sábado, novembro 19, 2011
O CDF do governo - TUTTY VASQUES
O Estado de S.Paulo - 19/11/11
Quem tem adolescente em casa já começou a viver o drama de sempre: será que ele vai passar de ano? Em quantas matérias ficará em recuperação? Vai ter de cancelar a excursão à Disney já paga na agência de viagens?
Só no início de dezembro os pais ficam sabendo qual a real situação do filho na escola, especialmente se ele é daqueles que não se destacam na turma, mas costuma passar raspando com ajuda de algumas aulas particulares.
O fantasma da repetência só vai embora - ou anuncia que ficará para as festas de fim de ano em família - com a chegada do boletim. A alegria da aprovação, por mais medíocre que sejam as notas obtidas nas provas finais, é indescritível.
A presidente Dilma deve ter sentido algo parecido nesta semana quando Guido Mantega levou ao Palácio do Planalto o boletim da Standard & Poor's elevando de "BBB-" para "BBB" a nota de avaliação da política econômica do Ministério da Fazenda.
Se não chega a ser performance de CDF, francamente, nenhum outro ministro emplacou resultado positivo mais expressivo em 2011. O Carlos Lupi, por exemplo, dificilmente vai passar de ano!
Maldição
A torcida do Cruzeiro desconfia que o time foi parar na fronteira da segunda divisão depois que o presidente do clube, Zezé Perrella, assumiu a vaga de Itamar Franco no Senado!
Tudo a ver!
O Palácio do Planalto está preocupado com o desenrolar dessa campanha da Benetton que, contra a "cultura do ódio", simula beijo na boca entre líderes mundiais como Barack Obama e Hugo Chávez. Quem garante que Dilma Rousseff e Cristina Kirchner não serão as próximas protagonistas da propaganda institucional?
Faz sentido!
Carlos Lupi nega de pés juntos, o que só reforça suspeitas da oposição de que o ministro do Trabalho teria vazado a notícia de que o Ministério da Cultura vai subsidiar tradução de livro de Chico Buarque. Quem mais teria motivos para tentar botar a ministra Ana Hollanda, irmã do escritor, na berlinda do noticiário de escândalos no governo?
Mão dupla
Em contrapartida à redistribuição dos royalties do petróleo, o Rio vai propor a partilha federal da mancha de óleo que vaza loucamente de um poço operado pela Chevron na Bacia de Campos. Dá, mais ou menos, 1 mil barris por dia para cada Estado. Capaz até de dar praia em Minas Gerais!
Pra não voltar
Ciro Gomes já decidiu: só volta à política para concorrer à Presidência da República. Deve ser bom demais ser só marido da Patrícia Pillar na vida!
Atração extra
Se, pela avaliação do técnico Tite, o Imperador Adriano aguenta 10 minutos em campo, podia ao menos utilizá-lo para divertir a torcida nos intervalos dos jogos, né não?
A janela de Lula - CLAUDIO EDINGER
O ESTADÃO - 19/11/11
Imagens que perscrutam ex-presidente podem ser apenas ‘paparasitismo’. Mas o fotojornalismo vive, em poderosas reencarnações
Nos anos 80, Cornell Capa, diretor supremo do International Center of Photography, então o lugar mais importante de fotografia no mundo, disse para quem quisesse ouvir (eu estava lá): "O fotojornalismo está morto!" Eu ri. Ele era mesmo dado a exageros. Se alguém podia era ele. Húngaro, irmão do famoso Robert Capa, com uma obra razoável, membro da famosa agência Magnum, tinha todo direito à hipérbole. Depois, pensei, de certa forma o Cornell tem razão, está morto mesmo, a CNN com seus repórteres onipresentes 24 horas no ar, matou o fotojornalismo, aquele romântico, de artistas que traziam a notícia com imagens espetaculares a que ninguém mais tinha acesso. Foi-se a era de um Lewis Hine revelando em imagens o trabalho infantil abusivo. De Jacob Riis mostrando as favelas de Manhattan. Ou de W. Gene Smith denunciando o desastre de Minamata no Japão com fotos espetaculares. Acabou a época em que fotos coloridas com o sangue dos soldados americanos ajudaram a acabar com a Guerra do Vietnã.
Nos últimos 30 anos, entretanto, desde que Cornell profeticamente liquidou o fotojornalismo, tem havido uma revolução na fotografia. O trabalho autoral, em que, olhando-se a foto é possível identificar seu autor, tem tomado conta de todas as áreas, além da arte, da moda, da publicidade e do fotojornalismo. Mesmo em revistas como a Time e a Newsweek é comum vermos fotos autorais, trabalhos únicos elaborados, verdadeiras interpretações do real contando uma história que funciona em diversos níveis: informativo, psicológico e estético.
Tenho observado, aqui de longe, a janela do nosso ex-presidente. Momentos talvez mais dramáticos de sua longa e movimentada vida, revelados em parcas frações de segundos para os paparazzi de plantão e, por conseguinte, para todos nós. É sensacional o paralelo com outra janela na fotografia. Em 1978, John Szarkowski, o diretor de fotografia do MoMA nova-iorquino, organizou uma exposição chamada Windows and Mirrors (Janelas e Espelhos). Foi uma mostra revolucionária, em uma época em que a fotografia começava a migrar dos jornais e revistas para as paredes dos museus e galerias – e dos colecionadores e aficionados.
Espelhos eram fotos que refletiam o mundo interior de fotógrafos como Ansel Adams, Ralph Gibson e Robert Mapplethorpe. Fotografias enquanto janelas eram as de Robert Frank, Garry Winogrand e Diane Arbus, que nos mostram um mundo único, particular, que sem a ajuda desses olhos privilegiados não teríamos percebido. No caso da nossa janela em São Bernardo ela acaba virando também um espelho, que mostra um pouco do que somos, de como nossa curiosidade obriga fotojornalistas a montar acampamento esperando que a janela de novo se abra e nos revele novidades. Uma fotografia que está mais para o ‘paparasitismo’.
Vemos como somos. Gosto quando ouço que fotografias não representam a realidade. Que são recortes do espaço. De 360 graus de possibilidades, o fotógrafo recorta ali, retira aquele pedaço de espaço no tempo. Fotos são sugestões, alusões, sonhos, imagens do nosso inconsciente que se manifestam. Susan Sontag diz que a fotografia, em vez de registrar a realidade, se transformou na maneira de como vemos as coisas e dessa forma distorceu nossa própria noção do que é real. Hoje, o que vem crescendo e afetando as pessoas, como a pintura afetou no século passado, do impressionismo à pintura abstrata, é exatamente essa fotografia autoral: aquela em que enxergamos o mundo particular de um artista e, se o trabalho é bom, encontramos ressonância com nosso próprio universo.
O mundo íntimo do fotógrafo Miguel Rio Branco transborda em suas imagens poéticas e sutis. A dor e a beleza da história de seus antepassados está em todo o trabalho de Eustáquio Neves. A infância atribulada de uma alemã sob o domínio russo pode ser vista no trabalho incrível de Loretta Lux. O exílio e a perda de identidade também podem ser percebidos no trabalho brilhante do cubano Abelardo Morell, que cria câmeras obscuras em quartos e salas que visita. Os stills do filme da vida de Gregory Crewdson ou Cindy Sherman são maravilhosos. A fotografia utilizada assim, como catarse ou metáfora, enriquece, provoca, atiça nossa imaginação. E o mercado das artes corresponde ao que vem acontecendo. Uma fotografia de Cindy Sherman foi vendida recentemente por US$ 3,9 milhões, mais que por trabalhos da grande maioria dos artistas vivos. Mas menos que o de outro fotógrafo, o alemão Andreas Gursky, cuja obra alcançou o recorde de US$ 4,3 milhões agora em novembro.
