sexta-feira, setembro 16, 2011

MARIA CRISTINA FERNANDES - Congresso faz planos para as sobras da Selic



Congresso faz planos para as sobras da Selic
MARIA CRISTINA FERNANDES
VALOR ECONÔMICO - 16/09/11



Na política posta em curso pela presidente Dilma Rousseff, a uma queda continuada na taxa de juros deve corresponder um esforço de redução das despesas do governo. Mais expressiva mudança de seus quase nove meses de governo, a política econômica da presidente, além de não ser capitalizada por seus aliados no Congresso, tem a seguinte leitura parlamentar: os juros vão cair e, consequentemente, vai sobrar mais dinheiro para o governo gastar.

A presidente já se deu conta do que esse divórcio de interesses vai lhe aprontar na regulamentação da emenda 29. Na quarta-feira se deixou parar durante 23 minutos por repórteres que a acompanhavam na visita a uma exposição em Brasília e, sem pressa, explicou detalhadamente sua posição: a saúde tem, sim, um problema de gestão que se traduz na ausência de dados precisos sobre o quanto o setor privado usa dos recursos do SUS sem reembolsá-lo; em equipamentos de saúde irregularmente distribuídos e utilizados no território nacional; e num atendimento desumano nos hospitais. Mas o problema não é só de gestão. O Brasil, disse Dilma, gasta 42% a menos, per capita, do que a Argentina gasta em Saúde; e 27% a menos do que o Chile gasta. E o setor público gasta duas vezes e meia a menos do que o setor privado com Saúde. Para que o sistema seja universal e de qualidade precisa tanto gestão quanto de dinheiro.

Os dados de que fala a presidente estão no endereço eletrônico da Organização Mundial de Saúde (www.who.int). Aprende-se com suas tabelas que o gasto do governo com saúde em relação ao total de gastos públicos no Brasil (6%) não fica abaixo apenas do verificado na Argentina (13,7%) ou no Chile (15,6%), mas também perde para todos os países da fronteira: Paraguai (12,3%), Colômbia (18,3%), Peru (15,6%), Uruguai (13,8%), Bolívia (8,9%) e Equador (6,9%).

É fato, portanto, que os gastos são baixos. É na sua justificativa que surgem as versões. A da presidente é que não há dinheiro no Orçamento para aumentá-los. A dos parlamentares é que, além de a arrecadação, que já beira os 40% do PIB permitir aumentar a despesa, uma conta menor de juros vai dar ainda mais folga de caixa ao Tesouro.

Na primeira sessão que a Comissão Mista de Orçamento fez com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Saúde, tinha o número da ponta da língua: a cada ponto percentual da taxa Selic reduzem-se R$ 16 bilhões do serviço da dívida.

O que a tramitação do Orçamento revela de mais importante não é o mapa de gastos do governo, mas a estratégia política traçada pelos parlamentares a partir das intenções enunciadas pelo Executivo.

O chefe da bancada da Saúde anunciou ali sua rota. A emenda 29, que prevê os percentuais mínimos de gastos da Saúde para União, Estados e municípios vai entrar em pauta na próxima semana na Câmara, devendo ser aprovada sem a fonte de recursos. Líderes do PT e do PMDB têm se revezado em propostas como a taxação de grandes fortunas ou dos bingos que não têm sido levadas a sério nem por seus correligionários. A ideia de tirar dinheiro do pré-sal, além da resistência do governo, tampouco tem entusiasmado o Congresso porque o fundo a ser formado com os recursos da exploração só ganhará corpo a partir de 2015.

No Senado tampouco há maioria clara pela recriação de uma contribuição para a Saúde nos moldes da CPMF. A emenda tende, pois, a ser aprovada sem um novo imposto, o que vai levar os governadores a pressionar a presidente pelo veto sob a alegação de que não podem gastar 12% com saúde sem uma fonte extra de recursos. A presidente já tentou colocar no colo dos governadores a missão de dobrar o Congresso. O mais entusiasmado com a ideia foi o governador Sérgio Cabral (RJ), cujo histórico de negociação nos royalties não autoriza um bom prognóstico.

No Orçamento, que tramita paralelamente no Congresso, a bancada da Saúde vai pressionar a Comissão de Orçamento para que a reestimativa de receita inclua mais recursos para o setor. Contará com um relator, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e um presidente, Vital do Rego (PMDB-PB), sensíveis ao tema porque médicos.

Na reunião desta semana, o deputado Gilmar Machado (PT-MT) calculou entre R$ 20 e R$ 30 bilhões a receita adicional que não está prevista no projeto de lei enviado pelo Executivo. Apenas a renegociação do Supersimples, em seus cálculos, vai trazer essa bolada para o caixa da União.

Além da Saúde e de uma fatia dos R$ 7,7 bi pretendidos pelo Judiciário, a Comissão ainda vai ter que abrigar nessa receita adicional emendas parlamentares e a compensação dos Estados prejudicados pela pendenga da Lei Kandir, que desonerou as exportações.

"Com um salário mínimo que vai chegar a R$ 620 o trabalhador vai gastar e movimentar a economia. Não queremos fazer nenhuma irresponsabilidade mas vamos ter que chegar mais perto dos números reais da economia", disse o deputado do partido da presidente.

A negociação da Emenda 29 não coloca em risco apenas uma solução para o financiamento da saúde que já perambula há 11 anos no Congresso. Se mal conduzida, pode queimar pontes entre o governo e sua base para a aprovação de projetos necessários à continuidade da política de redução de juros como, por exemplo, a desvinculação da poupança da taxa Selic.

ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA - A hora da virada cambial



A hora da virada cambial
ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA
Valor Econômico - 16/09/2011

Dias atrás em reunião do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) realizamos uma discussão extremamente esclarecedora acerca do mercado de derivativos cambiais. Muitos leitores talvez não compreendam a importância ímpar deste tema para o país e para suas próprias vidas, uma vez que a indústria brasileira há tempos sofre os efeitos deletérios de um câmbio sobrevalorizado, tendo os derivativos cambiais um papel predominante na formação da taxa de câmbio do real. Por conta dessa situação, mercados para produtos brasileiros foram perdidos, muitas fábricas foram fechadas e milhões de empregos desapareceram. A atual conjuntura econômica é propícia para discutir o papel dos derivativos cambiais na economia, de forma a entender a formação da taxa de câmbio brasileira, mas também para evitar que novas rodadas de apreciação da moeda brasileira prejudiquem ainda mais os setores industriais e a geração de empregos.

Primeiramente, o tema dos derivativos de câmbio não deve ser tratado de forma estigmatizada. Esses instrumentos financeiros não são de natureza inerentemente especulativa, muito pelo contrário, eles são fundamentais para a atividade econômica na medida em que reduzem incertezas associadas ao processo produtivo. Tampouco se deve minorar a importância da BM&F como principal centro de negociação de derivativos e de oferta de hedge para os agentes econômicos no Brasil. Essa instituição é símbolo da sofisticação do sistema financeiro brasileiro e faz do mercado de derivativos no Brasil um dos mais transparentes do mundo.

Contudo, deve-se reconhecer o caráter dual e muitas vezes ambíguo do mercado de derivativos; ao mesmo tempo em que ele reduz incertezas microeconômicas dos agentes que buscam hedge, ele potencialmente aumenta as instabilidades macroeconômicas. Nos derivativos de câmbio, esse problema ocorre quando um excesso de posições especulativas formam tendências na taxa de câmbio e uma excessiva volatilidade da moeda. Quando a especulação é dominante e, sobretudo, quando as apostas são feitas todas na mesma direção, abre-se espaço para distorções da taxa de câmbio e para uma arbitragem de agentes que ganham sempre, sem correr riscos. Dessa forma, pode haver mercados de derivativos, onde a participação dos agentes de hedge seja muito pequena e as transações sejam dominadas por agentes que tem como propósito apenas a especulação e a arbitragem.

No Brasil, o processo de apreciação cambial recente foi em parte conduzido por uma especulação sistemática, conhecida como "carry trade", que no mercado de derivativos se expressa na venda de contratos futuros de dólar para auferir o diferencial de juros e apostar na apreciação do câmbio. A pressão vendedora dos especuladores abre espaço para oportunidades de arbitragem contínuas de agentes que compram dólar futuro para arbitrar entre as taxa de juros externas e o cupom cambial. Com isso, os arbitradores são responsáveis por transmitir as tendências do mercado futuro para o mercado à vista. Nesse contexto, diferentemente da máxima que estabelece que "especulação boa é aquela que se anula por ser bidirecional, e a arbitragem boa é aquela que termina no tempo como consequência do próprio processo de arbitragem", no Brasil há longos períodos de especulação unidirecional e arbitragem ininterrupta no tempo, por conta da rigidez de suas variáveis, no caso, a elevada taxa de juros reais. Essa forma de especulação e arbitragem permanente é anômala e insustentável a médio e longo prazo.

Nesses termos, a nova regulamentação sobre o mercado de derivativos de câmbio tem a difícil tarefa de corrigir os excessos e desvios do mercado, atentando para seu caráter desestabilizador. Ao taxar os aumentos de posições vendidas dos agentes, o governo acertou em cheio a engrenagem especulativa que influi na dinâmica da apreciação cambial. No entanto, essas medidas devem ser aperfeiçoadas de forma a preservar ao máximo as características benignas do mercado de derivativos de câmbio, quais sejam: de oferta de hedge para o setor produtivo e para atividades financeiras.

Para tal, é preciso criar instrumentos para identificar os diferentes agentes no mercado de derivativos, de forma a segregar os agentes que fazem hedge daqueles que especulam. Uma vez identificados, a intervenção do governo no mercado de derivativos de câmbio deve isentar do pagamento do tributo os agentes que utilizam o mercado para operações de hedge. Em especial, as empresas não financeiras que fazem cobertura de suas atividades comerciais e produtivas. Além disso, deve-se atentar para o papel dos bancos comerciais no mercado de derivativos que, por muitas vezes, operam para fazer hedge de suas operações de crédito, como por exemplo, ao fazer cobertura cambial das operações de ACC, ou de passivos em moeda estrangeira junto a seus clientes.

