segunda-feira, janeiro 23, 2012
Dois dígitos - GEORGE VIDOR
O GLOBO - 23/01/12
O Plano Real completará 20 anos em 2014. Até lá, possivelmente a dívida bruta total do setor público corresponderá a menos da metade do Produto Interno Bruto do país. E o endividamento líquido (no qual já estão descontados as reservas cambiais e outros créditos a receber) deverá ser equivalente a menos de um terço do PIB. São condições que favorecem o ajuste nos juros.
Levará mais tempo para que a economia brasileira consiga conviver com taxas de juros similares às de nações que alcançaram um grau médio de desenvolvimento, certamente. A inflação precisará cair para um patamar aceitável, da ordem de 3% ao ano, o que dependerá de um reequilíbrio dos chamados fatores de produção, entre os quais o mercado de trabalho.
A atual política de valorização do salário mínimo prevê aumentos reais até 2023, condicionados à evolução da própria economia. Se por um lado tal política encarece o custo da mão de obra e pressiona as contas da previdência social no curto prazo, por outro tende a tornar o trabalho mais atraente para um considerável número de pessoas em idade ativa (algo entre 5% e 10% dessa faixa etária) que não é motivada por um emprego.
Um exemplo prático desse reequilíbrio vem ocorrendo na construção civil. Antes tipicamente um reduto masculino, a construção civil vem empregando cada vez mais mulheres nas obras, especialmente nas fases de acabamento, nas quais elas têm se mostrado mais cuidadosas que seus colegas homens.
Ainda não se conseguiu medir o impacto dessa mudança na produtividade do setor, mas no "olhômetro" alguns gestores fundos de investimentos que acompanham a atividade amiúde acham que o desperdício de material tem diminuído. As obras, sem dúvida, estão ficando mais limpas.
A opção de trabalhar na construção civil, que passou a remunerar melhor seus empregados, é apontada como uma das explicações para a diminuição relativa do emprego doméstico no Brasil. Estima-se que mais de cinco milhões de pessoas continuem trabalhando como empregados domésticos, porém esse número parou de crescer, e em termos percentuais vem perdendo importância no total da mão de obra (ainda que as tarefas domésticas remuneradas, formais e informais, continuem como o maior empregador do Brasil).
Em função desse reequilíbrio, o mínimo tenderia a ficar mais próximo do salário médio, chegando a uma proporção de 40%.
Tal qual o mercado de trabalho, a economia brasileira pode passar por uma razoável mudança em sua infraestrutura, contribuindo para um outro ciclo de ganhos de produtividade, como o que ocorreu após o lançamento do real.
Se essa trajetória se confirmar, ficará mais fácil empurrar a inflação para o patamar de 3% ao ano, sem que para tal as autoridades monetárias tenham de recorrer a doses cavalares de taxas de juros.
E, assim, os juros internos espelhariam mais fielmente o quadro do endividamento público. Como se viu na crise europeia, sendo o setor público o maior devedor, o endividamento governamental é determinante no comportamentos dos juros, em geral.
Nessa caminhada, que não será curta, alguns passos poderão ser dados antes dos vinte anos do Plano Real. O maior desafio será manter as taxas básicas de juros abaixo de 10%, sem artifícios. Se ficarem abaixo de dois dígitos por um período de dois, anos, a batalha decisiva terá sido ganha.
Até 2014, as distribuidoras de energia elétrica da Eletrobras (empresas originalmente estaduais, e que acabaram "federalizadas") terão que ser lucrativas, segundo meta definida pelo conselho de administração do grupo, Algumas já estão no azul, como é o caso das distribuidoras de Rondônia e do Piauí, mas outras têm dificuldade para sair do vermelho porque enfrentam um calote crônico por parte de prefeituras e órgãos estaduais (empresas de água e esgoto, etc.).
Os inadimplentes geralmente conseguem obter na justiça local liminares que impedem o corte no fornecimento de energia, e as distribuidoras perdem o poder de pressão (e negociação).
Mas há outros desafios, como o combate ao furto de eletricidade ("gatos"), com índice muito elevado no Amazonas, atualmente o mais alto do Brasil, e perdas técnicas na própria distribuição.
A Eletrobras assumiu essas distribuidoras, localizados em estados do Norte e do Nordeste, como forma de se ressarcir de dívidas que tais empresas tinham com companhias de geração e transmissão de energia elétrica do grupo. É um programa que somente atingirá seu objetivo quando o conjunto das distribuidoras estiver no azul.
Empresas internacionais têm adotado como política não aumentar seu contingente de pessoal em termos globais. Algumas, quando investem no Brasil e empregam pessoas por aqui acabam cortando postos de trabalho lá fora, o que vem gerando má vontade de sindicatos estrangeiros de trabalhadores em relação ao atual momento da economia brasileira.
O Canal do Mangue existe desde priscas eras. Surgiu para ajudar a drenar uma área pantanosa junto a Baía de Guanabara e que se tornou uma extensão do núcleo original da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. O Mangue, como o canal é chamado, desemboca na Baía, dividindo o cais do porto do Rio. No projeto de reformulação do porto para uso por empresas que dão apoio a plataformas de petróleo está prevista a possibilidade de tornar esse cais contínuo, com um píer sobre o trecho dividido. A obra envolveria também um sistema para evitar o assoreamento da saída do canal, uma das causas do alongamento de regiões próximas durante o verão.
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