Quando lemos um bom livro, cada cena descrita, cada situação, aparece na mente de cada um de uma forma absolutamente própria, relacionada ao nosso universo particular. Claro, ninguém lê o mesmo livro nunca. Tudo se relaciona ao que já sabemos e ao que conseguimos imaginar. Roland Barthes diz que os verdadeiros realistas entendem que a fotografia não é realidade, é mágica, é vodu. Quando fui parar dentro do Juqueri em 1989, tentando entender a loucura, a câmera me levou para lá. Vodu puro, alquimia antiga, visitar um asilo de doentes mentais com uma câmera grande, tripé e flash, e sair de lá carregando ideias, medos pessoais, descobrimentos. A câmera registrou momentos que me forçaram a refletir. Que obrigaram muita gente a refletir sobre um universo do qual sabemos tão pouco. Muita gente não quis abrir o livro que fiz sobre a loucura. O coração não sente o que não vê.
Quando vemos imagens, a tendência natural é acreditar nelas. Pensamos em imagens, sonhamos imagens, nossa lembrança é construída por imagens. Imagens satisfazem nossa imensa curiosidade. Quando o homem estatisticamente mais querido do Brasil fica doente, vemos suas fotos e nossas reações são diversas. Mas não se pode negar que são fotos da nossa história descarrilada. Susan Sontag, no livro A Doença como Metáfora (Companhia de Bolso, 2007), falando da própria enfermidade, diz que a sociedade tende a psicossomatizar o câncer, relacionando a doença a fatores mentais: ficamos doentes quanto reprimimos sentimentos, angústias.
A força da fotografia é sua influência em nossa imaginação. Como não tem limite, a imaginação precisa de um norte, um leme – aí sim, navega bem. A fotografia tem essa força e impacto. O Hotel Chelsea em Nova York era só um prédio de dez andares para quem passasse pela Rua 23 em direção à Oitava Avenida. Mas dentro havia um microcosmo extraordinário da vida cultural nova-iorquina. A fotografia nos possibilita essa entrada em universos fechados. Cada foto de cada quarto nos dá sugestões de como a vida de cada um deve ser, pode ser, de acordo com nosso limite. Não vemos as coisas como são, diz Anaïs Nin, mas como somos.
Por outro lado, ouço dizer que, ao vermos repetidamente imagens que nos tocam, a tendência natural é que deixem de ter o efeito desejado, vamos nos dessensibilizando. Imagens de moradores de rua têm esse efeito. Ou imagens de motoqueiros caídos nas avenidas. A repetição acaba com a eficácia das imagens, dizem... Será? O paradoxo é que imagens que capturam nossa imaginação circulam hoje numa velocidade estonteante pelas redes sociais, multiplicando seu efeito. Ainda agora, acabo de ver uma foto do presidente Lula no Facebook, na parede de um amigo, Lula sem cabelo, rindo nos braços de d. Marisa, com os dizeres que emocionam: "É isso aí, cabeça erguida, sorriso no rosto, força Lula!" Quarenta e sete pessoas curtiram isso. As imagens ganharam uma força inacreditável com as redes sociais. O fotojornalismo morreu, mas o fotojornalismo ganhou mais força do que nunca, pelas redes e pelos sites de notícias que usam cada vez mais fotos dos próprios leitores.
Walter Benjamin disse que, no futuro, analfabeto não será mais quem não sabe ler, mas quem não sabe ver uma fotografia. O futuro chegou. As pessoas estão cada vez mais letradas fotograficamente. Todo mundo tem uma câmera, tira milhares de fotos por ano e, por isso, exige tanto da fotografia e, por isso, fotografias têm cada vez mais vida útil e, por conseguinte, mais impacto. O fotojornalismo está morto, sim, mas continua mais vivo que nunca em suas novas reencarnações poderosas.
CLAUDIO EDINGER, FOTÓGRAFO CARIOCA RADICADO EM SÃO PAULO
Inimiga da república - RENATO JANINE RIBEIRO
O ESTADÃO - 19/11/11
Por que o combate à corrupção e ética na política, antigas bandeiras do PT, não podem hoje ser tratados como um ‘udenismo reciclado’
O grande tema da política brasileira parece, a uma leitura dos jornais ou numa conversa com a classe média, ser a corrupção. E esse é mesmo o problema crucial na república. Uso aqui o termo república, como sustentei em meus livros A República e A Democracia, como o contrário não da monarquia, como aprendemos na escola, mas da corrupção. A "boa política" de hoje é republicana e democrática, mas os termos não são sinônimos. Democracia é o regime no qual a maioria do povo decide, distinguindo-se do que no passado se chamou monarquia e aristocracia e hoje chamaríamos de ditadura. O que define o regime democrático é o poder da maioria. Já a república, etimologicamente, não é um meio de escolher governantes, nem de votar leis. É a grande finalidade do viver em conjunto: é ter por meta a res publica, a coisa pública, o bem comum. Daí que o ideal seja termos democracias voltadas para o bem comum. Não é fácil, mas é possível.
Por isso, se a república é o empenho no bem comum, seu inimigo é o furto do público pelo particular, a destruição do que é de todos em favor de poucos: a corrupção. Se a melhor forma de governo é a república democrática (o regime em que a maioria decide, em prol do bem de todos), ela tem de lutar implacavelmente contra a corrupção. Nada desmoraliza tanto a boa política quanto o homem de bem "ter vergonha de ser honesto", como dizia Rui Barbosa. Daí, a preocupação com a ética na política. Isso não é udenismo reciclado, até porque por muito tempo foi a grife do PT, partido que conseguia identificar a preocupação com a honestidade e o empenho na justiça social. Esse é, sim, o cerne de uma política decente.
Infelizmente, é difícil identificar a corrupção e seus praticantes. Ao contrário do que se propala, o País avançou nisso. Vários órgãos dos três poderes se empenham em coibir e punir a corrupção. Mas temos dois problemas sérios. O primeiro são os corruptos hábeis, que driblam os controles. Dou um exemplo. Para garantir a honestidade dos dirigentes, uma série de restrições lhes é imposta. Se viajam a serviço, devem prestar contas da viagem e das diárias recebidas. Ora, o que faria um corrupto? Não pediria diárias ou passagem ao governo. Podendo ganhar milhões com um ato ilegal, por que deixar pegadas? Pois quase todo o combate à corrupção se baseia em rastros. Quando um reitor pagou um espetáculo de fado com dinheiro público, agiu errado, mas os próprios sinais que deixou provam que não era parte de uma quadrilha. Se ele estivesse envolvido num esquema de assalto aos cofres públicos, ganharia muito mais – e não deixaria transparecer nada. Esse é uma dificuldade no combate à corrupção. Há outra.
Para combater os malfeitos, impõem-se controles, mas são tantos que inviabilizam a vida dos gestores... honestos. Vejam o ordenador de despesas – o servidor que pode mandar pagar algo, seja uma soma pequena, seja elevada. Eles vivem apavorados. Sabem que podem ser acusados por uma assinatura. Assim, para evitar malfeitos, cada despesa é autorizada por uma série de escalões. Só que o responsável é o último, o mais alto na série. Ora, tem ele certeza de que os outros fizeram tudo direito? Pois quem paga é ele. Daí que precise ler tudo, o que é impossível, entender tudo, o que também não dá, ou delegar a pessoas de total confiança sua, que podem traí-lo. Para evitar a corrupção, multiplicamos o red tape, a burocracia.
Chegamos aqui ao ponto crucial. A corrupção aumentou ou não no governo Lula? O combate a ela é uma luta moral ou resvala para o moralismo? As duas questões estão ligadas. Se cresceu a corrupção, a condenação ética ao lulismo – ou ao PT – se justifica. O mesmo vale, por sinal, para a possível corrupção tucana, que em São Paulo a Assembleia jamais apura. Esse é o grande problema, aliás: fala-se muito, sabe-se pouco. Por várias razões. Primeira: como disse, a grande corrupção é furtiva. Sou reticente quando incidem acusações sobre somas pequenas, possíveis erros, dificuldade com a papelada. Creio que isso desvia a atenção do dolo, das grandes somas. Mas a segunda razão é que infelizmente os políticos e a mídia brasileiros têm pouca vontade de pôr fim à corrupção. Os acusadores mais veementes dos corruptos só condenam a corrupção do lado oposto.