No decorrer do processo de implementação das novas regras sobre os derivativos de câmbio, é natural que haja reações contrárias de alguns setores da sociedade, afinal, há agentes financeiros que são diretamente prejudicados. Da mesma forma, se o objetivo for de reduzir a especulação com o câmbio, é inevitável que haja uma redução do volume financeiro da BM&F. Porém, o benefício de uma taxa de câmbio isenta de distorções financeiras supera os pontuais efeitos negativos das medidas. Ademais, o debate acerca do tema deve superar velhos dogmas, como a visão de um mercado financeiro harmônico onde a especulação é estabilizadora, cenário este que há tempos já foi abandonado por economistas de diversas escolas de pensamento e que hoje reconhecem o potencial desestabilizador de mercados excessivamente desregulados e especulativos.

Recentemente afirmei num outro artigo que o especulador é um covarde, e que ao pressentir um aumento de risco, desfaz sua aposta e sai do mercado. Neste caso dos derivativos cambiais, bastou o anúncio das medidas de intervenção e de regulação no mercado em fins de julho passado, para que as operações de "carry trade" fossem drasticamente reduzidas e a tendência de desvalorização do real se acentuasse a partir da segunda quinzena de agosto. Podemos concluir que a covardia superou a ganância, e que a indústria brasileira respira aliviada pela mudança de ventos na tendência da taxa de câmbio e de juros praticados na economia brasileira.

NAERCIO MENEZES FILHO - Como salvar a indústria brasileira?



Como salvar a indústria brasileira?
NAERCIO MENEZES FILHO
Valor Econômico - 16/09/2011


"A produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo" Paul Krugman

Os responsáveis pela política econômica do país têm declarado repetidas vezes que é necessário proteger a indústria brasileira da concorrência predatória de outros países, de forma a preservar o nosso mercado para a indústria brasileira. Com esse objetivo, várias medidas de isenção fiscal tem sido implementadas nos últimos meses. Mas, será que os programas de ajuda à indústria fazem sentido do ponto de vista da sociedade como um todo? Como os produtos estrangeiros conseguem chegar tão baratos ao mercado brasileiro? Enfim, conseguiremos salvar nossa indústria?

Em primeiro lugar, é preciso ficar claro que o objetivo da política econômica não deve ser o de preservar o mercado interno brasileiro para as empresas nacionais, mas sim o de aumentar o bem-estar da população brasileira no longo prazo. A população brasileira é composta de empresários e trabalhadores da indústria, mas também de empresários e trabalhadores de outros setores e, principalmente, de milhões de consumidores. Devemos nos preocupar com todos eles.

Mas, a queda na participação da indústria no mercado interno merece uma análise mais detalhada. Afinal, como podem os carros coreanos, por exemplo, chegar ao nosso mercado com qualidade tão superior aos produzidos aqui na mesma faixa de preço? Na verdade, a "invasão" de produtos industriais importados no nosso mercado doméstico reflete, em grande medida, o diferencial de produtividade entre o Brasil e os seus principais parceiros comerciais, que é acentuada no caso da indústria.

Segundo a Conference Board (www.conference-board.org), a produtividade média do trabalhador brasileiro equivale a apenas 20% da produtividade do trabalhador americano. Isso significa que o trabalhador brasileiro demora cinco dias para produzir o mesmo que o trabalhador americano faz em um dia. Já o trabalhador coreano tem uma produtividade média três vezes maior que o brasileiro, ou seja, enquanto o brasileiro produz um automóvel, o coreano já produziu três. Isso explica, em parte, porque os carros coreanos são muito superiores aos produzidos aqui.

Além disso, a situação está piorando ao longo do tempo. Enquanto a produtividade do trabalho nos principais países emergentes (Brics, México, Indonésia e Turquia) aumentou 6,1% por ano entre 2005 e 2010, no Brasil, ela aumentou apenas 2,1%. Na China a produtividade aumentou 9,8% e na Coreia 3,9%. Ou seja, além de termos uma produtividade bem menor do que nossos concorrentes diretos, estamos ficando cada vez mais para trás.

No caso específico da indústria, a situação é ainda pior. Um estudo recente do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostrou que a produtividade do trabalho na indústria brasileira está regredindo em termos relativos. Ela equivalia a 30% da americana em 1973 e declinou para apenas 20% em 2004. Em contrapartida, a produtividade na agricultura aumentou de 10% para mais de 50% da americana no mesmo período. Ou seja, enquanto a produtividade agrícola está convergindo para o padrão dos países desenvolvidos, a produtividade industrial está ficando cada vez mais para trás.

O que fazer? Temos duas alternativas. A primeira é proteger diretamente a indústria brasileira, aumentando as tarifas de importação ou diminuindo os impostos. A segunda é criar condições para que a indústria aumente sua produtividade, revertendo o padrão dos últimos anos. A segunda opção é claramente superior à primeira. Vejamos por quê.

Aumentos de tarifas simplesmente aumentam o preço dos bens produzidos no Brasil em comparação com outros países. Sabe-se, por exemplo, que os automóveis produzidos no Brasil (com nossos trabalhadores, nossa infraestrutura, nosso judiciário e nossa taxa de juros) são bem mais caros no nosso próprio país do que em países vizinhos, como Chile e México. A diferença é que esses países têm acordos de livro comércio com a Coreia ou EUA, o que aumenta a concorrência e diminuí o preço do carro nos seus mercados.

Além de aumentar os preços dos produtos, isenções de impostos e tarifas fazem com que a indústria seja mais generosa com seus trabalhadores. Com efeito, os trabalhadores da indústria têm recebido aumentos de salários muito acima do crescimento da produtividade nos últimos três anos, o que diminui ainda mais a competitividade. Assim, políticas diretas de isenção de impostos significam transferências de renda do consumidor para as empresas e trabalhadores industriais, sem crescimento da produtividade e competitividade.

Em suma, para proteger a indústria da concorrência de importados, o principal caminho é aumentar a sua produtividade. Dessa forma, políticas como a criação de um instituto de pesquisa para a indústria, a concessão de bolsas de estudo no exterior para alunos da área de exatas, aumento da qualidade da educação básica e programas nacionais de ensino técnico são corretas. Entretanto, só terão efeito no médio prazo. Até lá nossos empresários terão que inovar se quiserem sobreviver.

JURANDIR SELL MACEDO e MARTIN CASALS IGLESIAS - Saída para aposentados endividados


Saída para aposentados endividados
JURANDIR SELL MACEDO e MARTIN CASALS IGLESIAS
O GLOBO - 16/09/11 


Grande parte dos idosos brasileiros da classe média não acumulou um bom patrimônio durante a vida e passa por apertos financeiros na aposentadoria. Os gastos com medicamentos, plano de saúde e exames aumentam nesse período. A renda, no entanto, tende a diminuir. Para muitos, resta apenas a casa em que moram e a dura realidade de ter que vender este bem para continuar se sustentando.

Essa situação poderia ter solução se no Brasil tivéssemos um bom sistema de hipoteca reversa. Através dela, o idoso vende a casa, mas pode continuar morando no imóvel e ainda recebe uma renda mensal. Pode parecer um sonho, mas é algo bem possível. A hipoteca reversa, ou reverse mortgage, faz sucesso nos Estados Unidos e na Austrália e deveria ser implantada no Brasil.

No Estados Unidos, o acesso a esse tipo de hipoteca é permitido a pessoas com mais de 62 anos. A casa em questão deve ser a principal moradia do interessado e dívidas de financiamentos anteriores devem estar quitadas. Com a hipoteca reversa, a pessoa pode trocar o valor da casa por uma renda mensal. É uma forma de complementar a aposentadoria. O idoso abre mão de deixar uma herança aos descendentes, mas evita depender dos filhos e netos ainda em vida. O banco recebe o retorno sobre o investimento quando a pessoa morre ou precisa abandonar a casa. Nesse caso, a casa é transferida ao banco, que vende o imóvel para recuperar seus investimentos.

Ao contrário dos financiamentos normais, na hipoteca reversa é como se o banco fosse comprando o imóvel lentamente, com pagamentos de uma renda mensal. Se a renda for paga por um prazo fixo, ela é direcionada aos herdeiros em caso de morte do morador e o imóvel passa a ser do banco na data estipulada. Já se o idoso optar por receber a renda enquanto viver, ela se extingue no momento em que a pessoa morre, ocasião em que o banco receberá o pagamento. Enquanto vive no imóvel, o antigo proprietário é obrigado a pagar os impostos e o seguro residencial.

Mesmo parecendo complicado, o negócio é bastante simples para todos os envolvidos. O proprietário está vendendo a casa e comprando o direito de morar nela por um tempo ou por toda a vida. No caso de escolher morar até o fim da vida, o banco vai trabalhar com uma previsão de quanto tempo ele vai viver, com base nas tábuas atuariais. Se viver menos, o banco ganha. Se viver mais, o banco perde. A diferença entre o preço de venda e o custo dos aluguéis futuros é direcionada para a compra de uma renda mensal vitalícia - o que já é comum nos planos PGBL ou VGBL no Brasil.

A hipoteca reversa constitui mecanismo natural de alavancar o consumo dos idosos. Muitas pessoas em idade avançada detêm grande parte de sua riqueza financeira na forma do imóvel em que moram. Dadas as características atuais do mercado imobiliário brasileiro, esse patrimônio acumulado é ilíquido caso se faça a opção por continuar a residir nele.

Mas para que esta modalidade de negócio entre em operação no país é essencial que seja definido o marco legal. Em primeiro lugar, a ausência de características regulatórias bem definidas levará a disputas judiciais que tornarão a atividade extremamente onerosa. Em segundo lugar, o marco legal terá que definir as especificidades dos títulos de dívida que financiarão o mercado de hipoteca reversa. Junto a isso, faz-se necessário o surgimento de mercado de seguros específico para hipoteca reversa capaz de abarcar os riscos inerentes a esse produto.

Com a hipoteca reversa é possível transformar o ativo imobiliário em renda para os idosos e resolver um grave e silencioso problema social. Para que esse instrumento útil e moderno tenha sucesso no Brasil é fundamental que haja um esforço coordenado entre o poder público e os órgãos reguladores do mercado de capitais brasileiro.

