quarta-feira, setembro 07, 2011

TUTTY VASQUES - Nome é apelido!


Nome é apelido!
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 07/09/11


Este ano não vai ser igual àquele que passou! Os chefes das Forças Armadas vão decerto sentir falta do Lula, que todo 7 de Setembro renovava seu vasto repertório de piadas sobre o ex-ministro Nelson Jobim.

Cá pra nós, sem os figurinos patrióticos da ex-primeira-dama Marisa Letícia para alegrar ainda mais o ambiente, só o netinho da presidente Dilma pode livrar o palanque das autoridades na parada militar de hoje, em Brasília, de uma chatice total.

Resta saber se a família Rousseff vai em bloco ao desfile depois da superexposição de Gabriel, domingo passado, na abertura das comemorações da Semana da Pátria.

O moleque roubou a cena em sua estreia na Praça dos Três Poderes. Há muito tempo não se via ninguém tão expressivo em solenidades oficiais da Presidência. Reparou no jeito sério como ele olhava para a avó? Que gracinha!

Se não o levarem à festa hoje, vamos ter de nos contentar com o ministro Celso Amorim defendendo a retirada gradual das tropas brasileiras do Haiti.

Desde que assumiu o posto de Nelson Jobim na Defesa, é só o que ele diz. Repara só!

Ponta de ciúmes

O que mais dói em Marta Suplicy é o apoio de Lula à candidatura Cristina Kirchner na Argentina. "Só aqui em São Paulo ele acha importante trabalhar um nome novo nas próximas eleições, né?"


Homo sapiens afetivo

Pesquisa da Universidade do Arizona confirma: o Homo sapiens fez sexo com hominídeos. É o que, na época, os neandertais chamavam de "homoafetividade".


Concorrência desleal

Os organizadores da Marcha contra a Corrupção em Brasília estão contando com a possibilidade de igualar neste 7 de Setembro o público da última Corrida da Cerveja na capital. Sem molhar o bico da galera, com o ar seco do jeito que está, francamente, vai ser muito difícil mobilizar a sociedade para tanto!


Dia da Indignação

Tem pichação genérica nova nos muros do País: "Fora Jaqueline Roriz, Ricardo Teixeira, José Dirceu e o pessoal de A Fazenda!"


Asas à imaginação

O povo está confuso na leitura do noticiário! Como se não bastasse a tal "Emenda 29", que história é essa de "PEC do Peluso", caramba? Só se fala disso nos pontos de ônibus!


Ô, raça!

A França é um país de corruptos sem memória! Alegando que, aos 78 anos, Jacques Chirac já não se lembra mais nem das coisas boas que fez no governo, advogados do ex-presidente conseguiram poupá-lo do constrangimento de comparecer ao seu julgamento por desvio de dinheiro público.


Foi bom pra você?

Se você nem se deu conta de que ontem foi Dia do Sexo, relaxa, vai! Já passou! Ano que vem tem mais.

ANCELMO GOIS - CANAL BRASIL MPB


DIGA NÃO À CORRUPÇÃO

CANAL BRASIL MPB 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 07/09/11

A exemplo do Canal Brasil, dedicado ao cinema nacional, a Globosat planeja uma emissora de TV a cabo só sobre a música popular brasileira.
A produção pode ficar com o próprio pessoal do Canal Brasil.

DILMA, A BIOGRAFIA 
O selo Primeira Pessoa, da Editora Sextante, lança em dezembro a biografia de Dilma Rousseff. O livro será escrito pelo jornalista Ricardo Amaral.

DILMA NO FRESQUINHO 
Dilma, no palanque do desfile de 7 de Setembro, hoje, em Brasília, terá um desses vaporizadores geladinhos, iguais aos da orla do Rio, para suportar o calor e, principalmente, a secura do ar da capital, que anda braba.
É que a presidente, desde que chegou a Brasília, para o Ministério de Lula, tem problemas com a pouca umidade do ar.

AGORA É OFICIAL 
Dilma se encontra com Barack Obama, dia 22 agora, em Nova York.

CANTOR ESPANHOL 
Julio Iglesias retorna ao Brasil em outubro, para shows em sete capitais.
No Rio será, dia 17.

GABRIELLI, O LONGEVO 
Em novembro – se não sair antes, claro –, José Sérgio Gabrielli passa a ser o presidente que mais tempo comandou a Petrobras.
O troféu, hoje, está com Joel Rennó (1992/1999).

ALIÁS... 
Eike Sempre Ele Batista teve uma longa conversa, dia desses, com Gabrielli. O empresário quer usar no Porto do Açu gás da estatal da Bacia de Campos, ali perto.
Em troca, Eike poderia transferir para a Petrobras o gás que a EBX descobriu no Maranhão.

BRASIL VESTE PRADA 
A loja Prada, no Soho, em Nova York, também contratou vendedores brasileiros para atender à imensa clientela do País de Dilma.

CALMA, GENTE 
Uma aluna do Colégio Guilherme Briggs, em Santa Rosa, Niterói, deu queixa de racismo na 77ª DP. Alega que foi proibida de entrar no estande da Abril na Bienal do Livro, segunda.
Um funcionário do local, onde estava o ator Rodrigo Faro, teria dito que não daria uma senha porque ela “era negra”.

BENÇA, VOVÓ 
Outro dia, vovó Dilma era todo sorrisos com o seu neto, Gabriel, no colo durante a cerimônia de troca da bandeira na Praça dos Três Poderes. O menino faz 1 ano no dia 9 agora e a festinha deve ser no Palácio Alvorada ou na Granja do Torto. 

FESTINHA NO PLANALTO 
A ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, festejou ontem mais uma primavera. A comemoração foi no 4º andar do Palácio do Planalto com direito a participação do marido Paulo Bernardo, ministro das Comunicações. Os funcionários do gabinete engrossaram o coro de Parabéns a você!

CAPACETES AZUIS 
O chanceler Antonio Patriota embarca amanhã para Montevidéu, a fim de participar da 2ª reunião de chanceleres e ministros de defesa de países que participam da MINUSTAH, no Haiti.
Esta reunião dos capacetes azuis deve ser tensa. Existe uma certa fadiga da presença dos soldados da ONU no Haiti. Surgiu até denúncias de estupro. 

ROBERTO DaMATTA - O Brasil é um bonde


O Brasil é um bonde
ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo 07/09/11

Andei muito de bonde e a recomendação peremptória dos meus pais era que não saltasse do bonde andando. Confesso que no curso de minha vida saltei muito pouco de bonde andando, mas, em compensação, peguei muito bonde errado quando, por exemplo, escolhi ser professor e pesquisador. Mas ninguém é tão perfeito como os bondes do Rio de Janeiro ou seus parques de diversões fazem prova porque, entre outras coisas, eles ainda não têm esses "marcos regulatórios", que são o sonho dos hipócritas de plantão.

* * * *

Um amigo de infância perdeu um pé ao saltar de um bonde andando, tal como um dos meus mentores perdeu o casamento ao derrapar e colidir com um ônibus quando disse à esposa que estava fazendo uma pesquisa numa biblioteca, mas, na verdade, voltava repleto de culpa de uma visita a uma ruiva supergostosa que atendia pelo nome revelador - eu juro que isso é verdade - de Tara.

* * * *

Hoje vivemos num Brasil sob o signo de Mercúrio a divindade do comércio e do dinamismo. Aquele que, sendo mediador, faz as trocas, cruza os ares e mares rapidamente pois, sendo alado, tem uma velocidade (esse símbolo da ganância e da transgressão que não pode esperar ou sabe o que significa suficiência) e engloba os mais básicos princípios do bom-senso.

Aviso aos governantes: evitem os meios de locomoção muito eficientes, sobretudo os helicópteros, mas evitem também os bondes e as montanhas-russas das quais vocês, políticos profissionais, são contumazes usuários.

* * * *

O Brasil é um bonde. Esse bonde que se despentelhou numa ladeira do bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, vitimando passageiros e o seu motorneiro que, sendo o mais humilde, será o culpado. Tal como foi o engenheiro do parque de diversões que matou outros cidadãos. O jogo do poder à brasileira consiste nos poderosos teorizarem sobre suas responsabilidades, isentando-se a si mesmo e seus asseclas. A tal faxina (todos já entenderam) é sempre para os outros. Os donos do poder (à brasileira) estão isentos de culpa.

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Estamos fartos de ouvir os donos dos ministérios ou secretarias onde ocorrem acidentes ou delitos dizerem que não têm nada com os fatos. Não acuso ninguém. Acredito sinceramente que todos são tão honestos como Pedro Malazartes. Chamo atenção, apenas, que enquanto não tivermos a coragem de processarmos em alguns milhões de reais os nossos governantes e o próprio Estado, vamos continuar - desculpem os mais sensíveis e os mais frescos - fodidos! O nosso marco regulatório é o processo. O deles é a hierarquia que livra os poderosos dos deveres que também fazem parte do poder.