Vejo isso no Facebook. Quando se levanta uma suspeita contra seu lado, indignam-se. Dizem que o outro lado (o "do mal") os acusa para esconder seus malfeitos. Recusam-se a ser investigados, com uma indignação que até parece autêntica. Assim, o combate à corrupção, que deveria ser empenho de todos, se subordina a agendas baixas de campanhas políticas. Isso explica por que mais gente foi protestar contra o não metrô em Higienópolis do que contra a corrupção no Brasil: porque a causa não é limpa. O que é, convenhamos, uma grande pena.
E há um finalmente. Quase toda a crítica ao governo se concentra na corrupção, real ou imaginária. Não vejo os tucanos irem além de defender a privatização do pré-sal ou de atacar o Bolsa Família (mesmo assim, em 2010, Serra propôs aumentá-la, de modo que essa bandeira saiu de cena). No Feice, quem ataca a corrupção não propõe nada para o Brasil. A discussão política ficou pobre. Sinal disso é a recente entrevista de Aécio Neves. O Brasil merece mais. Merece pelo menos duas coisas: debates sobre políticas para o País e um combate, sem uso partidário, contra a corrupção.
O melhor repórter do futuro - SÉRGIO AUGUSTO
O Estado de S.Paulo - 19/11/11
Do primeiro Jules (ou Júlio) Verne ninguém esquece. O meu foi em quadrinhos: Vinte Mil Léguas Submarinas, na versão que lhe deu a Edição Maravilhosa (n.º 10, abril de 1949), ilustrada por Henry C. Kiefer. Um epifania infantil, sem dúvida, superada, cinco anos mais tarde, pelo filme de Richard Fleischer e, antes deste, pela imersão adequada no próprio romance, traduzido na íntegra não me recordo mais por quem. Sempre por aí, em edições de variado pedigree, ainda é o best seller do autor e acaba de ganhar outra, caprichada, da Zahar (tradução de André Telles, 456 págs., R$ 59), com as indispensáveis ilustrações de Alphonse de Neville e Édouard Riou.Verne não foi apenas o contador de histórias mais imaginoso de todos os tempos - uma espécie de Leonardo da Vinci da ficção -, mas também o criador de uma mitologia singularmente estruturada a partir das crenças filosóficas e científicas de sua época. Encantou Proust, Rimbaud (cujo Bateau Ivre seria uma recriação poética e ébria do Náutilus de Vinte Mil Léguas Submarinas), Raymond Roussel, Julio Cortázar, Nietzsche (cujo Zaratustra seria a reencarnação filosófica do capitão Nemo), Michel Butor (que vislumbrou a presença do escritor nas pinturas de Max Ernst, Rousseau e na poesia de Lautréamont).
Entre nós não foi diferente. Data de 1875, com A Ilha Misteriosa ainda fresca nas livrarias da França, a primeira ficção brasileira de inspiração verniana: O Doutor Benignus, de Augusto Emilio Zaluar. Outras haveria, nenhuma com a qualidade literária e a sutileza de Lições de Abismo, a "viagem ao centro da Terra" de Gustavo Corção.
Interessado em ciência desde menino, como Voltaire, Balzac e seu assumido mestre Edgar Allan Poe, o visionário de Nantes foi o produto literário mais delirante que o cientificismo do século 19 gerou com os olhos voltados para o século 20. Verne intuiu e imaginou (ou inventou entre aspas) diversos prodígios mecânicos, químicos e até eletrônicos, como o submarino (o do holandês Cornelius Drebell, dois séculos mais novo que o Náutilus, não passava de um bolsão de couro), o escafandro, o batiscafo, o dirigível, o helicóptero, o trator e o automóvel, o gás asfixiante, o canhão de longo alcance, a fotografia em cores, o hidroavião, a vitrola, o cinema, a televisão, os computadores, a bomba atômica, o cinema em 3-D - e um vasto etc. Seu recorde nessa especialidade, tudo leva a crer, jamais será ultrapassado.
A paixão pelo experimentalismo passou-a a seus alter egos: o capitão Nemo (precursor de Drebell e também de Jacques Cousteau), Robur (precursor de Santos Dumont), o capitão Hatteras (que foi verificar a existência de um mar livre no Polo Ártico), o professor de Viagem ao Centro da Terra (que foi validar in loco a teoria do fogo central), para ficarmos só nos mais conhecidos. Mas a vaidade, o excesso de autoconfiança e o messianismo dos cientistas o atemorizavam. Robur, o conquistador que em 1886 surge como um protótipo do admirável homem novo moldado em Nemo, mais parece um avatar de Lúcifer ao ressurgir, uma década mais tarde, em O Senhor do Mundo. Não foi por acaso que, no cinema, entregaram esse papel a Vincent Price.
Além das profecias, utopias e distopias, Verne notabilizou-se como um intérprete glutão dos grandes acontecimentos políticos e sociais do século 19, como um correspondente de guerra e conflitos que nunca precisou sair de seu gabinete. Em seus romances "cobriu" a guerra dos Boers na África, a resistência de El Hadji Omar às tentativas francesas de conquistar o Senegal, o estabelecimento da autoridade chilena nos Andes, a guerra de Secessão americana, a venda do Alasca e outros territórios pelos russos, a corrida do ouro na Califórnia e na Austrália, as pressões do governo Theodore Roosevelt sobre a América Central e o Caribe, a insurreição Taiping na China Central, a guerra de independência da Grécia, a guerra da Crimeia, os movimentos de emancipação nacional dos húngaros, escoceses, irlandeses, búlgaros e noruegueses, a eclosão do anarquismo na Itália, Rússia, França e na América. E, em A Jangada - 800 Léguas pelo Amazonas, a proclamação da República no Brasil.
Muitas posições políticas assumidas por seus personagens conflitam com as do conservador que ele sempre foi, defensor da ordem a qualquer preço, da mulher no fogão ou num canto a tricotar, adversário dos que apoiavam Dreyfus, das sufragistas e dos communards de Paris. Vinte Mil Léguas Submarinas talvez seja sua aventura mais pessoal, a mais contaminada por suas secretas simpatias libertárias.
Nemo termina abjurando seus princípios e questionando sua misantropia. Seu lamento final - "Deus todo-poderoso! Basta! Basta!" - foi uma concessão ao editor Hetzel e ao público. Verne e Hetzel discutiram extensamente sobre a identidade política de Nemo. Hetzel queria justificar as ações de Nemo como uma consequência de sua luta contra a escravidão, mas Verne não aceitou: para ele, Nemo afundava o navio inglês simplesmente porque fora provocado. Mas é claro que o escritor, e não apenas o comandante do Náutilus, considerava a escravidão um dos "horrores da civilização". Hetzel, pragmático, era contra a escravidão porque o seu fim, segundo os economistas da época, representaria um importante salto para o futuro e resultaria na ampliação do mercado consumidor.
As sociedades industriais então trocavam o colonialismo pelo imperialismo. Atento a todos os seus movimentos, Verne inseriu-os em sua ficção. E assim foi que o futuro ganhou um grande repórter.
Tintim em São Paulo - MATTHEW SHIRTS
REVISTA VEJA SP
Quando saiu pela primeira vez em português a história que escreveu sobre São Paulo, Richard M. Morse ficou irritado. Não com a tradução, menos ainda com o fato de o livro ser publicado no Brasil. A edição brasileira de “De Comunidade a Metrópole” fazia parte das comemorações do quarto centenário da cidade (1954), nada menos. Ganhou destaque, um lugar de honra na bibliografia paulistana.
O problema era a resenha.
Nas altas-rodas acadêmicas frequentadas pelo historiador americano, tão importante quanto a obra é a recepção desta pela comunidade universitária.
Morse, que foi meu professor e guru, esperava uma resenha elaborada por um dos grandes pensadores da São Paulo de então. Talvez Antônio Candido, Florestan Fernandes ou, quiçá, Sergio Buarque de Hollanda, todos amigos dele. Mas não. Foi encarregado da resenha um jovem desconhecido, de apenas 26 anos de idade. Pode? O nome dele era Fernando Henrique Cardoso.