VINICIUS TORRES FREIRE - Mais esparadrapo na Europa


Mais esparadrapo na Europa
VINICIUS TORRES FREIRE 
FOLHA DE SP - 16/09/11

BC Europeu põe uma colher de água fria no balde da fervura da crise, que ainda piora, sem solução à vista



A PIORA contínua da crise europeia fica apenas mais evidente a cada atitude desesperada para remediá-la, dessas que causam "alívio nos mercados", uma bobice que a gente lê e ouve quando as Bolsas dão uma subidinha de uns dias.
A coisa está tão feia que até a liberal revista britânica "The Economist" sugeria, em sua edição semanal publicada ontem, que: 1) É preciso reconhecer logo que a Grécia quebrou; 2) Isso feito, é preciso que os governos cubram as perdas de bancos com o calote grego e seus reflexos (perdas) com dívidas de outros países quase quebrados (Portugal) ou "ilíquidos" (como Itália).
O "alívio" de ontem veio apenas de uma aplicação rápida de esparadrapo na sangria. O Banco Central Europeu (BCE) combinou com seus confrades americano, britânico, suíço e japonês de arrumar uma linha de empréstimo em dólares para os bancos europeus.
Os bancos europeus estão curtos de dinheiro em dólar porque fundos e bancos americanos não querem emprestar nada além do curto prazo. Não querem porque temem quebras de bancos na Europa, expostos que estão a empréstimos para governos europeus, alguns dos quais jamais verão de volta.
Esclareça-se, óbvio, que bancos europeus precisam de dólares para fazer negócios "ultramarinos" e porque têm, claro, passivos em dólares.
Acrescente-se ainda que não são apenas os americanos que desconfiam de seus pares europeus. A taxa de empréstimos interbancários na Europa está no nível caro e crítico de abril de 2009, quando ainda se sentia o pavor da quebradeira de bancos nos Estados Unidos, intensa em 2008.
A reaplicação do esparadrapo bancário (houve outra em maio) segue-se ao retorno do BCE às compras de títulos da dívida de Itália e Espanha, em agosto. Isto é, o BCE empresta dinheiro a esses governos, baixando o custo médio da dívida deles.
Sem o BCE, o custo dos empréstimos italianos e espanhóis subiria a ponto de levar tais países da situação dita de "iliquidez" (falta temporária de dinheiro) para a de risco de insolvência (o custo da dívida sobe muito mais que a receita de impostos, em baixa devido à quase recessão de agora): de quebra.
Tudo isso é esparadrapo porque a eurolândia não sabe o que fazer com o fato de a Grécia não ter como pagar a dívida. O "aperto dos cintos" (gastos) gregos produziu apenas mais recessão e incapacidade de gerar receita. Sem receber a parcela deste mês do fundo de empréstimos europeu para países semiquebrados, a Grécia não terá como pagar as contas de outubro.
Enquanto isso não se resolve, enquanto permanece o risco de um calote desordenado grego, permanecem também as tensões no financiamento dos bancos e dos governos mais endividados. O que ajuda a reduzir a confiança e o crescimento na Europa e no resto do mundo. O que piora as contas dos governos.
Há boatos de que, no próximo final de semana, europeus e americanos possam discutir uma solução de verdade para esse tumulto. Pode ser, mas os europeus, Alemanha à frente, terão de deixar de lado pruridos e a desconversa que vêm desde dezembro de 2009 sobre a crise da dívida periférica europeia: assumir o calote e outras heterodoxias.

RODOLFO LANDIM - Brasil não precisa quebrar contratos


Brasil não precisa quebrar contratos
RODOLFO LANDIM 
FOLHA DE SP - 16/09/11

O discurso 'nunca vi tanta ilegalidade' só é aplicável se for contra o Estado; contra o contribuinte, é perdoável



Desde o ano passado, o Brasil vive algumas indefinições no setor do petróleo que certamente afetarão seu futuro. Os leilões das áreas para exploração vêm sendo adiados por seguidas vezes, e a parte do marco regulatório que disporá sobre a carga de impostos incidente nos futuros contratos do pré-sal continua sem conclusão.
Mas pelo menos até recentemente não se ouvia falar de quebra dos contratos já celebrados entre a ANP e as companhias operadoras. Esse tema é ainda mais delicado não só pelos efeitos nefastos que a ameaça traz para o valor e a saúde financeira das petroleiras brasileiras, notadamente a Petrobras, como para a credibilidade do país perante os investidores de todo o mundo.
A discussão do novo marco regulatório do pré-sal incluiu o debate sobre a fórmula de divisão dos tributos a serem arrecadados. Mas o governo federal acabou perdendo o controle da situação e, em meio às negociações, as bancadas no Congresso dos Estados não produtores aprovaram uma lei que redistribuía o valor dos royalties hoje arrecadados, de acordo com os critérios do fundo de participação, sem privilegiar os Estados e os municípios produtores.
A decisão, que chegou a levar o governador do Rio de Janeiro às lágrimas em março do ano passado, contou também com o justo repúdio de representantes de São Paulo e do Espírito Santo, Estados igualmente punidos com a medida.
Afinal, tanto pelo lado moral como legal, a decisão foi altamente questionável, inclusive tendo a lei sido vetada pelo ex-presidente Lula. A alegação era a de que ela não poderia alterar o que já estava em vigor, e as modificações somente seriam válidas para áreas que ainda viessem a ser licitadas pela ANP.
Além disso, caso fosse aplicada, a lei causaria desequilíbrio econômico-financeiro ao Rio de Janeiro. O Congresso deverá voltar a apreciar o assunto até o final da primeira semana de outubro, e a ameaça de que o veto presidencial seja derrubado continua pairando no ar. Até agora não se chegou a nenhum acordo quanto à repartição dos recursos atualmente arrecadados. Recentemente, foi iniciada uma articulação política liderada pelo governador do Rio de Janeiro para a aprovação de uma medida que aumente a carga de tributos sobre a produção de petróleo através da majoração da participação especial, taxação aplicável a campos com grandes produções.
Alega-se que, para isso, não seria necessário modificar nenhuma lei, já que as faixas de contribuição de participação especial foram estabelecidas por decreto presidencial.
Bastaria então modificar o decreto e, de forma simples, mais recursos poderiam ser arrecadados e destinados a sanar a insaciável ganância dos Estados não produtores.
Salta aos olhos de quem conhece o setor que, caso seja aprovada, a medida se transformará numa indiscutível quebra dos contratos de concessão já assinados, além de colocar uma enorme interrogação, pelo menos na mente dos agentes dessa indústria, sobre o que mais poderá ocorrer no futuro.
Isso porque no anexo 6, parte integrante dos referidos contratos que dispõem sobre Participações Governamentais, é dito que "o concessionário pagará participação especial no montante definido no decreto nº 2.705, de 3 de agosto de 1988."
Nunca é demais lembrar também que a resolução nº 6, de 8 de novembro de 2007, do Conselho Nacional de Política Energética, que iniciou toda a discussão sobre o novo marco regulatório do pré-sal, estabeleceu, em seu artigo 3º, "determinar a rigorosa observação dos direitos adquiridos e atos jurídicos perfeitos, relativos às áreas concedidas ou arrematadas em leilões da ANP"; o artigo 4º definiu, como diretriz, o respeito aos contratos em vigor.
É curioso que a ideia tenha partido logo do Rio de Janeiro, pois pode parecer que o discurso "nunca vi tanta ilegalidade" só é aplicável se for contra o Estado; caso seja contra o contribuinte, é perdoável.
A sociedade brasileira precisa continuar a evoluir e seus representantes devem olhar para a frente em vez de buscar suas soluções nos que estão ao lado ou olhando para o espelho retrovisor.

MILTON HATOUM - Lições de uma inglesa


Lições de uma inglesa
MILTON HATOUM
O Estado de S.Paulo - 16/09/11

Na minha juventude, dois viajantes britânicos eram escolhidos como temas de discussão pelo professor de História. Nessa escolha havia um pressuposto moral. O primeiro viajante era o naturalista, biólogo e geógrafo Alfred Russel Wallace, que fez pesquisas científicas na Amazônia, entre 1848 e 1852. Charles Darwin era amigo de Wallace, e ambos descobriram ao mesmo tempo a teoria da evolução das espécies, mas Wallace nunca alcançou a fama de Darwin. Nosso professor do ginásio amazonense queria reparar uma injustiça da história da ciência, e sempre falava de Wallace com admiração. Mas o outro viajante, dizia o mestre, foi um dos maiores ladrões do século 19.

De fato, o fracassado botânico Henry Wickham foi um famoso impostor, que bem podia constar na História Universal da Infâmia, de Jorge Luis Borges. Em 1876, Wickham contrabandeou 70 mil sementes da hevea brasiliensis para o Reino Unido; as sementes roubadas foram colocadas em estufas num Jardim Botânico de Londres e, meses depois, as mudas das seringueiras brasileiras foram plantadas na Malásia. Em menos de 40 anos, esse ato patriótico de um súdito da rainha Vitória aniquilou a economia da Amazônia.

Há britânicos e britânicos que passaram pela região amazônica. Na minha memória há, sobretudo, uma inglesa, que não foi uma cientista ilustre, muito menos uma contrabandista. Foi apenas minha professora, mas isso teve algum significado para um moleque de 13 anos.

Refiro-me a uma ruiva inesquecível: Jane C. Hern. Às 16h40 das quartas e sextas-feiras eu caminhava por uma rua sombreada por acácias e mangueiras, parava na calçada de uma mansão amarela e avistava a mulher ruiva aguando as delicadas flores de seu jardim inglês, um jardim que se revoltava durante as chuvas torrenciais até readquirir a aparência de um exuberante quintal amazônico. Jane fechava a torneira, enrolava a mangueira e vinha me receber com um sorriso aberto e iluminado, e não um simples ricto.

Hoje, penso que a estreita convivência com os amazonenses mudara o sorriso e os trejeitos de Jane. Acho que mudara também outras coisas, mais íntimas. Mas em 1965, a reflexão sobre essa mudança moral nem passava pela minha cabeça.

