sábado, janeiro 28, 2012

Uma eleição cinematográfica - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 28/01/12

Nesta semana, duas solenidades relacionadas à pré-campanha mostraram por que a disputa em São Paulo é a mais interessante do país. Ali, os personagens e o enredo construído até agora parecem ter saído do melhor roteirista da praça



Ciúme, traição, ódio, vingança, mágoa e paixão — ou simpatia, que, como diz o bloco carnavalesco, é quase amor. Tal qual um enredo cinematográfico mirabolante, a eleição para a prefeitura de São Paulo tem histórias capazes de interessar até ao cidadão mais distante do noticiário político. Os personagens parecem ter saído da cabeça do melhor roteirista de cinema. Temos de tudo: intrépidos, rainhas, príncipes, jogadores, feiosos, belas, empertigados, negociadores e onipresentes.

O personagem onipresente da trama é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi dele o principal movimento do lado petista, ao descartar Marta Suplicy, a Bela, e escolher Fernando Haddad, o Intrépido, agora ex-ministro da Educação. Aqui, temos material suficiente para um longa, como Tudo pelo poder, dirigido por George Clonney. No filme, ainda exibição em Brasília, democratas disputam prévias. Na guerra interna do partido norte-americano, há traições de sobra. A vida real é ainda mais complexa.

Nesta semana, duas solenidades relacionadas à pré-campanha mostraram por que a disputa em São Paulo é a mais interessante do país. O tamanho da cidade e o número de eleitores — e a importância da corrida para as eleições presidenciais de 2014 — contribuem para dar visibilidade ao pleito. Mas os personagens e os papéis representados por cada um deles dão uma vida a mais ao cenário. Os dois episódios, o primeiro em Brasília e o segundo em São Paulo, revelam tal coisa. A eles, pois.

Na festejada despedida de Haddad do ministério, na terça-feira, Marta não compareceu. Mesmo que tenha uma boa desculpa para a ausência, a petista escanteada alimentou a ingresia. Se a Bela ainda está chateada, vai aparecer no palanque de Haddad? Lula, o Onipresente, e Dilma Rousseff, a Presidente — aqui desempenhando o papel de Rainha — pareciam pouco se importar com a falta da ex-prefeita ou mesmo com os resmungos da oposição por conta das suspeitas de campanha antecipada. Detalhes de uma solenidade tão singela e emocionada. De mais a mais, tudo vale a pena quando a multa é pequena.

Emoção

O importante é seguir o baile, sem dar ouvidos a insatisfeitos. Roteiro bom é aquele em que os chatos têm pouco espaço e sempre perdem no final.

O segundo evento da semana não foi menos emocionante. O mestre de cerimônias, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o Jogador, entregou medalhas ao Príncipe, Fernando Henrique Cardoso, e à Rainha, Dilma. Poucos momentos da política brasileira foram tão meigos. Dilma, num discurso efusivo, agradeceu o prefeito: “(Uma) figura capaz de agregar, capaz de criar vínculos fraternos e republicanos entre as pessoas mais diferenciadas, que é Gilberto Kassab”. Na plateia, José Serra — que aqui não receberá apelidos — assistia a tudo calado. Talvez soubesse o que estava a fazer.

Para terminar, um último personagem, Michel Temer, o Negociador. Ele esteve presente nos dois eventos. Representava Gabriel Chalita, o Empertigado, candidato dos peemedebistas. Na segunda agenda, Chalita estava na Igreja da Sé. Rezava. Eleições são feitas de simbologias e imagens construídas por marqueteiros para encantar eleitores. A disputa pela prefeitura paulista é tudo isso até o momento.

Outra coisa
Depois de Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa, é a vez de Aldo Rebelo, do Esporte, paramentar-se de acordo com a atividade da pasta na Esplanada. Enquanto Jobim usava uniformes militares, Aldo apareceu ontem com um agasalho de esportista, com o nome bordado em alto-relevo

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