segunda-feira, janeiro 23, 2012

Padrão já! - MARIA INÊS DOLCI


FOLHA DE SP - 23/01/12


As agências reguladoras também deveriam exigir, em suas áreas, padrões em baterias, decodificadores

Sem facilidade para comparar os preços dos produtos, o consumidor não exerce plenamente sua cidadania. Para isso, é fundamental que haja padrões. Ou seja, que saibamos claramente quanto custam chocolates, biscoitos, macarrão, molhos, manteigas e os demais itens à venda nos supermercados e lojas, inclusive virtuais, tendo como referência pesos, volumes ou comprimentos iguais.
Foi prometida para este ano a adoção voluntária de nova forma de identificação para as roupas masculinas. Em lugar da "sopa de letrinhas" vigente até agora -G ou L para tamanho grande-, estará o número, por exemplo, 44, com uma das seguintes especificações: atlético, normal ou especial. Nas etiquetas também haverá um desenho do corpo humano e medidas do tórax, da perna e do braço.
Cabe ao consumidor exigir essas etiquetas quando comprar seu vestuário. Assim, mais indústrias deverão se adaptar ao novo padrão. Além de acabar com a multiplicação de medidas, a padronização tornará viável a compra de roupas pela internet.
As mulheres, por enquanto, terão de esperar sua vez, pois as novas etiquetas para vestuário feminino só estarão disponíveis do final deste ano em diante.
Sou defensora incondicional dessa uniformização de pesos e medidas. Como a que decorreu de acordo entre os supermercadistas cariocas e o Ministério Público daquele Estado, há cerca de dois anos.
Os produtos são etiquetados com preços por litro, quilo, unidade ou metro. Dessa forma, quem compra avalia rapidamente os preços e pode escolher de acordo com suas necessidades, renda e exigências.
Por que não tornar lei esse acordo, válido para todo o Brasil, como foi feito com a proibição do fumo em ambientes fechados e com o uso de cinto de segurança em veículos também nas vias urbanas?
Boas iniciativas não devem ficar restritas a algumas cidades ou regiões do país.
Operadoras e fabricantes de celulares anunciaram ainda em 2009 um acordo para adotar um padrão único de carregadores a partir deste ano. Isso fará com que qualquer deles funcione em todo aparelho fabricado a partir de agora, independentemente de marca e modelo.
O padrão escolhido já é utilizado por diversos aparelhos: trata-se do formato micro USB, o mesmo de cabos de transferência de câmeras digitais.
Também há um projeto delei, 7.133/2010, que dispõe sobre a obrigatoriedade da adoção de terminais de telefonia celular com interfaces e propriedades elétricas padronizadas.
Já passou pelas comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio e de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.
Talvez fosse mais negócio reunir todas as padronizações necessárias em um só projeto de lei, com mobilização das entidades de defesa do consumidor, das associações e sindicatos.
As agências reguladoras também deveriam exigir padrões em baterias, decodificadores de TV a cabo, telefones fixos e celulares, fones de ouvido, microfones etc.
Não só pela redução de custos mas tendo em vista um consumo consciente, pela redução do descarte de peças e partes potencialmente poluentes.
Não podemos nos esquecer dos idosos brasileiros, que serão mais de 30 milhões em 2020. Para eles, a uniformização deve visar a segurança, o conforto e o direito à informação (com a exigência de letras e números mais fáceis de ler em etiquetas e embalagens).
São medidas simples, mas que melhoram a qualidade de vida, tão cantada em prosa e verso, raramente realidade para os consumidores do país. Há modelos bem-sucedidos em outros países, que ajudariam a começar essas mudanças.
, quando um padrão interessa, ele é adotado de maneira absoluta, como foi o caso dos plugues e tomadas com três pinos. Então, não vamos postergar mais essas providências e tirar essas ideias do papel, sem mais delongas.
Padrão já, em prol do consumidor, da concorrência e do ambiente!

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