A professora me convidava para entrar na sala, e os minutos que antecediam a aula eram a minha glória. Podia observá-la da cabeça aos pés e imaginá-la na piscina da mansão, sem o marido, que eu vi de longe uma única vez. Ele era o gerente de um banco britânico que existia desde a época do pirata H. Wickham, e até mesmo do injustamente esquecido A.R. Wallace. Quando Jane ficava de costas para mim, fingindo consultar um livro na estante, eu contava as pintas na pele rosada e sem rugas, quase um milagre no sol do Equador. Ou não era milagre, e sim o olhar turvo de um curumim encantado pela beleza ruiva. Enquanto o tempo passava, mrs. Hern, indiferente à pontualidade britânica, continuava a exibir as costas e os ombros nus. Ela era uma vítima feliz de um outro tempo, lerdo e arrastado, tão amazônico. Em algum momento, bem depois das 4, Jane se sentava à mesa, colocava a mão no meu braço e perguntava em inglês se eu havia lido um dos capítulos do romance. Referia-se ao Treasure"s island, que eu lia em casa e depois relia durante a aula. Esse romance me fascinava, mas eu não buscava exatamente o tesouro escondido por Flint, e sim um outro: a própria Jane de corpo e alma, mais corpo que alma, pois meu ser, naquelas tardes mornas, era mais carnívoro que platônico.

Mesmo assim, li com prazer o romance de Stevenson, esse arquiteto de tramas fantásticas, que encontrou seu paraíso em Samoa, bem longe de Londres e de sua Escócia natal. Agora, ao reler A Ilha do Tesouro, recordo meus encontros com uma mulher de 43 anos, que Manaus ia transformando lentamente numa cabocla inglesa.

Não sei em qual hemisfério ela vive; talvez já nem esteja neste mundo. De qualquer modo, Jane Constable Hern está viva na minha memória, esse vasto rio sem margens.

ANCELMO GOIS - HISTÓRIA DO BRASIL


HISTÓRIA DO BRASIL 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 16/09/11

Vem aí uma ambiciosa coleção sobre a História brasileira, iniciativa conjunta da Editora Objetiva e da Fundação Mapfre.
Chama-se História do Brasil Nação: 1808 – 2010 e terá seis volumes. 

SUPERTIME 
A direção geral do projeto é de Lilia Schwarcz. A historiadora reuniu 30 autores, entre os quais Alberto da Costa e Silva, José Murilo de Carvalho, Jorge Caldeira, Alfredo Bosi, Gustavo Franco e Paul Singer.

BONDES DE LISBOA 
Cabral fechou um acordo com a Carris – Transportes Públicos Lisboa – que dará assistência técnica na recuperação dos bondes de Santa Teresa, no Rio.

SATÉLITES 
O brigadeiro Reginaldo dos Santos, reitor do InstitutoTecnológico da Aeronáutica (ITA), vai ser o novo presidente da binacional ACS (Alcântara Cyclone Space).
Trata-se de uma empresa que reúne Brasil e Ucrânia, com o objetivo de lançar satélites comerciais a partir da base de Alcântara (MA).

NO MAIS... 
Sarney, o responsável pela nomeação dos ministros das Minas e Energia e do Turismo, iria morrer de fome, acho, se resolvesse abrir uma empresa de headhunter, aqueles profissionais que caçam talentos no mercado.
Com todo o respeito.

SAGA ELETRÔNICA 
O best-seller Saga Brasileira – A longa luta de um povo por sua moeda, da coleguinha Míriam Leitão, que saiu há quatro meses pela Record, acaba de ganhar a versão eletrônica.
Está à venda nas livrarias digitais da Cultura e da Saraiva.

XUXA E AS BATATAS 
As embalagens do novo DVD de Xuxa são biodegradáveis, feitas com cascas de batata. É que o meio ambiente é o tema de seu novo trabalho.

ROCK IN RIO 
Uma cabine vermelha, parecida com os telefones londrinos, permitirá que o público do Rock in Rio toque uma guitarra imaginária, registre a performance em vídeo e a compartilhe com o mundo por meio das redes sociais.
Graças à tecnologia, os movimentos das mãos dos usuários vão gerar sons para valer.

CRIME E PRECONCEITO 
Alguém com falta do que fazer criou, este mês, uma comunidade no Orkut para ameaçar o deputado Jean Wyllys.
No site de relacionamentos, o sujeito desfila pensamentos homofóbicos e discute formas para matar o político por ele ser gay.

BIG BROTHER DO FLA 
As obras do CT do Flamengo podem ser acompanhadas em tempo real pelo site do clube.

A VOLTA DA VASSOURA 
A ONG Rio de Paz aderiu ao ato contra a corrupção, terça, às 18 horas, na Cinelândia, no Rio.
Segunda, a Praia de Copacabana amanhecerá com 594 vassouras verde-amarelas enterradas na areia, representando os deputados e senadores, além da faixa “Congresso Nacional, ajude a varrer a corrupção do Brasil”.

PARA CONCLUIR 
Tudo a favor da causa e da ONG Rio da Paz. Mas vassoura lembra Jânio e seu desapego pela democracia e pelo dinheiro público.

ILIMAR FRANCO - Desburocratização


Desburocratização
ILIMAR FRANCO  
O Globo - 16/09/2011

Quando retornar dos Estados Unidos, dia 23, a presidente Dilma vai baixar uma portaria unificando as exigências para os municípios na assinatura de convênios com os ministérios. Editará também um decreto que simplificará o rito de liberação de recursos para obras mais baratas. Nesses casos, 50% da verba serão liberados na assinatura do convênio. Falta a presidente decidir a linha de corte. São duas as opções: R$500 mil e R$1 milhão.

Na sintonia
O novo ministro do Turismo, Gastão Vieira, não brinca. Ele pediu à presidente Dilma que escolha o secretário-executivo da pasta. O Planalto pretende indicar um nome dos quadros técnicos da área econômica do governo federal.

Alinhada
A procuradora eleitoral, Sandra Cureau, adotou a tese do DEM ao se manifestar ontem sobre o pedido de registro do PSD. Ela sustentou que há 197 mil assinaturas que não passaram pela certificação dos Tribunais Regionais Eleitorais. Sem elas, o PSD não alcançaria o mínimo necessário: 482 mil assinaturas. O partido certificou 340 mil assinaturas em 22 TREs e apresentou aquelas 197 mil diretamente ao TSE.

Acabei de dizer ao ministro Lobão que não aceito a proposta do governo federal" - Sérgio Cabral, governador do Rio, ontem às 19h49m, no Twitter, sobre a nova proposta do governo federal sobre os royalties

Mudança de tática
Os senadores do Rio mudaram a tática na luta no Congresso pela divisão dos royalties do petróleo. Eles não confiam tanto no governo federal e preferem se articular com os estados. Avaliam que o governo estadual errou, na primeira fase, ao se colocar na dependência do ex-presidente Lula. Agora, dão preferência pelo diálogo com os estados não produtores para que a União e a Petrobras paguem a conta.

Pesquisa
O cientista político Antonio Lavareda entregou ontem ao presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), e ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) pesquisa nacional com um retrato do PSDB, do governo Dilma e da corrupção no país.

A reação
A proposta da União sobre os royalties reduz as receitas do Rio nas áreas já licitadas. O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) diz que isso é agressão: "Vítima de violência, a pessoa pode ser, mas, conivente, ninguém tem o direito de ser."

Não se esqueçam
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) está fazendo gestões junto à direção dos tucanos. Ele quer que o ex-governador José Serra seja convidado para um encontro de governadores que o partido fará na próxima semana.

O grande derrotado da noite
O líder do PMDB e candidato à presidência da Câmara, Henrique Alves (RN), levou a pior na escolha do novo ministro do Turismo. Seu candidato era Marcelo Castro (PMDB-PI), defenestrado porque assumiria tendo que se defender de acusações de desvios no Dnit. Sua segunda opção, Manoel Junior (PMDB-PB), também dançou porque teria de dar explicações sobre suposto envolvimento com pistolagem. Ele também vetou, alegando que não tinham mandato, um dos críticos de sua atuação, o ministro Moreira Franco (Assuntos Estratégicos) e o vice da Caixa, Geddel Vieira Lima, que faz oposição ao governador Jaques Wagner (PT-BA).

A MINISTRA Ideli Salvatti (Relações Institucionais) está irritada com o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ). Ele derrubou sessão do Congresso, alegando que a Câmara não vota a anistia para os bombeiros.

ABATIDO. O vice Michel Temer não vai à posse de Gastão Vieira (PMDB) no Ministério do Turismo. Está em São Paulo fazendo exames e consultas médicas.

A ASSESSORIA do governador do Rio registra: "O governador Sérgio Cabral jamais ligou para o ex-presidente Lula para fazer queixa da relação da presidenta Dilma com qualquer pessoa. Muito menos com o governador de São Paulo".

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Micro e pequenas indústrias começam a demitir em SP 
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 16/09/11

As micro e pequenas indústrias do Estado de São Paulo começaram a demitir, segundo o Simpi-SP (sindicato do setor). Levantamento da entidade aponta que, entre 400 empresas consultadas com até 50 funcionários, 55 precisaram demitir no último ano. O número de postos de trabalho sacrificados supera os 400, de acordo com Joseph Couri, presidente do sindicato, que atribui a crise à concorrência desleal de produtos importados.

"Isso dá entre sete e oito funcionários demitidos por empresa", afirma. Mais de 40% dos empresários citaram práticas desleais de concorrência. "E não estou falando só de China", diz. Entre as que ainda não começaram a dispensar trabalhadores, 70 tinham possibilidade de contratação, mas abandonaram os planos. "Na crise de 2008, foram as micro, pequenas e médias empresas que mantiveram e geraram empregos enquanto as grandes demitiam, frente ao cenário globalizado."

Couri afirma que "se quem gerou começa agora a demitir, isso significa que o governo deve se preocupar". O estudo também indica que o peso da folha de pagamento no total de despesas das empresas consultadas ficou em 27,7% em média e que 33% buscaram financiamento no último ano.