Dr. Morse, como eu o chamava, com carinho e respeito, adorava contar essa história. Orgulhavase dela. Quem poderia imaginar, àquela altura, que o autor da tal resenha viria a ser o presidente do Brasil (e amigo do Morse)?
FHC gostou do livro. Escreveu, no código secreto dos sociólogos da época, que era um dos melhores já escritos sobre a história da cidade, mas que fora montado sobre uma fundação de caos “metodológico”. Dr. Morse, de lendária originalidade intelectual, deve ter entendido esse último comentário como um elogio.
Lembrei-me desse episódio ao assistir, em um dos cinemas da Augusta com a Paulista, ao trailer do filme mais recente de Steven Spielberg, “As Aventuras de Tintim”, que estreia por aqui em janeiro.
O problema era a resenha.
Nas altas-rodas acadêmicas frequentadas pelo historiador americano, tão importante quanto a obra é a recepção desta pela comunidade universitária.
Morse, que foi meu professor e guru, esperava uma resenha elaborada por um dos grandes pensadores da São Paulo de então. Talvez Antônio Candido, Florestan Fernandes ou, quiçá, Sergio Buarque de Hollanda, todos amigos dele. Mas não. Foi encarregado da resenha um jovem desconhecido, de apenas 26 anos de idade. Pode? O nome dele era Fernando Henrique Cardoso.
Dr. Morse, como eu o chamava, com carinho e respeito, adorava contar essa história. Orgulhavase dela. Quem poderia imaginar, àquela altura, que o autor da tal resenha viria a ser o presidente do Brasil (e amigo do Morse)?
FHC gostou do livro. Escreveu, no código secreto dos sociólogos da época, que era um dos melhores já escritos sobre a história da cidade, mas que fora montado sobre uma fundação de caos “metodológico”. Dr. Morse, de lendária originalidade intelectual, deve ter entendido esse último comentário como um elogio.
Lembrei-me desse episódio ao assistir, em um dos cinemas da Augusta com a Paulista, ao trailer do filme mais recente de Steven Spielberg, “As Aventuras de Tintim”, que estreia por aqui em janeiro.
Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, como me ensinou o filósofo e baterista paulistano Marcos Sismotto, o Marcão, que é artista gráfico também. Mas o filme pareceu relevante à minha busca recente por um pensamento ou ponto de vista paulistano. Existe isso? Qual é o eixo da cultura da cidade de São Paulo? O que ela tem de próprio?
Morse dizia que era a capacidade de processar informações de diferentes tradições culturais. Citava o crítico literário e amigo Antônio Candido como exemplo. O professor Candido trazia, em sua biblioteca, toda a tradição brasileira, centenas de livros sobre o escritor francês Marcel Proust e, como se não bastasse, os últimos números da “Partisan Review”, revista nova-iorquina de vanguarda que publicou, entre outros, o poeta anglo-americano T.S. Eliot. Isso na década de 40 (antes da internet, portanto). Hoje, diga-se, deve estar ainda melhor a biblioteca do professor Candido.
Morse dizia que era a capacidade de processar informações de diferentes tradições culturais. Citava o crítico literário e amigo Antônio Candido como exemplo. O professor Candido trazia, em sua biblioteca, toda a tradição brasileira, centenas de livros sobre o escritor francês Marcel Proust e, como se não bastasse, os últimos números da “Partisan Review”, revista nova-iorquina de vanguarda que publicou, entre outros, o poeta anglo-americano T.S. Eliot. Isso na década de 40 (antes da internet, portanto). Hoje, diga-se, deve estar ainda melhor a biblioteca do professor Candido.
Morse considerava a “visão de baixo”, daqui do Hemisfério Sul, uma vantagem cultural em termos planetários. A posição geográfica favorecia um olhar cosmopolita e provinciano ao mesmo tempo, algo raro. Tal ponto de vista, segundo ele, ajudou na criação de escolas próprias de modernismo, sociologia e crítica literária. Acrescentaria eu, também de jornalismo e publicidade.
E o que isso tudo tem a ver com Tintim? É que não o li quando pequeno. Como a maioria dos americanos, nem sequer ouvi falar dele. Minha mulher, Luli, paulistana, fica indignada com essa falha na criação dos gringos. Antes de me conhecer, ela acreditava que Tintim fosse universal.
Bom, agora será. O diretor Steven Spielberg descobriu o personagem do belga Hergé no lançamento europeu de “Indiana Jones”. Amou. Vai apresentá-lo, enfim, e em grande estilo, aos americanos. São Paulo conhece Tintim há muito tempo, tal como Super-Homem e dezenas de personagens de gibi do Japão e do mundo todo. A cidade é mais cosmopolita e modernosa nesse sentido do que outros lugares. Dr. Morse tinha razão. Pensei nisso no cinema da Rua Augusta. Até os americanos serão globalizados.
E o que isso tudo tem a ver com Tintim? É que não o li quando pequeno. Como a maioria dos americanos, nem sequer ouvi falar dele. Minha mulher, Luli, paulistana, fica indignada com essa falha na criação dos gringos. Antes de me conhecer, ela acreditava que Tintim fosse universal.
Bom, agora será. O diretor Steven Spielberg descobriu o personagem do belga Hergé no lançamento europeu de “Indiana Jones”. Amou. Vai apresentá-lo, enfim, e em grande estilo, aos americanos. São Paulo conhece Tintim há muito tempo, tal como Super-Homem e dezenas de personagens de gibi do Japão e do mundo todo. A cidade é mais cosmopolita e modernosa nesse sentido do que outros lugares. Dr. Morse tinha razão. Pensei nisso no cinema da Rua Augusta. Até os americanos serão globalizados.
Pérolas - FERNANDA TORRES
REVISTA VEJA - RIO
Meu inteligentíssimo amigo Sérgio Meckler, editor de cinema e dublê de artista plástico, teve filhos na mesma época em que eu. Quando as crias tinham uns 5 anos, Meckler me presenteou com um filme de Luis Buñuel para assistir em família: Robinson Crusoe.
No Museu Reina Sofia, em Madri, o andar dos surrealistas conta com uma pequena sala onde A Idade do Ouro, O Cão Andaluz e O Anjo Exterminador são permanentemente exibidos. Eu me lembro dos meus enteados, já adolescentes, pasmos com o imaginário incômodo de Buñuel.
Robinson Crusoe guarda o desconforto das obras do cineasta, mas é hollywoodianamente acadêmico para os padrões do espanhol. Uma aventura linear sobre o náufrago obrigado a sobreviver 23 anos em uma prisão em forma de ilha. É como se o absurdo já estivesse presente no romance original, sem a necessidade de que o diretor o evidenciasse no roteiro.
A morte do cão, a ameaça dos canibais, a amizade com Sexta-Feira evocam tristeza, medo e alegria, sentimentos primitivos, facilmente compreendidos pelos pequenos.
Repeti a experiência com o rebento mais novo, mas quis que ele imaginasse antes de ver. A Companhia das Letras tem uma excelente edição da história de Daniel Defoe, com mapas, desenhos e explicações. No canto da página do primeiro naufrágio, repare na reduzida versão da história de Jonas e a baleia, outra parábola certeira para guris.
Os filmes infantis melhoraram muito, os livros também, mas ainda se consome muita porcaria na primeira idade. Meu primogênito insistiu para que eu visse na internet um trecho de Ídolos que ele achava engraçadíssimo. Não me deu vontade de rir; pelo contrário, eu me deprimi com o humilde rapper paulista escorraçado pelos jurados. Ele não era muito bom, mas isso não dava à comissão o direito de humilhá-lo da maneira como humilhou.
O programa de calouros no YouTube é um fenômeno de audiência. Ídolos e mais um monte de bobagens, umas engraçadas, outras não. Como mãe, entendo que é da idade, que compartilhar besteiras cria laços fundos, e tento lembrar que não descobri Machado, Amado e Verissimo aos 12 anos.
Deve-se ter paciência.
Meu jovem moço que ri com Ídolos quis ver A Tempestade, versão de Julie Taymor para a obra de William Shakespeare. Quase fui às lágrimas. Temi que o ritmo poético, tão diferente dos chutes e explosões dos super-heróis modernos, pudesse entediá-lo; mas não, foi uma noitada e tanto.
Taymor tem grande apelo juvenil, sua recriação de Rei Leão para o teatro é um primor de delicadeza. Não gosto dos filmes que dirigiu para gente grande e não enquadro A Tempestade nessa categoria.
O Mestre dos Mares é outra opção requintadíssima para a juventude, introdução a Darwin e às guerras napoleônicas no além-mar. Tentei Hitchcock, mas não deu certo.
Nenhuma obra, no entanto, chega aos pés de 2001 – Uma Odisseia no Espaço em matéria de interesse da petizada.
Assista em partes.
Assista em partes.
A primeira, a dos macacos, é de simples apreensão. O bonobo de Kubrick quer comer, beber e dormir sem ser comido. O pobre só atinge seu objetivo depois que baixa o cacete nos vizinhos, nas pacas e nas feras que estão em volta.
Que imberbe já não enfrentou o mesmo dilema no recreio da escola?
O corte epistemológico do osso para a espaçonave embasbaca os de 8 a 80 e HAL, o computador inteligente, é um vilão tão assassino quanto a bruxa má da Branca de Neve.
Somente durante a queda no bicho-papão buraco negro, o abismo afunilado provoca angústias impróprias para a idade, mas o bebê a boiar na imensidão do universo afasta a desesperança e o caos. 2001 tem um final feliz.
É ou não é um filme para menores de muitos anos?
Dizem que os filhos se guiam mesmo é pelas escolhas dos amigos. Os pais influenciam, mas o gosto da turma se impõe ao dos parentes. Eu entendo, mas não desisto.
"Vamos Beltramizar?" RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA
O neologismo começa a ser usado no sentido de limpar, punir, dedetizar os ratos e as baratas da política
Na linguagem comum, verbo é a palavra que exprime uma ação. Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, começa a ser conjugado por brasileiros comuns como verbo, no sentido de limpar, punir, dedetizar ratos e baratas da política. O neologismo não é meu, mas de uma leitora de Manaus, que me mandou um comentário após a ocupação da Rocinha e do Vidigal: “Tirar traficantes de morros é fácil. Quero ver a sociedade beltramizar os bandidos de Brasília”.
Procurei saber quem era a leitora inspirada. Elaine Giselle Cristina da Costa Haddad, de 41 anos, é solteira e tem uma filha de 21 anos. Formada em pedagogia. Consultora de cooperativas. “Seria excelente”, me disse Giselle, “se passássemos a conjugar o verbo em todos os tempos de nossa história.” No presente, eu beltramizo, tu beltramizas. Será que Dilma beltramiza ou contemporiza? Conseguirá a presidente adiar até a reforma de janeiro a saída de Carlos Lupi, o ministro desmemoriado do Trabalho que esquece até os amigos que oferecem jato e jantar para ele em casa, como o coitado do Adair? O mais incrível é que o tom da fala de Lupi agradou ao Planalto. Só porque ele deixou as bravatas em casa.
Toda vez que me refiro aqui aos bandidos de Brasília, os brasilienses do bem reagem indignados como se o alvo fosse a população. Que fique claro: não é quem vive na capital do Brasil que está sob suspeição, mas o que o Distrito Federal representa, como abrigo de malfeitores eleitos e nomeados. Muitos não são de lá. São forasteiros que aproveitam a impunidade histórica no país para desviar dinheiro público. Pode ser a compra de uma simples tapioca, uma festa picante em motel ou o uso irregular de jatos particulares. E daí se passa às grandes rapinagens de verba da Saúde, do Esporte e da Educação. Fora de Brasília, prefeitos roubam até quem tudo perdeu, como os desabrigados de enchentes em Teresópolis, que até hoje moram de favor na casa de amigos e parentes ou voltaram para a beira dos abismos.
“Se todos nós beltramizássemos nossos políticos”, diz a leitora Giselle, “não ficaríamos assistindo passivamente à farra de desvios, corrupção e políticas nada voltadas para a sociedade. Dia a dia, somos entupidos de notícias de que a saúde pública não assiste o povo, nossa educação é fraca e os riquinhos fraudam o Enem, a violência está aumentando na zona rural e interiorana. Vemos tudo isso e ficamos quietos, reclamando sozinhos, falando solitariamente, quando poderíamos estar beltramizando os bandidos de colarinhos.”
Ela não vê nada de mais na postura de Beltrame, por entender que “ser honesto e trabalhar em benefício do povo é um dever de quem faz parte de qualquer órgão público”. Giselle se chateia porque, enquanto elogiamos a ação de Beltrame na segurança, “não nos revoltamos na mesma medida contra os que fomentam o pior para a sociedade”.
Giselle é uma indignada do bem e tenta fazer sua parte nesta democracia virtual que às vezes peca pelo exagero, destempero e preconceito. No saldo final, o debate é muito positivo para todos, jornalistas ou não, que querem conhecer a voz das ruas. A sociedade aprende quando escuta anônimos. Esse radar popular ligado 24 horas por dia tem sido usado como termômetro pelos Poderes da República.
Quem tem acompanhado as revoltas dos indignados na Europa e nos Estados Unidos deve se perguntar se somos um povo excessivamente passivo, conformado ou, quem sabe, um povo apenas pacífico e alegre, sem vocação para levar pancada de cassetete ou chorar com bomba de gás lacrimogêneo. O que leva às ruas os jovens de um mundo desenvolvido, bem menos desigual? É a noção de que protestar contra o desemprego e a falta de representatividade política é legítimo. No Brasil, a economia vai bem. Mas protestos são vistos como ameaça à democracia, e o movimento contra a corrupção fica restrito à internet.
No campo ético, a pergunta é: vamos ou não beltramizar? O verbo também significa agir com transparência e não ser corporativista. Logo após a tumultuada prisão do Nem da Rocinha, em que todas as polícias pareciam disputar o mérito pela captura do bandido mais procurado do Rio, Beltrame solicitou à Corregedoria-Geral da União que investigue os procedimentos de delegados e policiais. Em vez de minimizar suspeitas e se gabar da impressionante reconquista sem tiros da Rocinha e do Vidigal, o secretário de Segurança pretende cobrar até o fim uma resposta à sociedade. A Polícia Federal investiga acusações de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro por policiais civis e advogados peritos, todos na cena da prisão.
É difícil ver a mesma postura entre políticos e juízes.
Volta do bom humor - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 19/11/11
De Lula para Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo:
— A vida inteira eu achei que era o homem mais bonito da minha família. Agora, descubro que sou a cara do meu irmão frei Chico (à direita).
Aliás...
Quarta, Lula recebeu a visita do amigo vascaíno Sérgio Cabral com camisa e gorro do seu Corinthians.
‘Caro amigo’...
Lula recebeu uma emocionada cartinha de Sarkozy.
Escreveu o presidente francês de próprio punho: “Caro Lula, ao saber de sua doença, pensei que seu destino é lutar sempre. Lutar pela democracia, pela justiça, por seu povo, pelos pobres, pela África, pela grandeza do Brasil. Lutar contra as adversidades que tanto surgiram em seu caminho. Agora, é preciso pensar um pouco em você e lutar por você mesmo. Um abraço do amigo Nicolas Sarkozy.”
Voo fofo
Dia 12, o voo JJ 3524, Guarulhos-Recife, da TAM, foi cenário de um pedido de casamento.
Um passageiro solicitou a ajuda da empresa para realizar seu sonho: pedir a mão de sua namorada a bordo. A pretendente, que morava nos EUA, ficou surpresa ao encontrar o noivo no avião no meio da viagem de volta ao Brasil.
Bonde dos cachorros
Ontem, numa sessão de “O amanhecer” no Botafogo Praia Shopping, no Rio, uma moça saliente gritou quando rapazes se transformam em lobos no filme:
— Na boa, esse bonde dos cachorrões está bem melhor que a morcegada!...
Índio quer royalty
Do professor Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás, em palestra ontem na PUC-Rio sobre meio ambiente:
— Os índios da Amazônia deveriam receber royalties pela construção de hidrelétricas lá.
Em tempo...
O problema é o pessoal do Posto 9, em Ipanema, ficar de olho nessa grana dos índios.
Afinal, os políticos que querem tungar o Rio defendem que royalties são para todo mundo.
Acabou em samba...
Aliás, a tunga dos royalties do Rio virou marchinha no concurso da Fundição Progresso.
Diz a letra de “Marchinha do Petróleo”, de Ivanildo Araújo: “Sr. deputado, a inveja te revoltou./Seu sonho é ter Pão de Açúcar,/construir um Redentor (...)/ em Copacabana se esbaldar?/Se devolver meu petróleo,/te dou férias de frente pro mar.”
Folha corrida
Esse advogado André Luís Soares Cruz, que se apresentou como “cônsul do Congo” ao ser preso com o traficante Nem, é, digamos, cliente antigo da Polícia Civil do Rio.
Desde 2000, é alvo de pelo menos cinco inquéritos, acusado de crimes diversos — “estelionato” (32a- DP), “falsidade documental” e “estelionato” (16a-DP), “apropriação indébita” (14a- DP) e “atentado violento ao pudor” (Delegacia da Mulher).
Segue...
Num dos casos, segundo o inquérito, teria falsificado a assinatura de uma prima numa procuração, vendido um imóvel da parente e embolsado o valor.
Em 2008, teve a sua carteira da OAB suspensa.
Nome de rua
Tramita na Câmara do Rio um projeto para dar a uma rua da cidade o nome do cinegrafista Gelson Domingos da Silva, nosso coleguinha da TV Bandeirantes morto em Antares.
Simonsen leva 10
Essa Escola Brasileira de Economia e Finanças (Ebef/FGV), que recebeu a nota máxima do Enade, era a menina dos olhos do mestre Mário Henrique Simonsen, falecido em 1997.
Caio na Disney
Com o zunzunzum de que Luxemburgo pode deixar o Flamengo se o time não se classificar para a Libertadores, o coleguinha e humorista Maurício Menezes lançou o movimento “Caio Júnior na Disneylândia”.
É para deixar o ex-técnico do Botafogo longe do Flamengo. É. Pode ser.
ILDI SILVA, a formosa atriz da TV Globo que é um pedaço de bom caminho (com todo o respeito), posa para ensaio de moda na Ilha Fiscal, na Baía de Guanabara
REYNALDO GIANECCHINI abre o coração para Patrícia Poeta em entrevista que vai ao ar amanhã, no “Fantástico”
AMIGOS DO TIROL
AMIGOS DO TIROL - NATAL RN
INFORMAÇÕES E VENDAS : Secretaria da AABB - 84 - 3211 4412
ACESSO : CAMISAS ............ R$20,00(VINTE REAIS)NÃO HÁ RESERVA OU VENDA DE MESAS
HOMENAGEADOS DO ANO ........JOSÉ GUARÁ, DÉCIO HOLLANDA, ERNANI DA SILVEIRA, JUSSIER SANTOS e PEDRO CAVALCANTI
HOMENAGEADOS DO ANO ........JOSÉ GUARÁ, DÉCIO HOLLANDA, ERNANI DA SILVEIRA, JUSSIER SANTOS e PEDRO CAVALCANTI
Hotéis lotados - CELSO MING
O ESTADÃO - 19/11/11
Encontrar apartamento de hotel de um dia para o outro em São Paulo ficou quase impossível. Em dias úteis, a lotação já é de quase 100%, com ou sem megaeventos na cidade. Apenas com grande antecedência se conseguem vagas.
Em abril, voo da Delta Airlines com destino a Atlanta, nos Estados Unidos, foi cancelado por problemas mecânicos. Quem não residia em São Paulo teve de se hospedar em Bertioga, na Baixada Santista, a 105 km do aeroporto de Guarulhos. Não por opção da companhia; por não haver vagas na capital.
De lá para cá, as coisas pioraram. A demanda subiu e a oferta se manteve estagnada. A ocupação média em 2007, contando finais de semana, foi de 67,0%. Após a paradeira da crise econômica, quando esse número recuou, em 2010 o índice avançou para 68,5%. Neste ano (até outubro) já corre acima dos 70,0%, como mostra o gráfico.
Veja agora o que se passa com a oferta. Desde 2007 – quando o Brasil foi oficialmente indicado como sede da Copa do Mundo de 2014 –, São Paulo tem os mesmos 410 hotéis e os mesmos 35,4 mil apartamentos. A cidade abrigará seis jogos do Mundial, incluindo um dos semifinais e abertura. Mas, até 2015, funcionarão só três novos hotéis na metrópole, com 876 quartos (2,5% a mais), aponta o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), que coordena interesses do setor.
São Paulo é o terceiro maior polo turístico do País. E, diferentemente de Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu – na dianteira do ranking –, 70% dos 12 milhões de turistas (85% brasileiros) que a cidade abriga por ano não viajam em busca de lazer. Querem fechar contratos ou participar de congressos, convenções, feiras ou fóruns.
Uma das explicações para o forte descompasso entre oferta e procura – identificado por Carolina Halo, da Mapie Consultoria – é a conjugação de dois fatores. De um lado, o bom desempenho da economia nos três últimos anos atraiu mais gente para os negócios. E, de outro, os empreendedores preferiram investir em imóveis residenciais, fartamente financiados; e não em hotéis, de retorno mais baixo.
Mais de meio milhão de turistas virá ao Brasil em 2014. E São Paulo será um dos principais destinos. No entanto, a perspectiva de falta de vagas não aflige o setor hoteleiro. Ana Maria Aidar, diretora da Fohb, aposta na inversão do movimento. Entre 12 de junho e 13 de julho de 2014, período de duração da Copa, a cidade e o foco do mercado hoteleiro mudarão, diz ela. “Por já se conhecerem as datas dos jogos, eventos habituais serão remanejados e hotéis estarão disponíveis para torcedores de todos os países.”
A tendência, atesta ela, é de lotação na faixa dos 79% em São Paulo, mesma projeção para 2015 – embora admita que cidades próximas exercerão, sim, papel importante na hospedagem desse pessoal.
Mas às vezes fica parecendo que o setor pressiona o governo para liberar favores especiais. A própria Ana Maria Aidar reconhece: “Garantimos ao Ministério do Turismo as vagas, mas precisamos de incentivos para capacitar funcionários e receber bem o mundo todo”. / COLABOROU GUSTAVO SANTOS FERREIRA
CONFIRA
A contratação de pessoal com carteira assinada (empregos formais) ainda cresce, mas está desacelerando. É o que apontou nesta sexta-feira o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, a partir de dados de outubro.
Mais uma revisão. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, fez aposta arriscada no primeiro trimestre. Fixou para 2011 a criação líquida de 3 milhões de empregos formais. Em setembro, revisou para 2,7 milhões. E nesta sexta foi obrigado a refazer o cálculo outra vez: 2,4 milhões. E nem esse número mais baixo será atingido.
Constrangimento - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 19/11/11
A presidente Dilma chegou ao Salão Nobre, para sancionar a criação da Comissão da Verdade, conversando, de dedo em riste, com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). Vinham de discussão acalorada, da qual participaram Maria do Rosário (Direitos Humanos), Celso Amorim (Defesa), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Ideli Salvatti (Institucional) e o ex-ministro Franklin Martins. Por pressão militar foi decidido que Vera Paiva, filha do ex-deputado Rubens Paiva, não falaria na solenidade.
