quarta-feira, fevereiro 08, 2012

A César o que é de César - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 08/02/12




A Lula o que é de Lula. A Dilma o que é de Dilma. Desde que seja tudo do PT, a maioria dos petistas não vai se incomodar. É assim que eles veem a adoção do modelo de privatização tucano para os aeroportos

Na Santa Igreja, a frase “a César o que é de César” representa a separação do que é do mundo dos homens e o que se deve ao mundo de Deus. Foi dita por Jesus aos fariseus e herodianos que queriam saber se era lícito pagar impostos ao imperador. Está na Bíblia. Na boca do povo, é bem mais simples: “Cada um com as suas coisas” e ponto. Na política, entretanto, o PT decidiu reformular esse ensinamento divino e ficar com as coisas de um e de outro: a Lula o que é de Lula. A Dilma o que é de Dilma. Desde que seja tudo do PT.

É mais ou menos assim o que ocorre agora com o discurso da privatização dos aeroportos, o qual mencionei aqui na segunda-feira. “Os tucanos já perderam vários discursos, o da estabilidade da moeda, o do Bolsa Família, que eles (do PSDB) começaram com a Bolsa Escola, lá em Campinas. Agora, perdem mais esse, o da privatização”, dizia-me ontem o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), coberto de razão.

Os tucanos tanto sentiram o golpe que ontem convocaram uma entrevista coletiva na sala de reuniões da liderança do PSDB para deixar claro que os petistas passaram oito anos negando as privatizações. Em 2006, Geraldo Alckmin, perdeu a graça no segundo turno por causa desse tema. Ficou um tempo precioso na defensiva, vendo os votos migrarem para o então presidente-candidato. Em 2010, os petistas passaram a campanha tratando das privatizações como “coisa de tucanos”.

No caso dos aeroportos, até o modelo de privatização, avisa o PSDB, é igual ao adotado no governo Fernando Henrique Cardoso: financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e participação ostensiva dos fundos de pensão, como a Previ, do Banco do Brasil. O ágio foi considerado espetacular. Se está tudo bem, entretanto, avisa o PSDB, com boas doses de razão, veremos lá na frente, em 2014.

Por falar em “lá na frente”...

Os petistas sequer franziram o cenho para as reclamações do PSDB quanto ao “estelionato eleitoral” das privatizações. Estão como aquele time que joga feio, mas, até o momento, está ganhando o jogo. Quando eles criticavam as privatizações, o PSDB não as defendeu. Seus dois candidatos a presidente, José Serra por duas vezes, 2002 e 2010, e Geraldo Alckmin, em 2006, deixaram de lado os aspectos positivos. Renderam-se aos conselhos marqueteiros que, não raras as vezes, fazem avaliações equivocadas. Como dizia Olga Curado a Dilma, nos bastidores da campanha petista, “quando estiver emparedada, procure a verdade dentro de você, sempre funciona”. O PSDB se escondeu.

No PT, a avaliação geral é a de que cobrar isso agora não cola. O partido, entretanto, terá seus problemas internos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, os petistas com assento na Assembleia Legislativa estadual são contra a prorrogação do pedágio nas estradas gaúchas para não ferir a coerência partidária no que se refere às privatizações, tão criticadas na campanha. Em Brasília, por enquanto, o partido, nem “tchum”. Há quem diga que não se faz política para o retrovisor. Se o PSDB não defendeu as privatizações, o problema é dele. Ontem, ouvi de muitos integrantes do PT que, se o modelo de concessão escolhido por Dilma der certo, o lucro é deles. Simples assim. Se der errado, o que eles não acreditam que vá dar, aí, eles estão no sal. Mas isso é o chamado lá na frente.

Perguntei a alguns se o fato de Lula ter sido contra as privatizações e ter atrasado as obras nos aeroportos não contava pontos negativos ao partido. A resposta foi curta e grossa: “Olha, o governo Lula teve muitos méritos. Agora, Dilma está fazendo um outro governo, de continuidade, mas com algumas mudanças”. Ah, tá. Agora entendi. A Lula o que é de Lula. A Dilma o que é de Dilma. Desde que seja tudo do PT, a maioria dos petistas não vai se incomodar. É assim que o PT vê a adoção do modelo tucano de privatização para os aeroportos brasileiros.

Enquanto isso, na Rodoviária de Brasília…

Começa esta semana a distribuição de panfletos convocando os policiais militares para a greve no Distrito Federal. A carta da categoria já circula na internet. O carnaval de 2012 promete. Aguardemos.

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