terça-feira, outubro 25, 2011

REGINA ALVAREZ - Cigarras e formiga


Cigarras e formiga
 REGINA ALVAREZ
 O Globo - 25/10/2011

O abismo que existe entre a Alemanha, maior economia da zona do euro, e países como Grécia, Portugal, Espanha e Itália também pode ser medido pela competitividade. O gráfico abaixo mostra a evolução do custo unitário do trabalho, uma forma de medir a competitividade. Para entender essa fotografia, considera-se que, de uma escala de 100 a 150, quanto mais em cima o país estiver, pior a sua situação no ranking da competividade. Luiz Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, explica que haveria duas maneiras de atacar o problema, mas, no caso dos países da zona do euro, o caminho da desvalorização do câmbio não pode ser adotado. Assim, resta a segunda alternativa, que seria a redução real dos salários para diminuir os custos da produção, tornando os produtos mais competitivos.

- O problema é estrutural. Toda a confusão do endividamento dos países periféricos da zona do euro passa pela perda de competitividade contínua desses países desde a criação da moeda comum - diz o economista.

Poucas certezas
As informações ainda são muito confusas e imprecisas sobre as negociações da cúpula da União Europeia, que começaram no fim de semana, em busca de uma saída emergencial para a crise na zona do euro. Mas as manifestações dos líderes de Alemanha e França dão pistas sobre quais propostas têm mais chance de sobreviver até quarta-feira, o dia D para o bloco, e aquelas marcadas para morrer.

A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, considera que está mais claro que a proposta da França de dar poderes ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira de acesso aos recursos do Banco Central Europeu (BCE) está descartada. Os alemães resistem à ideia de permitir o acesso aos recursos do BCE e não querem mudanças muito grandes na configuração atual do fundo.

Ontem aumentaram as especulações sobre o aumento do capital do fundo de resgate, que passaria dos atuais 440 bilhões para até 1 trilhão, depois de uma reunião de parlamentares alemães com Angela Merkel. Mas também não ficou claro de onde sairia o dinheiro. Um proposta que surgiu no fim de semana é capacitar o fundo para oferecer garantias aos países endividados da zona do euro na emissão de novos títulos.

Essas garantias ficariam entre 20% e 30% do valor dos bônus, ampliando as possibilidades de os países captarem mais recursos e recapitalizarem seus bancos em dificuldades. Monica considera essa proposta bastante viável, mesmo que tenha efeitos colaterais, como o aumento da percepção de risco do próprio fundo e de países como a França, já ameaçada de rebaixamento.

Outra proposta que ganhou destaque no fim de semana é o envolvimento dos países emergentes na ajuda aos europeus, por meio do FMI. A ideia de estabelecer dentro do FMI um fundo específico para a Europa com recursos dos países-membros é viável, explica Monica, desde que os recursos sejam direcionados aos governos.

E para o Brasil seria conveniente participar de um esforço desse tipo, porque o país poderia, com isso, aumentar o seu cacife no esforço que vem fazendo há anos para ampliar sua participação no FMI.

- Seria um erro não participar, mas não acredito que isso aconteça. Há interesses econômicos e geopolíticos envolvidos - prevê a economista.

SINAIS I: O mercado aguarda com expectativa a próxima ata do Copom. Espera que o documento traga mais pistas sobre a grande pergunta em relação aos juros: Até onde vai o corte promovido pelo BC? A ata sai na quinta-feira.

SINAIS II: Os últimos dados sobre inflação indicam, segundo a consultoria LCA, que o BC ainda continuará enfrentando bastante ceticismo do mercado em relação à aposta de convergência do IPCA para o centro da meta em 2012.

EMPREGO: A taxa de desemprego, que está em 6%, pode recuar para 5,8% em setembro, segundo previsão da Máxima Asset. O IBGE divulga o resultado também na quinta-feira.

CELSO MING - Contradições na Petrobras


Contradições na Petrobras 
CELSO MING
Estado de S.Paulo - 25/10/2011

A diretoria da Petrobrás faz um jogo contraditório. De um lado, defende a atual política de preços dos combustíveis, como fez todos esses anos seu presidente, José Sérgio Gabrielli. De outro, avisa o governo que, enquanto pagar um pedaço da conta do consumidor (subsídio), suas receitas não custearão investimentos.

Há cinco anos os preços pararam no tempo. Quando do último acerto, o barril de petróleo Brent, referência da Petrobrás, valia US$ 63. Hoje estão na faixa dos US$ 110.

Matéria publicada nesta segunda-feira pelo Estadão relata que o Centro Brasileiro de Infraestrutura calcula perda de faturamento pela Petrobrás, em oito anos, de R$ 9 bilhões. Mas dentro da empresa, conta a reportagem, avalia-se o rombo em mais do que isso.

Além de minar as finanças da Petrobrás, essa política está esvaziando o Programa do Álcool. Fácil entender por quê. O álcool tem apenas 70% do poder energético da gasolina comum. Se seus preços sobem para acima desse nível, proprietários de carros flex (40% da frota nacional e mais de 80% dos carros novos vendidos hoje) optam pela gasolina. Ou seja, o teto dos preços do álcool corresponde a 70% dos da gasolina. O problema é que os custos da produção do álcool subiram cerca de 40% nos últimos seis anos – conforme os cálculos da Unica, instituição que defende interesses do setor. E tanto a produção de álcool como a de açúcar estão caindo (veja o gráfico). Isto é, o álcool já não consegue competir com a gasolina subsidiada às atuais proporções.

Há três semanas, o governo federal diminuiu de 25% para 20% o teor de álcool anidro na mistura com a gasolina para baixar o consumo do produto, escasso em plena safra. A principal consequência será o avanço da importação de gasolina pela Petrobrás, para suprir um consumo que cresceu 19% no ano passado e deve avançar mais 7% neste ano.

Gabrielli tem justificado a política de distribuição de subsídios com o argumento de que é melhor para a Petrobrás trabalhar com preços estáveis a longo prazo. Nesse caso, não está defendendo a Petrobrás, mas, sim, razões do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que não quer um aumento da inflação. Gabrielli vem dizendo que a Petrobrás "não tem problemas de caixa". Mas, ao mesmo tempo, não consegue esconder a hemorragia em suas finanças. Outros diretores reconhecem informalmente que podem faltar recursos quando a Petrobrás mais precisa deles, para tocar os projetos do pré-sal.

Com o intuito de reduzir perdas, a diretoria da Petrobrás defende a redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), tributo aplicado sobre o preço do combustível com a função de dar flexibilidade à política de combustíveis do governo. Em cada litro de gasolina, cobra-se hoje uma Cide de R$ 0,19.

Aparentemente, Mantega se recusa a baixá-la para não perder arrecadação. Se for isso, a motivação é equivocada. A Cide não existe com objetivos arrecadatórios. Tem características regulatórias.

Caso o governo concorde em diminuir a Cide, estará dando uma solução precária para um problema provocado por uma política que gera mais distorções do que benefícios.

Confira
Revide italiano. Depois de ter sido bombardeado por fazer pouco para equilibrar as finanças públicas, durante a reunião de cúpula que se realizou nesse domingo, em Bruxelas, o governo do primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, revidou. Nesta segunda-feira, em dura nota oficial, atacou os demais líderes da área do euro.

"Não aceito lições". O comunicado adverte que "nenhum país da União Europeia deve ousar falar em nome de nenhum governo eleito" e que "ninguém está em posição de dar lições" a Roma.

Questão dos bancos. Berlusconi também avisou que o problema dos bancos é da Alemanha e da França, não da Itália, por não haver esse tipo de encrenca lá. Ele pediu a criação de um organismo que funcione como emprestador de última instância, nos moldes dos que existem em outras áreas monetárias. Por aí se vê como vai ser difícil definir uma governança comum que preveja punição ao país que transgrida os tratados fiscais do bloco.

ANCELMO GOIS - O Rio reage


O Rio reage
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 25/10/11

A Procuradoria Geral do Estado do Rio já tem pronta uma ação direta de inconstitucionalidade contra a tunga dos royalties de petróleo.
Se a Câmara mantiver a decisão do Senado, será apresentada no STF no instante seguinte. O texto foi feito pelo constitucionalista Luís Roberto Barroso.

Segue...
A ação é baseada em duas teses centrais. Uma é que a Constituição prevê que os royalties do petróleo sejam dos estados produtores.
Outra é a quebra do pacto federativo de 1988, segundo o qual não haveria pagamento de ICMS ao estado produtor, que, em contrapartida, teria royalties.

Faltam 961 dias
A relação de Dilma com a Fifa é um pote até aqui de mágoas.
A presidente não perdoa Joseph Blatter, comandante da entidade, por ter faltado a uma reunião que ele mesmo havia pedido, semana passada, na Bélgica. Blatter mandou seu secretário-geral, Jerome Valcke.

Alô, Bovespa!
Eike Sempre Ele Batista mandou seus diretores trabalharem de gravata. Aí tem.