Os militares estavam ensandecidos
No início da manhã, o assessor da Defesa, José Genoino, alertou o Planalto que, se o familiar de uma vítima da ditadura militar falasse, como estava previsto, um militar também teria de falar. Do contrário, seria um constrangimento para os comandantes militares, presentes à solenidade. A discussão no gabinete de Dilma atrasou a cerimônia em meia hora. Para não dar a palavra a um militar, a opção foi desconvidar Vera Paiva. Falaram a presidente, o ministro José Eduardo Cardozo e o presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos, Marco Antonio Barbosa. O episódio gerou tensão e tisnou um ato que era para ser festivo.
"Ele é muito sincero” — Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, sobre a entrevista de Ciro Gomes, na qual ele diz que o PT virou um partido “fisiológico”
METRALHADORA GIRATÓRIA. Apesar de estarem acostumadas com o estilo de Ciro Gomes, lideranças políticas ficaram surpresas com a entrevista concedida ao UOL na qual o ex-ministro falou mal de tudo e todos. O presidente do PSDB de Minas, deputado Marcus Pestana, rebateu a afirmação de que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teria um problema, o de ler pouco. "Ele não é um acadêmico nem um técnico, é um político. Tem a habilidade de formar boas equipes. Isso foi um desvio academicista do Ciro. Foi seu lado Mangabeira Unger", disse ele.
Ironia
De um membro da Executiva do PSB, sobre a entrevista de Ciro Gomes, na qual ele diz que o próprio partido tem "uma direção de capitania hereditária": "O Ciro saiu da política para virar o ombudsman do quadro político nacional".
Nova frente
O Brasil formalizou esta semana relação sistemática, que prevê intensificação do comércio, com os 10 países da Asean (Sudeste Asiático). O ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) foi a Bali se reunir com os chanceleres da região.
Sobre a reforma ministerial
O governador Jaques Wagner (BA) está em campanha para manter a ministra Luiza Bairros (Igualdade Racial) no cargo. Ele aproveitou a visita da presidente Dilma a Salvador para falar sobre a fritura que Luiza tem enfrentado. Dilma teria dito que não pretende extinguir a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, com status de ministério, até porque repercutiria muito mal no movimento negro, e teria elogiado a ministra.
Sampa x Minas
Comitivas técnicas dos governos de São Paulo e de Minas Gerais estão em Taiwan. Foram convocadas pela Foxconn para a última rodada de negociação antes de anunciar em qual estado será instalada sua nova fábrica no Brasil.
Por outro lado
O deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) reage ao veto de Brizola Neto (PDT-RJ): "No episódio da crise no Ministério do Trabalho, Brizola e eu defendemos a mesma posição. Considero inoportuno e constrangedor falar na sucessão do Lupi."
ESCOLHIDA. O único nome já escolhido para a Comissão da Verdade é Clarice Herzog, mulher do jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura.
GAFE. Relator da Comissão da Verdade no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) não foi convidado para a sanção da lei pela presidente Dilma.
INTOCÁVEIS. Um integrante do governo explica as dificuldades da presidente Dilma para escolher os membros da Comissão da Verdade: "É mais difícil do que escolher ministro, porque ela não vai poder demitir depois".
Os neutrinos e a luz - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 19/11/11
SÃO PAULO - Depois de abalar o mundo dos físicos, em setembro, ao anunciar que flagraram neutrinos viajando mais rápido que a luz, pesquisadores do laboratório Gran Sasso, na Itália, voltaram aos detectores, fizeram novas medições e insistem que os resultados estão certos.
A notícia é tão extraordinária que, para ser aceita, ainda precisa ser confirmada por um centro que não o italiano, mas já podemos ir especulando sobre suas implicações.
Neutrinos são partículas subatômicas com massa. De acordo com a teoria da relatividade especial, de Albert Einstein, a do famoso E=mc², não poderiam ser acelerados para atingir velocidade superluminal.
Se isso ocorre, boa parte da física precisará ser revista. A primeira vítima pode ser a noção de causalidade. Se a velocidade da luz é violada, a forma como o Universo processa informações fica de pernas para o ar. Torna-se, em princípio, possível que efeitos precedam suas causas.
Uma das soluções aventadas para o problema é propor que os neutrinos chegaram mais rápido porque tomaram um atalho por outras dimensões espaciais e quem sabe até por outros cosmos, o que nos leva às incríveis teorias do multiverso, segundo as quais existiriam ao menos nove modalidades de universos paralelos, todas matematicamente consistentes, mas jamais observadas.
Estamos diante de uma encruzilhada epistemológica. Não são poucos os que acusam a ciência de ponta, em especial a física de partículas e os teóricos das supercordas, de criarem um universo de abstrações matemáticas que não têm como ser testadas com a tecnologia atual (um pecado menor) nem em princípio (a danação eterna para um físico). Segundo esses críticos, tais ramos da ciência estariam se aproximando perigosamente da metafísica e da religião.
É claro que não estão, mas esse é um debate fascinante, que inclui, entre outros destaques, a discussão sobre se a matemática é ou não real.
Por trás da patética defesa de Lupi - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 19/11/11
Todo escândalo costuma ter um símbolo. Da defenestração de Collor ficou na memória nacional o cheque de um fantasma de PC Farias para pagar o Fiat Elba do presidente da República. No mensalão, é parte da História a cena de petistas aos prantos na Câmara enquanto o marqueteiro Duda Mendonça confessava ter recebido no exterior, em dinheiro de caixa dois, por serviços prestados à campanha de Lula em 2002. Existem, ainda, as passagens picantes do "mensalão do DEM" patrocinado por José Roberto Arruda, entre elas imagens inesquecíveis de políticos brasilienses escondendo dinheiro sujo até nas meias.
Da escandalosa gestão de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho, o candidato a ícone é um avião King-Air prefixo ONJ, mobilizado pelo empresário Adair Meira para transportar o ministro em viagem de caráter partidário, portanto particular, pelo interior do Maranhão. Com o grave detalhe de que Meira controla ONGs que recebem dinheiro do ministério, e tem contas sob contestação. Numa primeira visita ao Congresso para tentar se explicar, Lupi, numa encenação de mau ator, garantiu que não conhecia o parceiro. Ao ser publicada pelo site “Grajaú de Fato” a foto do ministro na escada do avião e exposto pela revista “Veja”, na internet, um vídeo do desembarque, na companhia de Adair, Lupi foi desmascarado. Mentira para a presidente Dilma, o Congresso e a opinião pública. Mas não se fez de rogado, voltou ao Congresso e a uma plateia em que parlamentares do seu partido, o PDT, lhe pediam para sair do cargo, atribuiu tudo ao fato de não ter “memória absoluta”. No linguajar eufemístico da baixa política, mentira passou a ter outro nome. Lupi foi, ainda, acusado de embolsar diárias, embora viajasse às custas de Adair. Depois de outro acesso de memória fraca, o ministro anunciou ontem que devolveria o dinheiro aos cofres públicos.
Em demissões anteriores por “malfeitos”, o governo foi condescendente, mas não tanto como pelo menos até ontem à tarde com Lupi. Pois não é apenas a viagem desabonadora pelo Maranhão que pesa sobre ele. Há também casos de ONGs e a criação de sindicatos sem razão de ser, apenas para drenar recursos do imposto sindical. O governo se obriga, assim, a conviver com situações ridículas, de circo do interior, como as patrocinadas por Lupi no Congresso. Pode ser que ajude a explicar a letargia do Planalto um telefonema que Dilma recebeu de Lula enquanto recebia Lupi, e no qual, pelo viva-voz, o ex-presidente, como fizera com Orlando Silva, estimulara Lupi a resistir "às acusações da mídia". Mais uma vez, a antiga falácia lulopetista de confundir mensagem com mensageiro. Ou por acaso o Ministério Público pediria ao Supremo para investigar o mensalão, e ele aceitaria, se a patranha houvesse sido montada por algum repórter sem escrúpulos?
A iniciativa do ex-presidente é mais do mesmo: para o lulopetismo importa é contar com votos no Congresso, mesmo que mande às favas a ética. A presidente já deu a entender que gostaria de ter uma equipe mais “técnica”, porém padece da dolorosa contradição de ter sido eleita por uma engenharia política intoxicada de fisiologismo. Afirma-se que Dilma gostaria de empurrar o peso morto de Lupi até a reforma ministerial de início de ano, até para não dar espaço à oposição ao ministro dentro do partido. Pode conseguir ou não. O que importa é superar a contradição que a acompanha desde seu nascimento como candidata.
Da escandalosa gestão de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho, o candidato a ícone é um avião King-Air prefixo ONJ, mobilizado pelo empresário Adair Meira para transportar o ministro em viagem de caráter partidário, portanto particular, pelo interior do Maranhão. Com o grave detalhe de que Meira controla ONGs que recebem dinheiro do ministério, e tem contas sob contestação. Numa primeira visita ao Congresso para tentar se explicar, Lupi, numa encenação de mau ator, garantiu que não conhecia o parceiro. Ao ser publicada pelo site “Grajaú de Fato” a foto do ministro na escada do avião e exposto pela revista “Veja”, na internet, um vídeo do desembarque, na companhia de Adair, Lupi foi desmascarado. Mentira para a presidente Dilma, o Congresso e a opinião pública. Mas não se fez de rogado, voltou ao Congresso e a uma plateia em que parlamentares do seu partido, o PDT, lhe pediam para sair do cargo, atribuiu tudo ao fato de não ter “memória absoluta”. No linguajar eufemístico da baixa política, mentira passou a ter outro nome. Lupi foi, ainda, acusado de embolsar diárias, embora viajasse às custas de Adair. Depois de outro acesso de memória fraca, o ministro anunciou ontem que devolveria o dinheiro aos cofres públicos.
Em demissões anteriores por “malfeitos”, o governo foi condescendente, mas não tanto como pelo menos até ontem à tarde com Lupi. Pois não é apenas a viagem desabonadora pelo Maranhão que pesa sobre ele. Há também casos de ONGs e a criação de sindicatos sem razão de ser, apenas para drenar recursos do imposto sindical. O governo se obriga, assim, a conviver com situações ridículas, de circo do interior, como as patrocinadas por Lupi no Congresso. Pode ser que ajude a explicar a letargia do Planalto um telefonema que Dilma recebeu de Lula enquanto recebia Lupi, e no qual, pelo viva-voz, o ex-presidente, como fizera com Orlando Silva, estimulara Lupi a resistir "às acusações da mídia". Mais uma vez, a antiga falácia lulopetista de confundir mensagem com mensageiro. Ou por acaso o Ministério Público pediria ao Supremo para investigar o mensalão, e ele aceitaria, se a patranha houvesse sido montada por algum repórter sem escrúpulos?
A iniciativa do ex-presidente é mais do mesmo: para o lulopetismo importa é contar com votos no Congresso, mesmo que mande às favas a ética. A presidente já deu a entender que gostaria de ter uma equipe mais “técnica”, porém padece da dolorosa contradição de ter sido eleita por uma engenharia política intoxicada de fisiologismo. Afirma-se que Dilma gostaria de empurrar o peso morto de Lupi até a reforma ministerial de início de ano, até para não dar espaço à oposição ao ministro dentro do partido. Pode conseguir ou não. O que importa é superar a contradição que a acompanha desde seu nascimento como candidata.
Lado A - JORGE BASTOS MORENO - NHENHENHÉM
O GLOBO - 19/11/11
Poucas vezes, nos últimos anos, assistiu-se a tão bela e emocionante solenidade no Palácio do Planalto como a do lançamento do programa “Viver a Vida: Plano Nacional dos Direitos da Pessoa Com Deficiência”.
Dilma chorou entre dois anjos: Ivy, filha do Romário, e Beatriz, filha do Lindbergh.
O programa foi organizado pela Secretaria dos Direitos Humanos, chefiada pela ministra Maria do Rosário, e executado pela ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil.
E envolveu ainda 15 dos 37 ministérios.
Lado B
Agora vem o lado curioso da história: nos bastidores da festa rolou o maior estresse entre as duas ministras — uma queria falar no lugar da outra. Quase rola um barraco mesmo. Desconheço detalhes da briga, mas certamente o babado deve estar fazendo o fim de semana do fofoqueiro Gilberto Carvalho.
Gilbertinho
É bom esclarecer que o ministro Gilberto Carvalho é um servidor competente, correto e leal ao comando da... do... Lula!
Gilbertinho faz fofoca, mas não faz intrigas.
E todo governo que se preze tem que ter seu fofoqueiro-mor. No império, era atividade oficializada. Na ditadura, tínhamos o general Hugo Abreu, mas este fazia intrigas também. Nos governos pré-ditadura, Augusto Frederico Schmitt e José Aparecido de Oliveira.
No governo Sarney, Aluízio Alves. No de Itamar, Henrique Hargreaves. Cleto Falcão, enquanto pôde, exerceu a função... No de FH, ele próprio dividiu a função com Andrea Matarazzo.
E, finalmente, chegamos à era Lua, onde tivemos o insuperável José Dirceu e o inesgotável Luiz Gushiken, a quem, sabiamente, minha comadre implicante apelidou de “Fushiken”.
Só que Gigi é campeão. É o chamado “profissa”.
Meta: tirar da mesa quase 2 toneladas de sal
Até o início de 2014, ano da Copa, a quase totalidade dos bares, restaurantes, lanchonetes e padarias de todo o país terá estampada em local visível o selo de qualidade do Ministério da Saúde, a exemplo do que já acontece em NY.
A meta do ministro Alexandre Padilha é reduzir, com essa medida, cerca de uma tonelada e 600 quilos de sal dos alimentos consumidos nesses estabelecimentos, dos quais uma tonelada já no fim de 2012.
Serão expostas nas entradas de todos esses estabelecimentos classificações semelhantes às usadas até pouco tempo atrás para a rede hoteleira, contendo percentuais de sais e gorduras servidas aos consumidores.
Os principais alvos do ministério continuam sendo macarrões instantâneos, pães e embutidos. O acordo com a indústria de alimentos prevê uma redução, no caso dos macarrões, de 30%.
O impacto de tudo isso deverá ser a redução de doenças graves, como hipertensão, infartos, derrames, diabetes e cânceres de estômago, entre outras doenças.
É isso aí, Padilhão. Vamos fazer uma campanha nacional contra o sal. Sal de cozinha, Cabral. Não o pré-sal da Dilma, que também é prejudicial à saúde. Do Rio.
A bela e a fera
A belíssima deputada estadual Clarissa Matheus, finalmente, foi jantar com o “pretendente” Rodrigo Maia, que a quer como vice na sua chapa de candidato a prefeito.
— Como é que é? Você me quer de vice e, em vez de me procurar, procura meu pai? A minha opinião não conta?
Adorei!
Cineastas
O jornalista Ricardo Amaral lança, no dia 13 de dezembro, véspera do aniversário da Dilma, o livro “A vida quer é coragem” — um relato sobre a campanha da presidente até sua posse.
Claro que Amaral revisita a trajetória da presidente, inclusive a sua experiência de cineasta em parceria com o tucano José Anibal.
Claro que não deu certo.
Faixa à vista
Faltam menos de 60 dias para Dilma tomar posse com um ministério seu.
Do bode ao camelo
Todo mundo tem sua Mombaça — terra natal do ex-deputado Paes de Andrade, visitada por ele no exercício da Presidência da República.
Dilma, recentemente, foi à Bulgária, terra do seu pai.
Michel Temer já está no Líbano, onde nasceu o avô que divide com o primo gente boa Jorge Adib.
Sheik
Na comitiva de Michel, o candidato do PMDB à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita.
Foi lá pedir apoio dos chefes libaneses, donos de uma das maiores colônias de imigrantes de São Paulo.
Desmentido
A propósito da nota publicada aqui de que Eduardo Campos mora no Rio e governa Pernambuco pelo Twitter, seu assessor de imprensa esclarece que o governador não usa redes sociais e mora em Recife.