domingo, novembro 27, 2011

Gays e Aids - ANCELMO GOIS



O GLOBO - 27/11/11



Alexandre Padilha divulga amanhã dados que mostram o crescimento da Aids entre jovens gays, de 15 a 24 anos.
Há 12 anos, para cada 12 homossexuais com Aids, havia dez heterossexuais. Em 2010, a relação subiu de 16 para dez.

Verba da campanha...

O ministro da Saúde minimiza a redução da verba, este ano, da campanha do Dia Mundial de Combate à Aids (dia 1oagora): — O Dia Mundial é só uma das campanhas da Aids no ministério. O importante é que, no total, ampliamos de R$ 14 milhões para R$ 15 milhões os gastos em várias campanhas contra Aids. E gastaremos outros R$ 15 milhões até o carnaval.

Avenida Chile

A Rádio Petróleo diz que o diretor Renato de Souza Duque deseja deixar a Petrobras. Nesse caso, Dilma aproveitaria para fazer algumas mexidas. Mas não agora. A conferir.

Politicamente correto

Acredite. Semana passada, um fiscal do Ibama parou um cacique e perguntou se ele tinha... licença para usar as penas de seu cocar. O índio, claro, disse que não e... teve o cocar apreendido e ainda levou uma multa! A história, verdadeira, chegou a Dilma, que ficou uma fera, e mandou lembrar ao fiscal que índio usa cocar desde sempre.

Salsichas

A Marfrig deve mesmo ficar com os ativos da BRFoods que o Cade mandou vender para sacramentar a fusão Sadia- Perdigão.

À flor da pele 
Dilma tem estado mais emotiva nas aparições públicas. A presidente não conteve as lágrimas nos eventos recentes com ex-perseguidos políticos e deficientes físicos, nem o sorriso sincero quando esteve com os atletas do Pan.

O DOMINGO É de Gal Costa, 66 anos, a grande cantora brasileira que finaliza um novo CD de inéditas, seu primeiro desde 2005. A diva da MPB posa aqui para a foto do disco, que se chamará “Recanto”. Produzido por Caetano Veloso, autor de todas as 11 faixas, o CD é assunto há um ano nas rodas da MPB. Gal gostou do resultado. “Foi desafiante e uma delícia. Me sinto renovada.” Chega às lojas dia 6 de dezembro

Caso Sean
Terça, finalmente, o STF julgará o mérito da liminar dada em 2009 pelo ministro Marco Aurélio para que o menino Sean ficasse no Brasil até a decisão final do caso. Nela, Silvana Bianchi, a avó, pedia que Sean fosse ouvido para dizer se queria ficar ou ir para os EUA com o pai. Mas a liminar seria revogada pelo então presidente do Supremo, Gilmar Mendes, na véspera de Natal, lembra?, e o garoto foi entregue naquele mesmo dia ao consulado americano.

Em tese...

Se o STF der a ordem agora, Sean terá de voltar já ao Brasil.

Fonfom do Paulinho

Um Karmanguia de Paulinho da Viola é exibido no Salão de Automóveis Antigos, em São Paulo. Xodó do mestre, foi comprado em 1989 e está inteiro. O modelo, raridade, é um conversível numerado. No Brasil, foram fabricados apenas 171. O de Paulinho é o número 150.

Menino gênio
Uma raridad e está saindo pela gravadora austríaca SanCtus: o primeiro disco gravado por Nelson Freire, em 1957, com a Orquestra do Teatro Municipal do Rio, regida pelo maestro Nino Stinca. Freire tinha só 13 anos.

Segue...

A apresentação do CD é da escritora e pianista Gilda Oswaldo Cruz, radicada na Espanha e grande amiga de Freire.

Última aula

A direção do tradicional Colégio da Providência, fundado há 159 anos, em Laranjeiras, no Rio, comunicou sexta aos pais que a escola vai fechar. Oficialmente, diz que ficará em obras durante 2012. Mas, a Rádio Cantina desconfia que o prédio vai virar condomínio.

Bíblia Rabínica

A Biblioteca Nacional vai abrir
dia 12 d e dezembro uma exposição com alguns dos mais preciosos tesouros de sua coleção de Bíblias. Entre as obras, destaca-se a “Segunda Bíblia Rabínica” (Veneza, 1524-1525), considerada, por séculos, o texto padrão da Bíblia Hebraica. Outra atração será uma Bíblia alemã (foto), de 1692, que tem a particularidade de ser católica, editada a partir da tradução de Lutero.

Os novos gladiadores

O país do futebol também é agora o país... das lutas marciais — principalmente, a que atende pelo nome de MMA, com direito à narração de Galvão Bueno e destaque na novela “Fina estampa”, da TV Globo. Mas a porradaria é polêmica. A atriz Carolina Dieckmann, por exemplo, a Teodora da novela, que acaba de ser deixada por Wallace Mu (Dudu Azevedo), um lutador de MMA, diz que não consegue assistir às lutas:

— Não aguento ver os golpes. A atriz que vive sua ex-sogra na trama, Lília Cabral, assiste para acompanhar o marido. Mas diz que também sente aflição, fica nervosa com os socos:
— Fico preocupada com os machucados e se, depois de tanto apanharem, ainda conseguem lutar. Sempre acho que eles precisam cuidar dos hematomas antes de continuar. Até o autor de “Fina estampa”, Aguinaldo Silva, é fã. Tanto que incluiu a luta na novela:
— Intuí que será o esporte da moda nos próximos anos. O boxe, por exemplo, já era, sempre foi cheio de maracutaias. Já o MMA se empenha em parecer sério. Além disso, os brasileiros são verdadeiras estrelas desse esporte.

A lista de fãs é eclética. Vai, acredite, da cantora Sandy e do ator Wagner Moura à filósofa Viviane Mosé, que explica o fenômeno entre os brasileiros:
— No ringue, a gente assiste a essa força excessiva que a vida tem, como tsunami, sendo canalizada. É como se víssemos ali um excesso contornado, já que é um confronto combinado e com regras. Eu assisto e adoro, e sei que as mulheres são as mais entusiasmadas. Acho que é pela luta diária, que, sem um pouco de agressividade, não dá certo
— acredita. O psicanalista Luiz Alberto Py também arrisca uma explicação para a paixão das mulheres pelos combates do MMA:
— As mulheres gostam muito porque o macho forte atrai a fêmea. Além disso, é violência, mas não é ódio. É um rival, mas não um inimigo. Acho que as pessoas sempre gostaram, mas agora estão tendo coragem de assumir. Malvino Salvador, que vive o pai do filho de Teodora em “Fina estampa”, vê beleza na luta:
— Há uma plasticidade nos movimentos que existe também no balé
e no kung fu. É uma arte baseada em muito treino e conhecimento
adquirido ao longo dos anos.

Celso Athayde, fundador da Central Única de Favelas, que acaba de
liberar um espaço da ONG para uma luta na Cidade de Deus, achava
uma “selvageria”. Mas, hoje, vê com outros olhos:
— Ao contrário do futebol, ali, dar porrada está na regra. E o atleta tem de ter uma concentração, uma determinação ímpar para estar no ringue. Dudu Azevedo, o Wallace Mu da novela, compara o octógono (ringue do MMA) a uma “releitura moderna das arenas da Roma Antiga”:
— É uma febre, uma paixão mundial.

A polêmica é tão grande que também não há unanimidade na turma da coluna. Aqui são três contra o MMA e uma a favor. Mas aí é outra história.

Ana Cláudia Guimarães

COM ANA CLÁUDIA GUIMARÃES, MARCEU VIEIRA
E DANIEL BRUNET

Mar sem muros - ALON FEURWERKER


CORREIO BRAZILIENSE - 27/11/11

O lógico é concentrar no governo federal o dinheiro para combater acidentes petrolíferos. Pois se um poço vaza no Espírito Santo e o desastre atinge uma praia da vizinha Bahia o governo baiano irá buscar dinheiro em Brasília, e não em Vitória


O acidente ambiental na operação petrolífera da Chevron desencadeou surtos de consciência e esperteza. Consciência? O vazamento mostrou mais uma vez que não existe risco zero na obtenção de energia. O desenvolvimento tem custo ambiental, obrigatório ou potencial. A utopia moderna é o bem-estar para todos com 100% de “sustentabilidade”. Impossível.

O que fazer, então? Alguns propõem renunciar a tudo.

A cada fonte de energia há alguém que afirme ser indispensável abrir mão dela para salvar o planeta. Inviável. Se ouvidos todos os profetas do apocalipse, a humanidade estará condenada a comprar passagem de volta para a Idade da Pedra.

Quem fura o chão do mar para procurar e extrair óleo está arriscado a deixar vazar para a água. Isso vale para o pré-sal ou para a extração convencional. O Brasil é líder mundial em petróleo extraído no mar. Então que cuide de fazer da melhor maneira possível.

Como a Chevron é norte-americana, uma parte da reação pública e popular escoou pelo canal da xenofobia. E se fosse a Petrobras? Ou uma parceira brasileira da estatal? A Petrobras garante que é impossível acontecer algo parecido em operações dela própria?

Aliás, os americanos estão isentos da acusação de não praticar o desleixo que exportam para o Terceiro Mundo, pois o acidente semelhante no Golfo do México foi bem pior. Ainda que a empresa naquele caso fosse britânica.

Então não é por aí. O problema é outro. Será que o Estado brasileiro utiliza convenientemente os recursos do petróleo para minimizar a possibilidade de acidentes e para, quando acontecerem, minimizar as consequências?

Ficou essa dúvida.

E a esperteza? Tentar conectar o acidente da Chevron ao debate sobre a destinação dos royalties. Os estados em cujo litoral se extrai o óleo estariam agora legitimados para pedir a parte do leão, pois mais sujeitos a risco.

Ora, o mar não é murado. O óleo vazado pode ser carregado pela água para qualquer lugar. O desastre ecológico não acontecerá necessariamente nas praias do estado em cujo mar houve o vazamento.

E o argumento vira bumerangue. O mais razoável não é deixar nos cofres estaduais os recursos para prevenção e combate a desastres petrolíferos. É concentrar no governo federal. E este irá aplicá-los onde for necessário.

Pois se, por hipótese, um poço vaza no Espírito Santo e o desastre atinge uma praia da vizinha Bahia, o governo baiano irá buscar dinheiro em Brasília, não em Vitória.

Esse é o argumento lógico. Mas tem também o empírico. Quanto dos royalties do petróleo vem sendo investido nessa rubrica específica pelos estados hoje beneficiados?

Os que têm hoje a parte do leão por acaso dão prioridade financeira a ações para prevenir e combater problemas ambientais e sociais decorrentes da extração petrolífera? Aguardam-se demontrações.

Proporcional

Disse aqui algumas colunas atrás que, em meio a outras acusações, atenção especial deveria ser voltada às atividades do Ministério do Trabalho na certificação de sindicatos.

Pule de dez.
É bizarro que persista entre nós este traço do Estado Novo, o governo dizer qual sindicato representa a categoria. É um poder intolerável e que induz à corrupção.

É, aliás, estranho que a CUT, nascida também para acabar com isso, tenha deixado com o tempo o tema em segundo plano.

E o risco de fragmentação sindical das categorias? Será real, pois os insatisfeitos com a orientação partidária poderão formar novos sindicatos.

Para isso há duas soluções possíveis. Uma é aceitar essa realidade e formar coligações sindicais na base para negociar unificadamente com os patrões. Como já acontece na cúpula, com as centrais sindicais.

Outro caminho é manter a unicidade em lei, mas devincular o sindicalismo da estrutura do Ministério do Trabalho e adotar mecanismos proporcionais obrigatórios nas eleições das entidades.

Haveria um só sindicato, mas cada corrente política teria nele a representação proporcional aos votos. Quem conseguisse a maioria, comandaria. Mas a oposição estaria representada. Como acontece hoje na UNE.

Domésticas - ILIMAR FRANCO



O GLOBO - 27/11/11



O governo enviará ao Congresso, no início do próximo ano, a regulamentação da convenção da OIT concedendo às trabalhadoras domésticas os mesmos direitos dos demais trabalhadores, como FGTS. Mas, temendo a perpetuação da informalidade no setor, o Executivo parte do princípio de que nem todos os empregadores são iguais. Por isso, estuda a adoção de obrigações diferenciadas conforme a faixa de renda do patrão.

O PSD, São Paulo e Meirelles
Integrantes da direção nacional do PSD estão apostando na candidatura do presidente do Banco Central no governo Lula, Henrique Meirelles, para a prefeitura de São Paulo. Eles avaliam que o vice-governador paulista, Afif Domingos, só será candidato numa aliança com o PSDB. Ocorre que os tucanos resistem a abrir mão da cabeça de chapa, e seria constrangedor para Afif concorrer contra o partido do governador Geraldo Alckmin. Por ora, Meirelles não quer ouvir falar: "Eu não sou candidato a prefeito de São Paulo. Minha entrada no PSD foi para colaborar no programa do partido na área econômica."

"Se você for candidato de novo (a presidente), não pode vir apenas pelo partido, mas também por um movimento, seja pela ética ou para enfrentar as adversidades da economia” — Cristovam Buarque, senador (PDT-DF), para o tucano José Serra

ME DÊ MOTIVO. A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) conversou, na quinta-feira, com o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), sobre o adiamento da votação da indicação de Rosa Weber para o STF. Ele explicou que retirou da pauta para evitar que a magistrada naõ tivesse aprovação unânime devido à rebelião no PMDB inconformado com a demora do restabelecimento do mandato de Jader Barbalho, na foto, ao lado do ministro Moreira Franco (Assuntos Estratégicos).

A Justiça tarda
Cinco anos após a eleição de 2006, o ministro Marco Aurélio Mello deu parecer, no TSE, pela cassação do senador Alfredo Nascimento (PR-AM). Se ele obtiver a maioria, quem assume é Pauderney Avelino. O DEM está exultante.

Reorganização
Depois que a LATAM, empresa resultante da fusão da TAM com a LAN, anunciou que vai dobrar sua frota de aviões, a SKY Airline, também chilena, firmou parceria de compartilhamento de voos com o grupo Avianca/TACA.

PSDB desiste do voto distrital
Sem votos para aprovar o voto distrital, o PSDB está mudando de posição. O partido está propondo manter a eleição proporcional, mas dividindo os estados em distritos. Assim, por exemplo, São Paulo, que tem 70 vagas na Câmara, seria dividido em sete regiões, e cada uma delas elegeria dez deputados. O deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) explica as vantagens: "Gera maior identidade com as bases, aproxima os candidatos dos eleitores e barateia o custo das campanhas".

Vapt-vupt
Na expectativa de reduzir queixas contra a demora na concessão de licenças ambientais, a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) conseguiu financiamento de US$ 24 milhões do Banco Mundial para investir na área de licenciamento.

Made in Brazil
Missão da Venezuela coordenada pela ONU chegará ao Brasil amanhã, interessada em experiências de combate à violência, principalmente na campanha do desarmamento. A comitiva visitará Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo.

CAUTELA. O senador Clésio Andrade (PR-MG) espera resultado de consulta ao TSE, sobre fidelidade partidária, para entrar no PMDB. Ele alega divergências com a direção do partido.

DOBRADINHA. Com a presença do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o PSB faz congresso nacional a partir do dia 2 de dezembro, em Brasília.

ESCADA. Em busca de votos em Belo Horizonte para embates futuros, o ex-ministro Hélio Costa pretende disputar a prefeitura no ano que vem. Ele planeja voltar a disputar o Senado dois anos depois.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO



FOLHA DE SP - 27/11/11


Inadimplência no mercado de energia apresenta queda

O nível da inadimplência no mercado de energia de curto prazo no Brasil, que alcançou patamares preocupantes neste ano, caiu para o menor nível desde 2007, segundo dados da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).

A liquidação financeira de setembro registrou inadimplência de apenas 1,87%, percentual próximo do piso registrado em dezembro de 2007, que foi de 1,13%.

Em volume, R$ 3,6 milhões restaram inadimplentes.

Em março, o percentual bateu em 56%, correspondente a mais de R$ 260 milhões.

"Entre as causas há o atraso dos geradores nos leilões", diz Luiz Barata Ferreira, presidente da conselho da CCEE.

O volume subiu quando alguns geradores venderam energia nos leilões recentes e não conseguiram entregar pois muitas usinas não entraram em operação por razões diversas, diz Leonardo Calabró, conselheiro da CCEE.

Estão inadimplentes hoje três consumidores livres e um gerador. O cálculo considera negócios feitos por todos os agentes. Podem ser geradores, distribuidores consumidores e comercializadores.

Para reduzir a inadimplência, além de renegociações, o mercado de curto prazo passou por processo de retirada de usinas.

A CCEE é responsável por fechar a conta do setor entre geradores e consumidores e organizar a liquidação quando um agente não apresenta lastro à energia que vendeu.

DE PARIS A SP

A marca de acessórios de couro Longchamp, que atuava no Brasil apenas por meio de uma loja, agora em reforma, vai ampliar a operação brasileira, que passa a se reportar diretamente à matriz parisiense.

Além da renovação da unidade no shopping Cidade Jardim, em SP, serão abertas lojas no Shopping JK e no Iguatemi em 2012.

Para tocar o projeto, veio de Portugal Filipe Tendeiro, que assume o novo cargo de diretor-geral no país.

"A Longchamp chegou aqui há cerca de três anos e cresceu. Sabemos pelo que está passando a Europa", diz. Após a expansão, São Paulo terá mais lojas próprias que Paris, origem da família fundadora.

"Na Europa, o mercado de multimarcas é muito forte", afirma.

ÀS COMPRAS

Londres é a melhor cidade da Europa para compras, segundo estudo da EIU (The Economist Intelligence Unit).

As espanholas Barcelona e Madri apareceram empatadas no ranking e deixaram Paris na quarta posição.

A pesquisa analisou as cidades em cinco categorias: lojas, preços, conveniência (horas que os estabelecimentos ficam abertos por dia, por exemplo), hotéis e transporte, clima e cultura.

Londres garantiu o primeiro lugar principalmente pela variedade de opções de lojas.

KIT PARA O INEVITÁVEL

O produto do banco já existia em outros países, mas até a diretora do private banking do Santander, Maria Eugênia Lopez, acreditava que um kit, que organizasse informações sobre bens, documentos e o que fazer em caso de morte, não seria bem recebido no Brasil. "O tema é tabu para alguns e o brasileiro não é de se antecipar a problemas", diz. Até que um cliente morreu. "A esposa não sabia o que tinha, não achava documentos, demorou para fazer o inventário e ficou sem dinheiro, até para o básico. O juiz impedia o banco de liberar os recursos." O kit trata até das últimas vontades do cliente. "Economiza tempo, problema e advogado."

O QUE ESTOU LENDO

Graça Foster, diretora da Petrobras

"Normalmente, tenho mais de cinco livros 'abertos' em tablet ou à cabeceira da cama", diz Graça Foster, diretora da área de gás e energia da Petrobras.

"Ainda prefiro a leitura com 'contato físico, do papel,' à do meio eletrônico. Mas, como viajamos muito, os eletrônicos ajudam", afirma ela.

No momento, Foster, que é engenheira química, com mestrado na área nuclear (UFF) e MBA em economia (FGV), lê oito obras, a maioria livros técnicos, como "Peak Oil", de Wiki Nicki, ou sobre gestão de carreira.

Uma das 50 executivas mais importantes do mundo, segundo o "Financial Times", Foster, que é muito próxima da presidente Dilma, com quem trabalhou, é um nome sempre lembrado em caso de substituição do atual presidente da companhia, Sérgio Gabrielli.

"'How the Mighty Fall: And Why Some Companies Never Give In', de Jim Collins. Devemos estar atentos à saúde das empresas e quando práticas que usamos tornam-se ineficazes." Já '"Risks and Reward', do Departamento de Energia dos EUA, me faz pensar sobre impactos ambientais à água potável. Para mim, o mais valioso combustível. Leio muitas vezes os bons capítulos."

"'How Remarkable Women Lead', de Joanna Barsh, Susie Granston e Geoffrey Lewis. Não consigo terminar essa leitura, pois acabo dando prioridade a textos mais técnicos. É 'light', sobre vida e competências de executivas", diz a diretora da Petrobras. "Excelente livro técnico, 'Economia da Energia', de Hélder Queiroz Jr., vez por outra desce da estante e toma lugar na minha mesa."

"'Crude: The Story of Oil', de Sonia Sarah, tem muito em comum com outros tantos que já li sobre o tema. É bom, um dia acabo de lê-lo", afirma a diretora Graça Foster. "'A Semente de Mostarda', de Osho, é um livro adorável. É um colírio para meus olhos e minha mente, demasiadamente técnicos. É a terceira vez que ele faz parte da minha cabeceira", conta ela.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

Ocupe ou desocupe - MIRIAM LEITÃO



O GLOBO - 27/11/11

O presidente Obama disse várias vezes que a Praça Tahrir, no Egito, era uma inspiração para o povo americano. Quando o movimento Occupy começou a ficar mais numeroso nos Estados Unidos, a polícia desalojou os manifestantes alegando razões de saúde pública. No Egito se luta contra uma ditadura e os EUA são uma democracia, mas hoje, em várias partes do mundo, há razões para ocupar praças.

No dia 11 de fevereiro, o presidente Barack Obama disse, solene: “O povo americano está tocado por essas cenas no Cairo, por sermos o povo que somos e pelo mundo no qual queremos que nossas crianças cresçam.” Tinha caído, depois de uma heróica ocupação da praça, o governo de Hosni Mubarak que os Estados Unidos apoiaram por 30 anos. O presidente americano com o discurso estava tentando mudar, na undécima hora, a política externa dos EUA. Ainda não havia começado o movimento Occupy no país, mas logo depois começaria.

Os egípcios mostraram nos últimos dias, novamente, que podem ensinar como se ocupa uma praça. Se eles foram a fonte de inspiração para movimentos de inconformados ao redor do mundo não se sabe, mas nos EUA as autoridades têm lutado para desocupar as praças. O movimento virou uma espécie de franquia; absorve bandeiras locais contra tudo que é visto como injustiça ou opressão.

Não é o presidente Barack Obama que chama a polícia, mas sim o prefeito de Nova York, depois do devido processo legal. Em qualquer das várias cidades em que acontece é sempre caso para as autoridades municipais, que agem depois da ordem de desocupação. Mas, de qualquer maneira, o movimento de protesto contra Wall Street não parece confortável para nenhum dos dois partidos que se alternam no poder nos EUA. Ele revela falhas graves no funcionamento do sistema financeiro americano e que foi mantido pelos dois partidos.

O mundo vive há mais de três anos uma crise assustadora provocada por erros ainda não corrigidos. A crise nasceu do excesso de desregulamentação dos mercados financeiros, processo iniciado pelo Partido Republicano e mantido pelo Democrata. O excesso de liquidez e a falta de controle e fiscalização estão na origem de produtos financeiros tóxicos que se espalharam pelo mundo como se fossem bons ativos. As criaturas tinham boas notas dadas pelas agências de risco, mas quando foram dissecadas é que se descobriu do que eram feitas.

Todos acompanharam a história dos empréstimos abundantes que alimentaram o sonho da casa própria de quem não podia pagar e como isso foi produzindo a bolha imobiliária americana. Todo mundo viu também como os altos executivos e os grandes acionistas dos bancos, que tinham permitido manobras perigosas com o dinheiro dos clientes, voltaram a receber gordos bônus. Todos os contribuintes viram os rios de dinheiro que foram em direção a Wall Street, depois de evitarem Main Street. Essa contraposição entre o interesse da maioria (Main Street) e os interesses da elite do mercado financeiro (Wall Street) foi explorada por Obama durante a eleição.

Depois do dilúvio que houve no final de 2008 e começo de 2009 um grande debate estabeleceu-se no Congresso americano. Da discussão surgiu uma proposta de reforma regulatória, a lei Dodd-Frank, (Dodd-Frank Wall Street Reform and Consumer Protection Act) que tira algumas funções dos bancos, reorganiza a burocracia da regulação americana, estabelece novos controles e obrigações. Parece excelente. O diabo está nos detalhes. Nos milhares de detalhes. A lei tem 2.319 páginas e está sendo detalhada. Ficou inexequível. A ideia do lobby dos grandes bancos era exatamente essa: confundir para deixar tudo como está.

De concreto, os bancos passaram a ser regulados pelo Fed, todos eles. Os bancos de investimentos viviam sem supervisão alguma, até que quebraram. O primeiro, Bearn Sterns, foi salvo; o segundo, Lehman Brothers, afundou, criando um redemoinho que sorveu a estabilidade financeira de boa parte do mundo.

Os economistas sabem que o risco moral é alto. Os bancos continuam achando que o lucro é deles e o prejuízo é do distinto público. Os bônus continuaram sendo distribuídos para os altos executivos. E até Warren Buffet mostrou com alguns poucos números que o sistema é injusto. Buffet lembrou que ele paga menos de 17% sobre a renda tributável, mas seus funcionários pagam 30%. Provou também, por um mais dois, que as isenções de impostos para os muito ricos não criaram empregos, como os republicanos defendem. Mesmo assim, os democratas não conseguiram derrubar os rebates tributários para milionários e bilionários americanos.

Então, quem está na praça tem razão. O movimento é meio confuso, sustenta palavras de ordem terminais, como o pedido de que não haja banco central no país, mas é um sintoma claro de que há forte insatisfação. O cidadão que perdeu emprego, que não conseguiu pagar sua hipoteca e não vê a reativação da economia está aflito. Há bons motivos para protestar, principalmente se a pessoa for jovem. Seja em Nova York, São Francisco ou Cairo.

O que já foi um peito - JOÃO UBALDO RIBEIRO


O Estado de S.Paulo - 27/11/11


No domingo passado, eu disse que ia tratar de peitos e acabei mal tocando (deixem de ser maliciosos) no assunto. Fui falar no ministro que, pelo visto, ia instituir o tratamento de "meu querido" e "minha querida" em reuniões ministeriais, para não falar na temível mas não improvável hipótese de que se dirigisse a uma colega, ou à própria presidente, como "minha filha", e aí tive nervosismo cívico e abandonei os peitos. Hoje, já um pouco desmotivado, mas sem querer deixar de cumprir a promessa (ou ameaça), vou aos peitos.

Quando estudei Biologia no colégio, aprendi, se bem me lembro, que a repetição continuada do estímulo termina por inibir a resposta. Ou seja, se provocado demais, um certo reflexo acaba não dando mais as caras. De certa forma, isso acontece em relação a tudo. De tanto ver ou experimentar algo o tempo todo, acabamos enjoando, enchendo o saco ou nos tornando indiferentes. A banalização de qualquer coisa a barateia, lhe tira o valor e o atrativo.

Acredito que não estou falando somente do pessoal que partilha comigo da proteção do Estatuto do Idoso. Convivo com jovens e já vi sintomas disso neles. Não que tenham perdido a libido, isso não acontece e eles continuam tão obcecados por sexo quanto a juventude sempre foi, desde sempre. Mas sua atitude em relação ao sexo às vezes é meio blasé, outras vezes até entediada. Quando passa uma moça bonita e de roupa reveladora, é comum que, geralmente com a atenção chamada por um mais velho, os rapazes olhem apenas como quem cumpre um ritual, apenas porque homem olha mulher gostosa. É tudo muito fácil, é tudo muito banal, é comum a moça dar na primeira ficada, nada tem mistério, portam-se camisinhas como parte do equipamento padrão.

Tudo bem, tudo pela liberdade, e abaixo a repressão, não proponho mudar nada, comento inofensivamente. Somente acho que, antes da banalização, era tudo bem mais divertido e muito mais emocionante. Hoje as bancas de jornais estão tão cheias de mulheres peladas, em todas as poses e ângulos, que ninguém olha mais, a não ser quando alguma famosa em outro setor resolve também mostrar-se nua. Mas isso mesmo já está perdendo o interesse e posar pelada, que já foi manifestação de vanguardismo, ousadia, independência ou coragem, hoje é quase vulgar e não abrilhanta o currículo de mulher nenhuma.

- Os peitos eram tão misteriosos - me disse uma vez Zecamunista, enquanto aguardávamos a arribada do Foice&Martelo, o bote dele -, que o pessoal não dizia "peito", dizia "seio", como um nome de santo. E os peitos tinham até auréolas, como os santos. O certo é "aréola", mas a santidade impunha "auréola", até hoje parece que é o mais usado. Lembra do nosso tempo?

Ora, se não me lembro do nosso tempo, os dois pirralhos rondando a ponte à espera do navio que trazia Nélson, o dono do cinema, os rolos de filmes e os cartazes. Apesar de gostarmos de filmes americanos de guerra, de caubói, de espada e correlatos, as férias em Itaparica eram a oportunidade de ouro para a gente ver filme impróprio, ou seja, 15 segundos de peito para 90 minutos de projeção. Na cidade, vários porteiros de cinema, como o do finado Glória, que exibia muito filme impróprio, eram conhecidos como carrascos, não deixavam passar nem carteira de estudante falsificada. O quente era filme francês. Um ou outro italiano, mas os franceses eram mais de confiança. Nélson sabia disso. Geralmente ele se recusava a quebrar o suspense ainda na ponte, mas, no dia seguinte, um palhaço em pernas de pau, ostentando os cartazes no peito e nas costas, circulava, anunciando "hoje o filme é francês e é impróprio!", certeza de grande bilheteria infanto-juvenil.

Certa feita, houve um problema com um filme impróprio colorido de que os mais velhos já tinham nos falado e no qual, se não me engano, a inesquecível Martine Carol, no papel da magnífica Caroline Chérie, mostrava os peitos oito vezes, contadas pelos muitos que assistiram ao filme oito vezes duas. Na versão que passou no primeiro dia, no cinema de Nélson, dizem que ele esqueceu um rolo e o fato é que só apareceu peito cinco vezes. Indignado, Zecamunista, que nesse tempo não era ainda comunista, mas nasceu com a ideologia exótica no sangue, organizou uma passeata de protesto, na qual eu mesmo tomei parte e que obteve sucesso, porque Nélson acabou exibindo o filme todo para os descontentes. E de fato eram oito cenas de peito (pectovisões, no falar sempre erudito de Jacob Branco), contadas por todos.

- Hoje em dia, todo mundo já viu os peitos de todo mundo, não há mais nem curiosidade - disse Zeca. - Acho que já está valendo até uma alisadinha rápida casual, é quase a mesma coisa que alisar o ombro. Você se lembra de qual era a grande emoção em matéria de peito, no nosso tempo?

- Bem, pegar num peito era um grande momento.

- É, mas, com uns seis meses de namoro, muitos caras já pegavam. Não era esse o grande feito. O grande feito era pegar nos peitos por dentro! Às vezes o namoro acabava, mas o cara não pegava. E, quando conseguia pegar, era inesquecível, a vitória tão arduamente conquistada! Eu tive um amigo, que, aliás, você conhece, mas não vou citar o nome, que deu a primeira pegada por dentro e depois teve dificuldade em tomar o ônibus de volta para casa. Não tinha nada mais emocionante, o corpo todo vibrava. Hoje o peito por dentro é uma abertura que muitos até dispensam, preferem um bom videogame.

- É, talvez nem tanto, mas...

- Eu estou apostando nessa tendência - disse ele, com uma risadinha. - Eu vou fundar um grupo popular de atendimento às mulheres desvalidas, vítimas dos que preferem os videogames. Eu vou revalorizar os peitos delas, vou abrir horizontes novos! E espero que alguns sutiãs também, he-he.

A ponte - CAETANO VELOSO


O GLOBO - 27/11/11


Faz uns dias, participei da gravação de um DVD de Seu Jorge na Quinta da Boa Vista, em frente ao Palácio Imperial. O lugar é lindo, e o espetáculo foi exuberante. Seu Jorge é um talento gigante, e seus convidados - Zeca Pagodinho, Racionais MCs, Alexandre Pires, Sandra de Sá, Trio Preto - formavam um grupo forte e representativo para celebrar o dia de Zumbi dos Palmares. Cantei "São Gonça", cheio de medo e reverência. É que essa é minha canção favorita de um disco pelo qual me apaixonei logo de seu lançamento, mas que não teve, na altura, a repercussão merecida. Foi o "Moro no Brasil" do Farofa Carioca. Hoje, "São Gonça" é um hino, e Seu Jorge é uma estrela. Mas o que soava como uma ressurreição da Banda Black Rio atualizada pela aproximação ao hip-hop não pegou de jeito os formadores de opinião profissionais ou amadores. Que fique claro que esse é um disco sobre o qual se deve pensar.

Que Seu Jorge tenha convidado os Racionais para adensar o caldo do festejo é significativo. Chorei ao ouvir Sandra de Sá conclamando a multidão a declarar que todo o povo brasileiro é sarará-crioulo, de cara para o palácio onde Dom Pedro II viveu. Mas a passagem dos Racionais pelo palco foi o momento mais intenso da noite.

"Moro no Brasil" é um disco em que a ponte que uniu as favelas ao Beco das Garrafas aparece em seu maior esplendor. Essa ponte poderia ter - e frequentemente tem, com justiça - um único nome: Jorge Ben. Claro que todo o samba-jazz da Copacabana dos primeiros anos 1960 é automaticamente homenageado quando coisas como a Black Rio e o Farofa surgem. Mas não é por acaso que o nosso Benjor (ou será Ben Jor?) é o favorito notório tanto de Seu Jorge quanto dos Racionais, assim como do Mundo Livre S.A. de Fred Zero Quatro - para dizer o mínimo (não esquecendo que o mesmo Ben foi e é o eterno favorito dos tropicalistas). Pois bem, o Farofa, em certa medida, ofuscou-se por, pertencendo a uma tradição tão arraigada na cidade do Rio de Janeiro, não poder desempenhar o papel radical que a adesão ao hip-hop puro, encabeçada pelo genial grupo paulistano de Mano Brown, Edy Rock, Ice Blue e KL Jay desempenhou. Daí que ver este grupo ao lado de Seu Jorge, numa noite em que eu próprio fui convidado a cantar "São Gonça" (a mais bonita e a mais jorgebeniana das canções do "Moro no Brasil"), foi um acontecimento que bateu fundo.

Não faz muito tempo, vi Seu Jorge junto a Mano Brown e Ice Blue, no projeto paralelo Boogie Naipe, liderado pelo Brown. Vi no Rio, numa casa do centro da Gamboa, e, depois, vi em São Paulo, num dos teatros do Sesc. Mano Brown prossegue numa espécie de pesquisa pessoal sobre a música negra que rolava quando o hip-hop era um embrião. E Seu Jorge transita - entre outras variantes - de Racionais a William Magalhães (filho de Oberdan, o criador da Banda Black Rio, um músico que era, ele mesmo, um espécime dessa fusão natural de morro e samba-jazz, sendo afilhado de Mano Décio da Viola e aluno de Paulo Moura). Parece coisa miúda, conversa de hiperespecialista, mas o fato é que essa aproximação entre um filho direto da Black Rio com os pais do rap paulistano é acontecimento de grande monta. Representa, pelo menos aos meus olhos, um amadurecimento importante numa área vital para a música popular brasileira. E já me aparece em estágio muito mais desenvolvido do que esperariam minhas mais otimistas expectativas.

Cantei (timidamente) com Seu Jorge e desci para assistir ao show ao lado de meu filho mais novo. Ele tem 14 anos e estava ali precipuamente para ver os Racionais (embora seja fã de pagode e de funk carioca - como todo jogador de futebol - e ame Zeca Pagodinho, ele tem nos Racionais a instância mais alta da criação de música entre nós). Meu filho imediatamente mais velho do que esse, o que tem 19 anos, também idolatra o grupo paulista desde que tinha a idade que o menor tem hoje. Cheio de coisas para fazer, ele quase não pôde chegar para ver o show. Mas surgiu perto de nós, no gargarejo, exatamente quando os Racionais começavam a entrar em cena. Quem não está familiarizado com essa cultura não tem ideia do clima de respeito que a presença de Mano Brown inspira. Ele tem dos moradores das periferias e dos adolescentes de todas as classes sociais o respeito profundo que se devota aos verdadeiros poetas. Ele surge também como um herói. Mas é mesmo como poeta que ele é percebido. Os meninos e a multidão não precisam dizer isso, mas quem já viu a reverência que os amantes de poesia exibem diante de poetas verdadeiros sabe reconhecer o clima quando ele pinta. Há intensa poesia em "São Gonça" ou em Sandra convidando a massa a declarar-se toda sarará-crioula em frente ao palácio onde a Princesa Isabel cresceu. Mas a poesia dura, anticordial (no sentido Sérgio Buarque do termo), alimentada na experiência extrema dos artistas negros americanos que os Racionais apresentam tem a capacidade de se destacar para impor seu próprio teor poético. Quando eles surgiram, não havia risco de confusão com as explosões autocelebratórias da sentimentalização das relações desiguais. Eles demarcaram território. O lado Zumbi sem contaminação do lado Zabé. Que o poderoso poema que vem sendo escrito pelo lado Zabé esteja em diálogo profundo com esse quilombo me parece auspicioso. Desta vez, foi KL Jay quem mais me marcou, com sua precisão. Tendo recebido tal educação, fui ver o Melanina Carioca na Melt. Leblon-Vidigal.

De vestido de oncinha e plumas - MARTHA MEDEIROS


ZERO HORA - 27/11/11

Temos o direito de ficar ressabiados por postarem nossas fotos pré-históricas sem nos consultar?

Outro dia aconteceu algo que me deixou sem saber direito o que pensar. Um caso corriqueiro, mas novidade pra mim. Quando era publicitária, trabalhei por três meses numa agência. Estamos falando do ano de 1984 ou seja, 27 anos atrás.

Pois uma ex-colega da agência postou essa semana, no blog de uma confraria da qual faz parte, uma foto daquela época na qual apareço numa festa à fantasia. Uma homenagem que ela me fez, sem nenhuma intenção difamatória. Nem estou tão medonha na foto, apesar do cabelo estilo Dallas, do vestido de oncinha e da echarpe de plumas negras. Foi a primeira festa à fantasia a que fui. E a última.

Me garantiram que o blog é acessado por pouquíssimas pessoas. As confrades estavam crentes de que eu iria me comover. Mas, nascida com vários defeitos de fabricação, não me comovi. Em vez disso, considerei que a titular do blog poderia ter pedido autorização para publicar uma foto minha de 27 anos atrás. Seria atencioso da parte dela. Mas devo estar variando: quem pede licença antes de postar foto dos outros?

Lembrei de uma discussão que testemunhei entre duas amigas: uma delas havia ficado chateada por a outra ter postado a foto do seu chá de panela, em que ela aparecia completamente descomposta, mas descomposta de uma maneira que só quem já foi a um chá de panela sabe que é possível.

Já a outra amiga defendia o seu direito de postar o que quisesse, e de julgar ela mesma o que era descompostura e o que era apenas uma foto engraçada. De fato, era uma foto engraçada. Lembro que pensei: “Quá, quá, quá, que engraçado – ainda bem que não sou eu”.

Agora sou eu. E, se ainda não chegou sua vez, aguarde.

Tenho plena consciência de que, cada vez que tiro foto com um leitor numa sessão de autógrafos, aquela foto estará no Facebook em poucos segundos. Tudo bem. Meu trabalho faz com que me exponha, e sei que não há controle sobre a propagação de imagens.

E, mesmo quando não é um evento profissional, tudo bem também: ao viajar com amigos ou ir a um churrasco, sei que serei fotografada junto ao grupo e logo estarei num álbum virtual, pra quem quiser espiar. Qualquer pessoa que se deixe fotografar, hoje, sabe que é assim. Se quiser discrição, melhor evaporar na hora do clique.

Não tive essa prerrogativa em 1984. Naquela época, nem em meus sonhos mais premonitórios poderia supor que o conceito de privacidade em breve estaria condenado à morte e que o “cá entre nós” seria substituído pelo “cá entre todos”.

Por isso, a dúvida: temos o direito de ficar ressabiados por postarem nossas fotos pré-históricas sem nos consultar ou dá no mesmo se a foto foi tirada 27 anos atrás ou ontem à noite? Suspeito que estou sendo preciosista. Vaidosa. Tá bom: chata. Mas queria compartilhar essa indagação.

Quanto à ex-colega, sem mágoas. Assimilei. Nenhum problema de eu circular pela internet de oncinha e plumas. Ao menos estou vestida, ufa.

Defesa do secularismo - DANIEL PIZA


O Estado de S.Paulo - 27/11/11


Assim como me queixei do tom pregador de alguns livros pró-ateísmo recentes, como os do biólogo Richard Dawkins, que chegou a dizer que queria converter os leitores a abandonar as religiões (converter, afinal, não é tarefa que caiba a um cético), vou me queixar agora de algumas reações contrárias. O novo livro do talentoso e eclético Alain de Botton, Religião para Ateus (editora Intrínseca), é um exemplo. Dizendo-se ateu, no sentido de alguém que tem certeza de que Deus não existe - e não agnóstico, aquele que não acredita na existência de fenômenos sobrenaturais -, ele tenta mostrar valores que a religião criou ou consolidou e deveriam ser recuperados. Mas parte de um pressuposto bem equivocado: a atual fragilidade ética e estética teria sido causada pela fuga da religiosidade, pela defesa de um poder que não impõe crença.

Não é de hoje que o secularismo é apontado como o culpado do individualismo e da ansiedade que tanto vemos ao redor. Desde Max Weber, que falou no "desencanto" inerente à modernidade, muitos autores acham que a perda da dimensão religiosa reduziu tanto o senso de grandeza como a virtude da humildade na escala humana. Se no final do século 19 o filósofo alemão Nietzsche decretou que Deus estava morto, no início do século 20 o poeta americano T.S. Eliot - que se definia "classicista, anglicano, monarquista" - argumentou que religião e tradição criavam uma estrutura sem a qual não poderia haver nem inovações como as que ele mesmo fez em poemas como The Waste Land. Na realidade, o argumento de que a modernidade deposita peso demais nos indivíduos é mais antigo do que isso; pode ser lido em escritores como Jonathan Swift, no começo do século 18, quando Voltaire já ironizava as igrejas.

Alain de Botton se diz ateu, mas se revela conservador como esses antecessores. Fala em ter "reverência seletiva por rituais e conceitos religiosos", parando de acreditar em crenças "outorgadas do alto" e lembrando que elas foram inventadas pela humanidade por necessidades de viver em comunidade e lidar com o sofrimento. Até aí, tudo bem, afinal não são poucos os cientistas atuais - e seculares - que mostram como a religião atendeu a demandas evolutivas do cérebro humano em relação à natureza que não compreendia (donde o medo dos mortos, a atribuição de vontades a fenômenos, etc.). Mas o ensaísta anglo-suíço enumera comportamentos de hoje que seriam culpa da sociedade secular. "Desenvolvemos um medo em relação à palavra moralidade", começa, esquecido de que esse medo foi mais do que justificado pelos estragos que o moralismo religioso causou no julgamento de etnias, sexualidades e, em especial, de outras religiões. "Nós nos irritamos com a perspectiva de ouvir um sermão", continua, como se eles tivessem acabado ou como se não ouvíssemos com prazer secular as palavras de um Vieira e as melodias de um Bach. "Fugimos da ideia de que a arte deveria inspirar felicidade ou ter uma missão ética." Bem, a maioria das pessoas ainda prefere os finais felizes e edificantes, como sabe Hollywood ou a TV Globo.

A lista vai longe. "Não fazemos peregrinações." Muitos ainda vão caminhar em Santiago de Compostela ou pagar promessas em Aparecida; outros viajam para outras culturas e visitam locais sagrados com admiração histórica, ainda que sem partilhar das crenças. "Não podemos construir templos." Os antigos são patrimônios turísticos e em alguns lugares eles continuam a ser erguidos, embora quase sempre sem o menor traço do bom gosto do passado, exceção feita a arquitetos como Tadao Ando (autor de pequena e reveladora igreja protestante perto de Osaka). "Não temos mecanismos para expressar gratidão." Mas quem disse que orar é o único? "A noção de um livro de autoajuda tornou-se absurda para o erudito." Talvez porque quase todos promovam a autodefesa, não raro levando o leitor a pensar demais em si próprio. "Resistimos a exercícios mentais." Nada indica que a preguiça mental era menor quando os padres ditavam o que pensar e como fazer. "Estranhos raramente cantam juntos." Não é fato; em shows, estádios e escolas, por exemplo, o gesto ainda é recorrente.

Ele está parcialmente certo quando escreve que não há tantos equivalentes hoje para esses rituais, mas é impreciso ao qualificá-los de "reconfortantes, sutis ou apenas encantadores". Como um descrente que já visitou muitas das mais belas catedrais do mundo, sei que preciso separar o prazer estético dos valores morais embutidos ali - e isso não faz de mim um ser menos moral. Não preciso ir a uma missa e comungar dos sermões para "descartar o pecado do orgulho", na expressão de Alain de Botton; na verdade, estou ainda mais atento para ele se não acredito que ele possa ser redimido por uma confissão e eu seja premiado na vida pós-morte. Ele também diz que outra lição das religiões é "aceitar a profundidade de nossos sentimentos destrutivos, antissociais", mas até onde sei foi a modernidade que se encarregou de mostrar - em autores como Freud e Conrad - que o sujeito "civilizado" e "respeitável" pode ser mais bárbaro que os bárbaros.

Há no livro conclamações a depositar em estatuetas sagradas os ideais de conduta, recorrer às obras culturais com a mesma intensidade com que se recorria aos textos sagrados, frequentar retiros religiosos para meditar, criar instituições para "ensinar a arte de viver", ler em Pascal uma descrição de nosso "estado pecaminoso e lamentável", ir aos museus "para fazer com que sejamos bons e sábios", redesenhar hotéis, repensar a publicidade, etc. Cada capítulo é dedicado a esses programas de comportamento, como se tivessem validade universal e nos levassem a uma perspectiva transcendente. Sem comentar o que há de utópico em algumas propostas, vejo antes de mais nada que Alain de Botton parece se dirigir a um tipo de pessoa que está longe de ser maioria no planeta. Segundo pesquisa Ipsos, mais de metade da humanidade acredita em Deus e nada menos do que 78% acredita em "entes ou forças superiores". Nos EUA, 40% dos habitantes defendem o criacionismo; no Brasil, 47%. Como então botar a culpa do egoísmo contemporâneo na mentalidade secular?

Como ele, lamento muitos aspectos da vida atual, como o desrespeito ao espírito público, a doença juvenil do consumismo, a troca de princípios por vantagens, a exaltação de aparência e dinheiro em detrimento de caráter e conhecimento, o excesso de ansiedade. Também me aborreço com as propagandas que falam em "valor das ideias" e os spas que só dão valor ao corpo e não à mente. Assino muitas de suas opiniões, como a de notar que o exagero de esperança, o otimismo industrializado, gera frustrações maiores. Mas não vejo a mesma causa para tudo isso e descreio de suas soluções. Não há necessidade de retomar ritos e símbolos religiosos para cultivar virtudes como "coragem, amizade, fidelidade, paciência, confiança ou ceticismo", que não foram inventadas apenas pelas religiões. E muitos dos problemas também se devem à herança de dogmas e consolos nada sutis, como a expectativa de perfeição, a aversão à discordância, a noção de "povo eleito", a confusão do sentimentalismo - condutas que levam tantos a transferir para grupos e coisas uma presunção de identidade. Não precisamos de mais mediações; precisamos de mais clareza.