A mala de Gil
Gilberto Gil e a mulher, Flora, esperam há um mês que a Delta Airlines devolva ao casal uma mala alemã Rimowa, de alumínio e policarbonato (no Brasil custa uns R$ 2.500), estropiada num voo do Arizona para o Rio.
A mala veio amassada e sem rodas. A voadora mandou consertar, mas a oficina disse que não tinha jeito. Só uma nova.

Livro de Vereza
Carlos Vereza, longe da TV desde 2010, publica no início de 2012, pela Ibis Libris, um livro sobre o dano permanente em seu ouvido esquerdo deixado por um efeito especial com pólvora.
O ator diz que só superou o trauma com o espiritismo.

Troféu pré-sal
A Petrobras vai trazer do fundo do pré-sal uma rocha da qual será feito o troféu do vencedor do GP Brasil de Fórmula 1, dia 27 de novembro.

Orquestra da Ópera
Vai se chamar Orquestra da Ópera o novo braço da OSB formado pelos 33 músicos recém-readmitidos.

UPA exportação
Daniel Sciolli, governador da província de Buenos Aires, inaugura hoje sua segunda UPA 24h, na cidade de Lanús.

Memória
O Instituto Brasileiro de Museus firmou parceria com o Memorial Auschwitz-Birkenau para localizar brasileiros que possam colaborar com seu acervo.
José do Nascimento Júnior, do Ibram, recebeu em Brasília o diretor da instituição polonesa, Jacek Kasztelanie.

ZONA FRANCA
O Música no Museu apresenta Kiko Horta Quarteto, hoje, às 18h, no Museu do Exército.
Célia Resende lança “Síndrome do pânico tem cura”, hoje, na Argumento.
Laboratórios Bagó comemoram quinta 10 anos no Brasil.
Wadih Damous, Stepan Nercessian e Chico Alencar debatem hoje sobre corrupção na Rede Vida, às 21h.
Augusto Martins lança seu novo CD hoje no Rio Scenarium.
Camilo Portugal, chef do Hotel Novo Mundo, foi campeão pan-americano master de judô 2011.
Hoje, Ava Rocha estreia o longa “Ardor irresistível”, no Arteplex.
A Frog foi escolhida pela Womma como uma das três melhores agências de publicidade na internet do mundo. O prêmio será entregue em Las Vegas.

Verão em Búzios
Quinta, chega a Búzios, o balneário fluminense, o primeiro navio da temporada de cruzeiros. A novidade é que os turistas serão recebidos com um tapete vermelho, que terá os dizeres “Welcome to Búzios”.
Além disso, uma nativa em trajes de banho dará as boas-vindas aos visitantes.

Segue...
Búzios receberá 223 cruzeiros nesta temporada, com umas 400 mil pessoas.
Segundo levantamento da prefeitura, 60% dos turistas vêm de São Paulo. Cada um gasta uns R$100 por dia na cidade. A previsão é que deixem uns R$ 30 milhões na economia local.

Manto sagrado
A camisa do Flamengo vai mudar mais uma vez.
Dia 4, o clube apresentará a nova versão com a logomarca do Unicef perto do escudo.

Ensaio geral
Dia 13, a Defesa Civil fará o primeiro exercício de desocupação das comunidades da Região Serrana do Rio pelo sistema de alerta e alarme antichuvas. Quer preparar os moradores de áreas de risco para temporais.
Ao todo, serão 72 sirenes em 40 comunidades de Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis.

A MPB em Xerém
Zeca Pagodinho convidou Seu Jorge, Monarco, Jorge Benjor, Beth Carvalho, Almir Guineto e Gilberto Gil para participarem de seu novo DVD.
A gravação será em Xerém, na Baixada Fluminense, com todos juntos num rega-bofe fechado.

RONALDINHO GAÚCHO se esbalda no show do Rappa, na Marina da Glória, sábado: o craque do Fla, que não jogou contra o Santos, subiu ao palco e cantou “Reza vela” com Falcão

CAROLINA FERRAZ, a atriz que brilha em “O astro”, da TV Globo, esbanja charme em festa de uma marca de uísque na
casa da estilista Lenny Niemeyer

PONTO FINAL
Sei não. Parece que faltou criatividade ao povo do carnaval para fazer a capa do CD dos sambas-enredos de 2012. Veja só. Escolheram a mesma personagem de 2009, Fabíola, mulher de Anísio Abraão David, da Beija-Flor. Ou pode ser por causa daquele velho ditado: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Com todo o respeito.
COM ANA CLÁUDIA GUIMARÃES, MARCEU VIEIRA E DANIEL BRUNET

FABRÍCIO CARPINEJAR - Sacoleiros do divórcio


Sacoleiros do divórcio 
FABRÍCIO CARPINEJAR 
ZERO HORA - 25/10/11

Eram separados recentes. Mariana e Renato já tinham atravessado o apocalipse do primeiro mês, momento crítico em que se torce deslavadamente para a tragédia do ex. (Torcer é um eufemismo, rezava-se para que o divórcio logo se transformasse em viuvez. Quem passou pela fossa sabe do que estou falando: o desejo 24 horas por dia para que o outro morra, desapareça da face da Terra, evapore da humanidade.

E que seja uma morte retumbante, com ampla repercussão nas redes sociais, esmagado pelo Arco da Redenção, ou atropelado por uma bicicleta na ciclovia do Gasômetro).

Os dois curtiam a segunda fase da separação: a curiosidade do ódio, aquele período fundamental em que se paga por informações para descobrir como o nosso antigo par está reagindo ao luto. Mariana e Renato queriam porque queriam notícias, adoeciam de ansiedade para desvendar se o ex engatou um novo relacionamento e esqueceu o passado, mas não poderiam se telefonar.

Soaria suspeito ligar para os amigos perguntando, ficaria muito na cara o interesse, representaria uma recaída. (Ansiedade não é o nome certo, talvez seja medo de que o ex seja feliz primeiro. Existe uma competição oculta entre os separados: quem sai mais nas baladas, quem emagrece mais, quem tem mais amigos no Facebook, mais seguidores no Twitter).

Ambos psicanalistas, lacanianos assumidos, Mariana e Renato não se sentiam à vontade usando a filha Marisa, de três anos, como garota de recados. Viviam criticando essa atitude, quando a criança é intermediária da crise, uma espécie de mula do tráfico amoroso, levando ofensas e indiretas entre os lares.

Mas Mariana e Renato encontraram um modo inteligente de se comunicar: as sacolas das lojas. A filhota chegou para dormir na casa do pai com os pertences numa sacolinha de caríssima loja feminina de sapatos, onde cada par não custava menos de R$ 500.

Aquilo irritou o homem: “Eu sofrendo para pagar a pensão e ela gastando os olhos da cara”. Para quê? Não deu outra: a filha voltou para a mãe com sacolinha de grife masculina. Mariana reparou na marca Armani e se enfureceu: “Comigo, ele vivia de abrigo molambento, velho, agora torra tudo o que não tem com terno, deve estar apaixonado por alguma piranha”.

A reação veio no final de semana seguinte. Providenciou que a filha visitasse o pai com uma sacola de free shop. Renato bufou: “Agora a cretina viaja ao Exterior! Ao meu lado, só íamos almoçar na sogra em Cachoeirinha”. Preparou a vingança mais do que perfeita, apareceu numa rede de lingerie para pedir uma sacola emprestada na maior cara de pau, comportou as coisinhas da filha lá dentro e teve sucesso.

Sua desafeta predileta babou, esperneou e ralhou que não aguentava a provocação: “Ele nunca comprou um sutiã para mim, sequer conhece o número do meu peito, agora o pilantra distribui peças íntimas para suas namoradas”. Após sete dias, apelou de vez e pôs as roupinhas da menina numa bolsa plástica prateada e fosca, própria de sex shop.

Foi um golpe baixo. Renato perdeu a educação dos símbolos, pegou o telefone e rompeu o silêncio:

– Da próxima vez, pode mandar os objetos da nossa filha numa sacola que não seja de sacanagem?

– Por quê? Está com ciúme? – pergunta Mariana.

– Não, imagina, deixa pra lá...

E começava a terceira e última fase da separação: a hipocrisia, fingir que nada mais é importante.

ILIMAR FRANCO - A faxina acabou


A faxina acabou
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 25/10/11

O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), diz que "a faxina acabou", com a permanência do ministro Orlando Silva (Esporte). Ele acredita que a oposição vai retomar a parcela do eleitorado, do Sul e do Sudeste, que a presidente Dilma conquistou com as quedas de Palocci, Nascimento, Rossi e Novais. "Vamos retomar o discurso de combate à corrupção que ela dividia conosco", resume. A oposição também aposta nas investigações da Procuradoria Geral da República.

O xadrez petista
Os deputados José Guimarães (PT-CE) e Jilmar Tatto (PT-SP) estão juntos trabalhando por um acordo interno no partido para que eles dividam a liderança da bancada nos próximos dois anos. O martelo não foi batido. Os principais obstáculos são os deputados Henrique Fontana (PT-RS) e Ricardo Berzoini (PT-SP). A preocupação do primeiro é com a imagem do partido, já que um assessor de Guimarães foi pego com dinheiro na cueca no escândalo do mensalão. E Berzoini resiste em dar mais poder para Guimarães, que é da tendência Construindo um Novo Brasil. Há petistas que acham precipitado tratar desde já da sucessão.

"O Rio tem 15 milhões de eleitores. E é um contraponto à força dos tucanos em Minas e São Paulo. No dia 10, nós vamos parar o Rio” — Lindbergh Farias, senador (PT-RJ), sobre o ato dos royalties do Rio

SOLUÇÃO ADIADA. O parecer que o relator do Código Florestal, senador Luiz Henrique (PMDB-SC), apresentará hoje traçará apenas princípios de uma política de crédito e incentivos econômicos para a recuperação de reservas legais e áreas de proteção permanente (APPs), e dará um prazo para a regulamentação pelo governo federal. Como a equipe econômica é contra o pagamento por serviços ambientais, os ruralistas não querem abrir essa discussão agora para não travar a votação.

Desarmados
A bancada do Rio reclama que o governador Sérgio Cabral não deu retorno da conversa com a presidente Dilma, na sexta-feira, sobre royalties. O projeto, que prejudica o Rio, está na Câmara. Ele volta a se reunir com Dilma amanhã.

Filiações eleitorais 
No Brasil, 15,3 milhões de eleitores são filiados aos partidos, segundo o TSE. O que tem mais filiados continua sendo o PMDB, com 2,4 milhões; depois vem o PT, com 1,5 milhão. Na oposição, quem tem mais é o PSDB, com 1,4 milhão.

Royalties: Serra critica frouxidão
O ex-governador José Serra critica o Congresso por não adotar regras mais rígidas para o uso das receitas do petróleo por estados e municípios. Ele defende que nos três primeiros anos esse dinheiro deveria ser usado em investimentos fixos e, a partir do quarto ano, em custeio das ações decorrentes daqueles investimentos. No caso dos estados mais ricos, como São Paulo, ele sugere criar um fundo e usar apenas o rendimento em áreas como Educação, Saúde ou Previdência.

Liquidação
O primeiro-ministro de Portugal, Pedro Coelho, quer as estatais brasileiras na privatização. A presidente Dilma o recebe na quinta-feira. Estão à venda: GALP (petróleo), TAP (aviação) , RTP (televisão), EDP (energia) e ANA (aeroportos).

O primeiro
Reconduzido na Anatel, o economista João Rezende, ligado ao ministro Paulo Bernardo (Comunicações), será o primeiro petista a assumir a presidência da Anatel. No governo Lula, o cargo foi ocupado por nomes do PDT e do PMDB.

A BANCADA. O PSD anuncia amanhã, em evento em Brasília, que sua bancada na Câmara será de 56 deputados federais, a terceira maior da Casa. O novo partido ultrapassou o PSDB.

O SENADOR Aécio Neves (PSDB-MG) esclarece que votou a favor do projeto de royalties aprovado, mas, que na votação anterior, apoiou proposta do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) porque ela destinava R$ 791 milhões a mais para Minas Gerais.

O GOVERNADOR Sérgio Cabral (RJ) continua apostando num veto da presidente Dilma na nova lei de redistribuição dos royalties do petróleo.

ILIMAR FRANCO com Fernanda Krakovics, sucursais e correspondentes

EDITORIAL O ESTADÃO - A viúva nas nuvens


A viúva nas nuvens
EDITORIAL 
O ESTADÃO - 25/10/2011

A arrasadora reeleição da presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner - que obteve domingo cerca de 54% dos votos, ante 17% do segundo colocado, o socialista Hermes Binner - tornou-a a mais popular dirigente de seu país desde Juan Domingo Perón, que também obteve dois mandatos sucessivos. Com a diferença de que ela jamais tinha mostrado vocação ou talento para líder de massas. Conduzida ao poder em 2007 pelo marido Néstor Kirchner, a fim de ocupar, à sua sombra, a cadeira que ele pretendia reaver daí a quatro anos, a arrogante "presidenta", de início, desapontou de tal modo os argentinos que o seu índice de aprovação chegou a 23%. E, em 2009, o governo perdeu a maioria na Câmara dos Deputados.

Foi um paradoxo. Apesar da retração da economia mundial na esteira da crise financeira de 2008, a Argentina crescia a taxas asiáticas, numa inesperada metamorfose. Depois do derretimento do país, entre 1998 e 2002, quando o PIB nacional despencou 20% - mais do que o da Grécia hoje em dia -, Kirchner deu o calote na dívida, reestruturou o governo e pisou fundo no acelerador para resgatar a atividade industrial e o emprego. No mandato de Cristina, a dupla acrescentou ao modelo desenvolvimentista gastos maciços em programas de bem-estar social, incluindo subsídios ao consumo de água e energia e ainda ao transporte público. Mesmo assim, era o marido, não a mulher, quem a população aplaudia.

Os argentinos não podiam suspeitar que, golpeada pelo acaso - a súbita morte de Néstor, que completará um ano depois de amanhã -, Cristina revelaria uma força interior incomum e não menor aptidão para concentrar o poder, manipular a política e se fazer querida pelo povo. Nesses 12 meses, criou inumeráveis situações para cultuar o falecido - "ele", como lhe basta dizer - e se agigantou no papel de continuadora de sua obra social. Enquanto isso, continuou a perseguir o principal grupo de mídia do país, que edita o jornal portenho Clarín, por ter tido o desplante de deixar de apoiá-la quando da sua queda de braço com o setor rural há três anos. Se há algo que não cabe na Casa Rosada kirchnerista é a tolerância com o dissenso.

É bem verdade que de uns tempos para cá Cristina passou a adotar uma expressão corporal de bonomia - por exemplo, recebeu de braços abertos a adesão da antes hostil confederação da indústria. Nomeou para a Fazenda o telegênico empresário e economista de formação liberal Amado Boudou, a quem promoveria a companheiro de chapa, e se distanciou do sindicalismo peronista encarnado na mafiosa CGT. De seu lado, fracionada por disputas mesquinhas e sem ter nada a contrapor ao oficialismo, a oposição fez por merecer a verrina de um comentarista do La Nación, Carlos Reymundo Roberts, para quem os opositores, por sua pusilanimidade, deviam cobrar direitos autorais pelo êxito do kirchnerismo.

Decerto muitos deles já se acotovelam para aderir à presidente reeleita, ampliando a folgada maioria que já tinha no Congresso e dando condições para as mudanças constitucionais destinadas a "aprofundar o modelo" - o mote de Cristina para os próximos quatro anos. Ou mais, se de fato ela patrocinar a emenda que lhe permitiria concorrer indefinidamente à Casa Rosada. Mas "a viúva que ganhou todas", como diz a revista The Economist, terá na economia os seus grandes desafios. As contas nacionais estão se deteriorando, apesar dos US$ 48 bilhões em reservas. A fuga de divisas deve ultrapassar US$ 20 bilhões no ano, o peso está sobrevalorizado, o país continua sem acesso aos mercados financeiros e o investimento privado decresce aceleradamente.

As róseas estatísticas do governo a esse respeito, por sinal, têm tanta credibilidade quanto o falseado índice oficial de inflação de 11%. A taxa real se mantém estável entre 20% e 25%. O espectro que ronda a Argentina é a desaceleração da economia brasileira - que absorve 20% de suas exportações - e um eventual soluço chinês. A bonança do Brasil e as compras chinesas de soja foram os pilares do formidável crescimento argentino sob o kirchnerismo - e das políticas sociais que levaram às nuvens a figura de Cristina Fernández.

ALEXANDRE BARROS - Contra o que todo mundo protesta?



Contra o que todo mundo protesta?
ALEXANDRE BARROS
O Estado de S. Paulo - 25/10/2011

Na primeira fila da passeata, o presidente da Fiesp, embrulhado numa bandeira brasileira, e sindicalistas de todos os matizes. Cena inimaginável há alguns anos. Mais surpreendente ainda é tantas manifestações estarem ocorrendo em tantas cidades do mundo, ao mesmo tempo: Nova York e mais dezenas de cidades americanas, Roma, Berlim, Atenas. E se procurarmos um pouco mais, encontraremos algumas dezenas de cidades menores. Cada uma protesta contra ou reivindica coisas diferentes. No Chile são os custos do ensino, no Brasil é a corrupção, nos EUA, os bancos, na Europa, os governos.

Analistas tentam encontrar alguma unidade nos movimentos mundo afora. Pelas primeiras impressões, o traço de união são as redes sociais. Mas essa é só parte da verdade. Os protestos não estão ocorrendo por causa das redes sociais, apenas sua simultaneidade pode ser-lhes atribuída. As redes são só o instrumento que torna possível que tanta gente, em tantos lugares diferentes e distantes, se manifeste ao mesmo tempo.

Estamos tendo um 1968 ou o equivalente da queda da Bolsa de Nova York em 1929, só que em tempo real. Em 1968 os protestos se espalharam pelo mundo, mas a velocidade das notícias era muito menor. Na quebra da bolsa em 1929 não só as notícias circulavam mais lentamente, como a própria compreensão das causas do fenômeno demorava muito mais a ocorrer.

Agora, apesar das mudanças, da rapidez das comunicações, o fator comum a todas as manifestações é que todos viram a largura das escadas da ascensão socioeconômica estreitar-se subitamente, em todos os países. O mundo era feliz e risonho e não sabia. Todos seguindo o ritmo normal da vida: todos iríamos melhorar de vida. Teríamos todos mais acesso ao consumo - a grande medida de felicidade do mundo contemporâneo - e os nossos filhos estariam melhor do que nós, como, em boa medida, as gerações de hoje estão muito melhor do que as que nos antecederam.

Tudo eram favas contadas. A humanidade tem boa memória para o bom. Memória tão boa que todas essas coisas viraram, por assim dizer, "naturais". Não podia ser diferente.

Há 150 anos, mais de 90% da população do mundo jamais viajou além de um raio de 10 ou 20 quilômetros do lugar onde nascera. Um jovem e uma jovem judeus se encontraram no Brasil na década de 1930. Haviam nascido em cidades alemãs que distavam menos de 50 quilômetros uma da outra e não conseguiam se entender em suas línguas nativas. Eles salvaram o seu romance no iídiche, a língua dos judeus alemães ashkenazi, que lhes permitiu se comunicarem, namorarem e virem a se casar.

Quase tudo mudou. Mas quem se comunica pelo alfabeto latino vê na televisão e só tem uma ideia vaga do que dizem os cartazes dos protestos na Grécia, escritos em seu próprio alfabeto, graças à explicação dos apresentadores. A tradução ainda é necessária para saber contra o que os gregos se manifestam.

Hoje essas coisas ocorrem no mundo inteiro ao mesmo tempo. Na China, mesmo com o regime fechado, já começam a pipocar as perspectivas de estreitamento da mobilidade social - e lá são quase três Brasis para entrar na sociedade de consumo.

O temor da democratização é tal que o governo chinês proibiu um programa de calouros na televisão porque os telespectadores podiam "votar" em quem consideravam os melhores. O governo entrou em pânico, com receio de que isso viesse a dar ideias aos chineses de que voto era uma coisa boa e poderia ser repetido em outras esferas, inclusive na política. O caso foi contado na revista inglesa The Economist.

Todos os protestos, díspares, sem nenhuma conexão aparente a não ser a existência de ferramentas eletrônicas que tornam possível a comunicação instantânea, tinham somente um eixo comum: a chance de cada um de melhorar de vida está sensivelmente diminuída em razão dos arranjos que "alguéns" fizeram na economia. Não importa se são os bancos, os governos, as autoridades educacionais, os Parlamentos ou o que seja.

Criada para ser uma rede militar de comunicações descentralizada, de modo que nenhum inimigo pudesse imobilizá-la, a internet expandiu-se para onde os criadores jamais imaginaram. Temos internet para tudo e programas governamentais para torná-la acessível a todas as populações são tão rotineiros e prioritários quanto as políticas de vacinação o foram para acabar com epidemias. Ninguém previa, entretanto, que ela viria a ser o traço de união de tantos descontentamentos díspares em línguas diferentes, espalhados pelo mundo.

Pelo visto, não há nada a fazer. No primeiro semestre deste ano, as potências ocidentais foram rápidas ao batizar, simpaticamente, os protestos no Norte da África e no Oriente Médio de "primavera árabe", uma expressão gentil e esperançosa. Mas isso foi rapidamente convertido, na Inglaterra, numa mera coordenação de baderneiros perigosos.

Quando chegamos ao outono (do Hemisfério Norte), que está presenciando simultaneamente todos esses protestos, ainda não existe nome, nem simpático nem antipático. O Fundo Monetário Internacional (FMI) corre para dizer que fica o dito pelo não dito e as políticas de austeridade, com as quais tanto se incomodaram os países da América Latina nos anos 80 e 90 do século passado, não valem mais. O que era chamado de imprimir dinheiro para fazer inflação virou respeitavelmente QE (quantitative easing, política de expansão monetária), que nada mais é do que imprimir dinheiro do nada. No fim das contas, é apenas mais do mesmo, só que agora não mais maldito.

Por quanto tempo os governos poderão dormir sossegados com um barulho destes, levando em conta que só houve algumas coisas básicas que não mudaram: a economia continua a ser a ciência da escassez e os desejos humanos seguem ilimitados?

MARCO ANTONIO VILLA - Lula para sempre



Lula para sempre
MARCO ANTONIO VILLA
O Globo - 25/10/2011

Luiz Inácio Lula da Silva não é um homem de palavra. Proclamou diversas vezes que, ao terminar o seu mandato presidencial, iria se recolher à vida privada e se afastar da política. Mentiu. Foi mais uma manobra astuta, entre tantas que realizou, desde 1972, quando chegou à diretoria do sindicato de São Bernardo, indicado pelo irmão, para ser uma espécie de porta-voz do Partidão (depois de eleito, esqueceu do acordo).

A permanente ação política do ex-presidente é um mau exemplo para o país. Não houve nenhuma acusação de corrupção no governo Dilma sem que ele apoiasse enfaticamente o acusado. Lula pressionou o governo para não "aceitar as pressões da mídia". Apresentou a sua gestão como exemplo, ou seja, nunca apurou nenhuma denúncia, mesmo em casos com abundantes provas de mau uso dos recursos públicos. Contudo, seus conselhos não foram obedecidos.

Não deve causar estranheza este desprezo pelo interesse público. É típico de Lula. Para ele, o que vale é ter poder. Qualquer princípio pode ser instrumento para uma transação. Correção, ética e moralidade são palavras desconhecidas no seu vocabulário. Para impor a sua vontade passa por cima de qualquer ideia ou de pessoas. Tem obtido êxito. Claro que o ambiente político do país, do herói sem nenhum caráter, ajudou. E muito.

Ao longo do tempo, a doença do eterno poder foi crescendo. Começou na sala de um sindicato e terminou no Palácio do Planalto. E pretende retornar ao posto que considera seu. Para isso, desde o dia 1 de janeiro deste ano, não pensa em outra coisa. E toda ação política passa por este objetivo maior. Como de hábito, o interesse pessoal é o que conta. Qualquer obstáculo colocado no caminho será ultrapassado a qualquer custo.

O episódio envolvendo o ministro do Esporte é ilustrativo. A defesa enfática de Orlando Silva não dependeu da apresentação de provas da inocência do ministro. Não, muito pelo contrário. O que contou foi a importância para o seu projeto presidencial do apoio do PCdoB ao candidato petista na capital paulista. Lula sabe que o primeiro passo rumo ao terceiro governo é vencer em São Paulo. 2014 começa em 2012. O mesmo se repetiu no caso do Ministério dos Transportes e a importância do suporte do PR, independentemente dos "malfeitos", como diria a presidente Dilma, realizados naquela pasta. E, no caso, ainda envolvia o interesse pessoal: o suplente de Nascimento no Senado era o seu amigo João Pedro.

O egocentrismo do ex-presidente é antigo. Tudo passa pela mediação pessoal. Transformou o delegado Romeu Tuma, chefe do Dops paulista, onde centenas de brasileiros foram torturados e dezenas foram assassinados, em democrata. Lula foi detido em 1980, quando não havia mais torturas. Recebeu tratamento privilegiado, como mesmo confessou, diversas vezes, em entrevistas, que foram utilizadas até na campanha do delegado ao Senado. Nunca fez referência às torturas. Transformou a casa dos horrores em hotel de luxo. E até chegou a nomear o filho de Tuma secretário nacional de Justiça!!

O desprezo pela História é permanente. Estabeleceu uma forte relação com o símbolo maior do atraso político do país: o senador José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney. Retirou o político maranhense do ocaso político. Fez o que Sílvio Romero chamou de "suprema degradação de retrogradar, dando, de novo, um sentido histórico às oligarquias locais e outorgando-lhes nova função política e social". E pior: entregou parte da máquina estatal para o deleite dos interesses familiares, com resultados já conhecidos.

O desprezo pelos valores democráticos e republicanos serve para explicar a simpatia de Lula para com os ditadores. Estabeleceu uma relação amistosa com Muamar Kadafi (o chamou de "amigo, irmão e líder") e com Fidel Castro (outro "amigo"). Concedeu a tiranos africanos ajuda econômica a fundo perdido. Nunca - nunca mesmo - em oito anos de Presidência deu uma declaração contra as violações dos direitos humanos nas ditaduras do antigo Terceiro Mundo. Mas, diversas vezes, atacou os Estados Unidos.

Desta forma, é considerável a sua ojeriza a qualquer forma de oposição. Ele gosta somente de ouvir a sua própria voz. Não sabe conviver com as críticas. E nem com o passado. Nada pode se rivalizar ao que acredita ser o seu papel na história. Daí a demonização dos líderes sindicais que não rezavam pela sua cartilha, a desqualificação dos políticos que não aceitaram segui-lo. Além do discurso, usou do "convencimento" financeiro. Cooptou muitos dos antigos opositores utilizando-se dos recursos do Erário. Transformou as empresas estatais em apêndices dos seus desejos. Amarrou os destinos do país ao seu projeto de poder.

Como o conde de Monte Cristo, o ex-presidente conta cada dia que passa. A sua "vingança" é o retorno, em 2014. Conta com a complacência de um país que tem uma oposição omissa, ou, na melhor das hipóteses, tímida. Detém o controle absoluto do PT. Usa e abusa do partido para fortalecer a sua capacidade de negociação com outros partidos e setores da sociedade. É obedecido sem questionamentos.

Lula é uma avis rara da política brasileira. Nada o liga à nossa tradição. É um típico caudilho, tão característico da América Hispânica. Personalista, ególatra, sem princípios e obcecado pelo poder absoluto. E, como todo caudilho, quer se perpetuar no governo. Mas os retornos na América Latina nunca deram certo. Basta recordar dois exemplos: Getúlio Vargas e Juan Domingo Perón.

MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

ARNALDO JABOR - Em busca do tempo perdido (2)



Em busca do tempo perdido (2)
ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo - 25/10/11

Falem por alto!... - minha mãe dizia, quando eu entrava na pequena sala de visitas, com poltronas verdes e um quadro de rosas na parede. Naquela época, o tempo era lento, as ruas silenciosas, as tardes vazias e as mulheres casadas se visitavam, em busca de alguma verdade que explicasse suas vidas mas, quando se reuniam na salinha de minha mãe, ficavam tensas e grandes verdades morriam mudas.

Por isso, as conversas viravam sempre para o mundo "lá fora", pois a vida era dividida entre o que se passava na rua e 'dentro' das casas, onde os filhos se criavam, as empregadas cozinhavam e os maridos chegavam. Mas não havia 'fora' nem 'dentro'.

Só havia o radio com tristes novelas, havia os telefones pretos e as geladeiras brancas, havia os sofás de cetim e as almofadas de crochê, mas elas se sentiam vazias de alguma coisa que ignoravam, sentiam-se barradas de um baile que devia existir em algum lugar, sonhavam com filmes americanos, os beijos ardentes, os finais felizes, os galãs tão diferentes dos maridos deprimidos que chegavam do escritório.

Minha mãe tinha uma voz especial para as visitas, frases escolhidas, ponteada de sorrisos, ostentando uma felicidade tranquila que eu não via no dia a dia. Era a mesma voz que usava para falar ao telefone com as cunhadas tão odiadas por ela - uma voz estudada, afetuosa, que sumia e dava lugar a um rosto rancoroso quando desligava. Por que ela muda a voz? - eu pensava. As visitas também falavam com o tom discreto e calculado de senhoras casadas, como se temessem alguma coisa - o que, meu Deus? - a perda da dignidade de esposas honestas?

Aquela tristeza no ar me intrigava. Tristeza nas lâmpadas fracas, nos rostos das mulheres de minha família.

Quando eu entrava na sala, minha mãe avisava: "Falem por alto!" - era a senha para não falarem coisas que eu não podia ouvir.

Então, o mundo se encantava, aquela salinha de visitas virava um tesouro de mistérios. Elas tinham um segredo que me era vedado, ocultado. E tudo ficava interessantíssimo pois, para além daquela salinha feia, havia algum acontecimento extraordinário, talvez até um crime, que não me revelavam - por quê? Eu me encolhia no chão entre as cadeiras, tentando pescar algum indício em suas falas que não eram para crianças como eu, ali, me contorcendo entre pernas cruzadas e xicaras de café. "Falem por alto...!"

Aí, a conversa mudava para frases cortadas ao meio, gestos e mimicas cifradas: "Ah..Fulana, vocês sabem quem é, aquela, aquela... Pois o marido não viajou, não. Largou ela por uma já sabem...uma (quem, quem?) uma da 'vida' , 'femme du bas fond' (falavam francês na época)... E a filha? Será que ela ainda é... acho que ela já perdeu 'aquilo' ...Ihh, já furou há muito tempo..." Os risos vinham repassados de um pudor discreto de senhoras. "Perdeu o quê?", pensava eu no chão. Eu tinha que descobrir.

"E Sicrana? Sabem quem é...não? Ah, essa costura pra fora!..."

O gesto de minha tia foi para fora da janela, do outro lado da rua. "Lá...lá..." - apontavam. Mas, "lá" era a casa de dona Nina, mãe do meu amigo Caveirinha, que não era costureira - pensei, alarmado.

"É só olhar: toalhinhas higiênicas com sangue no varal, calcinhas na janela, novela alta, roupa berrante para uma viúva, maiô de duas peças na praia?" "Eu me benzo quando passo em frente!" , disse a prima pobre, humilde, ouvida com pouco afeto, pois temiam que pedisse alguma ajuda por sua miséria de tamancos e unhas sujas.

Havia nas pernas apertadas, nas saias discretas, uma solidão que não conseguiam ocultar, mesmo nas conversas íntimas, troca de cochichos e maledicências. Escondiam-me fatos, mas eu sentia a presença de algo que não estava ali, que algo se passava entre elas, que elas ignoravam.

Olhei pela janela e vi d. Nina numa cadeira na varanda, alta e muito branca. Devia estar esperando o filho, meu amigo Caveirinha. Senti que ali estava a resposta para a conversa "por alto" e comecei a sentir medo e desejo de ir a casa de d. Nina.

Para disfarçar, aumentei minha criancice, me arrastando entre as cadeiras, forçando a fatal repreensão de minha mãe, ao me ver acariciando a perna de minha tia mais moça, perna gorda, com estrias azuis, boa de pegar, que minhas mãos alisavam, apertando a panturrilha. "Menino...! Para com isso!" "Este menino é danado", diziam com sorrisos maldosos.

Meu pai chegou do trabalho e entrou na sala. As dragonas rebrilhavam na farda de capitão. Tudo mudou. Minha mãe correu a abraçá-lo, exibindo um afeto conjugal que não o comoveu em sua viril antipatia. As vizinhas se ergueram, nervosas com sua presença. O bigode, o cabelo com brilhantina, o uniforme, tudo as fazia arfar de emoção enquanto se aprestavam: "Já estamos de saída..." ("Por que aquela súbita pressa?" - eu pensava).

E foram embora, como um grupo de refugiadas. Ficou a sala vazia, onde não tinha acontecido nada naquela tarde, nada houvera ali, nada, além de seus desejos não formulados. Elas não sabiam o que desejar e não sabiam que não sabiam.

A noite ia cair e eu resolvi ir à casa do Caveirinha. Cheguei ao portão aberto e fui entrando. Com grande medo, segui pelo corredor. Ninguém estava no quarto do Caveirinha, Carlos Eduardo para a mãe, que era viúva de um marido que, diziam, bebia e que caíra na linha do trem. Ninguém. Súbito, no fundo do corredor, ouvi um choro remoto. No quarto já avermelhado pelo fim do dia, vi, pela fresta da porta, d. Nina, enrodilhada num sofá do quarto, de costas para a porta e nua - completamente nua. Ela soluçava num choro convulso e seu corpo tremia muito. Seu pranto crescia para um gemido cada vez mais alto, mais alto, até que subitamente parou. Depois de um tempo, ela se ergueu. Ela não tinha chorado. Era outra coisa que eu não sabia. De olhos secos, veio andando em direção à porta de onde eu a espreitava. Sua nudez era coberta de pelos negros no púbis, se alastrando pelas pernas muito brancas. Nua como uma vênus peluda, não me viu. Fugi em pânico. Tinha visto alguma coisa que eu não sabia o que era, mas entendi que era o que eu não podia saber. Nunca mais visitei o Caveirinha.

JOÃO PEREIRA COUTINHO - O caso Rafinha Bastos


O caso Rafinha Bastos
JOÃO PEREIRA COUTINHO 
FOLHA DE SP - 25/10/11

Calar Rafinha Bastos traria à sociedade um prejuízo bem maior que o prejuízo emocional de Wanessa

DESCONHECIA RAFINHA Bastos. Sou estrangeiro em terra estrangeira.

Agora, só ouço falar dele. E da polêmica piada sobre a gravidez de Wanessa Camargo. E dos limites do humor "politicamente incorreto". Que fiz eu para merecer tal sorte? Nem em Lisboa tenho sossego?
O leitor conhece a história, aposto, mas eu relembro na mesma: em show televisivo, o referido Rafinha Bastos manifestou interesse em, digamos, travar conhecimento bíblico com a cantora grávida e o filho, ainda nascituro.

A cantora não acreditou no que ouvira -"comia ela e o bebê", disse o humorista- e decidiu proteger a honra do bebê processando o comilão Rafinha.

Fez mal. Para começar, repito, eu desconhecia a existência de Rafinha Bastos, muito menos de seus extravagantes gostos sexuais.

Depois do processo, eu conheço tudo sobre a criatura: vida, obra e mito. Uma das leis das sociedades midiáticas é que todo ruído, sobretudo quando a galope de processos judiciais, só amplifica o ruído de origem. Figuras públicas devem pensar duas vezes antes de mexerem um dedo para defenderem a suposta honra maculada de seus fetos. Valerá a pena?

Não vale. Se fosse para levar a sério uma piada até suas últimas e dramáticas consequências, a única honra atingida por Rafinha seria a do próprio. Manifestar interesse sexual por uma mulher grávida e seu filho revelaria apenas uma doença mental a merecer tratamento e pena, não julgamento e cadeia. Nenhum sistema judicial poderia julgar um inimputável.

