segunda-feira, janeiro 09, 2012
Oposição, PSB e emendas - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 09/01/12
A fórmula para quebrar a maioria governista, avaliam os oposicionistas, é minar a base de Dilma Rousseff por dentro. A jogada é de risco. Pode passar ao eleitor a ideia de que é tudo igual e, sendo assim, não haveria por que mudar
Muito se disse nos últimos dias sobre a timidez da oposição para tratar das denúncias de favorecimento a Pernambuco. Aviso aos navegantes: será mais ou menos assim sempre que um potencial aliado dos oposicionistas estiver sob fogo cruzado. Esse comportamento só mudará quando uma parte expressiva dos deputados não alinhados com o Planalto considerar que houve roubo mesmo por parte da pessoa citada na notícia da hora ou quando o ministro for do PT.
Por enquanto, a visão que predomina nesse grupo é a de que não houve desvio de recursos no caso da Integração Nacional. Se algo for comprovado, o comportamento dos oposicionistas pode mudar, mas, no momento, até a onde a vista alcança, a maioria da oposição não vê motivos para seguir com carga máxima sobre Fernando Bezerra Coelho, leia-se, Eduardo Campos, o governador de Pernambuco, o padrinho do ministro e o primeiro a sair a campo para defendê-lo.
A atitude é estratégica. Nas últimas avaliações sobre o cenário político de 2012, PSDB e DEM ficaram preocupados com a redução de espaço que sofreram desde 2003. Paulatinamente, o PT e seus aliados foram tomando conta de tudo no Congresso. Essa redução, dizem os oposicionistas, atingiu seu ápice no ano passado, com a criação do PSD, uma espécie de canal do Panamá, onde quem quiser pode ficar e escolher se vai para o oceano governista ou trafega no mar da oposição.
A fórmula para quebrar a maioria governista, avaliam os oposicionistas, é minar a base de Dilma Rousseff. A jogada é de risco. Pode passar ao eleitor a ideia de que é tudo igual mesmo e, sendo assim, não haveria por que mudar. Mas, como estão em franca desvantagem numérica, e ainda têm governos estaduais e prefeituras que precisam das verbas da União, a maioria dos não alinhados acredita não ter alternativa, senão fazer esse trabalho de formiguinha, tentando tirar aliados da presidente Dilma, e, aos poucos, ir reduzindo a base.
Por falar m minar...
Pré-candidato a presidente da República, o senador Aécio Neves tem se dedicado a essa tarefa, de tentar minar o campo governista e as relações de Dilma no Parlamento. E ele pretende ampliar os movimentos neste ano de eleições municipais. Em 2011, em toda semana de trabalho do Congresso, o senador chamava políticos aliados ao governo para conversas em seu gabinete. Chamou gente do PDT, do PR, do PP, do PV. No caso do PSB, não foram poucas as vezes em que Aécio jantou ou tomou café na casa da ex-deputada Ana Arraes, mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Os petistas até hoje têm atravessado na garganta um jantar entre Aécio e Eduardo no final de 2010, quando Dilma Rousseff se dedicava à montagem de sua equipe de governo. À época, o encontro foi visto como uma manobra do presidente do PSB para dizer à presidente que havia outros caminhos fora da aliança com o PT. Não por acaso, Dilma manteve o PSB com dois ministérios (tirou Integração Nacional do PMDB) e quase deu um terceiro — pequena e microempresa, que ainda não saiu do papel e é tido como área reservada para Luiza Trajano, do Magazine Luiza.
Hoje, há quem diga nos bastidores que o PSB perdeu a terceira vaga não só pela recusa do senador Antônio Carlos Valadares em ser "nomeado" para um cargo que não existia. Pesou na decisão da presidente de não dar um terceiro ministério para o PSB a aproximação entre Eduardo e Aécio. De quebra, também não queria provocar mais ciúmes no PMDB, que se considerava escanteado demais.
Por falar em PMDB...
Os peemedebistas são maioria entre os 50 deputados que tiveram emendas liberadas acima de 95% na Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). Foram 11 beneficiados em 2010, contra apenas quatro do PSB, entre eles o deputado Fernando Coelho Filho (PE), filho do ministro da Integração Nacional e pré-candidato a prefeito de Petrolina. Logo depois vem o PT, com seis deputados agraciados. Outros partidos, como o PTB, o PP, o PR e até o oposicionista DEM, ficaram no mesmo nível do PSB, cada um com quatro parlamentares com 100% de liberação ou muito próximo desse percentual. Esses são alguns dos dados a serem levados ao Congresso pelo ministro amanhã. Vamos aguardar os desdobramentos. Essa novela, assim como o trabalho de Aécio, está apenas começando.
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