Cadernos do cinema. Alain de Botton poderia se deter em sucessos como essa sequência que tem agora a parte 1 de Amanhecer. O gênero das sagas nunca esteve tão em alta, seja na vertente mais histórica (como em tantas séries de TV), seja na mais fantasiosa (com bruxos, anjos e outras figuras medievais ou românticas). O filme em cartaz é frio como pele de vampiro, com o casal Robert Pattinson e Kristen Stewart com mais cara de quem chupou limão do que nunca. A expressão durante a lua de mel, a batalha com os lobisomens ou o parto da filha é a mesma. Mas a resistência dele em preservá-la humana, ou seja, virgem, enquanto faz pose de príncipe das luzes e não das trevas, desperta gritinhos na plateia de adolescentes do século 21. Decididamente, esta não é uma era secular.

Internéticas. Quando houve o surgimento da moda dos blogs, muitos articulistas, principalmente os mais jovens, saudaram a chegada de uma linguagem e tecnologia que iria combater a mídia "mainstream", com estilo mais autoral, atitude mais independente, interação mais democrática. Rodo por alguns blogs, sobretudo de moda, e vejo exatamente o contrário: escrita primária, comprometimento publicitário, busca da audiência pela audiência. Já os twitters, já chamados imprecisamente de microblogs, parecem confirmar cada vez mais a impressão de José Saramago: são grunhidos virtuais. Alguns de música postam um vídeo e só acrescentam a expressão "uau" ou "uhu" ou "ooôôoo". Isso que é argumento.

Abro então o Facebook, que pouco mais é do que uma caderneta de contatos com álbuns de família e mensagens breves, e volto a pensar no livro de Alain de Botton: a era do exibicionismo veio para ficar, e não há ritual comunitário que possa reverter a tendência.

Por que não me ufano. A revelação de que fraudes para superfaturamento de obras da Copa em Cuiabá foram patrocinadas pelo Ministério das Cidades, como se precisássemos de mais uma prova, deveria fazer calar a mídia chapa branca que vê em Dilma Rousseff "perfil técnico", em oposição ao antecessor, e acredita que ela esteja disposta a fazer uma faxina em sua equipe, como se não tivesse assinado cada uma das nomeações com a caneta do Planalto. Enquanto isso, o PAC não anda, o PIB desacelera, o Custo Brasil aumenta. Como gostam de ser enganados!

Um modelo esgotado - JOÃO BOSCO RABELLO


 O Estado de S.Paulo - 27/11/11


O ministro das Cidades, Mário Negromonte, repete o comportamento de seu antecessor na crise, Carlos Lupi, do Trabalho, ambos alternando reações de força e fragilidade no exercício de malabarismo a que se entregaram para permanecer no cargo. É o "efeito frigideira" produzido pela estratégia que a presidente Dilma Rousseff parece ter adotado de expor as vísceras de um modelo político esgotado.

Na contramão do conceito presidencialista, a presidente transfere aos partidos a prerrogativa exclusiva de chefe da Nação, de nomear e demitir auxiliares. Numa espécie de júri popular informal, deixa que acusados e seus partidos discutam a responsabilidade pelos desvios amplamente materializados em suas pastas, num strip-tease público.

Nessa ópera política, a hemorragia parece fora do organismo do governo e sugere que ministros e ministérios são um universo à parte. As pesquisas encomendadas pelo Palácio do Planalto funcionam como termômetro a medir a temperatura do paciente, sua chance de sobrevivência e o tratamento a ser aplicado. No limite, faz-se o transplante: sai o ministro A e entra o ministro B - da mesma legenda.

Lupi disse que só sai à bala e Negromonte, acusado de promover um "mensalinho" em seu partido, ameaçou a bancada de abrir o verbo. Ambos recuaram - Lupi com um "eu te amo Dilma" e Negromonte, aos prantos, jurando inocência.

Esse teatro reflete a falência do modelo de ministério de porteira fechada, aparelhado do ministro ao porteiro - e o processo de fritura convém a um governo condenado a mudar aquilo que dissimula ter ajudado a construir.

Reforma vira uma panaceia

A decisão de manter Lupi e Negromonte até janeiro agrava o ônus do governo com uma reforma ministerial convincente, que signifique o fim da porteira fechada e uma máquina bem mais enxuta e eficiente. O caso de Negromonte é considerado mais difícil de sustentar por se tratar de uma fraude para viabilizar algo que já recebera o aval do governo (a presidente Dilma apareceu em propaganda apoiando o projeto de VLT), o que facilita sua exploração pela oposição.

Só pensa naquilo

O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), pavimenta o caminho de volta à presidência do Senado, de onde saiu para evitar a cassação, em 2007. Ele estimula a candidatura de Eduardo Braga (PMDB-AM), seu maior rival, à Prefeitura de Manaus em 2012. Para Braga, é tentador: eleito prefeito, sua mulher, Sandra Braga, assume como suplente até 2018 e ele tenta a reeleição a governador em 2014.

PR encolhe

O PR encolhe depois do escândalo dos Transportes. Até agora, o partido do mensaleiro Valdemar Costa Neto (SP) perdeu cinco deputados e um senador, para PMDB e PSD. Mais dois senadores flertam com o PMDB - Blairo Maggi (PR-MT) e Antonio Russo (PR-MS). Além disso, o senador Vicentinho Alves (PR-TO) corre o risco de perder o mandato caso o Supremo Tribunal Federal (STF) emposse o peemedebista Marcelo Miranda (TO), eleito em 2010, mas barrado pela Lei da Ficha Limpa. Já deixaram o partido os deputados Dr. Paulo César (RJ), Liliam Sá (RJ), Homero Pereira, (TO) Sandro Mabel (GO), Edson Giroto (MS) e o senador Clésio Andrade (MG).

Modelo ideal

A África do Sul realizou o sonho do PT: proibiu o jornalismo.

Futuro do pretérito - DORA KRAMER


O ESTADÃO - 27/11/11



Fala-se em reforma ministerial mais ou menos como se falou da dita faxina ética: sem confrontar as condições objetivas do cenário real com a expectativa de um quadro ideal.

Como se redução de pastas, extinção de igrejinhas partidárias, substituição de ministros e toda gama de boas intenções que começam a ser proclamadas pelo Palácio do Planalto não tivessem implicações profundas.

Há, para início de conversa, uma contradição básica com a qual Dilma Rousseff deverá se confrontar se o que pretende é realmente reformular o modo de operação de governo, a partir da constatação feita na semana passada pelo empresário Jorge Gerdau, presidente da Câmara de Gestão criada pela presidente.

Caso ela concorde com Gerdau que "éimpossíveladministrarcom40ministérios" e resolva enxugar a máquina, estará se contra pondo à lógica do governo Luiz Inácio da Silva com a qual compartilhou como principal gestora.

Uma ruptura como passado,cuja execução equivaleria a dizer que o conceito de Lula estava errado, vai muito além da questão do estilo.

Bate de frente com o conteúdo, pois Dilma estaria renegando uma concepção da qual não foi mera herdeira,mas parceira.

Por concordar com o modo lulista de governar é que se elegeu presidente sob o estandarte da continuidade absoluta.

Ou o que se disse na campanha eleitoral não era a expressão da verdade? Numa sociedade menos disposta a aceitar pratos feitos,a presidente seria convidada a explicar essa incongruência e explicitar em detalhes as razões da mudança do rumo.

Mas isso só se a ideia for mesmo promover alterações na estrutura da montagem de governo, e não uma conjectura feita como objetivo de expor um bom propósito que depois será incorporado ao ativo gerador de bons índices nas pesquisas de opinião.

Depois,como ocorreu com a dita faxina, sempre se pode jogar a culpa na resistência dos partidos.

Pois, então, digamos que o plano seja apenas trocar partidos de pastas e titulares de cadeiras.

Qual será a justificativa, visto que a presidente já substituiu seis ministros sem mudar os termos do contrato? Para trocá-los de novo em tão pouco tempo faltará um bom argumento.O da simples necessidade de um "rodízio", francamente, não confere nobreza à ação. Confirma que o importante não são as políticas para cada setor, mas a a comodação de aliados aqui e ali,pouco importando quem faça o quê.

Restaria a hipótese de a presidente fazer mudanças localizadas a fim de trocar alguns ministros que lhe desagradam, sem dizer que o faz por pressão de denúncias.

Se for assim,dessa montanha terá nascido um mirrado rato.

Preliminar. Tomando como exemplo a cidade de São Paulo, o tucano José Serra considera que para o PSDB a questão do discurso é muito mais importante do que propriamente se há ou não candidatos com chance de vitória.

"Candidatura se constrói", diz ele, apontando para o campo adversário para demonstrar: se o PSDB não conta com um nome competitivo na largada, o PT também não.

Em termos de pesquisas, o ministro Fernando Haddad parte de patamar igual ou pior que postulantes dos outros partidos. Luiza Erundina, praticamente uma desconhecida quando se elegeu, é mais um entre outros exemplos.

O pré-requisito,na visão de Serra,é a definição do campo da disputa - de onde decorrem as alianças -,que será entre os defensores e os de tratores da administração Gilberto Kassab.

"O PSDB vai precisar decidir de que lado estará, sob pena de não ter um discurso que seja entendido pela população", diz.

Falando sozinho. Não é necessário repetir a última torpeza de Jair Bolsonaro, desta vez em referência à presidente da República.

Diante da impossibilidade de se punir parlamentar por palavra ou voto, talvez o melhor seja presentear o deputado com um passa porte para o ostracismo, a fim de que o debate sobre suas costumeiras abjeções não lhe dê mais projeção.

Fundos dos servidores, políticos fora! - SUELY CALDAS


O ESTADÃO - 27/11/11

A criação de um fundo de previdência para o servidor público deu mais um passo na última semana e o governo espera aprová-la até o dia 10 de dezembro na Câmara dos Deputados. Se tramitar rápido no Senado, é possível que a presidente o sancione até o final do 1º semestre de 2012.

Esse é o único item da reforma da previdência que Dilma Rousseff concordou em tocar - é o menos polêmico, porque atingirá só os futuros servidores, não mexe nos atuais, mas também não resolve em curto prazo o gigante déficit da previdência pública, que já soma R$ 57 bilhões e vai continuar crescendo, pelo menos nos próximos dez anos.

Em reunião com lideranças partidárias no Congresso, quarta-feira, o governo cedeu a pressões do Judiciário e aceitou criar três fundos distintos: para os servidores do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. O que seria um virou três. Até aí, nada demais. Afinal, qualquer erro de gestão que resulte em déficit para o fundo todos nós, brasileiros, que nada temos que ver com a história, seremos chamados a cobrir o prejuízo com impostos. Melhor dividir riscos.

Até porque concentrar todos os futuros funcionários da União (os atuais são 2,11 milhões) pode, no futuro, fazer dos três fundos os maiores do País, talvez até da América Latina. Com potencial de gerar lucros fabulosos ou prejuízos fantásticos, dependendo da gestão.

Por isso é fundamental agregar ao projeto que está no Congresso regras de gestão capazes de blindá-los contra fraudes, interferências políticas, operações desastrosas, enfim, regras para proteger o dinheiro do contribuinte. E a mais indispensável é dar acesso pela internet aos participantes fiscalizarem as operações. O histórico dos fundos de pensão das estatais é rico em gestões intencionalmente desastrosas e irresponsáveis, que traziam lucro para os gestores (escolhidos por filiação partidária) e prejuízos para a estatal mantenedora. Que pelo menos sirva de lição para o governo e o Congresso conceberem com muito cuidado regras para esses fundos.

Na década de 1990, por mais de uma vez a Petrobrás socorreu a Fundação Petros com aportes bilionários de dinheiro que ultrapassaram R$ 6 bilhões. E as regras de gestão só mudaram porque a Securities and Exchange Comission (SEC), a CVM dos EUA, exigiu como condição para a Petrobrás negociar ações na Bolsa de Nova York. Como o governo brasileiro não é empresa, não tem ações em NY e é sustentado com dinheiro de impostos, cabe ao governo e ao Congresso a responsabilidade de proteger o dinheiro de todos os brasileiros, proibindo o uso político e evitando a repetição de erros das estatais.

O projeto do governo prevê terceirizar a gestão para bancos com experiência em administrar esse tipo de patrimônio, como ocorre com fundos de empresas privadas. Mas o PT tem pressionado para mudar esse item e entregar a gestão a funcionários inexperientes. Alega que a gestão privada pode tirar a liberdade para aplicar o patrimônio dos fundos em projetos de interesse do governo.

É aí que mora o perigo. Fundo de pensão precisa de gestão profissional e competente para gerar lucro, ter boa rentabilidade e garantir o pagamento dos benefícios no futuro.

Se o projeto de interesse do governo conseguir esse objetivo, tanto melhor. Mas não é o que ocorre. E o perigo aumenta exatamente no início da vida dos fundos, por três razões:

● em nove anos de governo, o PT e aliados mostraram o tamanho da sede por cargos e dinheiro. Os fundos precisam ficar longe deles;

● se hoje a escolha dos gestores já é partidária nas estatais, imagine como se dará a disputa em se tratando de funcionários dos Três Poderes;

● nos primeiros 20 ou 30 anos, o fundo só vai acumular patrimônio, não terá despesas com pagamento de benefícios, porque ainda não haverá aposentados. Isso faz crescer o olho grande do governo e dos políticos em usar o dinheiro dos fundos com fins eleitorais e transferir prejuízos para o futuro.

Se a intenção da presidente Dilma é criar fundos que realmente complementem a aposentadoria de funcionários na velhice, que trate de garanti-lo no projeto que vai sair do Congresso.

'Bunga-bunga bolivariano' cobrará seu preço - MAC MARGOLIS


 O Estado de S.Paulo - 27/11/11


Que a Venezuela passa por dificuldades, poucos duvidam. Rico em terras e petróleo, o país amarga um crescimento pífio, rombos nas contas públicas, apagões, panes de infraestrutura, escassez e, ao mesmo tempo, o desperdício de mercadorias básicas.

Outro dia, operários de Puerto Cabello descobriram toneladas de carne podre em câmaras frigoríficas desligadas por falta de energia - a quarta vez em três anos.

A decomposição vai além. Com a inflação anual beirando os 30%, o governo de Hugo Chávez reagiu como costuma reagir a emergências: fez um decreto. Congelou preços de bens e serviços, provocando sumiço imediato de alimentos. Quem ocultar mercadorias ou remarcar preços terá de responder à Guarda Nacional. Soa familiar? Ninguém falou em prender boi no pasto, mas na república bolivariana o roteiro acidentado da heterodoxia econômica repete-se como uma ópera-bufa.

A desordem é pior do que se pode imaginar. Gustavo Coronel, ex-diretor da PDVSA - petroleira modelo que nas mãos chavistas se tornou perdulária -, deu-se ao trabalho de mastigar os números. Segundo os cálculos, em seus 13 anos, o governo Chávez arrecadou US$1,125 trilhão, quase a metade disso (US$500 bilhões) com a exportação de petróleo. Ao mesmo tempo, gastou US$1,060 trilhão. Como gastou, ninguém sabe direito, pois a auditoria bolivariana é tão opaca quanto desorganizada. A Assembleia Nacional, controlada por Chávez, a cada instante inventa despesas não orçamentárias.

Pior para a PDVSA. A petroleira já foi um exemplo de eficiência e sofisticação tecnológica na indústria do setor. Mas na gestão chavista virou tenda de milagres, vendendo produtos subsidiados, construindo casas populares e bancando a agricultura familiar.

Enquanto sua produção cai ano a ano, a PDVSA é obrigada a mimar os cubanos com petróleo barato e regar o Fundo de Desenvolvimento Nacional (Fonden), que já financiou usinas elétricas na Nicarágua, um estádio esportivo na Líbia, hospitais no Uruguai e fábricas de bicicletas no Irã. Até sobrou um dinheiro para uma burla: a doação de US$100 mil para a limpeza do Rio Hudson, que banha Nova York.

Não admira que o resgate da PDVSA seja uma das bandeiras da oposição venezuelana, que finalmente ensaia ressuscitar. Após anos de dormência, picuinha e manobras desastradas, os partidos rivais estão mais unidos e articulados que nunca. Realizarão eleições primárias inéditas, em que os venezuelanos poderão votar para escolher quem, entre cinco pretendentes da oposição, enfrentará Chávez nas eleições de 2012.

A oportunidade é rara. Silvio Berlusconi, o Al Capone da zona do euro, outro fanfarrão, sobreviveu a inúmeros escândalos de corrupção, mas foi pego pelo desastre fiscal e contábil que protagonizou. Chávez pagará pelo "bunga-bunga bolivariano"? Com brio, ele anuncia que já venceu o câncer revelado meses antes e não tem nenhum plano para se aposentar. Doente, com a popularidade em queda e a economia em farrapos, Chávez está vulnerável. Mas o país já começa a especular sobre um mundo sem ele.

Vexames - LUIS FERNANDO VERISSIMO


O Estado de S.Paulo - 27/11/11


Acontece. As pessoas se enganam. Se atrapalham. Fazer o quê? O negócio é esquecer e tocar pra frente. Mas ninguém conseguia consolar o orador depois do seu discurso. Depois do seu vexame.

- Onde eu estava com a cabeça? Onde?

E ele batia com o punho na própria cabeça, como se quisesse puni-la.

Alguém disse:

- Acho que a maioria nem notou.

- Como não? Houve risadas. Vi gente perdendo a respiração com a surpresa. Gente indignada. E o homenageado? Ele notou. Tanto que nem me cumprimentou no fim do discurso.

- Não foi tão ruim assim...

- Foi. Foi horrível. Não vou poder mais olhar na cara de ninguém que estava lá. Muito menos do homenageado. O que foi que me deu, meu Deus?

- Foi um erro perfeitamente compreensível...

- Compreensível? Dizer "lupanar" em vez de "luminar"?

- As palavras são parecidas...

- Não são. E mesmo que fossem, não justificaria o meu erro. Como é que eu fui chamá-lo de "um lupanar da república" em vez de "um luminar"? Um lupanar da república!

- Calma, calma.

- Acho que vou emigrar.

***

A frase. É agora, pensou ele. Coragem. O pior que pode acontecer é ela me mandar passear. E aí eu morro. Não, não morro. Confiança, cara. Vai lá, antes que ela vá embora ou chegue outro antes de você, sente ao lado dela e a vida perca todo o sentido. Pense numa frase. A primeira frase é importantíssima. Nada que a espante. Nada de conquistador barato, nada de Don Juan de shopping center. Apenas um homem abordando uma mulher numa praça de alimentação, tudo muito adulto e natural, tudo muito século 21, sem stress ou segundas intenções. Alô, não pude deixar de notar que temos algumas coisas em comum. Somos os dois bípedes de sangue quente e... Não. Quem sabe o clássico "eu não conheço você de algum lugar?". Tão banal e batido que talvez ainda funcione. Ou: "Eu estava ali, olhando você, certo que já a tinha visto em algum lugar, na televisão, no cinema, num concurso de beleza, e aí me deu o estalo: eu já sonhei com essa mulher! Você saiu do meu sonho. Vou cobrar direitos autorais". Não. Bobagem. Passo por ela como quem não quer nada, querendo tudo, e comento: "Um shopping é a República Ideal do Platão com estacionamento, cê não acha não?". Aí ela sorri, e começa o romance, e nos lembraremos deste momento para sempre, ou ela não entende e me vira a cara. E eu morro. Não. Pego a minha coca zero no balcão, levo até a mesa dela, pergunto se posso sentar ao seu lado, ela deixa, eu sento, sorrio e digo:

- Não é sempre que se pode sentar com realeza.

Boa frase, boa frase. E ele vai.

- Posso sentar aqui? Não tem outro lugar vago.

- Pode.

- Obrigado.

Ele senta e diz:

- Não é leza que se pode sentar com reasempre...

- O quê?

- Esquece, esquece

Loura e linda - DANUZA LEÃO


FOLHA DE SP - 27/11/11


Betty Catroux não é dada às prendas domésticas, não acha a menor graça em comer e odeia viajar


Outro dia pensei em Betty Catroux, ícone de elegância e sofisticação em Paris.

Filha de uma brasileira, Carmen Saint, ela é uma mulher de 61 anos, linda, glamourosa, loura, com os cabelos até os ombros (nunca mudou de penteado), mede 1,80 m e pesa 50 quilos. Betty é casada com um famoso decorador francês, e foi a musa do grande gênio da moda, Yves Saint Laurent, que a considerava sua irmã -gêmea.

Foi praticamente a maior manequim do costureiro, pois só se vestia com as roupas dele, mas sem ter jamais desfilado nem fotografado, profissionalmente, suas coleções -mas quando se falava dela, estava se falando de Saint Laurent.

Betty sempre declarou, com simplicidade, que nunca teve -e continua não tendo- a mínima ideia do que se passa na moda, pois não se interessa pelo assunto.

Jamais comprou um só vestido, pois ganhava todos de presente do seu amigo, e foi nela que ele se inspirou quando desenhou seu famoso smoking. Ela sempre se vestiu como um garoto: jeans, calças compridas, camisetas, camisas -algumas luxuosas-, casacos de couro, sapatos sem salto.

A declaração mais surpreendente de Betty, quando questionada sobre o que fez e o que faz em Paris, sua resposta foi sempre a mesma, corajosamente: nada.

OK, ela tem um marido que deve ser rico, teve o privilégio de ser a maior amiga de um grande costureiro, mas em um mundo em que todas as mulheres são obrigadas a terem uma profissão, ou a escolher entre fazer ginástica, frequentar um curso de arte, se interessar por jardinagem, pintar porcelana ou viver de almoço em almoço, de loja em loja, para matar o tempo, ela responde, corajosamente: nada.

Acho o máximo; enfim uma mulher que não está na vida para fazer o que -dizem- as mulheres têm que fazer, para terem o direito de existir. Quanto a sua vida pessoal, que foi trepidante nos anos 60, ela diz que nos dias de hoje só faz ficar em casa com o marido, com quem é casada há 30 anos, e seus quatro gatos. Fazendo o quê? Nada.

Ela não é dada às prendas domésticas, não acha a menor graça em comer -sorte a dela-, continua deslumbrante, e odeia viajar, o que só faz quando tem um objetivo definido.

Betty teve uma vida que foi o máximo da sofisticação; saía toda as noites -sempre com Saint Laurent- e passava temporadas de sonho em Marrakech, onde os dias corriam soltos na casa deslumbrante que o costureiro tinha na cidade.

Iam todos os dias ao mercado, se vestiam simplesmente, com caftans e sandálias que compravam dos artesãos locais, e assim passavam os verões, não fazendo rigorosamente nada.

Saint Laurent trabalhava, e muito: houve um momento em que desenhou 1.500 vestidos em 15 dias, sempre com Betty ao lado. Ela não se envolvia nas suas criações, mas o inspirava, e enquanto ele foi vivo, nunca se largaram.

Cada pessoa é de um jeito, algumas enlouquecem, se não tiverem o que fazer, já outras não têm a coragem de viver como mais gostariam, isto é, sem fazer nada -e isso não tem a ver com o fato de serem ricas ou não.

Estou falando da coragem de se assumir, o que Betty Catroux fez sem nenhum preconceito e sem seguir a ditadura que diz que as mulheres têm que etc. etc. Ela viveu e continua vivendo, linda e loura, fazendo o que mais gosta, isto é: nada.

É a marcha da insensatez! - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 27/11/11


Mais uma reunião vazia esta semana entre Angela Merkel e Nicolas Sarkozy na qual decidiram não decidir nada para enfrentar a crise da dívida que está levando a Europa à recessão. Nada sobre compra de títulos da Itália e da Espanha, pelo BCE; nada sobre a criação do Eurobônus nos termos que foi apresentado na quinta-feira; nada sobre uma ação conjunta dos governos além do Fundo de Estabilização Financeira. Um fundo que míngua porque não ofereceu garantia e credibilidade aos investidores apesar da participação do FMI, vivendo uma fase de maré baixa - ninguém ligou para a linha de crédito anunciada na semana.

Na reunião do G-20, onde foi apresentado, os países disseram com muita clareza que não acreditam nos líderes da Eurozona. Não estão sendo responsáveis, não estão agindo com a seriedade que a situação impõe; continuam adiando o inadiável, pondo em risco o sistema financeiro internacional ainda não refeito da crise de 2008. E a inútil reunião desta semana só confirmou isso.

A urgência que não é urgente. Depois de muita conversa na reunião para a qual convidaram o novo primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, e o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, Sarkozy cedeu à pressão de Merkel e concordou com a decisão de deixar para depois o que é mais urgente e deveria ser feito agora, a dívida soberana. A prioridade, concluíram, é a reforma da Eurozona, com a imposição de uma união fiscal austera, no que a chanceler alemã chamou de Nova Europa, talvez com menos países.

E assim, acreditem, enquanto os investidores, diante de tanta indecisão fogem dos títulos da Eurozona, tudo ficou adiado para a reunião do próximo dia 9.

O adiamento que se adia. É a repetição de sempre. As decisões já tinham sido adiadas de setembro para outubro, de outubro para novembro, de novembro, agora, para dezembro e depois janeiro, num adiamento eterno que se adia. Pessimismo? Não, porque não há nenhum sinal de que a Alemanha vai mudar seu veto a qualquer socorro do BCE ou dos governos aos países que devem mais de 100% do PIB e muito menos à criação dos eurobonds agora. No fundo, Angela Merkel não quer correr o risco de dizer aos eleitores que eles e a Alemanha vão pagar a dívida Grécia, da Itália e da Espanha.

Não quer ser a "responsável"dos "irresponsáveis", mas agindo assim, ela se torna a mais irresponsável diante do mundo porque essa política está levando a Europa à recessão e pondo em risco o sistema financeiro internacional. Exagero? Não. Diante da imobilidade europeia, o Fed decidiu se prevenir. Na última terça-feira já falava sobre como vai ser conduzido um novo "teste de stress" dos bancos americanos em 2012 para avaliar se estão preparados para o que está vindo da Europa.

Preparados mas. O governo, como em 2008, antecipou-se a esse cenário e formou um colchão de liquidez de R$1,1 trilhão. Tem R$ 443,7 bilhões que retêm do compulsório, tem reversas cambiais, conversíveis em reais, da ordem de R$ 647,8 bilhões e mais R$100 bilhões em caixa do Tesouro. São recursos que podem entrar no sistema em caso de falta de financiamento externo, provocado por uma nova crise internacional. Está preparado, sim, para o pior na área financeira, mas ainda não econômica.

O governo enfrenta hoje, segunda fase da crise externa, a forte retração da economia mundial. É um cenário difícil e inquietante porque ela vem sendo agravada não só por fatores externos, mas de política partidária interna nos Estados Unidos e na Europa, sobre os quais ninguém pode influir. Isso vem acentuando a retração da economia mundial porque eles representam 50% do PIB global. Não é mais apenas a crise financeira, agora é econômica também.

Olha o perigo ainda aí! E já se reflete no Brasil, como o governo admite. Ainda não é grave porque esta semana ele sinalizou novas medidas para aumentar a demanda que vem reduzindo assim a exposição externa. O risco é que elas foram anunciadas, mas ainda não implementadas. E que ninguém se iluda com a dedução do desemprego divulgada nesta semana pelo IBGE. Foi em outubro, mês em que ainda não estávamos sentindo o impacto crise externa sobre o crescimento da economia nacional que foi de apenas 0,32% no terceiro trimestre. E nesse mesmo mês de outubro, o primeiro do último trimestre, a criação de emprego recuou 38% sobre o ano passado.

Diante disso, por favor, senhores, mais realismo e menos festa porque as medidas chegaram com um pouco de atraso. Só assim o Brasil pode evitar o erro fatal que eles estão cometendo lá fora.