de bem menos recursos do que o Brasil. Apressemo-nos, pois.

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