Brasil é o quarto país em adoção de medidas restritivas do G20
O Brasil é o quarto país do G20 que mais adota medidas restritivas contra produtos de outros membros do grupo, de acordo com dados do GTA (Global Trade Alert).

O governo brasileiro mantém 38 ações que impedem o livre comércio na organização, formada por 19 países e a União Europeia. Além do Brasil, Rússia, Índia e China também estão entre os seis países que mais implementam medidas restritivas no grupo. A Argentina lidera a lista com 95 ações contra o livre comércio.

O Japão, por sua vez, é o país que impõe menos barreiras. Há em vigor apenas oito decisões desse tipo do governo japonês, segundo o GTA. Entre as principais medidas restritivas adotadas estão aumento de impostos, boicote à compra de alguns produtos e condições impostas para beneficiar empresas locais.

Competitividade
Inovação e competitividade no Brasil e nos Estados Unidos serão discutidos em Washington, em conferência nos dias 19 e 20. Entre os temas, está a informática na área de saúde. Os debates, que envolverão empresários, autoridades de governo e membros da comunidade acadêmica, serão promovidos pelo MBC (Movimento Brasil Competitivo), pela ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e pelo CoC (Conselho de Competitividade). Os resultados do encontro prepararão o 13º Laboratório de Aprendizagem e Inovação, nos dias 17 e 18 de novembro, em Porto Alegre (RS), com a presença de Deborah Wince-Smith, presidente do CoC.

Aço em módulos
A espanhola Azespacio, especializada em módulos habitacionais pré-fabricados, vai abrir operação no Brasil, para fornecer aos setores de construção, mineração e petróleo. Os módulos, de aço galvanizado, são usados em obras, como escritórios, alojamentos etc. As operações no mercado brasileiro ainda não começaram, segundo Januário Fabrim, responsável pela operação da empresa no país, que, a partir daqui, já começou a realizar vendas para a empresa em América Central, Caribe e África. O início do funcionamento da fábrica, que deve ser instalada em São Paulo, está previsto para 2012. "Também pretendo homologar o produto para fornecer casas de aço prontas para o Minha Casa, Minha Vida." Além do Brasil, a demanda está forte em países como Peru, Chile, Colômbia, Panamá e Angola.

ALON FEUERWERKER - A resposta é "nada"



A resposta é "nada"
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 16/09/11



O episódio lança de novo no turbilhão um nome do PMDB, e servirá portanto para a volta da ladainha da "despeemedebização". É o canto de sereia que periodicamente assoma para nos convencer da maravilha que seria o Brasil caso o multipartidarismo fosse reduzido a um bipartidarismo, restrito ao PT e ao PSDB.

A troca no Ministério do Turismo reacende pela enésima vez o debate sobre o presidencialismo de coalizão. Que voltará a receber todo tipo de crítica, ataque, desprezo. Haverá novamente a condenação unânime do "modelo fisiológico". 
Sem que se saiba exatamente o que seria um "modelo ideológico". 
É bastante provável que o episódio coloque mais uns pesinhos na balança, no prato da reforma política. A eterna panaceia, a pomada milagrosa. 
Aí o cidadão comum poderia parar um instante os afazeres e perguntar: 
"Afinal, o que o presidencialismo de coalizão tem a ver com o ministro comportar-se de maneira considerada inadequada pela opinião pública?" 
E o que tem a ver o sistema eleitoral com a circunstância de uma autoridade cometer atos que a lei proíbe? 
São perguntas simples, mas de vez em quando é preciso dar ao senso comum a oportunidade de ajudar a clarear o cenário. Neste caso, a resposta imediata para ambas as questões do parágrafo anterior é "nada". 
Problemas com ministros acontecem nos mais diversos sistemas. E, feliz ou infelizmente, não há como governar sem apoio político. 
Mas o que quer dizer "apoio político"? O que os jornalistas afirmam quando relatam que certo indivíduo, grupo ou partido está atrás de "espaço"? Não é, obviamente, a busca por instalações mais amplas, arejadas, iluminadas. 
É a ambição de poder nomear, demitir, executar o orçamento. Com o objetivo explícito de alavancar a reprodução do próprio poder. A partir da articulação entre interesses privados e políticas públicas. 
Pois políticos que detêm poder pensam antes de tudo em como reproduzi-lo e acumular mais. Essa também é uma regra geral. Vale sempre. Em qualquer lugar do mundo. 
Eis aí o virtuosismo dos sistemas permeáveis ao surgimento de novas opções políticas. É o estado saudável das coisas. Mas o Brasil teima em procurar no lugar errado a raiz das encrencas. 
O episódio lança de novo no turbilhão um nome do PMDB e servirá portanto para a volta da ladainha da "despeemedebização". É o canto de sereia que periodicamente assoma para nos convencer da maravilha que seria o Brasil caso o multipartidarismo fosse reduzido a um bipartidarismo, restrito ao PT e ao PSDB. 
Se bem que a sereia anda meio rouca, desde que petistas e peessedebistas se descobriram inimigos figadais, de uns anos para cá. 
E agora cada um trata de convencer a sociedade de que o outro sucumbiu ao pântano que, no nascedouro, ambos prometiam drenar. 
Sempre haverá quem caia nessa. 
A sociedade anda cada vez mais intolerante a malfeitos. Isso é muito bom. E a sociedade parece compreender crescentemente que não há ninguém imune, que nenhum partido carrega a pureza no DNA. O que é ótimo. 
E também que o sucesso no combate ao mau uso do dinheiro público será função principalmente do ativismo social e da presença de uma oposição firme e fiscalizadora. Que reduzam o grau de liberdade dos governos. 
O segundo quesito vai mais ou menos, mas o primeiro pode compensar. E esse ativismo poupará seu próprio tempo se sabiamente deixar de lado irrelevâncias como por exemplo o estado de origem do novo ministro do Turismo. 

Fazendo contasO deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG) fez as contas. O setor público no Brasil investe por ano na Saúde cerca de 430 dólares per capita. Uns 150 bilhões de reais no total. 
Para dobrar o investimento e chegar, por exemplo, aos mais de 800 dólares que a Argentina gasta por habitante, o Estado brasileiro precisaria achar o mesmo tanto, mais 150 bilhões de reais para a Saúde. 
Quando a CPMF morreu, arrecadava uns 40 bilhões de reais. A nova CSS (Contribuição Social para a Saúde) tem arrecadação prevista de no máximo R$ 15 bilhões. 
Ou seja, a CSS poderá servir para algumas coisas, menos para resolver o problema do financiamento à saúde.

BARBARA GANCIA - Sai do armário, Sócrates!


Sai do armário, Sócrates!
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 16/09/11 

Assumir responsabilidade social acaba saindo mais barato do que varrer lixo para baixo do tapete


TRAÇO TÃO característico, quem acha que tem a perder se preocupa sobremaneira em manter saúde e aparência.
Nestes dias, Paulo Maluf não andou, enxutérrimo, aproveitando a comemoração de seus 80 anos na Sala São Paulo para dar dicas sobre forma física?
Como se a Justiça norte-americana não andasse atrás dele da mesma forma que um dia caçou Al Capone, Maluf entreteve o governador Alckmin com anedotas sobre seu bem-estar.
Quando Geraldão lembrou que, na época do Covas, Maluf lhe receitou pílulas caseiras, o ex-prefeito sacou do bolso uma caixinha contendo várias cápsulas. "Essa é de óleo de peixe de águas frias. Essa, de alho. As outras são para afinar o sangue, essa para as juntas. Essa é a fórmula de chegar aos 80 anos com saúde de 30."
É extraordinário que o governador não tenha se animado a interromper relato tão rico para perguntar ao anfitrião quem estava pagando pelo cachê do pianista da noite, o importante Arnaldo Cohen, ou para indagar aos seus botões o que a mais alta autoridade do Estado estava fazendo na festa de alguém que tem os bens bloqueados pela Justiça.
O que vem ao caso aqui hoje é o zelo com a saúde, então eu deixo de lado o regabofe do Maluf e me ponho a pensar no que anima o Sarney a continuar hidratando, aparando e colorindo aquele bigodão. Pois é, sempre o Sarney. Quem manda virar símbolo feito o rinoceronte Cacareco?
Enquanto isso, um atleta como o Sócrates, que deveria viver desfrutando de glórias, esteve em coma induzido depois de desperdiçar uma vida brilhante.
Não faz o menor sentido uma pessoa tão gentil se perder desta forma. Se ainda estivéssemos falando do Garrincha, que viveu a cilada de pertencer a uma geração que encarava o alcoolismo como loucura.
Mas estamos tratando do ultra-articulado, superesclarecido doutor Sócrates da hipermoderna democracia corintiana. Como podemos aceitar uma tragédia destas?
A doença do alcoolismo é traiçoeira e não basta ser esclarecido para combatê-la. Vi uma entrevista de Sócrates na TV em que ele dizia que tinha sido alcoólatra, mas que havia superado o problema.
Pareceu-me cena de filme do Buñuel.
Até entendo querer dispor da vida, mas que tipo de mensagem estará enviando aos bebedores problemáticos que o admiram? Como pode o sujeito com 30 anos de balcão de bar não saber que, uma vez alcoólatra, será sempre alcoólatra? Sócrates lembra o Roberto Carlos. Sujeito é deficiente físico e, em vez de sair do armário e mostrar que diversidade é OK, fica escondendo a perna mecânica e ainda chega ao cúmulo de processar quem ousa falar dela. Pelo amor de Deus, senhores! Desse jeito, até o Maluf vai parecer mais progressista!
Nestes dias, a Ambev lançou uma megacampanha para desencorajar menores a comprar e a ingerir bebidas alcoólicas. Eu estava na plateia e cheguei a me emocionar quando vi o Sófocles, irmão do Sócrates, subir ao palco para falar do projeto social do Raí. Você pode dizer que é malandragem da indústria, alegar que eu fui seduzida ou que sou uma capadócia. Eu responderei que assumir o custo da responsabilidade social acaba saindo mais barato do que varrer o lixo para baixo do tapete. A indústria do cigarro está aí para não me deixar mentir. Só falta agora que os ídolos se animem a sair do armário.

MOISÉS NAÍM - Como sair desta enrascada?


