terça-feira, janeiro 31, 2012
Derrota de Haddad será derrota de Lula - RAYMUNDO COSTA
Valor Econômico - 31/01/12
A eleição de 2012 é uma etapa no que é central no projeto do PT: assegurar a reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014 e assim garantir a permanência do partido no poder durante 16 anos. Seriam quatro mandatos consecutivos e a segurança de deixar assentadas as bases de um país nos moldes petistas. Em 2018, é provável que o partido não tenha um candidato natural à sucessão, mas a alternativa de poder pode sair de dentro do campo que apoiou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atualmente apoia a presidente da República.
Há dois obstáculos no percurso rumo a 2014, etapa fundamental para o PT concluir o projeto dos 16 anos. Um deles é a dificuldade de relacionamento da atual presidente com os políticos e os partidos; o segundo, nem por isso menos importante, é a renovação dos quadros petistas, estimulada por Lula e outros fundadores que julgam ter chegado a hora de começar a troca de guarda: por causa da idade; porque foram alvejados no processo político (e também no mensalão) e porque é normal em qualquer partido.
Há uma ambiguidade na atual política brasileira. Vários setores da sociedade estimulam a demanda da presidente com os partidos. Isso equivale a dizer que os partidos só atrapalham e que a presidente não deve se relacionar com o Congresso, de que depende o governo federal para aprovar os projetos de seu interesse. Uma bobagem. A negociação com o Congresso é o que permite a Dilma governar por meio de uma maioria representativa. A opção seria o modelo do venezuelano Hugo Chávez denominado de "democracia direta e participativa", do qual sem dúvida há adeptos também no PT.
O que Dilma e o PT precisam para assegurar os 16 anos é estabilizar a relação com a base aliada, especialmente com o PMDB, o maior partido da coligação governista. Estabilizar significa dizer, desde já, que o partido vai manter a aliança e a parceria preferencial com os pemedebistas na eleição de 2014.
Até agora aliado fiel, o PMDB pode virar um grande problema para o governo de Dilma. No próximo ano, o partido terá a presidência das duas Casas do Congresso, a menos que o PT resolva romper o acordo que fez na Câmara, o que não é decididamente aconselhável: o fim do governo Fernando Henrique Cardoso começou a acabar no racha do PSDB com o PFL para a eleição de Aécio Neves para a Mesa da Câmara. Os tucanos queriam ficar 20 anos no poder; ficaram oito. Os maldosos dizem que foram apenas quatro, pois FHC teria governado o segundo sem o apetite com que Lula governou, após reeleito.
Evidente que a distribuição dos cargos e as eleições municipais contribuem para a atual desestabilização da relação do PMDB com o governo federal, mas em boa medida ela é resultado da movimentação do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que joga para ser vice de Dilma em 2014, no lugar de Michel Temer (PMDB), e o nome do governo nas eleições de 2018. O governo acompanha os passos de Campos e usa a ação do governador para cobrar mais e mais fidelidade do PMDB.
Por outro lado, uma nova geração começa a ascender no PT Uma geração que tem pressa. Muita. Até porque está no governo e precisa lutar dentro dele pela sobrevivência. Todos jogam suas fichas, sem o "timing" que teve a geração anterior, que aprendeu na oposição a administrar o tempo: começou com uma bancada de seis deputados, depois 16, depois 32. Como diz um dos fundadores: "O timing era imposto pela circunstância histórica".
Os mais velhos preconizam que os mais novos precisam ter uma visão de médio e longo prazo. O cenário está bom para o PT, mas o partido precisa ter muito cuidado com a eleição municipal. Como todo partido, tem que ganhar algumas cidades importantes. Mas não pode ganhar escorraçando os aliados. Mas a ansiedade contamina a legenda.
No Rio Grande do Sul, os veteranos acham que o PT deveria apoiar a reeleição do prefeito José Fortunati, num jogo vinculado com 2014 e 2016: o PT daria o candidato a vice do PDT agora, para sucedê-lo em 2016, e apoiaria a candidatura de Manuela D"Ávila ao Senado daqui a dois anos, em troca - claro - do apoio de todos à reeleição do governador Tarso Genro.
Mas o curso que está sendo traçado no Sul é outro, para o horror de um dos "fundadores", que já viu esse filme repetidas vezes: "O PT não pode ganhar todas, porque se quiser ganhar todas os aliados espanam." No Ceará, o governador Cid Gomes quer fazer o irmão Ciro senador. Uma oportunidade para a prefeita Luizianne Lins propor um acordo pelo qual o PT indicaria o candidato à sua reeleição e ela apoiaria Ciro em 2014, em troca do direito de se candidatar ao governo no lugar de Cid. Mas se a intenção do PSB for se manter no governo, abriria então mão da vaga do Senado para Luizianne. Difícil, muito difícil até pelas personalidades envolvidas na negociação.
Tem o Rio de Janeiro, onde Lindbergh Farias deveria recuar e apoiar a aliança para 2014 com o atual vice-governador Luiz Fernando de Souza, o Pezão, o candidato do governador Sérgio Cabral, na cabeça de chapa. Aposta-se no PT que Pezão não terá fôlego para sustentar uma candidatura competitiva e que Cabral não terá dificuldades para recuar quando vir o nome do aliado empacado nas pesquisas de opinião.
Em Belo Horizonte, apesar da rasteira sofrida de Aécio Neves, que determinou o expurgo petista da prefeitura, os antigos acham que o PT deve manter aliança com Marcio Lacerda. Mesmo que o PMDB lance um candidato próprio. "Nós não podemos dar nenhum pretexto para o pernambucano. O pernambucano é muito inteligente e gosta do poder. Não devemos brigar para não correr riscos".
Por fim tem São Paulo, o símbolo da mudança de geração. A aliança com o prefeito Gilberto Kassab é inviável, mas o PT deveria evitar dizer isso (o que não está acontecendo). O risco de Fernando Haddad não dar certo é a eleição ir para o segundo turno, sobretudo com Gabriel Chalita, do PMDB, que teria a capacidade de reunir a maioria dos outros partidos contra o PT. A derrota de Haddad não será uma derrota do ex-ministro ou do PT. Será a derrota de Lula.
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