Se os caras ganham milhões à custa do nosso trabalho, nada mais justo ou lógico que haja alguma relação de responsabilidade entre nós e eles. Indenizações não trazem meu filho de volta, mas permitem um bom papo com meu amigo Joãozinho Caminhador, um velho amigo escocês que me ouve e conforta, em vez tentar tapar o sol com a peneira ou produzir essas desculpas esfarrapadas ou, pior ainda, esses surtos de indignação de bandidos especializados em roubar o que é nosso.

* * * *

Uma outra saída seria sugerir à austera presidenta, que herdou a hóstia consagrada de honestidade e eficiência do governo Lula, que criasse um ministério anticorrupção, inspirada nos nossos irmãozinhos de carma indianos. Um órgão destinado e examinar contratos, acordos, aumento de patrimônio, nomeações, indicações - mas sobretudo contratos e inocentes exonerações. Tal instituição, livre dos constrangimentos partidários, mas engajada e constrangida pelo dever de apurar e forçar um mínimo de sinceridade, teria o dever de conferir por que os governantes sempre aumentam seus patrimônios 200 vezes em dois anos e outros, como este cronista bastardo que vos fala, não conseguem - PQP! - ir além de uma vida confortável, mas pobre se a compararmos à grande maioria dos elegantes quadrilheiros que passaram pela tal administração pública.

Eu sei que a culpa é minha. Quem mandou ser professor e antropólogo proxeneta de índios, como dizia o Darcy Ribeiro, e não um antropófago ou político comedor de recursos públicos? Quem mandou ser descrente e não vender a alma para algum partido ou ideologia?

* * * *

Esse é o meu bo(n)de. E o do Brasil? Bem, o bonde do Brasil segue em dois trilhos. O primeiro, é acreditar que os governos podem mesmo contratar objetiva e impessoalmente num país no qual ser compadre e amigo é mais importante do que ser cidadão. O segundo é verificar como o poder corre ligado (bond, em inglês) a trilhos sem freios e sem oposição. A prova é a foto estilo bonde do ex-presidente Lula, da presidenta Dilma e do maestro e guerreiro (diria mesmo um São Jorge) do Brasil, Zé Dirceu, emoldurando os dois numa imagem que causa estupefação, mas que diz tudo do momento brasileiro. Ele, de roupa branca; ela com uma blusa vermelha e o mestre de duas vidas e falas vestido do negro dos cisnes excepcionais. Dos seres acima do bem e do mal que são o símbolo mais perfeito do bonde - digo, do governo - que hoje temos no Brasil.

EDITORIAL - O ESTADÃO - Fiasco do Brasil Maior


Fiasco do Brasil Maior 
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 07/09\11

Continua o desmonte do Plano Brasil Maior, um improvisado e mal concebido arremedo de política industrial apresentado no dia 2 de agosto pela presidente Dilma Rousseff e por sua equipe econômica. O governo anunciou a disposição de acabar com o incentivo fiscal às montadoras de veículos, por falta de entendimento quanto a contrapartidas de inovação, de agregação de conteúdo local e de eficiência energética. Parte das empresas simplesmente rejeita a ideia de pagar o preço imposto pelo governo em troca da redução do IPI. Faltou combinar com os fabricantes de automóveis, assim como faltou verificar detalhes importantes com empresas de outros setores contempladas na lista de benefícios. Ficou mais uma vez comprovado o despreparo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para conceber e implantar uma política de modernização do sistema produtivo. Quanto ao Ministério da Fazenda, que também contribuiu para o grande fiasco, procedeu como se podia prever. Só apoiou o plano sob a condição de não perder receita e apresentou o mero pagamento dos créditos fiscais devidos a empresas como se fosse um benefício.
Agora o governo se dispõe não só a abandonar a promessa de redução do IPI pago pelas montadoras, mas também a elevar o tributo para as empresas não enquadradas no regime automotivo em estudo. Levando-se em conta as políticas industriais formuladas nos últimos anos, fica muito difícil apostar em qualquer novidade relevante para o fortalecimento da produção nacional e para a maior participação da indústria brasileira no mercado global.
A má qualidade do Plano Brasil Maior ficou patente desde sua apresentação. Ainda assim, a iniciativa foi elogiada por dirigentes de entidades empresariais. Mas as críticas não tardaram a surgir. Empresários dos setores de confecção e de móveis logo criticaram o esquema para desoneração da folha de pagamentos. Algumas empresas nada ganhariam se deixassem de recolher a contribuição previdenciária e passassem a pagar um tributo sobre o faturamento. Para outras, aumentaria o peso da tributação. Os autores do plano desconheciam o funcionamento dos setores "beneficiados".
No caso das montadoras, faltou discutir os objetivos e condições da redução do IPI. Faltou, também, examinar com mais cuidado o uso de partes e peças nacionais por fábricas instaladas no Brasil em épocas diferentes - algumas há décadas, outras há poucos anos. Há diferentes graus de nacionalização e, portanto, interesses divergentes, segundo reportagem no Estado dessa terça-feira. Além do mais, registra a reportagem, os autores do plano ficaram decepcionados porque as empresas não se dispuseram a repassar o benefício fiscal ao consumidor.
Mas o problema básico e mais importante não está em nenhum desses detalhes. O governo se mostrou incapaz de fixar com clareza as condições essenciais para o crescimento industrial e para a criação de empregos. A política só produzirá resultados significativos se for destinada a aumentar o poder de competição das indústrias - em todos os setores. Nenhuma das vantagens fiscais oferecidas é uma efetiva desoneração. Nenhuma delas passou de um arremedo de alívio tributário.
Para oferecer uma redução efetiva e tornar a tributação mais parecida com a dos países concorrentes, o governo teria de ser mais criativo e ousado e precisaria conter as próprias despesas. Mas, em vez disso, recentes promessas de austeridade foram logo desmentidas na proposta orçamentária para 2012. Outras medidas seriam importantes para melhorar a competitividade, mas o governo federal nem sequer dispõe de um bom diagnóstico das principais desvantagens da indústria.
Uma proteção mais eficiente contra a concorrência desleal é necessária. O governo promete avanços nessa área. Mas não basta defender o mercado nacional. O produtor brasileiro precisa ser capaz de competir em qualquer parte do mundo. Se não o for, até a defesa do mercado interno será insuficiente e acabará derrotada pelo competidor estrangeiro.

MARCIA PELTIER - Terra de brasileiros


Terra de brasileiros 
MARCIA PELTIER
JORNAL DO COMMÉRCIO - 07/09/11

Nossos compatriotas estão fazendo a festa dos vendedores dos recentes empreendimentos imobiliários em Miami, nos EUA. Levantamento feito pela Fortune International Realty, que acaba de lançar o luxuoso prédio residencial Vizcayne, com serviços de resort no centro da cidade, revela que mais da metade das unidades já estão nas mãos de compradores brasileiros. Desse total, a maioria é composta por mineiros, brasilienses, cariocas e paulistas, que vão usar a nova propriedade como casa de veraneio ou opção de investimento. Os apartamentos custam de US$ 220 mil a US$ 750 mil.

Diversão e compras 
De olho nesse novo boom verde e amarelo, empresários locais já preparam programação e promoções especiais. Cardápios dos restaurantes ganham traduções e cantores de MPB são esperados para shows grandiosos. Em novembro, é a vez de Maria Bethânia subir ao palco do Fillmor Miami Beach em duas apresentações, dias 11 e 12.

Esporte sério 
O Rio sedia, a partir desta quarta, a 1ª Pole World Cup, a Copa do Mundo de Pole Dance que vai até sábado, no clube Hebraica. O campeonato será o ponto de partida para a criação do primeiro ranking internacional da modalidade. Também será lançado o código de regras, com a lista dos movimentos e as normas da arbitragem. O evento tem o apoio da International Pole Fitness Federation, da International Pole Sports Federation, da norte-americana Pole Fitness Association e da Federação Brasileira de Pole Dance.

Para bailarinos

Quem chegar mais cedo, às 15h, nesta quarta, na Quinta da Boa Vista, vai poder apreciar os bailarinos do Kirov em pleno exercício de barra e, em seguida, num exercício de spacing, um tipo de reconhecimento de espaço, liderados pelo diretor do balé Yuri Fateev, com comentários da nossa primeira-bailarina Cecília Kerche. A aula vai durar uma hora e meia.

Show de sinceridade 
Enquete feita pela edição do dia 15 da revista Alfa aponta os homens mais influentes do ano. Na lista, empresários como Abílio Diniz, Paulo Sérgio Kakinoff, Constantino de Oliveira Júnior, Carlos Jereissati Filho, Fábio Hering, Ronaldo Nazário, Rubens Menin, Eike Batista e Rogério Fasano. Na categoria política, o baixinho Romário impera sozinho. O ex-jogador e agora deputado do Partido Socialista Brasileiro (PSB) garante que não se valerá de nenhuma contravenção para se beneficiar. Mas alguns hábitos prevalecem. "Não deixo de ir para a noite uma vez por semana, curtir o meu hip-hop, meu funk e ver as gostosas dançando na pista", afirmou.

Minimalismo monumental

Representante de Ascânio MMM, cujas obras instaladas em cidades como Rio, São Paulo, Lisboa e Tóquio continuam surpreendendo pela atualidade, a galerista Marcia Barrozo do Amaral radicalizou e levou apenas uma obra, justamente uma peça dele, para a Art Rio. Trata-se de uma “senhora” obra: uma escultura em alumínio com seis metros de altura e três de largura, que foi exposta no MAM em 2008. A instalação ficará pendurada no teto do Pier Mauá.

Afilhada do Tim 

A DJ Mary Olivetti, que já tocou para 30 mil pessoas, vai abrir a pista eletrônica da noite extra do Rock in Rio, dia 29. A carioca de 27 anos, especialista em house music, está com uma bela carta na manga para a noite: acaba de gravar com seu pai, o respeitado maestro e produtor Lincoln Olivetti, a faixa You and me, com ele nos teclados e ela na voz. Hoje, Mary se orgulha de influenciar o trabalho do pai: “Ele fica fascinado com as batidas quebradas do meu trabalho”, diz. Aliás, ninguém menos que Tim Maia foi seu padrinho e quem sugeriu o seu nome, Lin, de sonoridade parecida com o dele. “Por nove meses me chamaram de Lin até minha mãe achar estranho e acrescentar o Mary na frente”, conta divertida. “Tim Maia ficou louco com isso!”

Gargalos 

Para 19,8% dos entrevistados de uma pesquisa realizada pela Sociedade Nacional de Agricultura, infraestrutura, transporte e logística são os principais entraves ao crescimento de investimentos no agronegócio. A sondagem envolveu um grupo de 30 representantes influentes do setor, entre produtores rurais, consultores e fornecedores de insumos. Já na opinião de 8,6% dos entrevistados, os juros elevados são o maior obstáculo, à frente de fatores como política ambiental (8,2%) e falta de mão de obra (8,1%).

No meio do caminho 

O Jockey Clube Brasileiro terá que indenizar uma idosa em R$ 20 mil, a título de danos morais. Maria Helena Barbosa tropeçou, nas dependências do clube, em uma cadeira que tem os pés projetados para trás, caiu e fraturou o braço. A decisão foi do relator desembargador Cherubin Helcias Schwartz Júnior, da 12ª Câmara Cível do TJ do Rio.

Livre Acesso

A safra histórica 2007 de Don Melchor, considerado o melhor cabernet sauvignon chileno, será degustada em wine dinner, terça-feira próxima no Rio. Especialmente na cidade para a ocasião, Slejandra Vallejo, enóloga da chilena Concha Y Toro, participará do evento na Cavist Ipanema.

Desde 2004 sem fazer exposição solo em Londres, a artista plástica Adriana Varejão apresenta suas novas mandalas na galeria de arte contemporânea Victoria Miro. Levará os painéis de azulejos barrocos e as novas pinturas tridimensionais feitas em cerâmica com elementos orgânicos de petróleo. O vernissage será nesta quarta para convidados e investidores ingleses.

Júlio Rocha, da Kevingston Rio, trouxe para o Brasil uma novidade para os apaixonados pelo rugby, o site Sport Extremo. O novo empreendimento virtual é uma parceria com a marca inglesa Gilbert e comercializará tudo sobre o universo do esporte, como bolas, protetores labiais, capacetes, chuteiras, camisas e armaduras, entre outros. Os produtos podem ser encontrados nas lojas Kevingston Rio pelo mesmo preço do site.

O atelier Marcella Maia, no Edifício Palm Beach, no Leblon, promove curso de auto-maquiagem em parceria com a Make-Up todas as quartas e sábados deste mês.

Acontece nesta quinta, no Pink Fleet, a cerimônia de comemoração da Clipper Race 2011-2012, maior regata oceânica do mundo. A competição teve início em julho, em Southampton, na Inglaterra, e aporta pela primeira vez no Rio. Cerca de 500 velejadores, representando mais de 40 países, participam da competição que terminará em julho de 2012, quando retorna para o Sul do Reino Unido.

O Centro de Estudos do Hospital Samaritano realiza, segunda-feira, sessão científica sobre bloqueio neuromuscular em paciente crítico, com palestra da médica Ana Cristina Pinho Mendes Pereira e coordenação de Ricardo Lima.

Com Marcia Bahia (interina), Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito

ILIMAR FRANCO - Voto liberado


Voto liberado 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 07/09/11

O governo Dilma não quer pagar a conta do resultado das eleições para a vaga da Câmara no TCU. Como os partidos da base estão divididos e há, pelo menos, quatro aliados concorrendo, o Planalto tirou o time. “O governo não vai se meter. Não terá candidato e liberou o voto de sua base parlamentar”, diz o líder Cândido Vaccarezza (PT-SP). A tendência do PT, que gostaria de uma candidatura única, é adotar a mesma postura.

Os tucanos e as eleições para o TCU
Sobre as eleições para a vaga da Câmara para o TCU, o presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana, afirma: “Não vai ser possível o PSDB fechar com uma candidatura. Entre nós, há eleitores do Jovair Arantes (PTB-GO), do Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e de Ana Arraes (PSB-PE)”. Ele informa que “Aécio não pediu nada” e especula que ele teria dificuldade de pedir votos para um candidato. Explica que, ao se posicionar, Aécio precisa considerar vários fatores e acrescenta: “O Jovair foi um parceiro do Aécio na sua eleição para a presidência da Câmara (2001/2003), quebrando o monopólio PFL-PMDB, no governo FH”.

"O governo Dilma ora passa a ideia de que a crise econômica internacional é irrelevante ora que a crise é importante” — Lelo Coimbra, deputado federal (PMDB-ES)

O QUE FAZER?
 Ex-ministro do governo Lula, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) prepara proposta para que a receita da aplicação dos recursos do petróleo do pré-sal possa ser usada para a construção de uma vasta rede de linhas de metrô nos maiores centros urbanos do país. Argumenta que os trabalhadores, que gastam muitas horas dentro dos ônibus, com mais linhas de metrô, ficariam mais tempo com os filhos.

Rachados
O PDT do Rio rachou na convenção nacional do partido, no fim de semana. O ministro Carlos Lupi (Trabalho) ficou contra a proposta do deputado federal Brizola Neto (RJ) de realizar eleições diretas para os cargos de direção partidária.

No camarote
Os aliados de Brizola Neto se referem aos que apoiam o ministro como a “claque do contracheque”. Enquanto isso, o líd er do PDT na Câmara, o sindicalista Paulo Pereira da Silva, vê nessa divisão a sua chance de assumir o partido.

Aliados de Marta em campanha

Os aliados da senadora Marta Suplicy (PT-SP) avaliam a pesquisa Datafolha, em que ela lidera com 31%: “A candidatura dela é a melhor chance de o PT retomar à prefeitura de São Paulo”. Sobre o poder do ex-presidente Lula: “Que força é essa? O Lula pede para a Marta, o (Jilmar) Tato e o (Carlos) Zarattini e ninguém retira suas candidaturas!”. E sobre o Congresso do PT: “O Lula, via Gilberto Carvalho, tentou aprovar regras dificultando a realização de prévias no partido e foi derrotado”.

Bala na agulha 
O chamado candidato cidadão ao TCU, o auditor Rosendo Severo, faz uma campanha incomum para o cargo. Ele está veiculando sua propaganda em emissoras de rádio de Brasília. O seu horário eleitoral chama-se “Voz do Cidadão”.

Recorde
No bimestre de junho e julho, o Ministério do Desenvolvimento Social comprovou que 87% das crianças beneficiadas pelo Bolsa Família estão frequentando a escola. Esse percentual corresponde a 14,3 milhões de 16 milhões de bolsistas.

 PÉ NA ESTRADA. A Polícia Federal superou qualquer previsão de emissão de passaportes em agosto. Foram 207.409 — 33% a mais do que em agosto do ano passado. Este ano já foram expedidos 1.418.639 passaportes, 40% a mais do que em 2010.
 O PMDB da Bahia expulsou ontem três de seus seis deputados estaduais. Eles votaram a favor de projeto do governador petista Jaques Wagner. 
 GREVE NO MARACANÃ. Fala o presidente da UGT, Ricardo Patah: “A obra do Maracanã se transformará em parâmetro para as demais.” O sindicato que lidera a greve na obra é filiado à central.

EDITORIAL - O ESTADÃO - Separando posições


Separando posições
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 07/09/11


O "controle social" da mídia desejado pelo PT, agora disfarçado sob a pele de cordeiro da "democratização" das comunicações, é assunto encerrado no governo, graças à postura firme da presidente Dilma Rousseff, que já em seu discurso de posse sinalizou uma reviravolta de 180 graus na senda ameaçadora da liberdade de imprensa pela qual havia enveredado o governo anterior.

Embora o presidente do PT tenha apresentado como resultado do 4.º Congresso do partido "uma resolução política de fôlego que traça perspectivas para o PT e para o nosso governo nos próximos anos", o Palácio do Planalto deixou claro que não é bem assim. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, foi categórico em entrevista à repórter Vera Rosa, do Estado: "É importante separar a posição do partido da posição do governo. O PT tem suas posições e o governo tem um programa". Mais claro, impossível.

Logo após o encerramento do congresso petista, fontes do Palácio do Planalto empenharam-se em confirmar aquilo que os dirigentes do PT fingiam não saber: Dilma Rousseff não quer nem ouvir falar de projetos que sugiram o controle - censura, em português claro - da imprensa. Ela tem reiterado que o único controle que admite é o controle remoto da televisão.

Isso significa, concretamente, que o projeto do marco regulatório das comunicações apresentado com estardalhaço pelo governo Lula, depois da realização de uma festiva Conferência Nacional de Comunicação em 2010, está sendo revisto pelo Ministério das Comunicações. Garantem fontes do Planalto que Paulo Bernardo recebeu recomendação expressa da chefe de governo para tomar cuidado com as "cascas de banana", os contrabandos antidemocráticos inseridos no projeto pelos radicais que desfrutavam da simpatia e da proteção do ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência Franklin Martins, um dos principais ideólogos do "controle social" da mídia.

Uma das preocupações do governo em relação à necessária modernização do marco regulatório das comunicações - questão que nada tem a ver com "controle social" da mídia - é acabar com a deliberada confusão que os petistas promovem entre as duas coisas.

Por essa razão Dilma transferiu a responsabilidade de cuidar do assunto da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, onde o projeto tinha um tratamento marcadamente político, para o Ministério das Comunicações, onde agora são as questões técnicas que ganham prioridade, embora muitas delas tenham conotações políticas, como, por exemplo, a questão da propriedade cruzada dos meios de comunicação.

"Estamos fazendo a revisão do texto", esclareceu Paulo Bernardo, "e a ideia é discutir com outros ministros. Acho que, antes de mandar ao Congresso, devemos submetê-lo (o texto) à consulta pública para deixar, entre aspas, o pau quebrar. Fazer o projeto de afogadilho pode nos levar a erros e aí a discussão ficará ainda mais apaixonada."

Louvável a intenção do ministro. Afinal, a "ampla discussão pública" do assunto propalada no governo Lula, quando houve, foi limitada pelo dirigismo ideológico. E a missão do ministro Paulo Bernardo é retirar do anteprojeto os seus vícios ideológicos. Por exemplo, assinalou ele, havia um ponto que colocava a liberdade de imprensa na linha de tiro. Tratava-se da criação de duas agências setoriais: "Uma para as telecomunicações e outra para fazer a regulação, por exemplo, do conteúdo de produção nacional. (...) Estamos achando dificuldade em separar as funções. A tendência, agora, é que seja uma única agência. Mas o projeto não trata de jornal nem revista ou internet. Trata de TV e rádio. O marco regulatório diz respeito à comunicação eletrônica". Agora, está claro.

A manifestação do ministro merece apenas um reparo importante. "Assim como a mídia pode criticar o PT, o PT pode criticar a mídia", afirmou - o que é, certamente, um direito líquido e certo das partes. Mas o PT, convenhamos, não faz críticas. Vai muito além. O PT faz claras ameaças à mídia. Menos mal que a presidente Dilma Rousseff sabe separar "a posição do partido da posição do governo".

CELSO MING - A inflação se acirra

A inflação se acirra 
CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 07/09/11

A inflação de agosto não mostrou nenhuma pancada fora das expectativas, tampouco algum fator animador. A evolução do IPCA em 12 meses, como mostra o gráfico, ficou em 7,23%, ou seja, estourou a meta (4,5%) conjugada com a margem de tolerância (2 pontos porcentuais).

O Banco Central já havia passado o recado de que ficara difícil garantir a inflação na meta em 2011. Mas reforçou seu compromisso de que a convergência se daria em 2012. O plano de voo é o de que, a partir de setembro ou outubro, a inflação em 12 meses comece a recuar.

Os números divulgados ontem pelo IBGE mostram que a obtenção de uma inflação na meta em 2012 ficou mais difícil. É bem mais provável agora que o próximo ano comece com o índice em 12 meses mais próxim0 dos 7% do que dos 6,5%. Pelo menos quatro fatores tendem a mantê-lo forte.

O primeiro deles é a natureza da inflação em curso, claramente de demanda. O consumo está aquecido, o que acaba de ser corroborado tanto pelos levantamentos do mercado de trabalho (desemprego em queda) como pelas Contas Nacionais do segundo trimestre, que mostraram a demanda das famílias puxando o PIB. Enquanto isso, o setor produtivo está ficando para trás, atolado em elevação de custos e acirramento da concorrência externa.

O segundo fator de alta é o comportamento dos preços dos alimentos. A aposta da área da Fazenda era de que a crise externa derrubaria os preços das commodities. E o que se vê não é bem isso. É a forte demanda asiática por alimentos e energia que tende a manter esses preços elevados - e não na direção contrária.

Em terceiro lugar, o custo de vida deverá ser puxado também pelo alentado reajuste dos salários. Para o início de 2012, está contratado aumento do salário mínimo de nada menos que 14%. Além disso, os reajustes até agora negociados com importantes categorias profissionais (metalúrgicos, petroleiros, petroquímicos e bancários), na faixa dos 10% (portanto, bem acima da inflação), tendem a se estabelecer como referência para as outras classes.

E há, finalmente, a pressão de alta exercida pelos preços do setor de serviços, que não tem competição externa. Medidos em 12 meses, saltaram para o patamar dos 9%. É o forte avanço da renda interna que vai criando enorme demanda pelos serviços, sem que a oferta acompanhe.

Na última reunião do Copom (dia 24 de agosto) o Banco Central indicou que aposta suas fichas na crise externa, para que ela se encarregue de conter os preços. O pressuposto é de que o mercado global passe agora por acentuado processo de desinflação - processo que ajudaria a controlar os preços também no Brasil. A Ata do Copom, que será divulgada amanhã, deverá conter mais esclarecimentos sobre a avaliação do Banco Central. No entanto, a menos que a argumentação traga novidades, parece improvável que o Banco Central consiga reverter prontamente as pressões altistas num ambiente de afrouxamento monetário (queda de juros).

CONFIRA

Intervenção na Suíça

O Banco Nacional da Suíça (banco central) entrou para valer na guerra cambial. Avisou que não tolerará cotação inferior a 1,20 franco por euro. Comprará toda moeda estrangeira que ameaçar derrubar seu câmbio fixo. Ou seja, despejará francos para manter a paridade desejada. O objetivo é manter a força da indústria, da rede hoteleira e as receitas dos bancos, que vinham sendo dilapidadas pelo fortalecimento do franco.

Exemplo japonês

É mais ou menos o mesmo que o Banco do Japão (banco central) tenta fazer para evitar novas valorizações do iene em relação ao dólar, com a diferença de que, até agora, não fixou uma cotação a defender.

Até onde vai?

A grande pergunta hoje consiste em saber se a Suíça tem bala para queimar nessa parada. Em geral, câmbio fixo é oportunidade de ataque dos especuladores. A partir de agora, os mercados passarão a testar a real disposição do banco central de comprar moeda estrangeira. A conferir.

DANIEL PIZA - 'Tem ninguém jogando bonito'


'Tem ninguém jogando bonito'
DANIEL PIZA
O Estado de S.Paulo - 07/09/11

A frase foi do Marcos, o goleiro do Palmeiras e da seleção de 2002, de cuja simpatia e franqueza ainda sentiremos saudades, pois a nova geração só quer saber do discurso treinado para agradar à mídia e aos patrocinadores: "Tem ninguém jogando bonito, não. Também vejo os jogos pela TV e quase durmo". Ele a disse ainda no campo quando o Palmeiras empatou com o Cruzeiro, no domingo, e olhe que nessa partida o argentino Montillo fez mais um belo gol, com drible rápido e chute diagonal. Na mesma rodada, o Corinthians perdeu, mas seguiu líder, pois Vasco e Flamengo também perderam; apenas o São Paulo, do topo da tabela, venceu e assim passou à vice-liderança. Mas tem gente que insiste que o Brasileirão, embora não tenha grandes clubes como o Barcelona, é equilibrado porque há mais concorrentes ao título, que as equipes médias são mais fortes que na Europa, etc. É o comentário "me engana que eu gosto".

Isso me lembra aqueles jogadores que são contratados a peso de ouro por países como Japão e Arábia depois que seus representantes enviam um DVD para a diretoria do clube. Com apenas os melhores momentos, um Dodô, digamos, pode parecer um novo Pelé. Eis o que acontece no Brasileirão: editando os gols e alguns lances isolados, como os de Neymar, Lucas, Ronaldinho, Montillo e mais três ou quatro que sabem cuidar da redonda, o campeonato pode até parecer de qualidade. Mas, como já escrevi em outra ocasião, o que hoje vemos de vez em quando num campo de futebol - um chapéu, uma bicicleta, uma arrancada do meio-campo, uma cobrança de falta - antes víamos várias vezes ao longo de uma só partida, digamos no Inter de Falcão, no Flamengo de Zico, no Palmeiras de Edmundo, Rivaldo, Roberto Carlos e companhia, no Corinthians de 1999-2000, ou até no Cruzeiro de Alex em 2003. Não é saudosismo; é comparação objetiva.

Note que Marcos não falou em "jogar bonito" no sentido de enfeitar, dar espetáculo sem vitória, pentear a bola em vez de perfurar as redes. Pense, repito, nos grandes artilheiros do campeonato nacional, depois veja a estatística dos últimos anos: encontrar um que faça mais de um gol a cada duas partidas é difícil. Por que Marcos quase dorme na frente da grande maioria dos jogos atuais? Não é só porque os gols, lances e craques diminuíram em quantidade e frequência, mas também porque a ênfase da maioria dos jogadores é em aproveitar o erro dos adversários, é em dar trombadas e passes curtos até que brechas apareçam, e mesmo assim todos erram muito. As partidas não fluem; os atletas correm e batem demais e pensam de menos e, quanto menos pensam, mais precisam correr e bater. Eles estão mais fortes e altos hoje? Ok, mas isso não os faz melhores. A culpa do jogo feio não é do preparo físico moderno; é da falta de talento e ousadia.

Eis por que basta um pouquinho menos de grossura para que a mídia saia incensando determinados times ou jogadores. Veja o amistoso do Brasil contra Gana anteontem. A necessidade de manter a mística da seleção - com seus resultados publicitários, como é de praxe acontecer nas místicas - é tal que o placar de 1 a 0 foi tratado com grande alívio e esperança. Sim, Ronaldinho - ainda que usando o velho expediente de brilhar com os adversários já entregues, cansados - e Marcelo mostraram que têm técnica para estar lá, Leandro Damião fez seu gol - num lance com Fernandinho, em que criou a situação para o passe em profundidade - e o time mostrou menos apatia do que diante da Alemanha. Agora, vem cá: Gana ficou com um jogador a menos em mais da metade do jogo e só tomou um gol? Atuação do goleiro à parte, não me parece tanta coisa assim... Esse time tem ainda muito a melhorar até superar Alemanha, Holanda ou Espanha. Ao menos, não deu sono.

ANTONIO PRATA - Do 'pum'

Do 'pum' 
ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 07/09/11

Salvo engano, é a primeira vez que um pum vira manchete, e eis aí um fato da maior importância


Passei segunda-feira escrevendo a crônica que deveria ocupar este espaço. Era seriíssima, sobre a morte, tinha arroubos de lirismo e aspirava mesmo a alguma profundidade. Após terminá-la, resolvi perambular pela internet, para dar uma espairecida. Qual não foi meu assombro ao ler, na página do UOL, a seguinte manchete: "'Pum' foi lamentável, mas não fez Fla perder, afirma Luxemburgo".

Minha primeira reação, após o susto, foi a descrença. Não entendo muito de futebol. Talvez "pum" fossem as iniciais de uma regra -"Pontos Unificados da Média"?-, que prejudicara o Flamengo, na tabela. Quem sabe, "Pum" seria uma torcida organizada -"Palmeirenses
Universitários de Mucuri"?-, acusada de atirar pedras no ônibus rubro-negro, a caminho de tal partida.

Cheguei a pensar que "pum", sempre entre aspas, na matéria, pudesse ser uma jogada nova, importada da Inglaterra, espécie de paradinha, proibida pela FIFA. Imaginei o atacante do time adversário praticando um "pum" desleal e marcando o gol da vitória.

Ao clicar na manchete, contudo, descobri que pum era pum mesmo - e meu coração bateu forte, como o de uma criança ouvindo pela primeira vez um palavrão sair da boca de um adulto.

A matéria começava assim: "O técnico Vanderlei Luxemburgo negou que o "pum" que um jogador (ainda não identificado) soltou durante sua preleção tenha sido um dos causadores da derrota por 3 a 1 para o Bahia, no último domingo". Ainda segundo o texto, Luxa teria ficado possesso com o riso desencadeado pelo traque e abandonado o vestiário. No dia seguinte, o Flamengo perdeu o jogo.

Queria parabenizar o UOL pelo pioneirismo. Salvo engano, é a primeira vez que um pum vira manchete, e eis aí um fato da maior importância.

Afinal, se a flatulência causou tal estrago numa preleção, que desconfortos, desentendimentos e tragédias não terá acarretado, ao longo da história?

Imaginem um pum no plenário da ONU. Nas prévias eleitorais. Em negociações entre patrões e empregados. Terá o pum sido utilizado em interrogatórios? Haverá a CIA criado a simulação de pum, assim como inventou a terrível simulação de afogamento? Sem falar no perigosíssimo pum medieval, época em que reinos sustentavam-se sobre casamentos arranjados e alimentos pútridos.

Se nada sabemos sobre esses acontecimentos é porque, durante o século 20, a história esteve sequestrada pelo viés econômico. Nem a escola dos "Annales" -sem trocadilho, por favor-, com sua abertura metodológica, chegou a levar o pum a sério.

E, no entanto, como provam a matéria do UOL e a experiência cotidiana, o homem não é governado somente por desejos materiais e conflitos políticos: move-se também por impulsos mais etéreos e -com trocadilho, por favor- intestinos.

Podemos tentar fugir de nossa pequenez construindo foguetes, fazendo abdominais ou escrevendo crônicas sobre a morte, com arroubos de lirismo e profundas aspirações, mas no fim das contas -e era isso que eu queria dizer em meu texto anterior, quando fui interrompido pelo anônimo traque, assim como Luxemburgo, na preleção-, não somos mais do que uns risíveis primatas que nascem, crescem, morrem e, neste ínterim, soltam uns puns por aí.

MARCELO COELHO - Missa cantada


Missa cantada
MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 07/09/11 

Uma igreja pode ser diferente da outra, mas os bancos são sempre iguais. Têm aquele apoiozinho na frente para que os fiéis se ajoelhem. Até aí, tudo certo.
Mas nem sempre é assim. Na missa, diante do altar, a pessoa pode ficar em pé, atenta àquilo que está acontecendo, e não de joelhos, numa oração interior.
Esta posição, de joelhos, na verdade, é adequada diante do sacrário: o armariozinho onde ficam guardadas as hóstias. E o ideal, para prosseguir no assunto, é que o sacrário não fique atrás do altar. Um amigo católico ia me explicando essa e outras sutilezas.
Estávamos, no último domingo, na capela do Pátio do Colégio. É uma construção arejada e branca, que reproduz, em linguagem moderna, as proporções do antigo edifício jesuíta.
Lá, o sacrário fica do lado esquerdo -e nos bancos não existe o tal do genuflexório. A pia batismal, toda de pedra, prevê que a criança seja mergulhada de corpo inteiro na água benta. A convite do amigo, fui ao Pátio do Colégio assistir à missa das 10h. Uma das "melhores missas" de São Paulo, segundo quem entende da coisa.
É cantada, com órgão e coral. A entrada do padre e de seus ajudantes (uns dez, se contei bem) se faz com incenso e pompa. À frente, um senhor magro, longas roupas, ostentava a cruz; outro veio e trazia, braços ao alto, uma Bíblia encadernada em metal e pedrarias. Será o padre, pensei. Não era: esse veio depois, numa batina verde e amarela, um bocado vistosa para sua aparência, terrível à primeira vista.
Quando digo missa cantada, não é somente porque o coro já começa a cerimônia com seus "Kyries" e "Glórias", que, aliás, não se estendem além da conta.
O próprio padre passa a maior parte do tempo vocalizando aquela reza meio cantada que ainda associamos à religião tradicional. Até mesmo o trecho do Evangelho daquele dia é "entoado" como uma oração.
Outro detalhe: o padre, para ler o Evangelho, vai até uma pequena sacada (será o famoso púlpito?) e lê o texto lá de cima. A razão, explica o amigo, é que nas igrejas, até a Idade Média, o lugar da leitura ficava sempre no meio do fiéis, para mostrar que Deus estava entre eles.
Careca, meio baixo, uma barba preta de poucos amigos, o padre pareceu, aos meus olhos ímpios, quase um sósia do Zé do Caixão. Feita a leitura cantada, ele voltou para o altar e começou a falar de improviso.
Foi um espetáculo. Hoje em dia, nem mesmo os políticos mais astutos dominam a arte da oratória. Sem abandonar certa dicção eclesial, o padre Carlos Alberto Contieri ia do grave ao agudo, acumulava nuvens escuras e deixava em seguida passar um raio de luz. Por vezes, um laivo de ironia: uma pergunta que ele largava no ar e depois colhia no exato instante em que ameaçava rolar pelo chão.
Havia, pensei, algo de assustador em tanto poder retórico -na segurança com que o padre dominava seu instrumento, como o órgão da igreja. O órgão, aliás, acaba de ser reformado e conta agora com cerca de mil tubos. "O que são mil tubos", perguntou o padre, num meandro de humildade, "perto da grandiosidade de tantos outros órgãos maiores?". Parou um pouco. "Mas o nosso órgão, pelo menos, toca."
Sim, pensei. E como toca! O incenso, a música, a barba preta, um trecho do profeta Ezequiel, o trecho correspondente de são Mateus falando de ímpios e pecadores...
Onde eu estava? Num reduto ultraconservador? Mas a retórica do padre não servia a fins sinistros. Transmitia com clareza uma ideia nova para mim. A homilia era sobre o perdão.
Sabemos, é claro, que devemos perdoar a quem nos ofendeu etc. etc. Coisa que não faço, aliás. Mesmo se fizesse, disse o padre, não seria tão simples assim. Não se trata apenas de aceitar as desculpas que nos pedem. "Ah, está desculpado, passe bem." É mais difícil. Trata-se de oferecer o perdão -a iniciativa deve vir do ofendido, não do ofensor. Outra coisa, diz o padre, não faz Deus aos pecadores.
Tantas vezes revoltado com o que vejo de absurdos na doutrina católica, olhei mansamente para as costas do meu amigo religioso, sentado mais à frente. "Ego te absolvo", bom amigo. Depois de uma missa tão bonita e inteligente, vocês estão desculpados. Até a próxima.

RUY CASTRO - Muito de tudo


Muito de tudo
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 07/09/11

"Os menores de 30 podem não acreditar, mas houve um tempo no Brasil -anos 70, por aí- em que cada família só dispunha de um carro. O qual ficava com o chefe da dita, que o usava para ir trabalhar e o trazia de volta à noitinha. No fim de semana, os filhos disputavam o carango, e o pai podia cedê-lo ou não -Rita Lee fez uma música sobre isso, "Papai, Me Empresta o Carro"*. Claro que de há muito já não é assim.
Com o telefone, idem. Até fins dos anos 80 (juro!), raras as famílias que tinham mais de um. Não de mais um número, mas de mais um aparelho. Por circunstâncias da época, era mais complicado comprar um telefone do que ir a Adis Abeba. Tínhamos de apelar para pistolões, contratar despachantes, subornar autoridades. Numa disputa de herança, os herdeiros se pegavam por causa do aparelho. E, para se ter uma ideia, telefone era investimento. Hoje, meu vendedor de coco na praia tem três ou quatro celulares pendurados na sunga, e ainda acha pouco.
O mesmo com os televisores. Não que fosse proibido ter mais de um -ao contrário. É que não se usava. Nas décadas de 60 e 70, por exemplo, tanto fazia ter como não ter TV em casa -eu próprio, às vezes, passava anos sem, e sem sentir a menor falta. E então começou a história de um aparelho na sala e outro no quarto.
Hoje, como sabemos, em casa ou na rua, onde quer que você esteja -salas de espera, táxis, aviões, elevadores-, há uma tela ligada.
Com o computador foi diferente. Do trambolho exclusivo das grandes empresas, que ocupava um andar inteiro e ao qual só os técnicos tinham acesso, passamos direto para o computador individual, o PC, que até eu e menores de cinco anos conseguem manobrar.
Mas ainda é cedo para dizer se isso nos fará tão neuróticos e estressados quanto o excesso de carros, telefones e aparelhos de TV.

MÔNICA BERGAMO - DEBORAH SECA



DEBORAH SECA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 070911

Afim de papéis densos, Deborah Secco se despede de Natalie Lamour se achando "desinteressante". "Não bebo, não fumo, não saio. Nunca quis ser maior do que ninguém. Em Dubai, vi como as muçulmanas se orgulham de andar todas com a mesma roupa. Dizem: 'Quer ostentar sua riqueza, ostente em casa'", conta à "Alfa" de setembro.

TIRO CERTO

O Hospital A.C. Camargo começa em outubro a tratar pacientes que têm câncer de próstata com o Hifu robótico, um aparelho desenvolvido para "derreter" o tumor sem a necessidade de cirurgia ou radioterapia. A técnica é considerada mais eficiente que as outras para evitar sequelas que assombram os homens, como incontinência urinária e impotência.

ULTRASSOM
O hospital decidiu importar o aparelho da França, por € 600 mil. Segundo especialistas, ele mata o câncer com feixes de ultrassom aplicados com a precisão de um míssil teleguiado, preservando os arredores do tumor.

SELEÇÃO
O aparelho, em alguns países, é usado em tumores iniciais. Mas o A.C. Camargo optou por aplicar a técnica apenas em casos de recidiva do câncer que já tenha sido tratados com radioterapia.

CRECHE
O governo de SP vai anunciar investimento de R$ 180 milhões em 200 creches nas cidades com os índices sociais mais baixos do Estado. Segundo o secretário Rodrigo Garcia, do Desenvolvimento Social, é a primeira vez que o governo investe em creche.

CONTRATO ROMPIDO
O artista Gustavo Rosa, que já fez propaganda para a Omint, está em batalha judicial contra a operadora. Ele está tendo que pagar, além dos R$ 3.500 do convênio, R$ 17 mil mensais para tomar um remédio importado contra câncer de medula.

ACORDO
O artista diz que fez um acordo com a Omint, que prometeu pagar pelo remédio se ele não entrasse na Justiça. O acerto, afirma, não foi cumprido. A Omint argumenta que a lei não a obriga a pagar por remédios que não têm similares no Brasil.

À MESA
Depois de conversas paralisadas, o secretário estadual da Cultura, Andrea Matarazzo, voltou a falar com o reitor da USP, João Grandino Rodas, em encontro no Palácio dos Bandeirantes, anteontem. A universidade, que havia desistido de transferir seu Museu de Arte Contemporânea para o antigo prédio do Detran alegando "problemas profundos", voltou a trabalhar no convênio que pode assinar com o governo para fechar a transição.

ARENA
Claudia Leitte já reservou datas no estádio do Morumbi para um grande show no fim do ano.
O espetáculo fará parte de seu novo DVD.

TODO PODEROSO TIMÃO
O diretor Pedro Azbeg arrecadou R$ 22 mil em menos de um mês, numa vaquinha virtual, para rodar a segunda parte do documentário "Democracia em Preto e Branco", coprodução com a TV Zero. Entrevistará Lula, FHC e Rita Lee, entre outros. As pessoas que contribuíram pelo site www.incentivador.com.br aparecerão nos créditos. O filme abordará a Democracia Corintiana, as Diretas e o rock nacional dos anos 80.

MODA GIBI
Caterina Crepax, filha do desenhista italiano Guido Crepax, participará da Rio Comicon, festival internacional de quadrinhos que começa em 20 de outubro, no Rio. Fará um vestido baseado na personagem Valentina.

FILHINHO DA MAMÃE
Herson Capri e Beatriz Segall estrearam a peça "Convesando com Mamãe" no Teatro Folha. Com direção de Susana Garcia, encenam mãe e filho em dificuldades de convívio.

LINHA DO TEMPO
A antropóloga Lilia Moritz Schwarcz e o artista plástico Guto Lacaz foram à abertura da exposição de Nelson Leirner, anteontem, na galeria de Arte do Sesi. Com curadoria de Agnaldo Farias, "Nelson Leirner 2011-1961=50 anos" faz uma retrospectiva da obra do artista.

CURTO-CIRCUITO

Deborah Colker estreia "Tatyana" na sexta, 21h30, no Teatro Alfa. Livre.

Ruy Teixeira abre mostra hoje na Fauna Galeria.

Durval Lelys, do Asa de Águia, e Saulo Fernandes, da Banda Eva, fazem show juntos no dia 19, às 21h, para convidados da Casa Cor Brasília.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

MERVAL PEREIRA - RDC em discussão

RDC em discussão
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 07/09/11

Participei na segunda-feira de um debate sobre o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) no Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, e vários pontos que estão sendo questionados pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foram abordados pelo presidente do Tribunal de Contas da União, ministro Benjamin Zymler, que, embora ressalvasse não estar dando a posição institucional do TCU, se mostrou bastante favorável às inovações do RDC, que considera "um excelente regime no seu maior percentual", que aperfeiçoa a Lei 8.666, que rege as licitações.

O procurador-geral anunciou que vai ajuizar uma ação de inconstitucionalidade nas próximas semanas contra o RDC, legislação aprovada há pouco mais de um mês para apressar as licitações para a Copa de 2014 e as Olimpíadas 2016.

Para Roberto Gurgel, o RDC tem dispositivos que dificultam a transparência e o controle dos gastos do governo.

Também os partidos de oposição - PSDB, DEM e PPS - entraram com uma ação contra o RDC alegando que ele não permite a transparência das contas do governo.

As críticas ao RDC têm dois pontos principais: o sigilo sobre o preço da obra e a exigência de habilitação somente do vencedor da licitação, o que, segundo técnicos do Ministério Público, possibilita a participação de empresas-fantasmas.

Ressaltei que o governo falhou na comunicação, pois, desde que o Brasil foi anunciado como organizador da Copa do Mundo, esse Regime Diferenciado, que o governo acha que é uma evolução da Lei de Licitações, deveria estar sendo debatido.

O governo alega que desde 2009 tinha o projeto desse regime no Congresso, e não conseguiu aprovar, o que só demonstra que não levou a sério o problema, pois não mobilizou sua maioria parlamentar, só o fazendo agora, quando estamos em cima dos prazos-limite para as obras.

Ressaltei que também é um problema ter-se no país dois regimes de licitação, o RDC e a Lei 8.666. "Há indicações de que algumas prefeituras, como a do Rio de Janeiro, temerosas de utilizar o RDC, tendem a usar a lei 8.666, que está em vigência também."

O ministro Benjamin Zymler concordou que esse será um obstáculo que o governo terá de superar, na medida em que as prefeituras envolvidas nas obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas podem ficar com receio de serem questionadas na Justiça por se utilizarem das novas regras, que ainda não estão muito claras.

Há, por exemplo, a permissão para que obras nos municípios distantes até 350 quilômetros de alguma das cidades-sedes possam ser realizadas sob o novo regime, desde que tenham relação com os dois eventos esportivos.

Isso quer dizer que qualquer hospital, estrada ou outra empreitada qualquer poderá ser feito sob a alegação de que, mesmo de maneira indireta, será útil para uma das sedes da Copa, o que pode dar margem a manipulações.

Lembrei que há especialistas que consideram que a mudança da legislação exige uma estrutura nova para acompanhá-la. Mesmo que o RDC seja um desdobramento da 8.666, será necessária uma adaptação do corpo técnico, um treinamento diferenciado para acompanhar com eficiência a nova lei, e esse, provavelmente, será um problema que vamos ter.

No limite, lembrei que o governo poderia ter enviado o novo Regime Diferenciado de Contratações para substituir a lei 8.666 em todas as obras públicas e não apenas para as obras da Copa e das Olimpíadas, o que retiraria da proposta a impressão de casuísmo.

A cláusula mais polêmica no RDC, que trata do sigilo, foi mal explicada pelo governo, já que esse é um procedimento recomendado pela OCDE, que reúne os países mais ricos do mundo, como maneira de reduzir os preços das obras públicas e impedir conluios nas licitações.

Jonas Lopes de Carvalho Junior, presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, embora considere que o RDC representa um avanço para a gestão pública, "no sentido de propiciar meios mais ágeis de tornar realidade projetos tão necessários à realização dos grandes eventos esportivos que farão do Rio de Janeiro o centro das atenções em todo o mundo", ressalvou que, "justamente por ser uma lei recém-nascida, provoca algumas estranhezas e suscita dúvidas sobre sua aplicação".

Ele já havia feito, em artigo aqui mesmo no GLOBO, uma ressalva no mesmo quesito da transparência dos procedimentos. Segundo ele, a ausência de projeto básico "inviabiliza aos possíveis interessados o adequado e suficiente conhecimento de todos os fatores que se relacionam com o objeto da licitação, bem como quanto às responsabilidades que incidem na execução do contrato".

Benjamin Zymler disse que ficou "perplexo" com as críticas e a intensidade da retórica utilizada para criticar esse regime diferenciado de licitações.

"Parecia algo extremamente casuístico, elaborado pelo governo para permitir que as contratações para a Copa do Mundo e as Olimpíadas pudessem ser feitas de forma rápida, apressada e sem controle", e esse, segundo Zymler, não é o espírito da nova legislação.

Ele defendeu a tese de que, como qualquer lei, o Regime Diferenciado de Contratações tem que ser testado no mundo real antes de ser criticado e considerou um avanço a aprovação do novo regime, que estava parado no Congresso há muitos anos.

Zymler destacou "inovações interessantes" trazidas pelo RDC, que se utiliza de experiências realizadas sob a Lei 8.666 para a sedimentação de práticas bem-sucedidas, principalmente na aplicação da lei do pregão.

Segundo ele, o sigilo sobre o orçamento evitará que as propostas gravitem em torno do orçamento fixado pela Administração, ampliando-se a competitividade do certame.

ANTONIO CESAR SIQUEIRA - Serenidade e eficiência


Serenidade e eficiência
ANTONIO CESAR SIQUEIRA
O GLOBO - 07/09/11 

O repugnante assassinato da juíza Patrícia Acioli tem despertado discussões paralelas sobre os motivos do crime e eventual responsabilidade de terceiros. Essa atitude está longe de colaborar para a elucidação dos fatos e para o aperfeiçoamento do Judiciário. Em decisão proferida no dia 29 do corrente, a Corregedoria Nacional deJustiça instaurou pedido de providências, com base exclusivamente em notícias publicadas na mídia, para investigar o que qualificou como “conduta censurável praticada pelo magistrado dirigente do Tribunal deJustiça à época”, incluindo como requeridos o desembargador Luiz Zveiter e a desembargadora Sandra Kayat Direito, então juíza auxiliar da presidência.

Essa atitude, precipitada e sem qualquer averiguação quanto à veracidade das informações, expõe a face mais obscura da atuação da Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça: a busca incessante de promoção através da imprensa a qualquer custo. Precedendo essa lógica perversa, foi previamente editada justificativa para que o procedimento não estivesse sobre o segredo de justiça. Como representante dos magistrados do Estado do Rio de Janeiro, diligenciei em ter acesso a todos os procedimentos referidos e em nenhum deles constatei qualquer irregularidade, o que, do mesmo modo silencioso, poderia ter feito o CNJ.

Por outro lado, junto com a AMB e a comissão nomeada pela Presidência do mesmo Conselho Nacional de Justiça, tenho acompanhado, diariamente, o bom andamento das investigações policiais, sempre mantendo sigilo, essencial para o sucesso do inquérito, que muito em breve apontará, baseado em fortes provas, os verdadeiros assassinos de Patrícia. Aliás, quem sabe esse crime nada tenha com as ameaças anteriores?

No fundo, mais uma vez a Corregedoria Nacional de Justiça aponta suas armas para o Tribunal do Rio de Janeiro, considerado o melhor do país, em mais um capítulo de uma perseguição sem trégua a magistrados comprometidos com a causa da justiça e seus integrantes. Posturas como essa, sem qualquer embasamento fático, merecem o repúdio dos magistrados brasileiros e da própria sociedade, pois representam exploração midiática de um grave e triste ataque à democracia pela morte de um membro do Poder Judiciário em razão do exercício de sua função, sem qualquer saldo positivo no aperfeiçoamento das instituições.

A serenidade e a eficiência devem, sempre, nortear o caminho dos magistrados, ultimo bastião da defesa dos direitos e garantias esculpidos na Constituição Federal. Mesmo com esse “fogo amigo”, os magistrados garantem à sociedade brasileira que, em silêncio, continuarão sua luta contra o crime organizado, ao lado do povo e contando com seu apoio.

ANTONIO CESAR SIQUEIRA é presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj).

MIRANDA SÁ - CONGRESSO DO PT E O RETRATO DE DORIAN GREY


CONGRESSO DO PT E O RETRATO DE DORIAN GREY
MIRANDA SÁ

Os volteios da memória nos levam ao passado, envolvendo dados relacionados entre si como num psicodrama… Lendo o noticiário sobre o congresso do PT fui levado a um documento do Partidão – o Manifesto de Agosto – e, curiosamente à célebre obra de Oscar Wilde, ‘O Retrato de Dorian Grey’.

Para realçar ainda mais a correspondência mútua das propostas do antigo movimento comunista e o livro que enfrentou o reacionarismo vitoriano, encontrei um texto (acho que de Rubem Alves) que radiografou o meu pensamento.

Os conceitos são poéticos, por isso, anotei-os: “O amor é a coisa mais triste quando se desfaz. É triste por causa do retrato: porque ele faz lembrar uma felicidade que se teve e que não se tem mais. O retrato é uma sepultura”.

Pois bem. O Retrato de Dorian Grey é uma ficção que conta a história de um jovem na Inglaterra do século XIX, que pela beleza extraordinária foi seduzido pelo pintor místico Basil Hallward a tornar-se modelo de um retrato.

As forças alegóricas do artista transferiram para o quadro a representação de todas as marcas da decadência humana, vícios e perversões, enquanto o seu modelo se conservava permanentemente jovem e belo.

Esta é a semelhança que encontrei com o PT. O partido que surgiu com novo tipo propondo rejuvenescer as idéias socialistas, sem o policialismo stalinista e sem a burocracia dominante nos PPCC. O partido que adotou a democracia interna nas suas resoluções e que se ligava indissoluvelmente à sociedade. O seu quadro foi a realidade brasileira, aonde envelheceu, ficou feio, horripilante.

Os dirigentes do PT pensam em mantê-lo jovem como vanguarda da retaguarda. Adotam propostas que foram válidas historicamente para o stalinismo, mas que hoje servem apenas de máscara para a licenciosidade que deformou a organização política e ideologicamente.

É inimaginável que este congresso, realizado após oito anos de governo Lula e oito meses de Dilma, queira ferir a Constituição inserindo nela um marco regulatório da comunicação social, um eufemismo de censura. E ainda exige urgência para o Congresso Nacional votar essa regulamentação fascista na Carta Magna.

Interessante é saber através do jornalismo político que há menos de um mês o partido havia desistido – a pedido da presidente Dilma – de impor censura à mídia. O recuo atual só tem duas explicações: o temor de que a perseguição aos ladrões do Erário carimbe Lula como cúmplice da ladroagem, e que a reportagem investigativa da Veja sobre Zé Dirceu desnude o lobismo e as conspirações no seio do PT-governo.

Incorporando-se a Lula e a Zé Dirceu, surgem duas cicatrizes profundas no Retrato do PT que, por eles, abandona o princípio democrático de que a informação é um direito do povo. É assim que o ‘controle’ do conteúdo da imprensa transfigura a defesa da liberdade que fazia o partido na sua mocidade.

As rugas de despudor hipócrita e cínico entram no rosto do quadro, quando a cúpula partidária fala em “combater sem tréguas a corrupção”, e que Lula já vinha combatendo os corruptos…

O esgar vicioso sai das pinceladas de impostura e falsidade nos discursos que criminalizam os meios de comunicação como agentes do esvaziamento da política e satanização dos partidos. E de lembrar que, na campanha eleitoral, a cara formosa dos petistas sorria falando pela boca de Dilma que “Prefiro barulho da imprensa livre, ao silêncio da ditadura!”

Outra deformação sinistra no Retrato do PT vem com a defesa de nova CPMF, traição aos princípios sociais democráticos contra os impostos, que o partido diz defender. E está também na mentira de que extinção da velha CPMF foi uma “subtração” às boas intenções do governo Lula no campo da saúde…

A decrepitude monstruosa que contrastava com a beleza imperecível de Dorian Grey tem a mesma conformação do Retrato do PT e da sua tentativa de remoçar com propostas congressuais. de um extremismo superado.

JANIO DE FREITAS - O impasse


O impasse
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 07/09/11

Congresso teme decidir o conflito entre o Supremo e o Planalto sobre o aumento dos salários no Judiciário


A divergência entre Judiciário e Executivo em torno do aumento de vencimentos pretendido pelo Supremo Tribunal Federal, com extensão em diferentes proporções a todo o Judiciário, está pior do que se mal conduzida: nem ao menos conta com intermediação e com interlocutores prontos para negociações. Também no governo, mas sobretudo no Congresso há sinais de um certo temor diante de assunto que envolve o poder do STF, tribunal em que está pendurada larga fatia de congressistas-réus.
À margem dessa peculiaridade, a divergência não é simples. Não há como recusar o argumento de que o Judiciário esteve relegado por muito tempo, daí resultando o aumento do seu quadro de servidores em anos recentes, bem maior que nos outros dois Poderes, e o consequente aumento orçamentário. Se é certa ou, como rebate o Judiciário, errada a alegação do governo de que o aumento em cascata exigiria o gasto de mais R$ 7,7 bilhões em 2012, nenhuma das partes tornou públicos os seus cálculos. Acredite-se no que se queira, mas, como de hábito, ninguém parece disposto a contestar a negativa dos autores de sentenças.
O argumento do governo, de que só com o corte de gastos sociais seria possível o aumento do Judiciário, sensibiliza com facilidade. Mas também suscita dúvida. Todos os dias há demonstrações de gastos dos ministérios absurdos em qualquer tempo e situação, quanto mais sob a tão repetida disposição governamental de reduzir ou conter gastos. Se passado o pente fino nos milhões injustificáveis que escoam dos ministérios todos os dias, ao final somam-se bilhões. O pente é muito pouco usado, no entanto. Não só por vício. As exigências políticas e as conexões pessoais são mais fortes do que o poder de desconsiderar os seus interesses alimentados pelos cofres públicos.
O impasse entre a necessidade de contenção dos gastos e o aumento pretendido é outro atestado de uma deformação desastrosa no Estado brasileiro. Com toda a sua massa de encargos, em se tratando de pessoal e das suas condições de atividade, o Executivo é um pobretão, se comparado ao Legislativo.
Brasília é uma grande farsa, com seus palácios e seus luxos. Fora de lá, o normal nas dependências do Executivo não está longe do repugnante e, por muitos motivos entre o servidor desalentado e as instalações, é sempre revoltante. Transposta para os vencimentos, a comparação com o Congresso é vergonhosamente humilhante para os quadros do Executivo. Com exceção só, e em termos, da Receita e dos superiores da Polícia Federal.
Dilma Rousseff resolveu deixar para o Congresso, responsável pela montagem final do Orçamento dos três Poderes para 2012, a decisão sobre o reajuste do Judiciário. Atitude politicamente hábil. Mas, assim como a proposta governamental para o Orçamento, não avança em nada para corrigir a deformação que degrada a eficiência do Estado e desconsidera a equivalência constitucional dos três Poderes.

ELIO GASPARI - A defesa da Bolsa da Viúva


DIGA NÃO À CORRUPÇÃO

A defesa da Bolsa da Viúva
ELIO GASPARI
FOLHA DE SP - 07/09/11

Judiciário pede R$ 7,7 bi e uma juíza federal expõe a tensão existente entre o direito e o Orçamento


Está no Congresso uma proposta orçamentária que prevê um aumento de 14,7% para o Judiciário. Ela concede reajustes gerais que, no topo da pirâmide, elevam para R$ 30,6 mil mensais os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Chegando à base dos servidores, custará cerca de R$ 7,7 bilhões. (Com o reajuste, os ministros do STF ganhariam mais que seus similares da Corte Suprema dos Estados Unidos.)
Como em todas as reivindicações salariais, há argumentos em sua defesa, sobretudo para o pessoal do andar de baixo.
Caberá aos deputados e senadores fixar o percentual que julgam adequado. Infelizmente, um em cada dez parlamentares estão espetados em processos que aguardam julgamento no Supremo. Para enriquecer o debate, aqui vão trechos de uma recente decisão da juíza Juliana Montenegro Calado, da 1ª Vara Federal de Colatina (ES), envolvendo uma causa que acarretaria despesas para o erário:
"Há muito debatem os especialistas acerca da relação entre o direito e a economia, além do problema em como compatibilizá-los, uma vez que diferentes são as abordagens para a tomada das decisões: enquanto que o raciocínio econômico leva em questão os custos e a eficiência, o raciocínio jurídico observa a legalidade.
Essa relação entre direito e economia encontra-se intrinsecamente ligada quando se trata da implementação de políticas públicas pela administração, na medida em que as necessidades públicas são infinitas, mas limitados são os recursos materiais que poderão propiciá-las.
(...) O administrador terá que conviver fundamentalmente com a escassez de recursos e a impossibilidade prática de implementar todas as necessidades da população. É justamente essa situação que conduz às escolhas dramáticas do administrador, pois, no momento em que investe recursos numa determinada área, deixa de atender outras necessidades em áreas diferentes.
(...) A questão do custo dos direitos está intimamente ligada à ideia da reserva do possível, porquanto essa última expressão identifica o fenômeno econômico da limitação dos recursos disponíveis frente às necessidades a serem supridas. Não se diga com isso que o administrador está autorizado a invocar a reserva do materialmente possível sempre que deixar de observar a implantação de algum direito social, mas não se pode desconsiderar por completo a existência desta tensão no equacionamento entre limitação de orçamento e demandas sociais."
A juíza negou um pedido do Ministério Publico Federal para que o governo do Espírito Santo se abstivesse de mandar presos para a Penitenciária de Barra de São Francisco, onde 364 pessoas ocupam um espaço projetado para guardar 106, cabendo a cada uma delas uma área de 1,09 metro quadrado. Pedia-se também uma fiscalização do estabelecimento, um plano para descongestioná-lo e a construção de outras unidades.
A juíza entendeu que não compete ao Judiciário "imiscuir-se na análise dos elementos de oportunidade e conveniência" que são prerrogativas do Executivo.
Uma perícia da Polícia Federal verificou que o presídio "não possuía, em suas unidades celulares, condições mínimas de salubridade para a existência humana".