domingo, fevereiro 12, 2012
Aí tem - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 12/02/12
Qual é a taxa neutra de juros?, pergunta o Banco Central, presidido por Alexandre Tombini. E, como não dá ponto sem nó, aí tem coisa...
Esse não é assunto restrito aos nerds da economia. É um movimento novo do Banco Central que terá consequências.
Primeiro, aos conceitos e, depois, ao resto. Taxa neutra de juros é o nível mais baixo de juros que garante a inflação na meta sem prejudicar o ritmo do setor produtivo. Juros são o preço do dinheiro. Quanto mais baixos, maior o volume de dinheiro numa economia. Feita de outro jeito, a pergunta do Banco Central consiste em saber qual é o volume máximo de dinheiro que comporta a economia brasileira.
Isso é como querer saber qual a velocidade máxima que um automóvel pode desenvolver numa rodovia sem colocar em risco a segurança. A resposta não é simples, está cheia de "dependes" - depende da estrada; depende das condições atmosféricas (visibilidade, chuva, etc.); depende das condições do veículo (freios, amortecedores, pneus, etc.); e depende da habilidade do piloto.
A conversa a respeito da taxa neutra de juros começou com a divulgação da Ata do Copom de janeiro. Lá ficou dito, sem preocupação com demonstrações cabais, que as condições econômicas do Brasil melhoraram nos últimos anos e comportam juros neutros mais baixos do que os de até agora. Em 2006, eles ficaram em 10,2% em termos reais (descontada a inflação) e, em 2011, em 5,3%. Se o Banco Central diz que a inflação ficará na meta em 2012 (4,5%) e que os juros básicos de hoje, de 10,5% (6,0% em termos reais), estão altos demais, então fica entendido que, na sua avaliação, os juros reais podem cair para perto dos 4,5%.
Além disso, o Banco Central avisou que começou pesquisa entre analistas de mercado para aferir a percepção que têm sobre esse número misterioso que não pode ser facilmente calculado. De lá para cá, analistas, consultores e economistas passaram a debater sobre quais, afinal, seriam os juros neutros da economia.
Há boas razões para desconfiar de que o Banco Central não está especialmente interessado nos números do mercado. Pretende apenas criar clima para guinada importante em sua política de juros. Está manobrando para derrubar os juros básicos, provavelmente, para 8,5% ao ano. A aposta é a de que esse afrouxamento do volume de dinheiro não provocará escapada da inflação. Logo, não se contentará com juros de um dígito (abaixo de 10%). Para alcançar seu objetivo não usará só o acelerador, mas, no limite, também pneus bem calibrados, aerodinâmica, habilidade do piloto e tal. Ou seja, para baixar os juros até o limite do admissível, usará com mais intensidade as tais medidas prudenciais e contará ainda com uma política fiscal (austeridade orçamentária) mais dura, para que a expansão das despesas públicas deixe de ser fonte primária de inflação.
O mercado financeiro entendeu o recado e está revendo para baixo suas apostas com juros futuros. Mas, como não sabe até onde o Banco Central quer seguir, também está pronto para acionar freios se aparecer um buraco na estrada.
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