Mas o interessante do caso não está apenas na amplificação da piada pelo processo judicial de Wanessa. Está em certos gostos sofisticados que, embora defendendo a liberdade de expressão, acrescentaram o clichê fatal: a piada não tem piada. Melhor ainda, e em versão aforismo: o único crime do humor é quando ele não tem humor.

Não pretendo polemizar com espíritos tão refinados. Mas o raciocínio deles é imbecil e inútil. E revela apenas o mesmo tipo de pensamento censório que é exibido pelas patrulhas politicamente corretas.
É indiferente saber se a piada de Rafinha Bastos tem piada. A questão não é de gosto. É de tribunal -da sua necessidade ou não.

Se as questões de gosto fossem questões de tribunal, eu mandava prender, por ordem alfabética, uma longa lista de débeis que começa na letra A, de "Almodóvar", e termina na Z, de "Zizek". Caso não houvesse espaço nos presídios para tanta gente, pediria apenas que levassem Zizek.

Voltando ao caso: admito que existam legiões de seres humanos, a começar por Wanessa e família, que choraram de indignação e horror com a piada do humorista. Admito que alguns amigos terão até vomitado os três últimos jantares.

Mas também admito que existam legiões de aficionados que choraram de prazer e aplaudiram a "radicalidade" de Rafinha. O que não seria inédito: todas as noites, nas televisões ou nos clubes de comédia norte-americanos, o que Rafinha Bastos disse é moeda corrente.

Nada é mais subjetivo que o humor, exceto o mau humor. Rowan Atkinson, o entediante Mr. Bean, joga-me nas urgências hospitalares por tentativa de suicídio. John Cleese, o mais brilhante dos Monty Python, também, mas por infarto de riso.

A única questão relevante sobre a piada de Rafinha Bastos não é saber se ela tem piada. Muito menos se ela ofende Wanessa Camargo e o filho. É óbvio que ofende, embora seja duvidoso que a criança, ainda no ventre, já tenha opinião formada sobre o assunto.

A questão principal passa por saber se uma sociedade livre deve conceder espaço para que opiniões fortes, grotescas e até ofensivas possam ser proferidas em público.

Calar Rafinha Bastos, em nome do suposto "bom gosto" de alguns ou até da "honra" do filho nascituro de Wanessa Camargo, traria um prejuízo à sociedade brasileira que seria bem maior do que o prejuízo emocional sentido pela cantora em nome do filho.

Até porque, pensando bem, não é de excluir que, daqui a uns anos, o filho de Wanessa Camargo possa olhar para trás e, ao contrário da mãe, rir da piada.

É pouco provável, eu sei. Mas, às vezes, acontecem milagres nas melhores famílias.

JOSÉ SIMÃO - Argentina! Ganhou a Viúva Porcina!


Argentina! Ganhou a Viúva Porcina! 
JOSÉ SIMÃO 
FOLHA DE SP - 25/10/11

E o Pan? "Goleira Chana desabafa: está na hora de sermos reconhecidas". Vamos valorizar a Chana!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Argentina urgente! Cristina Kirchner reeleita! A Cristina quiche! E tão chamando a Cristina Kirchner de Viúva Porcina. Só fala no falecido. Rarará! Ganhou a Viúva Porcina. Aliás, por cima: ganhou fácil! Eu achei ela com a cara da Cláudia Raia! E a boca? A boca tá parecendo bico de tênis Conga! Rarará!

E continua a rivalidade histórica Brasil e Argentina. Não é mais Pelé e Maradona! Agora é Dilma ou Cristina? Quem vai explodir primeiro. Rarará! Briga de TPM! E diz que no próximo encontro Dilma e Cristina vão discutir o Mercosul, menopausa e a ultima receita de pão de ló da Ana Maria Braga. Mais quatro anos de piada machistas!

E a imprensa: "Ganhou Cristina Kirchner, apesar da Argentina ainda ser uma democracia". Só é democracia quando ganha quem eles querem. Rarará!

E o Pan com ovo? "Goleira Chana desabafa: está na hora de sermos reconhecidas". Também acho. Vamos valorizar a Chana. O desabafo da Chana. Ainda bem que é desabafo, e não o bafo da Chana! Rarará! Chana dá pau nas argentinas!

Handebol feminino ganha ouro e ganha da Argentina. Ouro duplo! As argentinas levaram pau da Chana. E eu já disse que as meninas do handebol são melhores que os meninos do pébol!

E esse Pan com ovo tá uma confusão! Erraram até no tiro! Classificaram e desclassificaram o brasileiro do tiro umas três vezes. Vai pro pódio, não, desce, quem ganhou foi outro, ops, erramos, não foi o outro, sobe no pódio de novo! Bala perdida! Pândega 2011!

E mais ouro. Ganhamos 5 ouros em vela. Mas o Brasil não é ouro em vela. O Brasil é ouro em Wellaton. Só tem loira tingida. Rarará! Cinco ouros em vela! A turma do vai com o vento! Deviam dar medalha pro vento! É a mesma coisa que hipismo; eu acho que deviam dar medalha pro cavalo.

Brasileiro é ouro em ACENDER VELA! Pra situação melhorar. Brasileiro acende vela pra tudo: pro santo, pro diabo, pra chover, pra deixar de ser corno, pra situação melhorar. O Brasil é ouro em acender vela!
E sabe o que um argentino me disse? "O problema de vocês é que vocês nunca tiveram uma Evita". E o problema de vocês é que vocês nunca tiveram uma Hebe! Rarará! Nóis sofre mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MÔNICA BERGAMO - CADEIRA VAZIA


CADEIRA VAZIA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 25/10/11

João Gilberto encalhado: a apenas 11 dias de seu show em SP, 1.144 ingressos, ou mais de um terço do Via Funchal, onde ele se apresentará, ainda estão disponíveis. O eventual fracasso já causa estresse na equipe que organiza a apresentação do pai da bossa nova. As vendas foram anunciadas há mais de um mês.

CADEIRA 2
Os ingressos para ver João Gilberto em SP custam de R$ 500 a R$ 1.000. Os lugares colados ao palco estão esgotados. Mas logo atrás, na plateia 2, mais de 300 cadeiras ainda estavam vazias até a tarde de ontem. Nos mezaninos centrais ainda existiam 189 lugares, por R$ 700.

CADEIRA 3
Já no Rio, onde João Gilberto toca no dia 15/11, os ingressos estão esgotados. Claudia Faissol, mulher e empresária do cantor, disse que não tinha detalhes sobre os números do show.

LOTADOE as entradas para os quatro shows de Chico Buarque em Belo Horizonte, de 5 a 8/11 (ingressos por até R$ 290) estão esgotados. Ele se apresenta em SP em março.

AVISO PRÉVIOA diretoria do São Paulo vai dar prazo até dezembro para que os jogadores mostrem resultados e tragam vitórias ao time. Eles vão ser observados "de perto, por um binóculo". O clube não descarta dispensar a metade da equipe em dezembro, caso a bola não entre no gol.

PAPO FURADOCom a troca de Adilson Batista por Leão, o Tricolor acredita que o argumento de que o elenco é bom, mas o técnico é ruim não se sustenta mais.

CACHÊLeão deve receber entre R$ 150 mil e R$ 200 mil no SPFC. Sem multa caso deixe o time. Ou seja dispensado.

AQUÁRIOE o Santos tenta melhorar o contrato de Neymar para tentar mantê-lo no clube até dezembro de 2012 -ou mesmo até 2015. Apesar dos boatos de que ele já teria assinado com o Barcelona, ou com o Real Madrid etc., ainda há espaço para negociações.

NOITE DA DEBUTANTE
Carol Moraes comemorou seus 15 anos com festa no Terraço Daslu, ao lado da mãe, Vera Moraes, e do pai, Ricardo Bezerra. Convidadas como a empresária Ana Cristina Nasciutti foram à festa. Mas seus avós, Maria Regina e Antônio Ermírio de Moraes, não puderam ir por problemas de saúde. A debutante pediu que o bolo fosse baseado nas estampas do estilista Emilio Pucci.


ABRACADABRA
As modelos Viviane Orth e Flávia Lucini foram à festa Yelloween. O arquiteto João Armentano e a mulher, Cris, circularam pelo evento, na Mansão Jafet, no Ipiranga.

OPERAÇÃO CABARÉA atriz Claudia Raia se submeteu a um procedimento que congela gorduras localizadas para eliminá-las do corpo. Chamado de criolipólise, ele resfria as células a -2°C. Ela fez duas sessões, em agosto e setembro, com o dermatologista Jardis Volpe. E se submete a outros dois tratamentos, com radiofrequência e raios infravermelhos, para firmar e tonificar a pele.

