segunda-feira, janeiro 02, 2012

A língua de Dilma - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO


O Estado de S.Paulo - 02/01/12


Contrariando o mito machista de que mulher fala muito, no seu primeiro ano de governo a presidente Dilma Rousseff pronunciou-se menos do que seus dois mais recentes antecessores. Foram 189 discursos em 2011 - praticamente uma fala a cada dois dias. Em relação ao primeiro ano de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma usou a palavra em 25% menos ocasiões. Já na comparação com o primeiro ano de Fernando Henrique Cardoso, falou 13% menos vezes.

O começo do mandato, porém, não é um espelho fiel de uma gestão, pelo menos no discurso. Lula começou com 251 falas em 2003 e terminou seu governo, oito anos depois, com 353 pronunciamentos ao longo de 2010 - um recorde absoluto de verborragia entre seus pares. Na média, o petista falou 11% mais vezes no segundo mandato vis-a-vis os quatro primeiros anos no Palácio do Planalto.

Se a língua presidencial foi crescentemente acionada na gestão de Lula, sob FHC, tornou-se cada vez menos eloquente. O primeiro de seus oito anos de governo foi o mais palavroso do tucano, com 216 discursos. Ano a ano, Fernando Henrique economizou pronunciamentos e, mesmo tendo uma recaída verbal em 2002, falou em média 18% menos vezes no segundo mandato.

Nos casos de Lula e FHC, há uma semelhança entre as curvas de popularidade e de frequência dos pronunciamentos. Quanto maior a aprovação junto à opinião pública, mais discursos o presidente fazia - e vice-versa. Pode ser uma reação natural de exposição/preservação dos homens públicos, ou simples coincidência.

Na quantidade, Dilma se aproxima mais do tucano do que de seu mentor político. Na média dos oito anos de mandato, Lula discursou 33% mais vezes do que sua sucessora. Já a média anual dos dois governos FHC é praticamente igual à do primeiro ano de Dilma: 184 discursos a 189.

Na forma também, Dilma se aproxima mais de Fernando Henrique. Ambos privilegiaram a leitura à improvisação. Para FHC, por apreço à liturgia do cargo e pelo trauma dos dolorosos estragos que as blagues improvisadas provocaram em sua popularidade. A atual presidente ainda se ressente da pouca prática em pronunciamentos públicos. Lula, ao contrário, nasceu para a política em palanques e comícios, observando as reações do público e improvisando o discurso ao gosto da audiência.

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