PERCA TEMPO - O BLOG DO MURILO

sábado, dezembro 17, 2011

O melhor lugar de São Paulo - MATTHEW SHIRTS


REVISTA VEJA - SP
Se você perguntar qual é o meu lugar favorito em São Paulo, respondo na lata, sem pestanejar.
Gosto, é verdade, da Vila Madalena, da feira, dos bares, dos restaurantes e da livraria do bairro, de andar a pé por lá. Adoro o Estádio do Pacaembu e o Museu do Futebol, o edifício do Instituto Tomie Ohtake, tão magenta e bem-humorado, mas o meu lugar predileto é o Conjunto Nacional, na esquina da Paulista com a Augusta.
Sempre foi. São Paulo é, para mim, uma cidade intelectual. Isso eu tenho em comum, acredito, com muitos que vieram de alhures, do interior, de outros estados e países. Não são poucos os pontos bacanas Brasil afora. Mas é em São Paulo que a cultura acontece. É a cidade da vanguarda desde o modernismo, em 1922. Quem quer participar da vida cultural do nosso país, quem quer ser escritor, artista, jornalista, cineasta, pintor, publicitário ou poeta costuma ter como objetivo viver aqui pelo menos em algum momento da vida.
Nisso, eu não fui diferente. Apaixonei-me pela cidade durante um ano de intercâmbio na Universidade de São Paulo, entre 1979 e 1980. Consegui voltar para morar em 1984, sozinho. A primeira coisa que fiz, depois de instalado no apartamento do meu amigo José Carlos, ali, atrás do Masp, foi passar no Conjunto Nacional para buscar novidades na Livraria Cultura.
Achei o romance "Tanto Faz". Amei. Fiquei amigo do autor, Reinaldo Moraes, meu grande chapa até hoje, e, através do Rei, de todo tipo de intelectual e escritor e artista em São Paulo. Ou seja, realizei o meu sonho de viver a cultura latina, vanguardeira e terceiro-mundista graças, em parte, ao Conjunto Nacional.
E, convenhamos, é um shopping interessante. A arquitetura é puro anos 50. O pé-direito é altíssimo. É dominado pela Livraria Cultura, que vai se espalhando por lojas e mais lojas. Tem um café na entrada e também o Instituto Moreira Salles, de fotos, livros e ilustrações chiques, uma galeria de arte com exposições interessantes e um cinema que passa basicamente filmes de Woody Allen. O que mais poderia pedir eu? É uma espécie de Galeria do Rock — outro ponto paulistano fantástico — para intelectuais. Há, ainda, uma ou outra loja de roupas e sapatos. Mas mais me parecem um pretexto para poder chamar aquilo de shopping. O negócio ali é cultura. Sapato é cultura?
Hoje, quando entro na Livraria Cultura e a vejo lotada, aquele povo todo na rampa, lendo, fico arrepiado. Entre lá no fim da tarde de sexta-feira para ver. Você mal consegue andar. É a melhor imagem do Brasil emergente: o consumo voraz associado à vontade de saber.
Como o Natal está próximo, resolvi oferecer uma lista de livros bons de dar de presente. O melhor que li em 2011 se chama "1493" e foi escrito pelo jornalista Charles Mann. Investiga as consequências biológicas da chegada dos europeus à América. 1493 ainda não saiu em português, mas o livro anterior de Mann, "1491", foi lançado pela Editora Objetiva. É quase tão bom quanto e uma ótima introdução à questão da globalização biológica.
Outra grande obra é a biografia de Steve Jobs escrita por Walter Isaacson. Jobs foi um chato, é verdade. Mas sua vida é fascinante e Isaacson é um gênio. Não consegui parar de ler. Oferece uma perspectiva única do significado dos nossos tempos.
Na ficção, recomendo "Liberdade", de Jonathan Franzen, e "Solar", de Ian McEwan. Os dois romances giram em torno de personagens ambientalistas e conseguem fazer refletir e rir — de dar gargalhadas — da situação ecológica atual.
Na crônica, adorei "Meio Intelectual, Meio de Esquerda", do meu amigo Antônio Prata. Amei também o único romance de Hunter S. Thompson, "Rum Diaries", que recebeu um infeliz título em português: "Diário de um Jornalista Bêbado". Mas o livro vale a pena. O filme entra em cartaz na cidade, com Johnny Depp no papel principal, no mês de janeiro.
Um feliz Natal para você e boas festas.
MURILO às 21:04 Nenhum comentário:
Compartilhar

Noiva - FERNANDA TORRES


 REVISTA VEJA -RIO

Passei as últimas semanas de novembro paramentada de noiva por causa do seriado de televisão Tapas e Beijos.
O vestido era “o” vestido dos vestidos: um modelo princesa com corselete cinturado de renda brocada do qual nascia uma gigantesca saia formada por dezenas de camadas de tule, repousada sobre farta anágua de entretela engomada.
Foi o mais perto que cheguei de Cinderela.
Após cravar o último grampo para fixar a tiara no crânio a contento, abandonei o espelho mágico e segui para o estúdio junto com minha companheira, Andréa Beltrão, a outra noiva igualmente esplendorosa.
Amassamos as laterais esvoaçantes para passar pela porta ampla sem maiores dificuldades, mas arrastar a cauda por entre os fios, pregos e sarrafos do chão se mostrou uma operação arriscada. Quando finalmente alcançamos o cenário, os gestos mais corriqueiros, como ir para as marcas e esperar o próximo take, só eram possíveis depois de um desengonçado balé.
Caso desejássemos mudar de lugar, era preciso girar a parte de baixo no sentido almejado, levantar a cascata de tecido com as unhas postiças e sair arrastando os objetos de cena enquanto chutávamos a entretela em linha reta. Para sentar, era necessário girar novamente a roda de pano, virar de costas para a cadeira e agachar lentamente, fazendo um contrapeso entre a cabeça e o traseiro.
Com o tempo, um calor diabólico começou a brotar das pernas e subir pela barriga, até atingir o pulmão. Apertado pelas barbatanas do espartilho e superaquecido pela fornalha dos baixios, o órgão vital saiu de circuito. Respirar virou um problema. Para coroar, a enxaqueca chegou rasgando. Quando me vi livre do andor, a ideia de me enfiar novamente naquela armadura de gaze já não me parecia tão atraente.
E olha que estávamos em um ambiente refrigerado.
No dia da externa do casório, um sol inclemente tomou de assalto Curicica. Vladimir Brichta e Fábio Assunção, empacotados de príncipes, trajavam fraque, colete, gravata apertada e colarinho alto. Juntos, lembravam chaminés de locomotiva prontas para soltar vapor pelas ventas.
Como é duro o dia da noiva. E do noivo.
Um amigo e a mulher já moravam juntos havia alguns anos, quando resolveram se casar. Escolheram a igreja, os padrinhos e o padre; marcaram a data, distribuíram convites e se prepararam para oficializar, perante Deus e a sociedade, a sua eterna união. Na hora em que o último convidado foi embora, depois da missa solene, da recepção, do bolo, do beija-mão, da comoção e da farra, os dois se viram sozinhos na sala de casa, a mesma que os havia abrigado nos últimos anos, e foram acometidos de um acesso incontrolável de choro.
Na peça É…, a que assisti diversas vezes na infância, Millôr Fernandes cita uma frase de Bernard Shaw que jamais vou esquecer: “Quando dois jovens estão apaixonados, em um estado de exaltação febril e patológica, a sociedade põe diante deles um padre e um juiz e exige que jurem que permanecerão o resto de sua vida nesse estado anormal, deprimente e exaustivo”.
Não sou tão ferina quanto Shaw, mas a profissão de atriz me roubou muito da magia das bodas.
Perdi a conta do número de vezes que o serviço me fez caminhar para o altar. O resultado é que não consigo pensar no grande momento sem levar em consideração o esforço hercúleo de levantar o circo.
Minhas reticências são todas de ordem prática.
Uma cerimônia desse porte é uma diária de gravação apertada com duas locações: a capela e o salão de festas, além das cenas pendentes da lua de mel. Tem direção, elenco, figuração, figurino, maquiagem, cenografia, sonoplastia, iluminação, contrarregra, transporte, alimentação… até equipe de filmagem tem. É um ritual teatral parecidíssimo com o meu ganha-pão.
Apesar de eu achar bonito ver um homem e uma mulher, ou duas mulheres, ou dois homens, assumirem seus laços diante dos entes queridos, John Lennon e Yoko Ono ainda encarnam meu ideal de romantismo. Os dois se casaram na surdina, em Gibraltar, e só depois contaram para o mundo.
Eu sonho assim. E de preferência com a minissaia e o chapelão da Yoko.
MURILO às 20:50 Nenhum comentário:
Compartilhar

Você tem medo de fantasma? - RUTH DE AQUINO


REVISTA ÉPOCA

Eles se infiltraram em todos os Poderes da República. Invisíveis, só aparecem quando são denunciados

RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Sabe o Pluft, o fantasminha camarada que tem medo de gente? Pois ele sentiria hoje muita vergonha se soubesse o que foi feito com a categoria no Brasil. Estamos cercados de fantasmas menos fofinhos e mais espertos que o Pluft. Eles se infiltraram em todos os Poderes da República. Como são invisíveis, só aparecem quando denunciados. Às vezes ganham prestígio graças ao toma lá dá cá.
O Judiciário ajuda o Legislativo, que ajuda o Executivo, que ajuda o Legislativo, que ajuda o Judiciário. Todos querem aumentos muito acima do possível no mundo real. Não só nos subsídios, mas nas mordomias. E quem paga os fantasmas são pessoas de carne e osso, contribuintes, eleitores, cidadãos. Que começam a perceber seu poder.
Na semana passada, a Câmara desistiu de aprovar o pacote de quase R$ 400 milhões de aumento para assessores dos deputados. Isso aumentaria a verba mensal de gabinete de cada deputado de R$ 60 mil para até R$ 90 mil. O recuo foi por causa dos protestos. Mas atenção: a Câmara só adiou a votação do pacote natalino para fevereiro, mês de folia, verão e Carnaval. Quantos fantasmas a Câmara e o Senado abrigam – e nós financiamos? Quem não reagir terá de se fantasiar de palhaço.
Eis o bloco animado dos fantasmas.
■ Jader Barbalho, fantasma na categoria ficha suja. Ex-governador do Pará, foi liberado pelo mesmo Supremo Tribunal Federal que o havia barrado. “É um ato de justiça”, disse Jader, preso por 16 horas em 2002 por dilapidar os cofres públicos. O pior é que Jader está certo. O STF decidiu no ano passado que a Ficha Limpa não poderia ser aplicada em 2010. Jader é um fantasma que ganhou novamente status de senador.
■ O Supremo Tribunal Federal, fantasma na categoria omissão. É inacreditável e vergonhoso que os juízes não tenham até agora conseguido votar a Lei da Ficha Limpa, aprovada pelo povo brasileiro, mas deem um jeitinho para reentronizar Jader Barbalho no Senado. O voto duplo do presidente do STF, Cezar Peluso, aconteceu um dia depois da visita da cúpula do PMDB. Peluso pediu apoio do PMDB ao aumento dos servidores do Judiciário. Por que o STF não vota logo então a Ficha Limpa? Ah, é preciso esperar pela juíza Rosa Weber. Ora, ministro Peluso, cadê seu voto de qualidade? A mesma lerdeza dos homens de toga leva o ministro Ricardo Lewandowski a dizer que o processo do mensalão pode cair por “prescrição”, porque não será julgado antes de 2013. É a Justiça fantasma.
■ Os 38 réus do mensalão, fantasmas na categoria formação de quadrilha. Esses são acusados de comprar votos, uma tradição antiga no país segundo o ex-presidente Lula. Quase como o jogo do bicho. Os réus contam com a falta total de vontade de alguns ministros do STF de julgá-los. Talvez porque os juízes achem que Lula tem razão. Sempre se comprou voto no Brasil. A ideia parece ser: sempre fomos corruptos, por que o PT não pode também ser corrupto? Vamos continuar todos sendo corruptos, porque a ética nada tem a ver com política.
■ As ONGs, fantasmas na categoria laranja. Endereços inexistentes, atividades inventadas só para justificar desvios. O governo federal divulgou suas auditorias: pelo menos R$ 7,3 bilhões repassados a Estados e municípios foram desviados nos últimos dez anos. A maior parte em convênios com “entidades”. Só no ano de 2011, o governo federal tenta recuperar R$ 1,4 bilhão de convênios irregulares, na Saúde, no Esporte, no Turismo... Sabe quando esse dinheiro fantasma vai reaparecer?■ Os seis ministros exonerados por desvio de verba, fantasmas na categoria injustiça. Todos saíram “com a consciência limpa e a cabeça erguida”. Todos injustiçados pela imprensa e pelo fogo amigo e inimigo. Como não devolveram nada aos cofres públicos e como alguns até indicaram seus sucessores, são fantasmas que choram a perda das mamatas, mas sonham reencarnar em grande estilo.
■ Fernando Pimentel, fantasma na categoria palestrante. O ex-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, Robson Andrade, disse que Pimentel deu uma série de palestras em 2009, como parte do contrato de consultoria de R$ 1 milhão. Mas Pimentel não falou em lugar nenhum e ninguém escutou. Ninguém esclarece as palestras fantasmas porque “as explicações já foram todas dadas”.
■ As sextas-feiras em Brasília, fantasmas na categoria abandono. Ministros quase não aparecem em solenidades às sextas-feiras. Dilma mandou recado: sexta é dia de trabalho, e eles têm de estar em Brasília. Mas será que Dilma nunca percebeu que o plenário no Congresso fica às moscas às segundas e sextas?
É muito camarada fantasma assombrando o Brasil. Mas, igual ao Pluft, eles têm medo de gente. Vamos assombrar essa turma em 2012.
MURILO às 13:22 Nenhum comentário:
Compartilhar

Antinomia do casamento - MARCELO RUBENS PAIVA


O Estado de S.Paulo - 17/12/11


Estamos numa baita crise. Discutimos muito, desabafou com o melhor amigo, aquele casado ainda com a namorada da faculdade, pai de dois moleques, dono de um golden que "retrivier" até pensamento e de uma rotina aparentemente invejável.

Amigo que, como a mulher, não aparentava a idade que tinha. Casal esportista, queimado pelo sol, causava admiração. Sempre bem-humorados. Nunca expunham desavenças, se existiam.

Se um casamento pode dar certo, ali estava o exemplo a ser seguido. Qual o segredo?

"O que detona uma discussão?", o amigo perguntou, como um sábio socrático.

"Decisões. Em viagens, por exemplo. Brigamos em todas as viagens que fizemos. Minto. Quando namorávamos, deu certo uma vez."

E lembrou da viagem teste para Bariloche, de classe executiva, com direito a uns dias em Buenos Aires para compras.

Estavam se conhecendo. Se conseguissem o consenso em toda programação turística, se conseguissem esquiar, passear, comprar e ainda transar como dois adolescentes, a relação ultrapassaria o cabo das tormentas a caminho de um mundo novo, paradisíaco.

Rolou. Foram morar juntos. Mas, na primeira semana casados, o alarme apitou. A primeira discussão pública.

Tinha levado a mulher para apresentar um japonês escondido que só ele conhecia, daqueles que gritam "irashaimase" assim que os clientes entram. Ele era chamado pelo nome pelos garçons. Sabia de cor o cardápio e o time para qual cada um torcia.

Ela o deixou escolher o combinado; afinal, ele era um "local". Enquanto o garçom íntimo anotava o pedido, ela lia o cardápio e questionava se o custo de um outro combinado, que tinha mais peças e era pouca coisa mais caro, não valia o benefício.

"Você me diz para escolher o prato, mas acabou de interferir na decisão", comentou irônico.

"Só estou tentando ajudar", foi a desculpa que passou a ser o mantra que atormentou a vida do casal.

Nas viagens seguintes, na ida ao aeroporto, começavam os conflitos. Ele preferia fazer hora num duty free a mofar ansioso num congestionamento. Planejava sair com cinco horas de antecedência. Ela o chamava de estressado e tentava acalmá-lo com um desesperador "vai dar tempo".

No check-in, mais conflitos, já que chegavam em cima da hora: lugar no avião e o que levar como bagagem de mão.

Assim que decolavam, ele se dopava. Preferia se apagar por todo o voo. Ela queria papear, ver todos os filmes, ler.

No exterior, ele preferia andar de metrô e gastar mais tempo em museus do que solas de sapatos. Ela, a pé. Ele preferia café da manhã no quarto. Ela, na rua. Ele detestava igrejas e museus de arte contemporânea. Ela era fascinada por todos os templos, sem distinção de estilo e religião, e seguia as dicas de viagem de uma revista feminina de moda.

Ele queria conhecer a cidade através de um ônibus de dois andares, que para em todos os pontos turísticos e resume numa tarde o que deve ser visto e fotografado. Ela preferia jogar com o acaso e sair sem plano traçado.

Ele queria conhecer a gastronomia local. Quanto mais exótica, mais interessava. Ela temia por novidades da flora e fauna local e sempre sugeria restaurantes básicos, mediterrâneos. Seu maior pavor era uma intoxicação alimentar paga em moeda estrangeira.

Por fim, o amigo deu o conselho que serviria para a vida toda, e mudaria para sempre a relação com a mulher:

"Deixa ela decidir tudo. Faça como eu. Enquanto ela discute no check-in do aeroporto, fique lá na calçada fumando."

"Mas eu não fumo."

"Comece."

E assim foi. Planejaram outra viagem para colocar em prática o novo comportamento. A ida para Orlando foi um sucesso. Ele não palpitou. Nem questionou quando ela pediu para ele ficar ao lado do Pateta, para uma foto que postou no Instagram.

E começou a fumar. Em toda e qualquer indecisão turística, ele dizia: "Decide você, que vou lá fora fumar um cigarrinho."

Não discutiu com ela quando na volta deu excesso de bagagem. E passou o voo acordado vendo as fotos que ela tirou com o Pato Donald, Mickey, Margarida, Tio Patinhas e todo o casting bizarro da família Disney.

Voltaram e concluíram que nasceram um para o outro.

Ela decidiu se casarem formalmente. Ele topou, apesar de agnóstico. Ela escolheu a data, o local, as músicas e o bufê. Fez sozinha a lista de convidados.

Ela sugeriu mudarem de casa. Ele topou. Ela escolheu o bairro, a rua, o condomínio e a companhia que faria a mudança. Ele apenas encaixotou.

Ela decorou o novo apê. E era a última palavra em tudo: se sairiam ou ficariam em casa assistindo a um DVD, selecionado por ela, lógico, no novo movie theater que ela escolheu e que combinava com os móveis da sala. É, foi na mudança que ela decidiu que a TV ficaria na sala.

Às quartas, jogatina. Na mesa de pôquer, só os maridos. Enquanto apontavam quem era o small e o big blind, reclamavam das mulheres mandonas e dos conflitos infindáveis. Só ele jogava concentrado, ciente de que encontrara a fórmula perfeita, que pendia para um lado.

Mal sabia que na sala ao lado, na tranca das mulheres, a sua era a que sempre puxava o debate, com a cumplicidade da mesa, que não tinha outro tema a não ser:

"Não entendo, ele parece interessado, mas no final sou eu quem acaba fazendo tudo. Fico esperando ele tomar atitudes, e nada. Ainda deu de fumar!"
MURILO às 13:22 Nenhum comentário:
Compartilhar

“Com você é diferente" - IVAN MARTINS


REVISTA ÉPOCA

Acredite quando ouvir isso. Deve ser verdade

IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA (Foto: ÉPOCA)
Talvez haja homens que sejam os mesmos com todas as mulheres, mas eu duvido. Uma das grandes experiências humanas é perceber – no olhar, na conversa, na cama - que estamos diante de uma pessoa diferente e que tudo mudou. Os velhos hábitos não valem. Os truques de sedução e as fórmulas de reconciliação têm de ser redescobertas. É preciso começar de novo - por isso cada paixão faz de nós pessoas diferentes.
Mas essa não é a percepção geral das mulheres.
Tente explicar à sua nova namorada que você não é exatamente o sujeito que ela olhava de longe e de quem ouviu falar pela rádio peão. Tente dizer a ela que, para o bem ou para o mal, com ela você é outro sujeito: menos atrevido, menos engraçado, menos imprevisível, talvez. Ao mesmo tempo mais romântico, mais leal, sexualmente mais intenso.
Experimente contar a ela que o sexo cinco estrelas (e um Big-Bang) a que ela está se acostumando não existia dois meses atrás, quando você a conheceu. Diga que a máquina sexual em que você se transformou, (cheia de energia, audácia e imaginação), estava guardada num porão há 30 anos, esperando que ela entrasse na sua vida. Conte a ela que você nunca foi um fauno e que agora está surpreso com a temperatura a que água tem chegado.
Ao dizer essas coisas, ao sair do seu casulo de reclusão masculino e admitir que você não é super-homem na ausência dela, talvez você se depare com a incredulidade. “Ah, você diz isso pra todas”, algumas respondem. Pois eu garanto, meninas, que não é assim. Nem todas as mulheres que passam pela vida de um homem ouvem esse tipo de confissão. Quando o sujeito, depois de um tempo de convívio (e de romper várias camadas de intimidade), usa a frase mágica - “Com você é diferente” – acredite nele. Há uma chance enorme de que seja verdade.
O sujeito tem de ser emocionalmente muito burro, quase uma anta, para não se deixar tocar pela diferença. Imagine o cara que transa de um certo jeito com Maria e faz do mesmo jeito com Joana e Tereza. Ele pode ser muito bom de serviço, mas, se entregar sempre a mesma mercadoria, no mesmo pacote, na casa de várias mulheres diferentes, vai deixar várias delas insatisfeitas. E passar por autista. Eu não consigo imaginar algo que precise ser mais à la carte do que sexo.
Claro, cada um de nós, homens e mulheres, repete padrões íntimos. Temos um repertório emocional e físico que tende a reaparecer. Há um estilo e um sotaque na forma de transar, na forma mesma de se relacionar. Isso é parte da nossa personalidade, que vai se definindo com o tempo e com a experiência. Mas essa coreografia sexual não é imutável, algo que se execute independentemente da parceira. Cada transa – ou cada pessoa – tem sua própria música, e o nosso corpo se adapta a ela, se souber escutar. O bom sexo talvez seja o encontro de dois ritmos intimamente compatíveis, ainda que diferentes entre si.
A conversa em que o sujeito admite que nunca teve um sexo tão gostoso só aparece lá na frente. Requer tempo, relaxamento, entrega. O cara (ou a garota) precisa perceber que está diante de algo especial, e tem de ter espaço para contar. Não é tão fácil nos dias que correm. As relações são muito rápidas e as pessoas ficaram duras. Muitas não querem escutar, não querem saber. Uma declaração de amor – ou uma declaração de prazer – põe o outro na sua vida. Para alguns, pode ser uma intimidade intolerável.Num mundo como o nosso, em que se transa com muita gente, não é fácil cultivar a afinidade. Hoje é com João, daqui a pouco é com Antônio, dentro de alguns dias, quem sabe, com José. Não dá tempo para descobrir compatibilidades que não sejam instantâneas. Não se consegue avançar além do óbvio, não se passa da arrebentação. Pode ser gostoso, mas tende a ser parecido e superficial. Cada um entra em campo com as fórmulas que trouxe do passado e se protege atrás delas. Primeiras transas revelam muito pouco, no máximo dão pistas. Quem fica sempre na primeira transa não passa da ante-sala dos outros e de si mesmo. 
Se você não é assim, se você abriu a porta para que o seu namorado entrasse, dê crédito quando ele disser que você é única. Acredite quando ele, com cara de menino, contar que nunca foi tão gostoso, nunca foi tão intenso, nunca foram tantas vezes num mesmo fim de semana. Aceite o fato que, apesar da fama de safado e da óbvia competência que ele exibe, você é especial para ele – embora nem sempre você mesma se sinta muito especial. Uma das vantagens de se viver no século 21, neste pedaço do planeta em que homens e mulheres são relativamente livres, é poder andar por aí e descobrir, depois de muitas tentativas e alguns erros, uma chave que combina melhor com a sua porta – um corpo, uma voz e um desejo que parecem ter sido feitos para você. Quando isso acontecer, avise. Quando ouvir a mensagem, acredite. A felicidade não é permanente, mas existe.
MURILO às 13:16 Nenhum comentário:
Compartilhar

Mudança de rota - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 17/12/11

O Conselho de Administração da Vale aprovou a venda de quatro supernavios da frota de 19 que a mineradora constrói na China e na Coreia. A venda, para um armador asiático, gerou até um pequeno lucro para a brasileira.

Em tempo...

A política da Vale de ampliação da frota própria, adotada na gestão de Roger Agnelli, tem sido questionada depois do acidente, outro dia, com o navio Vale Beijing, no Maranhão. Além disso, a mineradora encontra dificuldade para conseguir autorização da China para ancorar alguns de seus navios.

Te cuida, Paulo Coelho

O “Livro do Boni”, lançado pela Casa da Palavra, já vendeu 60 mil exemplares. A terceira edição, com mais 20 mil, já está no forno. A média é de 15 mil livros vendidos por semana — ou... nove por hora.

Coluna social

Thaila Ayala e Paulo Vilhena, os atores que se dizem avessos a revistas de celebridades, fecharam parceria com... a “Caras”. Em troca de dez passagens para os parentes irem a seu casamento, em Fernando de Noronha, deram à revista exclusividade na cobertura da cerimônia.

Bilhete do João

Do gênio João Gilberto, chegou à coluna o seguinte bilhete: “Querido Ancelmo, não é justo que Cláudia Faissol seja culpada, e não é verdadeiro que falsos heróis possam ser citados como representantes e amigos ideais. Um abraço, João Gilberto.”

Gota D’Água
O movimento Gota D’Água, aquele que pede a interrupção da construção da Usina de Belo Monte, entrega terça ao ministro Gilberto Carvalho, no Planalto, petição com 1,34 milhão de assinaturas contra a obra. Foram colhidas em um mês.

ESTA É A PRIMEIRA foto do elenco de “Os penetras”, o novo longa do cineasta boa gente Andrucha Waddington. “É uma comédia irreverente”, conta Andrucha. “Mostra tudo que pode dar certo e errado no réveillon carioca a partir do momento em que Marco (personagem de Marcelo Adnet) e Beto (vivido por Eduardo Steblitch), dois caras com personalidades diferentes, juntam-se por acaso.” O filme é mais um da Conspiração, com coprodução e distribuição da Warner Bros. No elenco (veja da esquerda para a direita) estão Susana Vieira, Marcelo Adnet, Mariana Musa do Moreno Ximenes, Elena Sopova, Eduardo Sterblitch, Andrea Beltrão e Stepan Nercessian. Também estão no longa, mas não na foto, Luís Gustavo e Luís Carlos Miele. Estreia no segundo semestre de 2012

A vida melhorou
O brasileiro pobre acha que a vida melhorou nos últimos anos. Pesquisa do Ipespe, de Antonio Lavareda, para a CNA mostrou que, para 85% dos brasileiros da classe C, a vida deles está melhor, comparada à de seus pais. E, para 87%, a vida de seus
filhos será ainda melhor.

Segue...

Para os próximos meses, 81% planejam comprar casa própria; 61%, uma TV de plasma; 60%, carro; e 56%, um computador.

Saiu ao pai

Hélder Barbalho, o filho de Jader que é prefeito de Ananindeua, cidade vizinha de Belém, festejou a vitória do pai no STF, mandando atirar rojões na casa de Rômulo Maiorana, presidente do jornal “O Liberal”, que faz oposição à família dele no Pará. O foguetório apavorou empregados e filhos do jornalista.

Samba dos milhões
O MinC autorizou a Mangueira a captar R$ 4.967.869 para fazer seu desfile em 2012. A escola vai homenagear o bloco Cacique de Ramos.

Já...

A Mocidade, cujo enredo é sobre Portinari, pode captar R$ 2.319.236 pela Lei Rouanet.

Xixi com documento

Os vovozinhos que usam os banheiros da Rodoviária Novo Rio passam aperto. É que, antes de entrarem para fazer pipi ou popô, têm que mostrar... a identidade.

Lavagem da avenida

Como na Bahia, onde há a Lavagem do Bonfim, a Passarela do Samba, no Rio, será lavada numa cerimônia afrodescendente em sua reinauguração. Será feita pelo mesmo grupo que celebra hoje, na Pedra do Sal, a cerimônia do Bailado das Iabás da Gamboa presidida pelo pesquisador Hiram Araújo.

Bola da paz

Bernardinho, a pedido do pessoal de Cabral, autografou 21 bolas de vôlei para serem sorteadas no Natal das UPPs. Hoje, a secretária Márcia Lins e sua turma distribuirão as bolas de vôlei nas 21 comunidades.

Calcinha do Grajaú

Uma moradora da Rua Itabaiana, no Grajaú, no Rio, tem deixado alguns vizinhos irados. É que, logo de manhã, põe alto para tocar o funk “Vou distribuir”, da Gaiola das Popozudas. Um trechinho diz: “É proibido usar calcinha/Hoje não vou dar, eu vou distribuir.”
MURILO às 13:08 Nenhum comentário:
Compartilhar

Teorias - SONIA RACY

O ESTADÃO - 17/12/11


Luis Flávio D’Urso teria “motivações políticas” para defender o PL que prevê repassar a gestão de convênios da Defensoria para a Secretaria de Justiça. É o que afirma Thiago Anastásio, advogado, em carta enviada ao PSDB e PT paulistas.
Com a ajuda de seu padrinho político, Campos Machado, D’Urso usaria o projeto para agradar em cheio grande parte dos advogados – seus eleitores em potencial. E assim, ter mais chances de levara Prefeitura de São Paulo pelo PDT.

Teorias 2
D’Urso rebate: “Bobagem. Nada a ver uma coisa com outra”. A motivação, segundo ele, é a tentativa de preservar os convênios com a Ordem, já que a Defensoria, por quatro anos, não quis assiná-los hoje, são sustentados por liminar.

Conan
A Sextante comprou os direitos de publicação da autobiografia de Arnold Schwarzenegger, ainda sem título definido.

Afago
Missão iraniana saiu aliviada de encontro comAntonio Patriota, anteontem, em Genebra. O ministro prometeu que 
O governo brasileiro não isolará comercial e economicamente o país de Ahmadinejad na contramão de União Europeia e EUA.

Girl Power
Dilma foi convidada por Tina Brown, editora americana, para ser uma das estrelas do Women In The World Summit, evento global pró-direitos das mulheres. Em março, nos EUA.

Girl 2
Descontração zero na agenda de Michelle Bachelet, da ONU Mulheres, no Brasil. Depois de reuniões com deputadas e senadoras e encontro com Dilma, em Brasília, a ex-presidente chilena seguiu para o Rio.
Nem bem registrou-se no Marriot,foivisitaro morro do Cantagalo e discursar no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil.

Peixada
Equipe do Canal Azul está no Japão registrando a desempenho do Santos no Mundial da Fifa. As imagens irão rechear filme sobre o centenário do clube, dirigido por Kátia Lund e Lina Chamie, a ser lançado em abril.
A produtora inteira está na torcida pelo título.

Peixada 2
E o Canal Azul tem outro projeto santista saindo do forno. Meninos da Vila – a Magia dos Santos aborda três gerações de craques: a de 78, marcada por Juary e João Paulo; a de 2002, de Robinho e Diego; e a atual, de Ganso e Neymar.

Reinado
Corre pelo mercado que a Prime Licenciamentos – que, em 2006, comprou, por 20 anos, os direitos da marca Pelé – está sendo substituída por similar européia. Pertencente a José Alves Araújo (amigo de longa data do Rei) e Paulo Roberto Ferreira, a atuação da empresa não estaria agradando. Não se sabe se a saída do terceiro sócio, Marco Parizotto, ano passado, influiu.Consultada, a Prime diz “não saber nada sobre o assunto”.

Gasparzinho
Questionados sobre a ausência de Pimentel na conferência da OMC, diplomatas brasileiros se limitavam a dizer, sem graça: “Não sei, não vi”.
No Brasil, a assessoria do ministro garante que sua participação não estava prevista. Ele teria voado até Genebra para reunião dos Brics e encontro com ministra sueca.A conferência, aliás, teve recorde de ausências.

Amigo secreto
Mercado cultural paulista está à beira de ataque de nervos. Falta o ok de Alckmin para liberação de R$14 milhões do Pro AC (Programa de Ação Cultural) para a classe artística. Se não forem liberados este ano, voltam para o caixa do governo.
Beatriz Segall e Regina Duarte encompridam a fila.

Presente de Natal
Depois da morte da principal atração do Aquário de Santos, Bruno Covas se mobilizou. “Emprestará” um leão-marinho do Zoológico de São Paulo.
O bicho tem 6 anos, mais de 2 metros de comprimento e pesa 230 quilos. Deve chegar na quarta.

Mix
A Nova Schin coloca no ar, semana que vem, quatro teasers com EvandroMesquita,MárcioGarcia, Adriane Galisteu, Dani Bananinha e Ricardo Tozzi. Reforçando obordão “ÃO de Cervejão”. É a primeira campanha criada pela Leo Burnett Tailor Made.

Na frente
•A Orquestra Imperial se apresenta ao lado de Emanuelle de Paula e Criolo, encerrando a temporada do Telefônica Sonidos. Domingo, no Parque do Ibirapuera.

•A cerveja Miller está de volta ao Brasil. Comemora hoje, com festa em galpão na Vila Leopoldina.

•Camila Cutait e Fernando Abdalla inauguram hoje, em soft opening, a Doural Jardins, de artigos para casa. Na Gabriel Monteiro da Silva.

•João Doria e Sérgio De Nadai pilotam Natal do Bem, com show de Victor e Leo. Segunda, no Hyatt.

•Inés Zaragoza autografa Festa de Santo. Segunda, na Livraria da Vila da Lorena.

•Abre hoje mostra de Antonio Dorta e Ricardo Villa. Na Central Galeria de Arte Contemporânea. Com direito a palestra.

•Preta Gil faz show na Casa Evoque, no Ibirapuera. Hoje.

•Marco Mammana lança o Green Farm CO2 Free, projeto de preservação ambiental. Segunda, no Manioca.

•Ontem, às 10h da manhã, a CET informava 106 km de congestionamento no trânsito de SP. Já a rádio SulAmérica Trânsito, que monitora muito mais vias na cidade, marcava... 410.
MURILO às 13:02 Um comentário:
Compartilhar

Palmadas Inconstitucionais - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 17/12/11


Quanto menor a intromissão externa, mais fácil será achar uma forma de resolver os problemas da família


PARA DISCUTIR a questão das palmadas proibidas, em projeto na Câmara dos Deputados, é preciso ler a Constituição, a começar do art. 226, o qual define, de início, a "especial proteção do Estado" para a família, certo que "os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher" (parágrafo 5º).

Já se tem aí três elementos: direitos e deveres, com exercício igualitário do homem e da mulher, reciprocidade das ações e do controle de um sobre o outro, e de ambos, na família. Existente a harmonia tudo se facilita. Faltante, tornado imprescindível o agente externo, as soluções são mais difíceis, sobretudo na orientação quanto aos filhos.

Se o projeto da Lei da Palmada for adiante será hora de o examinar. Não agora. Será discutido no Senado. A caminhada longa até pode gerar muitas alterações ou sua recusa. É razoável discutir por ora a intromissão legislativa a respeito da igual responsabilidade dos dois seres humanos que iniciaram o grupo familiar ou seus sucessores.

Daí a necessidade de ler a cabeça do art. 227, inalterada desde 1988, a dizer: "é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão". O art. 227 é interpretável segundo seu parágrafo 4º pela qual a lei "punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente".

Os deveres indicados no art. 227 são da família, em primeiro lugar, da sociedade e do Estado a seguir. O conceito do grupo familiar é dinâmico, evoluindo dia após dia, e seus componentes concordam ou discordam com pleno direito de afirmar sua posição.

O advérbio "severamente", incluído no parágrafo 4º, toma os conceitos de abuso e violência por si mesmos, mas caracteriza tais excessos até na "exploração sexual da criança e do adolescente", que, por descambar para a criminalidade grave, dispensa maior atenção.

Os conceitos de criança e adolescente são definidos na Lei nº 8.069/90, geralmente referida pela sigla "ECA", a significar Estatuto da Criança e do Adolescente. Criança é o ser humano até 12 anos incompletos, e adolescente de 12 a 18 anos. Não há definição de jovem, mas o ECA pode ser aplicado, quanto a eles, quando a lei assim o autorize, as pessoas entre 18 e 21 anos de idade.

Quem cogite de regras sobre o controle da família não pode esquecer a dinâmica das mutações, que vão ao infinito. A rigor o Estado deve, tanto quanto possível, não se intrometer na vida familiar. Dada a delicadeza da situação, cabe sob vigilância judicial. Quanto menor for a intromissão externa, mais fácil será encontrar uma forma de resolver os problemas da família.

Lembremos que a família chegou ao que é enfrentando seus problemas sem muita participação externa, só aceitável quando seja absolutamente necessária. Fora dessa situação excepcional, a família deve resolver, no seu espaço interno, os problemas que a afligem.
MURILO às 12:58 Nenhum comentário:
Compartilhar

Ouvindo vozes - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 17/12/11
SÃO PAULO - Alguns médicos se queixaram da coluna na qual critiquei a lei que prevê a internação involuntária, que o governo quer utilizar em seu plano anticrack. Para eles, como o médico sempre pauta sua ação pelo bem do paciente, nem seria necessário reforçar as salvaguardas jurídicas dadas ao interno.
É possível, e até provável, que a maioria dos médicos observe o princípio da beneficência, mas daí não decorre que o sistema funcione, em especial no campo da psiquiatria.

Prova-o o célebre experimento conduzido por David Rosenhan em 1973, em que o psicólogo e sete associados, todos sãos, apareceram em diferentes hospitais psiquiátricos dos EUA queixando-se de ouvir vozes. Todos foram imediatamente internados. No hospital, passaram a agir normalmente e de modo cooperativo, dizendo que as vozes tinham sumido. Mas sair era mais difícil do que entrar. A estadia média foi de 19 dias (variando de 7 a 52).

A parte mais divertida é que, embora nenhum dos médicos e enfermeiros tenha notado que os pesquisadores não estavam doentes, 35 de um total de 118 pacientes perceberam. "Você não é louco. É jornalista ou professor", disse um interno.

E as coisas não acabam aqui. Ao tomar conhecimento de que Rosenhan preparava seu artigo, representantes de um hospital lhe escreveram dizendo que não cairiam num truque barato desses.

Rosenhan aceitou a provocação e escreveu de volta propondo um desafio. Nos três meses seguintes, ele enviaria ao hospital um ou mais pseudopacientes, que a instituição deveria identificar como tal. Dos 193 internos admitidos no hospital no período, 41 foram classificados como impostores e 42 como possíveis fraudes. Só que Rosenhan blefara e não havia mandado nenhum confederado seu. "Está claro que não conseguimos distinguir os sãos dos insanos em hospitais psiquiátricos", concluiu o pesquisador.
MURILO às 12:57 Nenhum comentário:
Compartilhar

Visão atual - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 17/12/11


Fernando Henrique defende ações afirmativas para negros, uma nova postura dos governos em relação às drogas, diretórios virtuais para partidos e a dedicação ao aprendizado na questão ambiental. Em palestras que tem feito no lançamento do seu novo livro, "A soma e o resto", e no próprio livro, o que se vê é um pensador atualizado e inquieto, capaz de surpreender.

O ex-presidente veio semana passada ao Rio para o Prosa na Livraria com este jornal, para falar sobre o livro que surgiu do depoimento a Miguel Darcy de Oliveira. A obra parece uma conversa sobre temas contemporâneos e atemporais.

Umas das ideias mais instigantes do livro é que o conceito de comunidade mudou completamente com a internet. Não mais prisioneira da proximidade física, as comunidades são por afinidades, em teias que se formam no espaço virtual. Fernando Henrique, de profissão, sociólogo, está atento ao fato de que um dos objetos de estudo de sua área, as comunidades, está em completa mutação:

- A comunicação eletrônica virou desafio para os políticos porque, com ela, a sociedade vai mais rápido do que os partidos e, se alguns políticos já usam a internet, os partidos ainda não sabem usá-la. Eu já defendi a ideia de diretórios virtuais, que a lei ainda não permite. Em alguns casos, as comunidades conectam-se com efeitos impressionantes, como aconteceu este ano a partir da Tunísia para o mundo árabe.

No livro, ele alerta para o fato de que a tecnologia criou uma ruptura. "É a emergência do novo que move a sociedade. Não estamos repetindo o passado. Algo de novo está sendo gerado aqui e agora." Registra com espanto o fato de que jovens nas redes sociais contam rigorosamente tudo o que fazem aos seus amigos, mudando o conceito de privacidade. "Não estou criticando. Estou tentando descrever e entender. É como se a fruição da vida passasse a ser, desse ponto de vista, mais coletiva." Ver o futuro é fundamental até do ponto de vista pessoal. "Quem não reconhece as mudanças se condena a viver angustiado, pois vai julgar o que está acontecendo hoje com os olhos do passado", diz no livro.

Na conversa no Rio, levantei um tema que me inquieta. Estou convencida de que o Brasil não lidou bem com o debate sobre a questão racial que emergiu após as ações afirmativas que surgiram no governo dele e se aprofundaram no governo Lula. Na minha opinião, em vez de se discutir as raízes de nossas desigualdades raciais, ou as marcas de tão longa escravidão, o país entrou numa espécie de Fla-Flu, entre defensores e adversários das cotas. E para esse reducionismo contribuíram inclusive intelectuais com seus manifestos. Falei do tema porque no livro ele defende duas ideias que parecem contraditórias: que o Brasil "tem uma cultura de aceitação da diversidade", mas ao mesmo tempo tem "preconceito e desigualdade, como sabemos".

Fernando Henrique disse que ambas as características estão presentes na sociedade brasileira. Uma profunda diversidade cultural e ao mesmo tempo o preconceito e a desigualdade racial, que faz com que a elite seja majoritariamente branca:

- Defendo as ações afirmativas, mas é preciso também manter o conceito de mérito. Uma vez na universidade, os estudantes devem ser estimulados a buscar o melhor desempenho.

Sobre a questão ambiental, Fernando Henrique também mostrou que está à frente do seu partido, sempre ambíguo e dividido sobre o tema:

- Os partidos estão com medo de tomar posição, de assumir. Perderam a capacidade de entender o que está acontecendo na área ambiental. O Brasil será suicida se não levar em consideração a questão ambiental. Queimar árvore é irracional.

Ele disse que essa é uma área de cooperação suprapartidária e lembrou das várias conversas que manteve com a então senadora Marina Silva, na época em que era presidente, apesar de ela estar na oposição.

Na inquietante questão das drogas, o que defende é o que está resumido no seu documentário: que se quebre tabus. Em uma entrevista que me concedeu em 1984, quanto tinha 53 anos, ele defendeu a mesmíssima posição: a descriminalização do uso para que a sociedade faça um controle mais racional, e não a simples repressão que pode custar muito caro:

- Ao fim do mandato do atual presidente mexicano, terão morrido 50 mil mexicanos na guerra do tráfico. O equivalente aos mortos no Vietnã. E o tráfico só aumentou. O país importa arma dos EUA para ficar se matando, enquanto o consumo continua.

Sobre a crise econômica internacional, Fernando Henrique acha que o euro vai se manter, mas que o mundo precisa urgentemente de uma nova regulação financeira:

- A esquerda errou quando negou todos os liberalismos porque o liberalismo político deve ser mantido, inclusive foi defendido por Marx que se disse herdeiro dele, mas o liberalismo econômico leva à desigualdade. Por isso é preciso regulação. Os governos precisam agir rapidamente para manter o euro, do contrário, a moeda não aguenta.

No livro e nos debates, FH tem falado de assuntos atuais ou existenciais. Sobre a existência de Deus, ele diz que faz parte dos mistérios da vida:

- Como posso dizer que Deus não existe? É preciso deixar espaço na vida para o mistério. Quem pensa que está sendo hiper-racionalista, pode estar sendo irracional.
MURILO às 08:46 Nenhum comentário:
Compartilhar

Ficaram na mão - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 17/12/11


Dezenas de prefeitos de todo o país estão irritados com o ministro Mário Negromonte (Cidades). Todos eles assinaram convênios no programa Pró-Transporte, mas o dinheiro do FGTS e do BNDES não chega. A explicação que o Planalto dá aos prefeitos é que o ministro assinou os convênios sem combinar com o Ministério da Fazenda. Por isso, o Conselho Monetário Nacional não autoriza o uso de recursos do FGTS para financiar essas obras.

Improviso e legalidade
O governo Dilma não contava com a aprovação do Fundo de Previdência Complementar dos Servidores. Na proposta de Orçamento para 2012 enviada ao Congresso, em agosto, não havia previsão de recursos. Quando foram aprovados os relatórios setoriais do Orçamento, em novembro, também não. Somente em 13 de dezembro, o Ministério do Planejamento pediu uma correção, destinando R$ 100 milhões para o fundo. Agora, o deputado Rodrigo Maia (RJ) vai entrar com um mandado de segurança no STJ para anular a mudança. Ele alega que o fundo não foi criado, que o pedido foi feito fora do prazo, e que tal correção só poderia ser solicitada pela presidente da República.

"Quero agradecer ao bigodudo da Pesca” — André Puccinelli, governador de Mato Grosso do Sul, em solenidade,
referindo-se ao ministro Luiz Sérgio

LINHA DO TEMPO. Em 12 de julho esta coluna publicou que o Ministério do Planejamento estava propondo a criação da figura do segundo secretário-executivo na estrutura administrativa. No dia seguinte, a ministra Miriam Belchior, na foto, contestou: "O ministério não encaminhou qualquer tipo de proposta para criação de um segundo secretário-executivo." Na quinta-feira passada, 15 de dezembro, foi criado o cargo de secretário-executivo adjunto da Casa Civil, e nomeado Gilson Bittencourt.

Nova fase
Depois de assinar ontem o último pacto regional do Brasil Sem Miséria com os estados, no próximo ano virão as parcerias municipais. Nas capitais, para qualificação profissional. No interior, oferta de serviços de saúde e assistência rural.

Ti-ti-ti
O gesto vale por mil palavras. A presidente Dilma passou o discurso do governador petista Agnelo Queiroz (Distrito Federal), na solenidade do Brasil Sem Miséria, conversando com o governador tucano Marconi Perillo (Goiás).

Recado ao "criticismo" caseiro
A presidente Dilma aproveitou a solenidade do Brasil Sem Miséria para defender o slogan do governo, "País rico é país sem pobreza", criticado por pessoas próximas a ela. "Botar no lema do governo "País rico é país sem pobreza" não é por acaso. Todo mundo pode achar que isso é um absurdo, que uma coisa é sinônima da outra. Acontece que no Brasil não foi. Lembramos a época que tinha 80 milhões de habitantes e podia crescer só para 40 milhões", disse ela.

No telefone
Num dia desses, para agradar ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) começou um telefonema assim: "Você está gostando muito daquela cadeira (a de presidente da República)".

Desagravo
As senadoras farão jantar para a ministra Rosa Weber, do Supremo, terça-feira, na casa de Lúcia Vânia (PSDB-GO). Elas não gostaram das críticas feitas a ela pelos senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Pedro Taques (PDT-MT).

O PSDB decidiu reagir. Em sua página na internet, publica notas do presidente do partido, Sérgio Guerra (PE), e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticando o livro "A privataria tucana".

O CONGRESSO 
da Juventude tucana iniciou-se ontem, em Goiânia, com o coro "1, 2, 3, 4, 5 mil. Queremos o Aécio presidente do Brasil".

NA PESQUISA Ibope para a Confederação Nacional da Agricultura, junto à população que integra a classe C, 69% são a favor do desarmamento, e 52% apoiam a cota para negros nas universidades.
MURILO às 08:43 Nenhum comentário:
Compartilhar
‹
›
Página inicial
Ver versão para a web
Tecnologia do Blogger.