domingo, janeiro 01, 2012

Craque na bola, no texto e na polêmica - ANTERO GRECO


 O Estado de S. Paulo - 01/01/12


O ofício de escrever em jornal de vez em quando prepara armadilhas afetivas. Não é fácil falar com distanciamento da morte de pessoas de que gostamos e com as quais convivemos. Por mais que a experiência faça prevalecer o bom senso nesses momentos, sempre há lágrimas teimosas a escapulirem e que derrubam as lições de teoria de comunicação que aprendemos na escola. E algumas marotas escorreram ontem, ao ser acordado pelo telefonema de Robson Morelli, editor de Esportes do portal estadão.com.br, com a notícia dolorosa.

Mas não vou embrenhar-me pelo terreno escorregadio da pieguice. Sei que o Daniel não gostaria de texto meloso a respeito dele. Certamente ia dizer: “Anterone, não exagera...”. Na verdade, campo que curtia mesmo, pra valer, era o de futebol. Nos papos furados de meio de tarde, vira e mexe ele se dizia bom de bola, eu duvidava. Então lançava o desafio para peladas que anos atrás a turma da redação promovia numa quadra aqui perto. Nunca houve o tira-teima, por diferenças nas agendas. Mas, numa noite em que saí mais cedo do trabalho, assisti a um dos clássicos do pessoal da casa e... não é que o Daniel tinha intimidade com a pelota?! Era habilidoso e goleador.

Talvez pelo fato de ser finalizador curtia mais os atacantes. Dentre eles, Ronaldo. Daniel era fã de carteirinha do Fenômeno, admirador tão ardoroso do ex-centroavante que se via obrigado a suportar gozações recorrentes dos colegas, chefia incluída.

A revanche aparecia na forma de belos e enxutos textos sobre futebol e que, em muitas ocasiões, tinham Ronaldo como tema. Daniel foi o criador da Boleiros e escalou o primeiro time de colunistas, do qual fazia parte.

Travamos resenhas animadas, intensas e polêmicas, sobre o ludopédio, para ficar numa expressão que usava na coluna Sinopse. Embates que acabavam em inofensivas caneladas verbais, risadas e boas ideias para crônicas.

Estivemos juntos nas Copas de 2006 e 2010. Na Alemanha e na África do Sul engatamos longas conversas, em que Daniel despia a máscara do homem culto, cético, e se revelava apenas um rapaz que curtia futebol. E dá-lhe provocações... Fará falta.

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