Como sair desta enrascada?
MOISÉS NAÍM
FOLHA DE SP - 16/09/11

Austeridade é tão familiar a europeus hoje como aos latino-americanos, russos e asiáticos nos anos 1990


NINGUÉM SABE como vão evoluir as convulsões que estão transformando as economias europeias. Mas, num momento em que é tão difícil prever o que está por vir, é útil recorrer à história.
A análise de grande número de crises desse tipo em países diversos permitiu à economista Carmen Reinhart identificar as cinco táticas mais comuns que já foram usadas por países altamente endividados para reduzir suas dívidas.
1. Crescer. Trata-se de ir saindo do problema, ampliando a economia. À medida que esta cresce, aumentam as receitas fiscais e diminui a dívida como proporção do tamanho da economia. Muitos países já o tentaram; poucos conseguiram.
2. Deixar de pagar. Em linguagem mais técnica, é moratória, cessão de pagamentos, reestruturação da dívida, "default" ou "Plano Brady". Consiste, na prática, em que os países notifiquem a seus credores que lhes pagarão menos que o que lhes devem e que o farão em um prazo maior que com o qual se comprometeram inicialmente.
Reinhart descobriu que, desde sua independência, em 1832, a Grécia esteve em moratória 48% do tempo. A Argentina é usuária frequente dessa tática.
3. Austeridade. Esse é um tema tão dolorosamente familiar para os europeus, hoje, quanto foi nos anos 1990 para latino-americanos, russos e asiáticos. Implica em draconianos cortes nos gastos públicos, tanto nos gastos supérfluos como nos que não o são tanto. Reduz a dívida, mas também leva manifestantes às ruas e, às vezes, derruba governos.
4. Inflação. Quando aumentam os preços, o valor da dívida nessa moeda diminui tanto quanto a taxa de inflação. A inflação é ruim para a economia, especialmente para os assalariados, e alivia o problema do endividamento de uma maneira menos politicamente estridente. Mas não resolve o problema do endividamento em outras moedas.
5. Repressão financeira. Acontece quando os governos tomam medidas que canalizam para eles recursos que, de outro modo, seriam destinados a outras finalidades ou sairiam da economia.
O arsenal que inclui essas medidas é diversificado, tentador, perigoso e... frequentemente utilizado.
Inclui a imposição de limites aos juros pagos pelo governo, a obrigação dos bancos usarem dívida pública como parte de suas reservas, a estatização do sistema bancário ou parte dele ou a imposição de controles ao livre fluxo internacional de capitais. Soa extremo, e é.
Mas esteve na moda nos países menos desenvolvidos entre os anos 1960 e 1980. Carmen Reinhart, que suspeita que possa vir outro auge de medidas desse tipo, recorda que elas também foram comuns nos EUA e outros países desenvolvidos entre 1945 e 1980 e que foram críticas para ajudar a "liquidar" as dívidas acumuladas na 2ª Guerra Mundial.
É evidente que nenhuma destas cinco táticas exclui as demais; em especial, a inflação e a repressão financeira frequentemente se acompanham. Em meio à confusão, este esquema ajuda a entender muitas das notícias que nos estarão chegando da Europa.
@moisesnaim

Tradução de CLARA ALLAIN

RUY CASTRO - Fiasco


Fiasco
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 16/09/11

RIO DE JANEIRO - Nove entre dez mesas de debates na recente Bienal do Livro discutiram, em certo momento, a questão: o e-book -ou o livro digital, ou "as novas mídias"- vai acabar com o livro impresso? Nem a velha pergunta "Quem somos, de onde viemos, para onde vamos?", nem a formulação de Freud "Afinal, o que querem as mulheres?", nem o terceiro segredo de Fátima interessou tanto nos últimos cem anos. Parece que não chegaremos a 2012 se alguém não der uma resposta a isto.
Dito assim, tem-se a impressão de que as massas estão se organizando em batalhões e comprando mais e-books do que a indústria editorial está sendo capaz de produzir. Que, nos aviões, ônibus, metrôs, praias e cabeceiras, não se veem mais livros de papel na mão das pessoas, só tablets. E que os e-books estão disparando nas listas de livros mais vendidos.
Na verdade, não é assim -não no Brasil. As maiores editoras brasileiras, levadas pelo que parecia ser uma tendência incontornável, fizeram enormes investimentos e, de um ano para cá, "disponibilizaram" centenas de títulos nesse formato. E como vão de vendas? Uma supereditora já vendeu 70 exemplares dessas centenas. Não 70 exemplares de cada título, mas 70 no total. E há outras no mesmo caso. Donde inúmeros títulos estão há meses à míngua de um único leitor. Todo mundo fala e quer saber, mas ninguém compra.
Mas, nos EUA, todo mundo está aderindo ao e-book -dirá você. Sim, é o que afirma a Amazon, pai e mãe do brinquedo e principal interessada em que o mundo arrase em e-books. Só faltou combinar com o resto do planeta. Os números que a Amazon apregoa não batem com os dos livreiros brasileiros, que se sentem mais próximos dos números de venda de e-books na Europa -que também falam de um fiasco.
O e-book é um sucesso. Só não tem leitores, nem compradores.

PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA - 80 é demais, não é?


80 é demais, não é?
PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
Correio Braziliense - 16/09/2011

Quando Dilma determinou que o PMDB teria de indicar um político ficha limpa para substituir Pedro Novais no Ministério do Turismo, foi um deus nos acuda. E a primeira reação do partido, que um dia o ex-ministro Ciro Gomes definiu como ajuntamento de assaltantes, foi cheia de simbolismo: pôs à disposição da presidente nada menos que 80 nomes. Por uma dessas ironias do destino, o número é exatamente o dobro da quadrilha do famoso conto Ali Babá e os 40 ladrões. É também duas vezes a quantidade de acusados, originalmente, no escândalo do mensalão. Grupo que o então procurador-geral da República descreveu como organização criminosa.

No fim, o partido fechou questão: o substituto seria o deputado federal Gastão Vieira, que é também maranhense e, assim como Novais, conta com a bênção do todo-poderoso presidente do Senado, José Sarney. A presidente sacramentou a indicação. Afinal, como já bem disse o então presidente Lula, "Sarney tem história no Brasil suficiente para não ser tratado como uma pessoa comum". Naquele dia, 17 de julho de 2009, o senador era alvo de denúncias no escândalo dos atos secretos do Senado. E veja só o que disse Lula na defesa do ilustre amigo: "Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias, porque ele não tem fim e depois não acontece nada".

É verdade que, durante os oito anos de governo, ou Lula dizia que não sabia de nada ou saía em proteção dos aliados sob suspeita. Com Dilma, o cenário mudou. Por causa de denúncias de corrupção, quatro ministros já foram mandados embora. Pedro Novais, talvez pelo padrinho forte, só caiu porque as lambanças eram tantas que a situação ficou insustentável. Dilma discorda da tese de que o antecessor lhe tenha deixado uma herança maldita. Mas, no Planalto, há muita gente com saudade do tempo em que nada acontecia quando os "malfeitos" vinham à tona e quando o culpado por tudo era sempre o mesmo: a imprensa.

MIRIAM LEITÃO - Custo invisível


Custo invisível
 MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 16/09/11

O caso do ex-ministro Pedro Novais é de um patrimonialismo bizarro: uma pessoa que acha que o Estado deve pagar o salário do motorista, da governanta, e as contas de festas em motel. É também revelador de que a corrupção e os equívocos da maneira de governar o Brasil estão virando um problema de grandes proporções. A corrupção é também um problema econômico.
A corrupção vai erodindo a confiança nas instituições, a qualidade do gasto público e a eficiência econômica. Quem quiser fornecer hoje para o Estado brasileiro - inclusive nas estatais - tem que ter na sua administração grupos especializados em saber como chegar a quantia certa à pessoa certa. Desta forma, toda a economia vai sendo contaminada: as empresas corrompem e se deixam corromper. Elas se organizam não pela eficiência, pelo baixo custo, pela qualidade na prestação do serviço, mas por fazer tráfico de influência e conceder mimos aos tomadores de decisão - como o jatinho, o helicóptero.
Não faz sucesso na empresa fornecedora de bens e serviços para o governo quem tenha uma ideia inovadora, mas sim quem sabe como ir lentamente quebrando as barreiras para construir laços com a autoridade de plantão. Numa empresa que queira vencer uma concorrência para uma obra ou um contrato no governo será mais valorizado o funcionário que sabe carregar e depositar a pasta do que quem se esforça para, no seu ofício, construir uma proposta realmente eficiente e de baixo custo.
O custo da corrupção é maior do que parece. Há um custo visível que se pode avaliar pelos constantes aditivos aos contratos, pelos pagamentos por obras não feitas, pelos recebimentos de dinheiro flagrados em tenebrosas gravações. Há também um custo intangível que é o de minar qualquer esforço pela eficiência nas empresas fornecedoras. E vamos entender que o governo é o maior comprador em qualquer país, portanto, sua capacidade de disseminação das más práticas é enorme. Se, ao contrário, a regra passa a ser a transparência, o controle dos gastos, a prestação de contas ao contribuinte haverá o efeito de propagar as boas práticas.
Em nove meses de governo, a presidente demitiu quatro dos cinco ministros que caíram, após uma série de denúncias. Novais não tem nada de novo, exceto estar na segunda fila da foto presidencial, depois de um quase strike na primeira fila. E se não houvesse as denúncias? Os ministros e os outros que deixaram seus cargos continuariam neles? Para que servem mesmo órgãos como a Controladoria-Geral ou a Comissão de Ética Pública se não forem para prevenir de alguma forma. Bastava uma olhadinha no currículo - ou prontuário - de alguns. Isso já pouparia uma parte do constrangimento da população e do governante.
Há casos que explodem após a revelação de um fato inesperado. No caso de Pedro Novais a presidente Dilma Rousseff poderia ter evitado o desgaste que viveu nos últimos dias. Era óbvio que ele não era o ministro certo. A revelação do envio da conta do motel para ser paga com o dinheiro da Câmara dos Deputados estourou antes da posse. Teria sido um ótimo motivo para a presidente não nomear um ministro que nunca demonstrou estar preparado para o desafio que está diante de nós no Turismo. O país tem grandes eventos em seu calendário e um gigantesco déficit na balança do turismo. Não apenas porque o dólar favorece as viagens internacionais dos brasileiros, mas porque o Brasil tem deficiências conhecidas em atrair e manter turistas estrangeiros que venham ao país. No ano passado, a Argentina teve aumento de 22% de turistas estrangeiros, nós, apenas 7,5%. A Grécia recebe um fluxo três vezes maior do que o nosso. O setor está claramente mal estruturado.
Mesmo sendo importante o setor não deveria ter ministério. País nenhum precisa de 38 ministérios e ficar aguardando a criação de mais um a qualquer momento. Não se resolve problemas criando instâncias burocráticas que são oferecidas aos políticos como protetorados. Os problemas são resolvidos quando há uma boa equipe de funcionários determinados a encontrar as soluções.
E por que mesmo é que o Turismo é propriedade do ex-presidente José Sarney? É um acinte ao país que este tenha sido o critério para escolha do novo ministro: o estado de nascimento. Nada contra o belo Maranhão; tudo contra o seu controle eterno por integrantes da oligarquia que, além de todos os seus defeitos, de congelar o estado num dos mais baixos níveis de desenvolvimento humano, tem por hábito nomear nulidades administrativas para cargos importantes. Se ainda fosse uma oligarquia de resultados, mas nem isso é.
Será que a presidente se dá conta de que esse "toma lá", sem sequer haver um "dá cá", em termos de compromisso na qualidade da gestão pelos nomeados, vai envelhecendo o governo antes da hora? O sentimento do contribuinte brasileiro é de exaustão com tanto caso de corrupção, com tanto imposto para pagar, com tanta ineficiência na oferta de serviços por parte do Estado.
Dessa exaustão pode sair uma força que modernize o Brasil. Ou não. O cidadão e a cidadã podem simplesmente não acreditar mais que valha a pena gastar tanto para manter essa estrutura de poder cara, corrompida e cada vez menos comprometida com o seu propósito original. Governos servem aos cidadãos e não o contrário. Em nome do povo o governo democrático é constituído. Isso parece que anda esquecido em Brasília.