PANO PARA TOGAMais um nome no páreo para a vaga de ministra do Supremo Tribunal Federal, aberta após a aposentadoria de Ellen Gracie: a advogada tributarista pernambucana Mary Elbe Queiroz, 53. Ela se apresenta como "candidata independente" e tem apoio de entidades como o Conselho Federal de Contabilidade e o Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita -além do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

FILA INDECENTEA divisão de urologia do Hospital das Clínicas inaugura hoje a ala assistencial Aloysio Faria. O empresário doou R$ 8 milhões à instituição, usados na construção de salas cirúrgicas e na compra de equipamentos de última geração. O médico Miguel Srougi diz que a meta é zerar a fila de 892 doentes que esperam por uma operação de rim, bexiga ou próstata. "Queremos atenuar essa indecência, representada por uma legião de pessoas, crianças e idosos, no limite do sofrimento humano e que não conseguem vaga num hospital público para resolver o seu problema."

CURTO-CIRCUITO
O Prêmio Trip Transformadores acontece amanhã, às 20h, no Auditório Ibirapuera.

O bar Tutto Italiano será inaugurado hoje, a partir das 20h, nos Jardins.

O vice-presidente Michel Temer participa hoje da abertura do Congresso Brasileiro de Avicultura.

A Gafieira São Paulo toca no dia 1º, às 22h30, no Bourbon Street. 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

DORA KRAMER - As piores razões


As piores razões
DORA KRAMER 
O Estado de S.Paulo - 25/10/11

O ministro do Esporte foi mantido no cargo e, segundo reza a versão oficial, sua permanência depende da capacidade dele de estancar a enxurrada de denúncias sobre as atividades do ministério e substituir o noticiário negativo por uma agenda positiva, cujo primeiro item seria debater com o Congresso a Lei Geral da Copa.

Quer dizer, se o assunto corrupção sair de cena, tudo bem: fica o dito pelo não dito. O problema não é a notícia, mas o efeito que ela produz ou deixa de produzir.

Os convênios fantasmas, o descontrole na distribuição de recursos, o favorecimento a empresa da família, os assessores que ensinam o denunciante qualificado como "bandido" o caminho das pedras para se safar de punições por fraudes cometidas no próprio ministério, os repasses de verbas para beneficiar correligionários do PC do B, a assinatura de contratos com gente inidônea, nada disso é levado em conta.

Na ótica do governo, expressa pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, a presidente Dilma Rousseff não pode "entrar na onda" nem embarcar no "clima de histeria".

Vai analisar as coisas com calma e esperar que surjam provas (um recibo de próprio punho?) contra o ministro para decidir se Orlando Silva é, ou não, uma pessoa ética, profissional, moral e tecnicamente capaz de conduzir o ministério que estará à frente da organização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. Essas são as razões oficiais. No paralelo, são outros e mais variados os motivos pelos quais Orlando Silva por ora fica.

Fica porque a presidente não quer atritos com a "base", reabrindo a temporada de demissões de ministros.

Fica porque Lula aconselhou o PC do B a vestir a "casca grossa" e deu aval como defensor junto a Dilma.

Fica porque não interessa ao governo ver explodir uma briga de "famiglias" entre PT e PC do B, por conta das digitais do governador petista Agnelo Queiroz (DF) - antecessor e ex-chefe de Orlando Silva - nas atividades suspeitas do Ministério do Esporte que fizeram o procurador-geral da República pedir ao Supremo Tribunal Federal uma investigação conjunta.

Fica porque o PC do B é, considerando a questão sob o aspecto ideológico, "da casa", diferentemente de partidos como PMDB e PR.

Fica porque os atritos com a Fifa e a CBF servem como um ótimo álibi na construção de uma tese conspiratória.

Fica, sobretudo, porque o governo aposta na possibilidade - bastante plausível - de que o assunto canse a caia no vazio.

Em resumo, Orlando Silva fica pelas piores razões: não por suas qualidades, mas pelos defeitos de um sistema torto e viciado. De uma sistemática de alianças que captura as melhores intenções que porventura tenha um governante para torná-lo refém (na hipótese mais generosa) de uma lógica, em si, corrupta.

Sendo assim, é difícil conferir credibilidade e confiabilidade à dita disposição da presidente da República de, a partir de janeiro, montar uma equipe à semelhança da imagem de eficiência administrativa e rigor ético que ela busca transmitir ao público.

Se Lula tem hoje liberdade para afiançar a permanência de ministros sob o argumento da luta de preservação de espaços políticos, por que deixaria de ter daqui a três ou quatro meses?

Se ameaças entre partidos valem agora, deixariam de valer a partir da virada do ano?

Se a presidente receia desagradar a seus aliados com imposição de regras mais limpas em outubro, em que bases sustentar a veracidade de um presumido destemor a ser adquirido em janeiro?

Se critérios de competência e idoneidade não prevaleceram na escolha do primeiro ministério da presidente, difícil crer que prevalecerão para o segundo em condições exatamente iguais.

Tempo ao tempo. O governador Geraldo Alckmin está batendo o martelo com os pré-candidatos tucanos à Prefeitura: as prévias no PSDB serão no primeiro trimestre de 2012.

A escolha inicialmente seria no fim deste ano, mas Alckmin acha que o cenário político, notadamente de alianças, estará mais nítido em janeiro ou fevereiro.

JOSÉ SERRA - A verdade sempre liberta


A verdade sempre liberta
JOSÉ SERRA
O GLOBO - 25/10/11

“Tendo encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo feito correções, viremos agora a página — não para esquecê-lo, mas para não deixá-lo aprisionar-nos para sempre.” Desmond Tutu

Está na reta final o debate no Congresso sobre a Comissão da Verdade, cuja missão será também elucidar o destino dos brasileiros que desapareceram na resistência, armada ou não, à ditadura. É justo que suas famílias e amigos recebam do Estado a explicação definitiva sobre os fatos, a ser registrada pela história. Pois, se governos mudam, o Estado é um só, há uma linha de continuidade institucional.

O projeto da Comissão da Verdade ficou empacado por um bom tempo, por causa de erros cometidos pelo governo anterior. Misturaram-se três assuntos: o direito à verdade propriamente dita, o sacrifício de pessoas inocentes em ações das organizações armadas que contestavam o regime e o desejo de responsabilizar criminalmente os agentes desse regime envolvidos na violência contra a oposição da época. Um desejo que não encontra sustentação legal. Neste caso, o impasse só foi superado depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu pela vigência da Lei de Anistia de 1979, considerando que ela foi recepcionada pela Constituição.

A Lei de Anistia foi uma conquista das forças democráticas, foi arrancada do regime militar após uma ampla mobilização política e social. E é também produto da sua época e da correlação de forças daquele momento. O STF julgou bem, ao não desfazer aquele acordo, que, no balanço final, foi positivo para o Brasil, permitindo uma transição menos atribulada para a democracia. No trade-off, o país saiu ganhando.

A anistia acabou permitindo uma reconciliação verdadeira. Diferentemente de outros países, evitamos aqui alargar o fosso entre o corpo militar e a sociedade. E Forças Armadas respeitadas, coesas e integradas à institucionalidade democrática são um pilar fundamental da estabilidade e da afirmação nacionais. É importante que a Comissão da Verdade, agora em debate no Senado, com a competente relatoria do senador Aloysio Nunes, do PSDB, cujo substitutivo melhora o projeto saído da Câmara, parta das premissas certas.

Seu objetivo não deve ser promover um ajuste de contas parajudicial com personagens do passado. Isso, aliás, cairia facilmente na Justiça. Muito menos deve se deixar atrair pela tentação de produzir uma história oficial. Ou uma narrativa oficial. Precisará, isto sim, concentrar todas as energias na investigação isenta e objetiva. E não na interpretação.

Para tanto, é preciso garantir a ela uma composição pluralista, o que deveria ser de interesse do próprio Executivo, pois seria péssimo se a Comissão da Verdade tivesse seu trabalho questionado por abrir as portas ao facciosismo, à parcialidade e ao partidarismo. É ilusão imaginar que um assunto assim poderia ficar livre de olhares político-partidários, mas é importante minimizar o risco. E para isso a pluralidade é essencial.

Tampouco será o caso de transformar a comissão em órgão certificador de papéis históricos. Não caberá a ela fazer o juízo de valor sobre cada personagem. Seria uma espécie de crueldade pretender realizar a posteriori o julgamento histórico-político de cada ator da época. Sabe-se que o homem é ele mesmo e suas circunstâncias. O comportamento sob tortura, apenas como exemplo, jamais poderá ser objeto de juízo moral posterior. Sob pena de estimular a inversão de papéis e a execração das vítimas.

No fim dos anos 60 e começo dos anos 70 do século passado, o Brasil foi palco de variadas formas na luta contra o regime. Cada um de nós é livre para olhar aquele período e concluir o que foi certo e o que não foi na resistência à ditadura. É um olhar político. E é natural que cada um enxergue o passado à luz de suas convicções atuais. O complicador aparece exatamente aqui: as convicções atuais são também fruto da experiência acumulada, incluindo os erros passados.

Não se trata aqui de ceder ao relativismo, mas deixar cada um com o seu papel. As instituições fazem o seu trabalho e os historiadores fazem o deles. Parece-me uma boa divisão de tarefas.

Por último, reitero uma convicção que já expressei em público. É fundamental para qualquer país não ter medo do passado. A transparência sobre acontecimentos recentes é importante para construir uma sociedade ainda mais democrática. O exemplo a seguir poderia ser o da Comissão de Verdade e Reconciliação da África do Sul. As palavras do grande bispo Desmond Tutu, presidente dessa comissão, deveriam servir de guia para todos que queiram, com sinceridade, enfrentar os desafios do presente.

STF julga legalidade do exame da OAB


STF julga legalidade do exame da OAB
CORREIO BRAZILIENSE - 25/10/11
 Paula Filizola

O Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar amanhã a constitucionalidade do exame de Ordem, prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) necessária para que bacharéis em direito exerçam a advocacia. Presente na pauta desta semana, o recurso extraordinário no STF foi movido pelo bacharel em direito João Volante. Em julho deste ano, o relator do caso, ministro Marco Aurélio, pediu um parecer ao subprocurador-geral da República Rodrigo Janot Monteiro de Barros, que apresentou uma avaliação contrária à prova. Segundo ele, “atribuir à OAB o poder de selecionar advogados traz perigosa tendência”. Entre os argumentos, o procurador alega que, para ser essencial, o exame deveria qualificar e não selecionar. Para o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, caso não houvesse a prova, a seleção seria feita pelo mercado de trabalho e isso prejudicaria a sociedade.

Quem é contrário à aplicação do exame argumenta que o artigo 5º da Constituição Federal garante a liberdade do exercício da profissão e, por isso, a prova seria inconstitucional. O presidente da OAB discorda. “Respeitamos muito a liberdade na escolha de cada profissão. Mas, no direito, especificamente, o Estatuto do Advogado, que é lei, estabelece determinados critérios para o exercício da profissão. Quem escolhe a advocacia sabe disso. É como o médico com a obrigatoriedade da residência”, avalia. A estimativa da OAB é que existam cerca de 1 milhão de graduados em direito fora dos quadros da Ordem. Somente na última edição da prova, dos 119.255 inscritos na primeira fase, apenas 18.223 foram aprovados (15% do total).

O exame da OAB foi criado em 1963, por meio da Lei nº 4.215, e tornou-se obrigatório em1994, quando passou a vigorar o Estatuto da OAB, pela Lei nº 8.906/94.

VLADIMIR SAFATLE - Eles sabem o que fazem


Eles sabem o que fazem
VLADIMIR SAFATLE
Folha de S. Paulo, 25-10-2011

Um dos mantras preferidos daqueles que chegam aos 40 anos é: os jovens de hoje não têm grandes ideais, eles não sabem o que fazem.

Há algo cômico em comentários dessa natureza, pois os que tinham 18 anos no início dos anos 90 sabem muito bem como nossas maiores preocupações eram: encontrar uma boa rave em Maresias (SP), aprender a comer sushi e empregar-se em uma agência de publicidade. Ou seja, esses que falam dos jovens atuais foram, na maioria das vezes, jovens que não tiveram muito o que colocar na balança.

Por isso, devemos olhar com admiração o que jovens de todo o mundo fizeram em 2011.

Em Túnis, Cairo, Tel Aviv, Santiago, Madri, Roma, Atenas, Londres e, agora, Nova York, eles foram às ruas levantar pautas extremamente precisas e conscientes: o esgotamento da democracia parlamentar e a necessidade de criar uma democracia real, a deterioração dos serviços públicos e a exigência de um Estado com forte poder de luta contra a fratura social, a submissão do sistema financeiro a um profundo controle capaz de nos tirar desse nosso "capitalismo de espoliação".

Mas, mesmo assim, boa parte da imprensa mundial gosta de transformá-los em caricaturas, em sonhadores vazios sem a dimensão concreta dos problemas. Como se esses arautos da ordem tivessem alguma ideia realmente sensata de como sair da crise atual.

Na verdade, eles nem sequer têm ideia de quais são os verdadeiros problemas, já que preferem, por exemplo, nos levar a crer que a crise grega não seria o resultado da desregulamentação do sistema financeiro e de seus ataques especulativos, mas da corrupção e da "gastança" pública.

Nesse sentido, nada mais inteligente do que uma das pautas-chave do movimento "Ocupe Wall Street". Ao serem questionados sobre o que querem, muito jovens respondem: "Queremos discutir".

Pois trata-se de dizer que, após décadas da repetição compulsiva de esquemas liberais de análise socioeconômica, não sabemos mais pensar e usar a radicalidade do pensamento para questionar pressupostos, reconstruir problemas, recolocar hipóteses na mesa. O que esses jovens entenderam é: para encontrar uma verdadeira saída, devemos primeiro destruir as pseudocertezas que limitam a produtividade do pensamento.

Quem não pensa contra si nunca ultrapassará os problemas nos quais se enredou.

Isso é o que alguns realmente temem: que os jovens aprendam a força da crítica. Quando perguntam "Afinal, o que vocês querem?", é só para dizer, após ouvir a resposta: "Mas vocês estão loucos".

Porém toda grande ideia apareceu, aos que temem o futuro, como loucura. Por isso, deixemos os jovens pensarem. Eles sabem o que fazem.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Teste de resistência
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 25/10/11

A ida de Orlando Silva hoje à Câmara é vista, no Palácio do Planalto e no entorno do ministro do Esporte, como um laboratório da "agenda positiva" que Dilma Rousseff o orientou a perseguir. Ninguém espera que ele consiga se restringir à Lei Geral da Copa, pauta que motivou a visita. O grau de contaminação do debate pelas denúncias de fraude envolvendo a pasta contará para definir seu futuro imediato.

Para além da abertura de sindicância interna, anunciada ontem, o governo quer de Orlando, no curto prazo, medidas efetivas contra subordinados sobre os quais pesam acusações de desvios.

Coreografia Quem acompanha os bastidores do balé Dilma-Lula duvida da narrativa segundo a qual a presidente e seu antecessor discordam em relação ao que fazer com Orlando Silva.

Interrogatório O PC do B espera contar com a experiência de delegado do deputado Protógenes Queiroz (SP) na tentativa de emparedar João Dias, acusador de Orlando, amanhã na Câmara.

Menos, menos Na contramão da tática belicista do PC do B, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), vai orientar a base a dar de ombros na sessão: "O PM já se enrolou. Deixa a oposição se enrolar junto com ele".

O retorno 1 Um jantar há uma semana na casa do deputado Luciano Castro (RR), com a presença de outros dez parlamentares do PR e do ministro Paulo Sérgio Passos, selou o apadrinhamento dos novos diretores da Valec, estatal ferroviária que operava com cúpula provisória desde julho, quando explodiu o escândalo nos Transportes.

O retorno 2 A reaproximação da bancada com o governo ajuda a explicar o silêncio do PR diante do duplo padrão do Planalto: a "faxina" nos Transportes derrubou cerca de 30 pessoas; por ora, ninguém caiu na pasta controlada pelo PC do B.

Como está... Contra o desejo de Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab, o Planalto quer sepultar a hipótese de construção de um terceiro aeroporto na Grande SP. Dilma orientou os ministérios mobilizados para o estudo das concessões de Guarulhos, Campinas e Brasília a concentrar esforços na ampliação e na adequação de terminais regionais, sobretudo os controlados pela Infraero.

...fica? Em discussão desde 2008, a implantação de um novo aeroporto no Estado foi abraçada pelo governador e pelo prefeito paulistano como compromisso inaugural do Conselho de Desenvolvimento Metropolitano.

Tucanocídio Reunidos domingo na casa de Ricardo Trípoli, os quatro pré-candidatos do PSDB à prefeitura promoveram sessão de queixas contra a direção paulistana, por supostamente fazer o jogo do Palácio dos Bandeirantes ao sinalizar o adiamento das prévias para 2012. O buraco do protesto, porém, é mais embaixo: trata-se da perspectiva de aliança com o PSD, dando a cabeça da chapa ao partido de Kassab.

Nem aí Alheios aos apelos de dirigentes do PT paulistano para que Marta Suplicy desista de disputar a prefeitura, militantes de oito zonais iniciaram coleta de assinaturas para protocolar oficialmente a candidatura da senadora às prévias, marcadas para 27 de novembro. São necessárias 3.200 adesões.

Visita à Folha Elyakim Rubinstein, ministro da Suprema Corte de Israel, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Ilan Sztulman, cônsul-geral em São Paulo.

tiroteio
Na semana passada, ficou demonstrado que a antiga máxima continua valendo:
o PC do B unido jamais será vencido. Se Orlando resistir, vai virar herói na Esplanada.
DO DEPUTADO FEDERAL ANDRÉ VARGAS (PT-PR) sobre a atitude aguerrida do pequeno partido diante da ameaça de perder o controle do Ministério do Esporte, no qual Orlando Silva ganhou sobrevida.

contraponto
Está em todas

Em visita a Brasília para um seminário sobre energia e clima, um grupo de ex-presidentes latino-americanos foi levado, na quinta-feira passada, a uma conversa com Michel Temer, naquele dia presidente em exercício.
Logo no início do encontro, o boliviano Jaime Paz Zamora elogiou o partido do vice: -O PMDB é um exemplo de governabilidade.
Em seguida completou, para gargalhada geral: -Na verdade, o Brasil hoje é uma espécie de PMDB da América Latina: participa de tudo!

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI