segunda-feira, janeiro 23, 2012
Começa o jogo - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 23/01/12
A sucessão paulistana e a guerra de bastidores deste ano em torno da escolha do presidente da Câmara, logo depois das eleições municipais, são os principais eventos políticos de 2012. São os grandes fatores de instabilidade para o projeto de poder petista
Esta semana abre a temporada política de 2012, com direito a reunião ministerial e troca de comando em duas pastas e a nomeação do novo porta-voz do governo, Thomas Traumann. Ele chegou ao Planalto com o ex-ministro Antonio Palocci, ou seja, especializou-se em crises. Não que 2012 irá repetir o que ocorreu em 2011, com um ministro caindo a cada dois meses. Mas, em ano eleitoral, todo o cuidado é pouco, até porque, quando terminarem as eleições municipais, será hora de cuidar da escolha do futuro presidente da Câmara, uma disputa tensa desde 2005, quando Severino Cavalcanti (PP-PE) foi eleito.
Antes de chegar lá, a presidente Dilma Rousseff terá uma série de obstáculos para segurar a economia sem deixar desandar a política. O primeiro ela já venceu. Propôs vetos ao Plano Plurianual de Investimentos (PPA), uma peça que ninguém leva muito a sério mesmo.
Mas não vetou o Orçamento de 2012. Significa que todos os penduricalhos que os políticos colocaram ali permaneceram.
Na prática, entretanto, não quer dizer que eles possam aproveitar esse pré-carnaval e entrar em bloco no gabinete da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, gritando "ei, você aí, me dá a minha emenda aí". Até chegar ao ponto de liberação, ainda existe um ritual e tanto. O primeiro é a série de reuniões que Dilma promoveu nos últimos dias com seus ministros para ouvir as prioridades de cada pasta.
O que não foi incluído nessas prioridades não será liberado. Ou seja, os showzinhos que a galera pede ao ministério do Turismo, as pequenas barragens solicitadas à Integração Nacional e aquelas estradinhas que sonham com um asfalto vão ficar apenas no papel. As prioridades são as obras de redução dos efeitos dos desastres naturais, a mobilidade urbana para a Copa do Mundo, o Minha Casa, Minha Vida, o Brasil sem Miséria, o ProUni, as bolsas de estudo no exterior para os estudantes universitários. Só aí, lá se vão os recursos.
Por falar em Integração Nacional...
No quesito reforma ministerial, as expectativas são cada vez menores. As chuvas começam a diminuir em vários estados e as denúncias contra o ministro da área, Fernando Bezerra Coelho, são tratadas no Planalto como mais do mesmo. No caso das Cidades, especulou-se que Márcio Fortes, o chefe da Autoridade Pública Olímpica (APO), deixaria o cargo para voltar ao ministério no lugar de Mário Negromonte. Hoje, avisam os palacianos, Negromonte é mais vítima de seu próprio partido do que do desejo da presidente Dilma de que ele deixe o cargo. Aliás, como o partido não aceita Fortes, tirar Negromonte para colocar outro deputado seria trocar seis por meia dúzia. E assim, Negromonte vai ficando e a reforma ministerial vai perdendo espaço para as eleições municipais.
Por falar em eleições...
No Planalto, há a certeza de que uma das poucas capazes de influenciar no quadro de 2014 é mesmo a de São Paulo. Por isso, o interesse em liberar logo Fernando Haddad. Ele é amigo de Gabriel Chalita (PMDB) e terá agora a missão de segurar o peemedebista ao lado do PT, para não deixar que ele acabe novamente mais ligado aos tucanos. Também não deve deixar que a ala radical do PT dispense conversas com o prefeito Gilberto Kassab. Afinal, a principal jogada ali é evitar que o PSDB retome a prefeitura e um espaço importante que possa comprometer o projeto de poder petista, de continuar no comando do país pelo maior período possível.
Por falar em projeto de poder...
O maior problema político do governo não será o estica e puxa eleitoral e sim o que virá depois. Ao mesmo tempo em que o atual presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), avisa que o partido não romperá o acordo com o PMDB e apoiará a candidatura de Henrique Eduardo Alves ou quem o partido de Michel Temer lançar, nada impede que outros partidos da base lancem um candidato à sucessão do petista. Ou quem sabe, apareça algum rebelde dentro do PT disposto a chacoalhar esse galho. PT e PMDB sozinhos não conseguem eleger o futuro presidente da Câmara. E hoje nada impede que PSB, PSD, PTB, PP e PR se unam e consigam quebrar a hegemonia dos dois grandes dentro da Câmara e, por tabela, bagunçar a base do governo. Esse jogo e a sucessão paulistana são os dois ingredientes explosivos de 2012. E a economia? Bem, essa seara Dilma conhece bem e tem em mãos os instrumentos para segurar. Quanto às vaidades e ao desejo de poder que dominam a política é outra história.
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