NELSON MOTTA - Nomes próprios


Nomes próprios
NELSON MOTTA 
O Globo - 16/09/2011

Como expressão de afeto e intimidade, os apelidos dizem mais das pessoas do que seus próprios nomes. Como maledicência, às vezes geram obras-primas de humor e crítica social. O ex-deputado alagoano Cleto Falcão, que as más línguas diziam ser meio agatunado, foi apelidado de Clepto Falcão. E o ex-governador mineiro Hélio Garcia, que seria muito chegado aos copos, de Ébrio Garcia. Brasília gargalhou quando o baixinho Celso Amorim, por sua mania de grandeza, foi alcunhado de Megalonanico. No Paraná, todos sabem que o ex-governador Requião é chamado de Maria Louca, mas há controvérsias sobre a sua origem. Garotinho surrupiou o apelido de um famoso locutor esportivo carioca.

ACM alcunhou, com sucesso, Michel Temer de "mordomo de filme de terror". Grande mestre do uso político de apelidos, Brizola provocou gargalhadas e estragos eleitorais chamando Lula de "sapo barbudo", Moreira Franco de "gato angorá" e Collor de "filhote da ditadura". Em diálogos entre corruptos gravados pela PF, Sarney é chamado de "madre superiora". Faz sentido.

"Rei", só existem dois, Roberto Carlos e Pelé, e "Bruxo" também: Machado de Assis e Golbery do Couto e Silva. Como siglas, só três sobrevivem: JK, ACM e FHC.

Grandes craques têm sempre apelidos, Pelé, Zico, Tostão, Didi, Fenômeno, ninguém pode bater um bolão como Castro, Góis ou Motta. Dunga teve que superar o apelido ridículo para ser um campeão, assim como Pato e Ganso. Popó nocauteou Acelino. Fofão não seria uma estrela do vôlei como Hélia Pinto.

Tim teria o mesmo sucesso como Sebastião Maia? Cartola seria famoso como Angenor de Oliveira? Lulu Santos seria um popstar como Luiz Maurício? Ninguém imagina Lobão cantando, falando e fazendo o que faz se fosse só João Luiz. Gay e transgressivo, Cazuza não poderia ser um ídolo do rock como Agenor Araújo. Paulinho Boca de Cantor, Gato Félix, Bolacha e Baby Consuelo, batizada como Bernardete, só poderiam ser dos Novos Baianos.

Um dos apelidos recentes mais criativos é o aparentemente inofensivo Estebán, que é como a oposição venezuelana chama Hugo Chávez. É a abreviação de "este ban-dido".

LUIZ GARCIA - Varredura


Varredura
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 16/09/11

Em qualquer país, cuidar da saúde do povo custa caro. Se o dinheiro público é bem aplicado, o caro sai barato.
No Brasil, parece que não é bem assim. Aqui, pelo visto, o caro sai caríssimo. Um levantamento encomendado pelo Tribunal de Contas da União mostra que nos últimos nove anos sumiu pelo ralo - ou seja, ninguém sabe onde foi desaguar - um total de R$6,890 bilhões destinados aos 24 ministérios e à Presidência da República. E a saúde pública teria sido a campeã do sumiço: é citada como responsável por um terço do dinheiro sumido.
Sabe-se que, na maioria dos casos, o dinheiro foi desviado por prefeituras, secretarias de Saúde e clínicas e hospitais particulares contratados pelo Sistema Único de Saúde. Curiosamente, autoridades federais confessam que não têm esperanças de recuperar as verbas desaparecidas.
Em exemplo citado por uma procuradora da República, em 2004 autoridades federais descobriram que, num município maranhense de cem mil habitantes, os espertalhões botaram a mão em quase R$28 milhões (em dinheiro de hoje).
Uma porta-voz dos auditores do Sistema Único de Saúde diz que eles são poucos - cerca de 500, com metade em idade de aposentadoria - para dar resposta eficaz à ladroagem. Por isso, alegou, só são feitas auditorias por encomenda da presidente Dilma Rousseff; a pedido do Ministério Público, por exemplo, nem pensar. Não se imagina que esse curioso privilégio seja considerado satisfatório pela própria Dilma.
O Ministério da Saúde, por sua vez, afirmou em nota oficial que o dinheiro jogado fora em sua área representa parte insignificante de seu orçamento. Um leitor distraído poderia ver nesse argumento a defesa de um nível supostamente aceitável de incompetência na administração de verbas públicas.
Registre-se que seria grave injustiça tratar os problemas na área da Saúde como se fossem mancha isolada numa impecável máquina administrativa federal, estadual e municipal. Ela foi apenas a bola da vez numa tomada de contas que bateu no Tribunal de Contas. E a principal constatação nisso tudo não está no montante do dinheiro sumido ou mal usado, e sim no fato de que a situação da saúde foi severamente - e, espera-se, corretamente - investigada.
Agora, é esperar que a varredura aconteça em outros quintais da máquina pública.

MERVAL PEREIRA - Os royalties da discórdia


Os royalties da discórdia 
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 16/09/11

Os estados produtores de petróleo, especialmente Rio de Janeiro e Espírito Santo, com a adesão de São Paulo, estão reagindo à tentativa do governo federal de alterar a divisão dos royalties do petróleo mesmo nos campos já licitados. Isso reduziria a receita que já lhes pertence de direito nos campos do pós-sal em produção no modelo de concessão e nos do pré-sal já licitados também no regime de concessão, além de mudar a distribuição nos campos do pré-sal a serem licitados pelo novo sistema de partilha.
O governo começou com uma proposta que reduzia de 26% para 22% os royalties dos estados e impunha redução também grande aos municípios produtores, de 26,5% para 18%.
Ontem, diante da reação negativa, apresentou outra proposta, que reduz de 26% para 25% a participação dos estados, mas dá uma pancada grande nos municípios produtores, cuja participação cairia de 26,25% para 18% em 2012; 16% em 2013; 14% em 2014; ou seja, a cada ano os municípios teriam uma redução maior.
A contraproposta tem por base os ganhos extras que a União terá, tanto pela mudança de modelo de exploração quanto pelo aumento das reservas de petróleo no pré-sal, e redistribui as participações governamentais para os demais estados, ajudando inclusive no fortalecimento dos fundos de participação dos estados e dos municípios.
O primeiro prejuízo dos estados produtores foi, na mudança do sistema de concessão para o de partilha, o fim das participações especiais, que resultaram em 2010 em um ganho aproximado de R$6 bilhões para eles, montante que passou a ser um ganho adicional da União.
Além disso, houve a criação da Participação da Partilha de Produção, que será totalmente apropriada pela União.
A relação entre os estados estava muito boa nesse período de negociação, com o senador Wellington Dias, ex-governador do Piauí, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o governador de Sergipe, Marcelo Déda, negociando com os representantes dos estados produtores para achar um caminho.
Pelo Rio de Janeiro, os senadores Francisco Dornelles e Lindbergh Farias são os negociadores, e o senador Ricardo Ferraço atua pelo Espírito Santo.
O ambiente de hostilidade propiciado pela emenda Ibsen Pinheiro, que colocou estados não produtores contra os produtores, havia sido superado pela compreensão generalizada de que não ajuda a ninguém que esse assunto vá parar na Justiça, devendo chegar até ao Supremo Tribunal Federal.
A solução apresentada pelos estados produtores seria a revisão das alíquotas das participações especiais, que foram introduzidas no modelo de concessão para taxar campos de alta lucratividade e obter equilíbrio entre os ganhos empresariais e os da Nação.
As tabelas em vigor foram feitas em 1977-8, quando o preço do barril de petróleo estava a US$16, e a produção era muito menor. Hoje o barril de petróleo está acima de US$100, e as reservas brasileiras cresceram incrivelmente.
Simulações indicam que um aumento de 30% nas alíquotas, aplicado na produção atual, resultaria em mais R$3 bilhões de arrecadação.
Governos como os dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha estão fazendo esse mesmo movimento para aumentar a taxação das operadoras, devido ao aumento do preço do petróleo. A Venezuela fez um gatilho, quando o barril passa de US$60, há um aumento das participações especiais.
Esse era o caminho que não mexia nem nos estados produtores nem na União. A Petrobras reagiu, alegando que a solução significa quebra de contrato, e ameaçou entrar na Justiça.
Não há, no entanto, quebra de contrato porque, quando fala da participação especial, a legislação joga a percentagem para ser "definida em decreto".
Portanto, o governo pode diminuir ou aumentar as participações, alterando apenas o decreto que regulamenta a medida.
Além do mais, se o governo apoia a posição da Petrobras e também vê quebra de contrato nessa alteração das participações especiais, também não poderia alterar as regras da distribuição dos royalties nos campos já licitados.
O que é estranhável é que o clima de guerra federativa, que estava superado pelos negociadores, tenha sido reanimado pela posição do próprio governo, através do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Mudança de critérios?
Na coluna de ontem, escrevi que a presidente Dilma havia introduzido um importante critério, embora óbvio, na escolha do substituto do deputado Pedro Novais no Ministério do Turismo: queria um candidato ficha-limpa.
Sabe-se que o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, depois de ter tentado emplacar um deputado de ficha não tão limpa, colocou à disposição da presidente qualquer um dos 80 deputados federais do partido, desde que não fosse escolhido um técnico, como chegou a ser cogitado.
A escolha final do deputado Gastão Vieira deveu-se a um critério que ao que tudo indica tem mais peso que o da ficha limpa: ser ligado ao grupo do presidente do Senado, José Sarney.
A presidente ser obrigada a escolher um ministro que pertença a este ou aquele grupo político porque no mesmo ministério há outro político do grupo rival é uma situação crítica.
Na Embratur, está o ex-deputado Flávio Dino, adversário dos Sarney no Maranhão, e por isso o escolhido teria que ser obrigatoriamente do grupo sarneysista.
Esse é o problema básico para a formação do Ministério. Veta-se politicamente a utilização de um técnico, num ministério fundamental para a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, e escolhe-se um político que, mesmo que seja ficha-limpa, está lá não por seus conhecimentos sobre o tema da pasta, mas por pertencer a um determinado grupo político.

PAULO SANT’ANA - Gosto que me enrosco

Gosto que me enrosco 
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 16/09/11

Existem as coisas de que eu gosto e as coisas de que não gosto. Existem as coisas que me dão prazer, as coisas que detesto e até as que me provocam asco.

Entre as primeiras coisas de que gosto, indico o espaguete, não sei por quê. Gosto ao sugo e adoro o à carbonara. O melhor espaguete à carbonara que existia em Porto Alegre era o daquela cantina que ficava lá no fim da Bordini. Foi inesquecível.

Hoje, o melhor é no La Tana, um restaurante que fica perto do Shopping Iguatemi e cujo endereço não forneço porque, se o fizer, vou lotar o restaurante e isso me trará dificuldades.

Outra coisa de que gosto muito é melancia. Gosto tanto, que como até as melancias de inverno, que de um tempo para cá, não sei de que jeito, começaram a ser comercializadas.

Morangos, não gosto. Como, mas não gosto. Cerejas, não gosto. Não gosto e não como, a menos que elas venham encimando um sorvete e se encaixem num clima de clímax.

Fui perceber só nos últimos anos que adoro panqueca. Mas eu gosto da panqueca tradicional, aquela enrolada e comprida. Passo, às vezes, por uma panquecaria que fica na Avenida Carlos Gomes e vive lotada de frequentadores e de carros estacionados.

Mas um dia fui lá para saborear uma panqueca e me dei mal: não era a comprida e enrolada que gosto de comer misturada ao arroz, era uma panqueca em tabletes, mas todo mundo comia avidamente. Assim, em tabletes, não gostei da panqueca.

Gosto de lombinho de cordeiro, que como na melhor churrascaria de Porto Alegre, a Churrascaria Porto Alegrense, da Avenida Pará.

Antes, o proprietário se dava ao ótimo desplante de servir o lombinho de cordeiro sem o osso.

Fui saber então que o lombinho é a chuleta de cordeiro desossada. Hoje, deve ser de preguiça, o dono da churrascaria serve o lombinho com osso, que vem a ser o carrê, se eu não estiver fazendo confusão.

Mesmo assim, é sensacional com osso, o lombinho, e na churrascaria de que falo o preço sai muito bem em conta.

Outra coisa de que gosto e como também na mesma churrascaria é sagu com creme. E sabem como é que peço? Peço assim: me dê mais creme do que sagu. Vêm numa taça boiando aqueles caviares de sagu envoltos no creme de baunilha. É o maior prazer da minha vida.

Agora arrolo coisas de que não gosto. A primeira é telefone celular. Tanto quando eu o estou manobrando, quando não sei nem receber torpedo quanto mais passá-lo, quanto quando o celular está nas mãos das pessoas que estão comigo. Aí, então, irrompe em mim uma raiva de aparência sanguinária.

Descobri por que me irrita assim, até o ódio, o telefone celular nas mãos de quem está junto de mim: é que toda ligação que recebem ou fazem interrompe a minha relação com as minhas pessoas contíguas. Concluo, assim, que o telefone celular traz um componente forte de separação entre as pessoas. O telefone celular, que foi inventado para unir as pessoas, na verdade as separa.

E não gosto de nabo. Pior que ele, só rabanete, que além de tudo tem cheiro péssimo.

Não gosto de todas as verduras, com exceção da alface. E um tal de radite me causa engulhos.

E não gosto de quem é reajustado todos os anos em seu salário e ainda por cima vive pressionando por ganhos ainda maiores. Detesto esses glutões.

MÔNICA BERGAMO - COFRE FECHADO


COFRE FECHADO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 16:09:11

O Itaú vai encerrar o serviço de cofres da agência do banco na avenida Paulista. A instituição já começou a enviar correspondência e a ligar para a clientela que guarda seus bens no banco. As pessoas vão ser avisadas de forma gradativa para que tenham tempo de providenciar novos locais para onde enviar seus objetos de valor.

COFRE 2
O banco desvincula a iniciativa do assalto da semana retrasada. A decisão já teria sido tomada anteriormente porque o serviço não seria rentável. Outras agências podem ser atingidas pela medida.

GOL
Gastão Vieira (PMDB-MA), novo ministro do Turismo, apresentou projeto na Câmara em 2007 para que a pelada seja considerada bem cultural de natureza imaterial.

TRAVE
Paulo Maluf, "noivo" mais cortejado para a eleição municipal de 2012, pode virar réu em processo no STF (Supremo Tribunal Federal) que vai a julgamento na próxima semana. Ele é acusado de lavagem de dinheiro e de manter recursos ilegais no exterior. O ex-prefeito nega o crime e diz que as contas não são dele.

INTERVALO
O processo entrou na pauta do Supremo nesta semana, mas foi adiado para a próxima depois de pedido de vista de um dos ministros da Corte.

AFETO
Além do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), também o PMDB tenta atrair Maluf para uma aliança em 2012. O partido quer que ele apoie Gabriel Chalita (PMDB-SP) a prefeito, trazendo junto os cerca de dois minutos a que seu partido, o PP, terá direito nos programas de TV.

TOALHA
E interlocutores de Marta Suplicy dizem que nos últimos dias ela tem revelado desânimo para enfrentar Lula. O ex-presidente acha que a senadora não deve ser candidata à Prefeitura de SP. Defende o nome do ministro Fernando Haddad, da Educação, para disputar o cargo.

DUPLA
Defensores de Marta dizem que o clima é o melhor possível e que ela deve manter o sangue frio. Ainda mais depois que pesquisas qualitativas, inclusive do PMDB, mostram que os nomes da ex-prefeita e de Lula são os mais fortes hoje entre os eleitores paulistanos.

GARGANTA PROFUNDA
A cantora Rihanna, que faz show amanhã em SP, ficará no hotel Fasano. Seu desembarque em Guarulhos estava previsto para as 7h de hoje. Pediu chá orgânico para cuidar da garganta no camarim e indicou o site onde sua marca preferida pode ser encontrada. Também quer 18 garrafas de água mineral Fiji e quatro de água de coco.

PITANGA TEATRAL
Camila Pitanga atuará na peça "Lá Fora Vai Estar Chovendo Sempre", do ator e dramaturgo Gero Camilo, que deve estrear no começo de 2012. A atriz também será produtora do espetáculo.

HEY JUDE
A versão remasterizada do álbum "1", dos Beatles, será lançada na segunda-feira no Brasil.
O CD teve 25 milhões de unidades vendidas no mundo em cinco semanas.

MINHA VIDA
O produtor Augusto Casé começou a pré-produção do longa sobre o jurista Sobral Pinto. O documentário promete revelar bastidores das defesas do advogado no Superior Tribunal Militar. O arquivo, segundo Casé, foi lacrado por cem anos a partir de 1997, mas será disponibilizado para as filmagens.

TOQUE RUIVO
A top brasileira Cintia Dicker gravou ontem, em Londres, o clipe da música "Paradise", do Coldplay.
Quem assina a direção é Hype Williams, que já trabalhou com a cantora Beyoncé, entre outros artistas.

FESTA COM ESTILO
Adele e Reinaldo Kherlakian fizeram festa de aniversário para Marly Mansur Zucchi, anteontem, no bar Passatempo. Chiquinho Scarpa e Carin Mofarrej estiveram lá.

CLIQUES
Fernanda Feitosa, da SP Arte/Foto, recebeu convidados para a abertura da feira. Passaram pelo shopping Iguatemi, anteontem, o banqueiro Alfredo Setubal e Heitor Martins, presidente da Bienal e marido da anfitriã.

CURTO-CIRCUITO

A Orquestra Bachiana Filarmônica tocará com Hamilton de Holanda amanhã, às 17h, no parque Ibirapuera. Livre.

A festa Gambiarra acontece hoje na Ware House, a antiga Pacha. 18 anos.

A exposição "Movimento Coletivo", do Instituto Brasis, acontece de 21 a 25 no festival Paraty em Foco.

Irlana Maia toca hoje, às 18h, na estação Paraíso do metrô. Livre.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY