quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Avenida Brasil. Ou "da morte"? - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 09/02/12

O nome do Brasil, involuntária mas desgraçadamente, acabará associado ao massacre na Síria. Explico: conforme o relato de Mayte Carrasco, a enviada especial de "El País" a Homs, a cidade que é o grande símbolo da revolta contra a ditadura, a avenida Brasil foi rebatizada para "avenida da morte, devido à presença de franco-atiradores que disparam sobre qualquer pessoa que se aventure por ela".

Triste coincidência. Pior: não há nada que o Brasil possa fazer para parar o massacre. Nada que já não esteja fazendo e que é o possível. O fracasso não é do Brasil, a não ser como parte de uma comunidade internacional de novo incapaz de agir ante uma carnificina.

Até o presidente do país mais poderoso do mundo, Barack Obama, reconheceu essa incapacidade, meses atrás, em nota que alude especificamente aos Estados Unidos, mas que serve à perfeição para o conjunto de países-membros das Nações Unidas.

Dizia Obama: "Sessenta e seis anos depois do Holocausto e 17 anos depois de Ruanda, os EUA ainda carecem de uma moldura política abrangente e de um mecanismo interagências correspondente para prevenir e responder a atrocidades de massa e ao genocídio".

A afirmação foi feita a propósito do anúncio de criação, em um prazo de 120 dias, do Conselho de Prevenção de Atrocidades. Obama deu um prazo de cem dias para um "inventário de amplo alcance das ferramentas econômicas, diplomáticas e outras disponíveis" para enfrentar tais situações.

O ponto de partida do projeto era perfeito: "O presidente" -dizia a nota- "rejeita a ideia de que, diante de atrocidades em massa, nossas opções estão limitadas a ou enviar os militares ou manter-se à margem e não fazer nada".

Passaram-se os cem dias, 120 também, sem que se tenham notícias seja do "inventário", seja da diretoria, exatamente quando o mundo se vê, outra vez, ante a opção de "enviar os militares ou não fazer nada". Na verdade, o dilema no caso da Síria nem chegou a ser esse, uma vez que a opção "enviar os militares" nunca esteve entre as cartas postas à mesa.

Restou tão somente não fazer nada. Pior: tudo indica que a matança vai continuar. Escreve, por exemplo, Scott Stewart, do site geopolítico Stratfor: "Nossa atual avaliação é a de que o governo e a oposição chegaram a um impasse no qual o governo não pode esmagar a revolta, e a oposição não pode derrubar o governo sem que haja uma intervenção externa".

Na semana passada, a oposição à ditadura gritava, nas ruas da Síria, "perdoe-nos, Hama". Era uma alusão ao fato de que, 30 anos atrás, Hafez Assad, o pai do atual ditador, promoveu um massacre na cidade de Hama, na qual cerca de 30 mil pessoas foram mortas e outras tantas foram presas, torturadas e, muitas, mortas na prisão.

A ditadura impôs silêncio sobre o massacre nos 30 anos seguintes, mas, agora que a revolta rompeu o medo, Hama pode ser recordada.

No ritmo em que vão as coisas, à comunidade internacional só resta pedir perdão à Síria -ou, pelo menos, aos sírios que estão sendo massacrados nas "avenidas da morte" de tantas cidades sírias.

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