quarta-feira, julho 13, 2011

ZUENIR VENTURA - Um pouco de udenismo


Um pouco de udenismo
ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 13/07/11

Quando o radicalismo estava na moda nos maniqueístas anos 60, o dramaturgo Oduvaldo Viana Filho deu um conselho de moderação que ficou famoso: "um pouco de pessedismo não faz mal a ninguém" (o PSD era o partido da contemporização). Agora, nestes tempos de leniência moral, seria o caso de recomendar: "um pouco de udenismo não faz mal a ninguém" (a UDN era o partido do moralismo). Alega-se que a corrupção é endêmica, incurável, existe em qualquer país e teria sido trazida pelos portugueses, junto com as doenças venéreas. O problema é que foi se alastrando como metástase e hoje é uma cultura, com autonomia e lógica próprias, presente tanto nas licitações fraudulentas do Ministério dos Transportes como no desvio das verbas destinadas à Região Serrana, devastada pelas chuvas. Ou no guarda da esquina. E pouco tem sido feito contra o vírus.

O escândalo na pasta dos transportes basta como ilustração do fenômeno. O que se passa ali desde 2003, quando o PR começou a controlar um dos maiores orçamentos do país, é hoje do conhecimento público: as irregularidades chegaram a tal ponto que a presidente Dilma foi obrigada a afastar quatro auxiliares do ministro Alfredo Nascimento, que em seguida também teve que deixar o cargo. Mesmo assim, o partido do mensaleiro Valdemar Costa Neto continuou se achando dono do ministério, até que a presidente, após convidar sem sucesso o senador Blairo Maggi para o lugar de Nascimento, impôs sua preferência, não a do partido, que se sentiu traído, fez beicinho, mas agasalhou o revés, a julgar pelo depoimento no Senado do diretor afastado do Dnit, Luiz Antônio Pagot, que evitou comprometer qualquer ministro ou superior.

Para se ver como funciona nos bastidores o mecanismo fisiológico de pressão e barganha de uma base de sustentação do governo, há duas cenas esclarecedoras tendo como protagonista o deputado Valdemar. Numa, ele revela com franqueza a uma rádio de Mogi das Cruzes sua forma de agir:

"O nosso ministro chegou na Dilma outro dia e falou: "Olha, o Valdemar tá com um problema com o bloco. Ele fez o bloco, acertou com o Palocci pra aumentar o espaço do partido no governo. Nós já temos muito espaço. Mas precisávamos aumentar o espaço, porque são 24 deputados a mais" (ele se refere aos partidos nanicos que com os 41 do PR compõem um forte grupo de apoio). Em seguida, fala que quer uma diretoria na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil para facilitar seus pedidos de empréstimos: "Eu tendo um diretor, sai na hora."

Na outra cena, Valdemar e Nascimento aparecem num vídeo negociando com um deputado do PDT sua transferência para o PR em troca da liberação de uma verba de R$1,5 milhão para sua cidade no Maranhão. É, não é fácil a vida da presidente. Com aliados assim, ela não precisa de adversários.

ROBERTO DaMATTA - A questão dos limites

A questão dos limites
ROBERTO DaMATTA 
O ESTADÃO - 13/07/11

A palavra mais lida nos jornais é "corrupção". Explodem escândalos vergonhosos em todos os níveis do governo. Todos falam de roubalheiras que vêm de "cima" para "baixo", dos "governantes" que deveriam, pela nossa velha cartilha, dar o exemplo para a sociedade. Eles não são apenas a herança do populismo lulista — um populismo de extraordinários resultados coletivos e privados, mas revelações de um sistema administrativo construído sobre uma contradição. Pois se o republicanismo que vem lá da Revolução Francesa se funda na igualdade perante a lei, o estilo brasileiro de exercer o poder é aristocrático e hierárquico.

Quem está mais longe do poder é sujeito da lei e quem o controla multiplica seus bens assaltando os recursos da sociedade impunemente e com a proteção (ou "blindagem") governamental. É o descaso para com a igualdade republicana que está no fundo de todos esses escândalos claros ou velados, e são eles que colocam em xeque o governo e, muito mais que isso, a nossa capacidade de honrar a democracia.

Sobretudo agora que vamos bater novamente de frente com o "mensalão", essa vergonha de um partido que prometia transformar todos os costumes políticos nacionais, mas que demonstrou que o nosso problema é muito mais de atitude gerencial e de cuidado para com a coisa pública do que de mera figuração ideologia.

Nosso moinho satânico não é bem o capitalismo com suas mais-valias e seus monopólios, mas um Estado que troca o senso de limites pelas relações de amizade que se (con)fundem com os elos partidários. O tal governo de coalizão que sempre foi a marca da política nacional é hoje a carteira privilegiada de um clube onde se chega pelo individualismo e pela igualdade das disputas eleitorais, e tira vantagem através da desigualdade que caracteriza o exercício de uma administração centralizada num "estado" que só sabe pensar em si mesmo. A nossa interpretação do liberalismo foi no sentido de transformar o seu individualismo em privilégio pessoal porque nele só enxergamos o lado dos direitos e das vantagens, esquecendo sua dimensão de dever, de honra e de responsabilidade. Dos limites e fronteiras que chegam mais pelo bom-senso e pela boa-fé do que pela policia, pelos tribunais e pelas leis.

O que falta nessa mixórdia não é discutir leis e inventar mais instituições e códigos de conduta, mas de discussão dessas inocentes pontes "naturais" e "humanas" entre gerentes públicos (prefeitos, governadores, ministros, reitores, diretores, presidentes, etc...) e administradores privados — todos enriquecendo brutalmente que com o nosso dinheiro.

E o ponto central para realizar tal discussão é ter uma consciência cada vez mais clara de que quem produz os recursos e a riqueza é a sociedade. É o conjunto de pessoas que forma o tal "povo" que não é nem pobre ou rico, mas é comum no sentido de ser parte de um todo com interesses e valores coincidentes. Pertence a esse povo o dinheiro nacional, bem como a conduta dos seus gerentes, eleitos por tempo limitado. Eles não são os seus donos, mas os seus gerentes. Eles não têm o direito de fraudar esse povo em nome de sua libertação ou de sua miséria, mas a obrigação de honrá-lo com o gerenciamento eficiente e honesto dos seus recursos.

Só a consciência radical da igualdade perante a lei e da responsabilidade publica dela decorrente pode nos libertar desse embrulho ideológico mistificador no qual os governantes se apresentam como protetores, mães, pais e tios, primos e, no fundo, proxenetas do "povo". Esse povo propositalmente confundido de modo imoral e populista com os "pobres" que precisam de um Deus no céu e de nossa ação a seu favor na terra. É entre ele e os projetos governamentais que brotam as mestiçagens do público com o privado — essas misturas que multiplicam bens num grau que escandalizaria um imperador romano.

Precisamos urgentemente de uma consciência de limites — essa irmã do bom-senso. O bom-senso sobre o qual Tom Paine, em pleno século XVIII, exortando a separação entre pessoa e papel num mundo novo, marcado pelo individualismo e pelo ideal de liberdade e igualdade, discutia. Tal conta de chegar entre pessoa (com seus interesses particulares) e papel público (que demanda isenção, equilíbrio e altruísmo). Sabemos como isso é complexo num pais marcado pela desigualdade da escravidão, como bem viu Joaquim Nabuco. Mas, sem essa consciência do que é público e do que é particular, não vamos alcançar o mínimo da responsabilidade pública demandada numa democracia representativa, pois ela depende dessa discussão daquilo que é suficiente para cada um de nós num sistema onde, aparentemente, o céu pode ser o limite — como exemplificam os nossos representantes (???) na esfera pública, sobretudo os que nos governam.

Termino com uma parábola.

Conta-se que, numa reunião na mansão de um multimilionário americano, o escritor Kurt Vonnegut Jr. (autor, entre outros, do incrível "Matadouro 5") perguntou ao seu colega Joseph Heller (autor do não menos perturbador e brilhante "Ardil 22"): "Joe, você não fica chateado sabendo que esse cara ganha mais num dia do que você jamais ganhou com a venda de 'Ardil 22' no mundo todo?" Ao que Heller respondeu: "Não, porque eu tenho alguma coisa que esse cara não tem!" Vonnegut olhou firme para ele e disse: "E o que você acha que pode ter que esse sujeito não tenha?" Resposta do Heller: "Eu conheço o significado da palavra suficiente!".

MARCELO COELHO - O primeiro best-seller

O primeiro best-seller
MARCELO COELHO 
FOLHA DE SP - 13/07/11

O prazer de castigar e o de não entender o que nem a vítima entende está na origem de todo moralismo


ENGANA-SE QUEM pensar que os livros de autoajuda começaram a ser publicados nos últimos 20 anos.
O primeiro best-seller de que se tem notícia foi editado em 1494 e não deixa de ser um exemplo do gênero.

Chama-se "A Nau dos Insensatos", e seu autor, Sebastian Brant, nasceu em 1457. Quando morreu, em 1521, era "o autor mais renomado de toda a Europa", segundo a orelha da tradução brasileira de seu livro, que acaba de sair pela editora Octavo.

O original, escrito em alemão, foi rapidamente traduzido para várias línguas ano após ano enquanto Brant ainda estava vivo. Até hoje, "A Nau dos Insensatos", ou "Stultifera Navis" (tradução latina em 1497), faz de "Der Narrenschiff", por intermédio do romance "Ship of Fools", de Katherine Anne Porter (1890-1980), algo como um clássico desconhecido, uma referência que todo mundo deveria ter lido, mas ninguém leu.
Ainda bem. Os mais de cem capítulos curtos de "A Nau dos Insensatos" dedicam-se a condenar, com rigores que fariam inveja a qualquer aiatolá, os pecados do mundo. Alguns exemplos:

"Parvo é quem não crê na Escritura, que trata da salvação, e pensa que pode viver como se não existisse Deus nem Inferno";

"A maior tolice do mundo é o dinheiro ser glorificado mais do que a sabedoria";
"Quase chego a considerar totalmente néscios os que encontram alegria e prazer na dança, girando furiosamente ao redor de si como loucos, cansando e sujando os pés na poeira";
"Não considero muito sábio aquele que emprega ao máximo seus sentidos e esforços para explorar todas as cidades e terras";

"Há ainda muitas pessoas sem préstimo, metidas em peles de néscio e que se comportam de modo intratável, se aferrando a isso; elas estão amarradas ao rabo do demônio e não se querem desvencilhar (...) Entre elas estão os sarracenos, os turcos, os pagãos, e junto a eles ainda coloco a escola de hereges."
Como se vê, o livro inteiro pode constar como um tratado de intolerância e moralismo. O sucesso que obteve, na transição entre o século 15 e o 16, dá mostras do enorme trabalho que se teve, a partir de Montaigne, em desmontar essa máquina de terrores e preconceitos.

É curioso que, nesta obra de edificação católica, encontrem-se tanto os temas que anos mais tarde criariam as bases da ética capitalista (a austeridade, o culto ao trabalho) quanto os temas que embasariam a crítica dos católicos progressistas ao capitalismo ("é tolo acumular riquezas em vez de sabedoria").
Estão aí, numa radiografia arcaica, as contradições do Ocidente. A condenação ao prazer, ao lado da condenação à riqueza, teria de explodir -uma vez que, renunciando ao prazer, o indivíduo enriquece.
Explodiram em catolicismo e protestantismo, poucas décadas depois da publicação de "A Nau dos Insensatos". O moralismo que dá força ao livro, entretanto, é mais forte do que as duas tendências teológicas juntas.

Era ainda aterrorizante, por exemplo, há menos de um século, quando George Orwell (1903-1950) estava internado num colégio em que, de repente, os professores resolveram iniciar uma cruzada contra a masturbação.

Ele conta o que aconteceu num dos ensaios de "Como Morrem os Pobres", que acaba de sair pela editora Companhia das Letras.

Sem entender nada do que se passava, dada sua ignorância dos prazeres solitários, ele foi interpelado pelo diretor da escola.

Seguiram-se sessões de castigo físico, que vitimaram especialmente um menino, culpado de ter olheiras em excesso, e que mal entendia o motivo pelo qual estava sendo castigado.
O prazer de castigar, o prazer de não entender o que nem a vítima entende, está sem dúvida na origem de todo moralismo.

"A Nau dos Insensatos", cuja leitura é de interesse para historiadores e apreciadores das artes gráficas (pois vem acompanhada das gravuras, muitas das quais feitas por Dürer, da edição original), é um dos textos fundamentais da cultura ocidental.

Felizmente, a cultura ocidental se empenhou em se livrar do obscurantismo dessas páginas. Caso contrário, seríamos fundamentalistas (sem ser muçulmanos) até hoje.

MARCIA PELTIER - Jantar no escritório

Jantar no escritório 
MARCIA PELTIER
JORNAL DO COMMÉRCIO - 13/07/11

O jantar que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, oferece segunda-feira para o ex-presidente Lula será para 200 convidados, no restaurante panorâmico do 16º andar do prédio-sede da federação. Durante todo o período no Planalto, Lula fez da Fiesp, conforme ele próprio admitiu, seu escritório em São Paulo, onde recebeu vários chefes de Estado.

Pé no freio 
Balanço da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras aponta que o saldo total de crédito do Sistema Financeiro para a aquisição de veículos fechou maio em R$ 193,1 bilhões, com crescimento de 16,8% sobre o mesmo mês de 2010. Apesar do avanço, segundo a Anef, houve desaceleração das vendas. Entre os meses de abril e maio a alta foi de 1,4%, número discreto se comparado ao padrão dos anos anteriores. ‘’A retração já era esperada com as medidas de restrição ao crédito adotadas pelo do BC’’, diz Décio Carbonari de Almeida, presidente da entidade

Ritmo morno
Na opção de financiamento por CDC (Crédito Direto ao Consumidor), a alta em maio foi de 10,6% sobre o mesmo período de 2010, passando de R$ 108,3 milhões para R$ 155,3 mihões. Já o leasing manteve a tendência de queda desde o início do ano. A baixa nas aquisições de veículos por meio desta modalidade de financiamento foi de 33,8%, de R$ 57,1 milhões para R$ 37,8 milhões.

Pola de biquíni 

Pola Oloixarac, a argentina que se recusou até a falar sobre biquínis durante a Flip, com receio de ter seu nome relacionado a um assunto “mulherzinha”, colocou, enfim, um duas peças ontem, em Picinguaba. Ela ficou nos últimos dois dias hospedada numa pousada na localidade praiana, próxima de Paraty. Parecia um pouco cansada, segundo um hóspede, e só interrompeu seu descanso para fazer uma caminhada. Almoçou peixe assado na palha de banana com farofa de camarão. Hoje, a escritora se despede do Brasil com uma palestra, às 19h30, na Livraria da Vila, em São Paulo.

Tentativa tricolor 
Nem Santos, nem Botafogo. Quem pode acabar contratando Diego Ribas, o meia que não vai mais atuar pelo Wolfsburg, é o Fluminense. O procurador do jogador, Robson Florêncio, decola hoje para a Alemanha levando na bagagem uma proposta com o aval da Unimed.

Suporte verde 
Foi instalada, ontem, a Câmara Regional de Meio Ambiente e Sustentabilidade, subordinada à Subsecretaria de Economia Verde do Rio, cuja função será a adoção de critérios sustentáveis para a Copa de 2014. Segundo a subsecretária Suzana Kah, a Copa será a grande oportunidade de mostrar que o estado, sob o ponto de vista ambiental, é capaz de suportar um evento de tamanho porte.

Português com legenda 

O maior ídolo jovem de Portugal do momento, escalado para se apresentar no Rock in Rio dia 2 de outubro, estará no Brasil antes, de 9 a 12 de agosto, para fazer sua divulgação por aqui. O mais curioso é que David Fonseca só canta em inglês, língua que considera com sonoridade melhor para o pop rock. Com um público enorme também em toda a Europa, David canta, compõe, toca todos os instrumentos dos seus CDs, dirige seus clipes, é fotógrafo e ainda é apaixonado por gatos.

Tecnologia e calor humano 
O cenógrafo Abel Gomes promete tirar o fôlego das autoridades e do grande público na festa de abertura do 5º Jogos Mundiais Militares, que acontece sábado no Estádio do Engenhão. Vai adotar a técnica que mistura personagens reais com projeção mapeada, muito usada no exterior para compor cenário e elementos de cena. A participação especial será feita por uma criança, que irá revelar o tema da festa: paz sem fronteiras.

Céu, mar e terra 

A contagem regressiva para que o craque Pelé acenda a Pira Olímpica será marcada por fogos de artifício. Momentos antes, um jato F5 vai dar voo rasante no entorno do Engenhão. Outras surpresas, guardadas a sete chaves, prometem emocionar o público.

Livre Acesso

Alguns vips já começaram a receber o save the date especial da doutora Rosa Célia. No próximo dia 26, tem Leilão do Coração para construção do Hospital Pró Criança Cardíaca. O evento acontece no Hotel Sofitel e contará com peças como uma guitarra autografada pela banda Scorpions, um vestido doado por Adriane Galisteu, uma camiseta autografada por Pelé e um escova de dentes banhada a ouro cedida pela empresa TePe.

O escritório Campos Mello Advogados foi selecionado pela Dream Factory Sports, do grupo Artplan, para prestar assessoria jurídica à Maratona Caixa da Cidade do Rio de Janeiro, programada para este domingo.

Em apenas uma semana, o YES! recebeu 200 novas matrículas depois de se tornar um dos parceiros do projeto Previ-Rio Bilíngue. A escola dará aulas de inglês a servidores municipais pagas pela prefeitura do Rio. A ideia do projeto, criado pelo prefeito Eduardo Paes, é capacitar profissionais para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016.

O chef Pedro Pecego, do restaurante Cordato, dá aula de tapas, segunda-feira próxima, no Espaço Carioca de Gastronomia, em Botafogo.

As irmãs Fernanda e Claudia Jordão inauguram, hoje, o atelier Brit, de inspiração londrina, em Ipanema. 

Margareth Rocha e Ricardo Pires, do Rappanui Gastronomia, serão responsáveis pelo brunch para 100 convidados, amanhã, na cerimônia de assinaturas do Casa Design 2011.

O publicitário Roberto Duailibi está internado no Sírio-Libanês, em São Paulo. Após mais uma forte crise de coluna, resolveu passar por cirurgia para tratar uma hérnia de disco.

Com Marcia Bahia, Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito

ANCELMO GÓIS - Leitura de bordo

Leitura de bordo
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 13/07/11

O passageiro da poltrona 2D do voo 3024 (Rio-Brasília) da TAM, segunda, era o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. Lia o livro “Como as gigantes caem”, do americano James Collins, segundo o qual, se não tomar cuidado, qualquer empresa corre o risco de morrer — mesmo que sejam avantajadas... como a Petrobras.

Pão de sal

O que se diz em Brasília é que, com a saída de Palocci, Abílio Diniz perdeu seu maior interlocutor no Palácio do Planalto. 

‘Meu paipai’
O senador Ivo Cassol, do PP de Rondônia, pediu licença por “motivo de saúde” (20 dias) e para tratar de “assuntos de interesse particular” (106 dias). Como licenças acima de 120 dias exigem a convocação do suplente, assumirá seu lugar... o pai dele, Reditário Cassol, 75 anos. 

Cinema de luto
O diretor e produtor de cinema Emiliano Ribeiro, 63 anos, foi encontrado morto, ontem, em seu apartamento, na Barra, no Rio. Ao lado do corpo, estava sua mulher, a roteirista Karla Hansen, 38 anos, inconsciente. Grávida de um mês, ela foi levada ao hospital, mas morreu antes de chegar.

Segue...
Um dos últimos trabalhos de Emiliano foi como produtor- executivo do filme “Gatão de meia idade” (2006), de Antônio Carlos da Fontoura. Ele e a mulher serão cremados. 

Voando alto
O que se diz na sala de embarque é que, depois da Webjet, a Gol está de olho em outra miúda — a Passaredo. 

Ou seja...
Foi para o espaço a ideia de Nelson Jobim, depois do chamado apagão aéreo de 2007, de quebrar o duopólio Gol-TAM. 

Ashley no Brasil 
O portal canadense de relacionamentos AshleyMadi - son.com, que estimula casos extraconjugais, vai abrir um braço no Brasil na primeira quinzena de agosto. A empresa tem mais de 9 milhões de usuários e, acredite, 190 mil brasileiros cadastrados nos sites dos 14 países onde atua. 

Tô fora
O Banco Português de Negócios, que está na UTI, foi oferecido mesmo ao Banco do Brasil, que, educadamente, recusou.

O preço da paz
A UPP permitiu que serviços públicos chegassem a 18 favelas do Rio sem medo de levar bala. A Comlurb, para dar conta do recado, desembolsou uns R$ 10 milhões. 

Compra o Tevez!

O Flamengo pode turbinar seu caixa com R$ 18,7 milhões. A juíza Isabela Chagas, da 14a- Vara Cível do Rio, mandou Edmundo dos Santos Silva devolver ao Fla esta quantia, fora juros, gasta sem comprovação em seu tempo de presidente do clube (1999-2001).

Procura-se
A 32a- DP do Rio registrou, recentemente, dois estupros na favela Gardênia Azul, em Jacarepaguá. O sujeito age armado, com capuz e num carro escuro. “Pelo modus operandi, em breve vamos prendê-lo”, diz o delegado Murilo Montanha. Tomara. 

Hino Nacional
Wagner Tiso prepara um arranjo inédito do Hino Nacional para ser executado no encerramento dos Jogos Mundiais Militares, no Engenhão, dia 24. Haverá seis pianos no estádio. Com Tiso, tocarão Arthur Moreira Lima, João Carlos de Assis Brasil, Nelson Ayres, Amilton Godoy e Antonio Adolfo.

Xixi do Hulk
A barraquinha mais concorrida da festa julina da Praça Afonso Pena, na Tijuca, no Rio, no fim de semana, foi a que vendia batidas que prometiam, digamos, “elevar o moral” dos homens. Veja alguns nomes: “pau na coxa”, “consola corno” e até... “xixi do Hulk” — aliás, a mais vendida, feita com limão.

PEDRO DA MOTTA VEIGA e SANDRA POLÓNIA RIOS - Seis meses de política externa sob Dilma

Seis meses de política externa sob Dilma
PEDRO DA MOTTA VEIGA e SANDRA POLÓNIA RIOS
O Estado de S.Paulo - 13/07/11

As principais heranças deixadas pelos dois governos Lula para sua sucessora foram a projeção adquirida pelo Brasil nos foros econômicos multilaterais e o condicionamento da estratégia econômica externa a objetivos propriamente políticos.

As diferenças entre as histórias e personalidades dos presidentes Lula e Dilma Rousseff - e os impactos dessas diferenças sobre as percepções externas em relação aos dois - parecem suficientes para explicar o padrão de administração da herança de Lula, adotado pela nova presidente, no que se refere à projeção internacional alcançada pelo Brasil.

Passados seis meses da posse da presidente, parece claro que a dimensão política da estratégia externa do Brasil perdeu força e que há uma volta da prioridade concedida tradicionalmente no Brasil à dimensão econômica da política externa.

Na realidade, a mudança no cenário doméstico que está por trás da política externa já vinha se desenhando desde o final do governo Lula 2. Aos poucos, o quadro favorável que combinava crescimento impressionante das exportações de commodities com expansão da produção industrial voltada para a demanda doméstica começa a se deteriorar com a apreciação cambial e a forte expansão das importações originárias da China.

A margem de liberdade de que a política externa desfrutou sob Lula refletia, em grande medida, o dinamismo da demanda internacional por commodities, mas também a posição confortável, no mercado interno, dos setores industriais que competem com importações. A erosão dessa combinação, que "faz água" pelo lado dos setores import-competing, traz as preocupações domésticas e volta ao centro da agenda de política externa, agora centrada na dimensão econômica.

Em sua nova função, a política comercial passou a conferir prioridade ao tema da proteção dos setores que competem com importações no mercado doméstico.

O mais recente exemplo foi o discurso de Dilma Rousseff na reunião semestral de presidentes do Mercosul, em junho de 2011. A presidente sinalizou com clareza a mudança de tom na política econômica externa do Brasil, ao propor que os países do bloco possam aumentar tarifas para enfrentar as importações do resto do mundo, num cenário em que os países desenvolvidos crescem pouco e o dinamismo das economias do Mercosul faria destas alvos privilegiados dos esforços de exportação daqueles países.

É plausível supor que essas mesmas preocupações também moldarão a nova política industrial, que será anunciada nos próximos meses, traduzindo-se em medidas de incentivo para investimentos que cumpram com requisitos de conteúdo nacional.

Neste novo cenário, a política externa tende a funcionar estreitamente subordinada à agenda doméstica de resposta às ameaças de "desindustrialização". De um lado, novas regras internacionais percebidas como restrições à margem de liberdade no manejo das políticas econômicas são rejeitadas pelos policy makers (caso da proposta, formulada por países desenvolvidos, no G-20, de regular o uso de controles de capital), posição que aproxima o Brasil dos demais Brics. De outro lado, novas regras de política industrial e comercial tendem a testar o alcance de regras multilaterais de comércio relacionadas, sobretudo, a investimentos (medidas comerciais relacionadas a investimentos - Trims, no acrônimo em inglês).

A crise econômica de 2008 e a competição dos produtos chineses no mercado doméstico de todos os setores industriais - que se intensificou em 2010 - apresentam ao Brasil os custos de sua crescente integração à economia internacional. Até então, o Brasil tivera contato apenas com os benefícios da globalização. O enfrentamento dessa questão pautará a agenda externa do governo Dilma mais além dos seus primeiros seis meses.

DIRETORES DO CENTRO DE ESTUDOS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO (CINDES)

ALON FEUERWERKE - Vá reclamar com o bispo


Vá reclamar com o bispo
ALON FEUERWERKE 
Correio Braziliense - 13/07/2011

O estilo do governo é burocrático-silencioso-autocrático. No caso do trem-bala, por exemplo, espanta o deficit de debate público, considerado o montante de dinheiro público demandado

O Brasil precisa de um trem-bala no eixo Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro? Claro que precisa. Aliás, seria exercício interessante fazer a lista de todas as coisas das quais o país anda necessitado.

Faltaria papel, caso alguém quisesse imprimir.

Ao contrário das nações já completamente desenvolvidas, ainda há aqui muitíssimo a fazer. Eis também por que nós e os demais emergentes vamos em vantagem no contexto planetário de crise.

Aqui não é preciso criar necessidades para preenchê-las. Elas nos gritam ao ouvido 24 horas por dia.

O problema não está porém na necessidade genérica de um trem de alta velocidade para cortar nossa principal conurbação. Está na prioridade de fazê-lo.

Talvez os especialistas possam, por exemplo, dizer quantos quilômetros e composições de trens velozes, mas nem tanto, daria para integrar à malha ferroviária brasileira com o mesmo dinheiro.

Seria bom poder trocar a congestionada ponte aérea por um trem superveloz? Seria ótimo. Seria bom se nossas commodities e mesmo os industrializados pudessem chegar aos portos a um custo menor, para ganhar competitividade? Seria excelente.

Especialmente com um real cronicamente forte.

Como então resolver o que fazer e o que não? Ou o que fazer antes e depois?

Este governo acabou construindo um método. O governante decide o que é bom para o Brasil e as dúvidas são imediatamente debitadas da conta dos inimigos do país, da turma que pensa pequeno, do grupinho que tem complexo de vira-lata.

De vez em quando dá confusão, quando o próprio governo resolve engatar a ré, deixando ao relento a legião dos incondicionais. Mas não tem sido a rotina.

Nos tempos de Luiz Inácio Lula da Silva havia pelo menos a "luta política". O então presidente avermelhava o rosto, inchava a veia do pescoço e sua voz rouca saía a atacar quem dele discordasse.

Era rudimentar, mas não deixava de representar alguma satisfação. Quem se dispusesse, que confrontasse publicamente o chefe do governo. Não havia muita disposição para enfrentar, mas ninguém podia reclamar da falta de oportunidade.

Agora não. O estilo é burocrático-silencioso-autocrático. No caso do trem-bala, por exemplo, espanta o deficit de debate público, considerado o montante de dinheiro público demandado.

Do jeito que vai, a coisa acaba chegando perto — se não passar — dos três dígitos de bilhões. É dinheiro em qualquer lugar do mundo.

É dinheiro público porque o pagador de impostos e o assalariado ficam com a conta e com a dívida resultantes do descasamento dos juros na captação e no empréstimo pelo BNDES.

Numa situação normal, o governo estaria obrigado a explicar por que vai fazer uma coisa e não outra. Os ministros envolvidos deveriam ir muitas vezes ao Congresso prestar contas, enfrentar questionamentos.

Agora sim seria hora de multiplicar os power points.

Mas não vivemos uma situação normal. O poder transformou-se numa confraria com quase todo mundo dentro. E o Congresso anda capenga faz tempo, pelo menos desde o governo Fernando Henrique Cardoso.

O "quase" do parágrafo anterior é por causa do cidadão comum. Que fica completamente por fora. Menos na hora de pagar a conta.

Sua única opção, como se diz, é ir reclamar com o bispo.

Basta querer
Os colégios militares são bem menos de 1% dos estabelecimentos públicos, mas seus alunos ganharam 40% das medalhas na última Olimpíada de Matemática das escolas públicas.

O número parece autoexplicativo.

Num país em que a louvação às brilhantes autoridades educacionais só encontra paralelo na mediocridade do ensino oferecido pelos órgãos que os gênios comandam, talvez fosse o caso de tentar entender o que acontece nos colégios militares.

Esta minha sugestão será naturalmente ignorada, e talvez deva ser mesmo.

Afinal, já se sabe há muito tempo o foco das deficiências educacionais no Brasil. O dever de o professor ensinar e de o aluno aprender estão na lanterna das preocupações da turminha que domina o sistema.

É simples assim.

A formação dada nos colégios militares mostra porém que não estamos condenados à danação eterna.

Basta querer mudar. E ter disposição para enfrentar.

ANTÔNIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA - A liberdade longe do Supremo

A liberdade longe do Supremo

ANTÔNIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA
FOLHA DE SP - 13/07/11

Caso seja aprovada, a PEC dos recursos suprimirá de tribunais superiores a apreciação do valor fundamental do ser humano, que é a liberdade

Vejo como demonstração de pouca convicção no acerto e na própria legalidade da PEC dos recursos a afirmação de que, se ela estivesse em vigor, Pimenta Neves já estaria preso há tempos.
Sabem os que assim alegam que esse é um argumento apenas de efeito para uma sociedade leiga e sedenta pela prisão alheia, pois não corresponde à realidade de nosso sistema penal. Pimenta Neves poderia, sim, estar encarcerado, mesmo na vigência do atual sistema, se a sua prisão fosse considerada necessária pelos magistrados que examinaram o seu processo.
Poderia ter sido preso, como o foram, antes do trânsito em julgado das decisões, inúmeros outros acusados de homicídio, dentre os quais Suzane von Richthofen, os irmãos Cravinhos e o casal Nardoni. Portanto, não são os recursos que impedem a prisão.
Fala-se também que os advogados são contrários à PEC por razões de interesse profissional. Alegação imprópria e injusta. Como fizemos na luta pela democratização do país, pelo término da censura e pelo retorno das prerrogativas da magistratura, nós, advogados, outra vez pugnamos pelo que nos parece correto, no caso, a liberdade.
Aliás, se fossem levados em conta motivos meramente profissionais, deveríamos estar a favor da PEC, pois na área criminal a demanda será maior, uma vez que, por conta do trânsito em julgado antecipado, inúmeros habeas corpus serão impetrados.
Argumentos dessa natureza não podem alicerçar uma medida que suprimirá dos tribunais superiores questões como a liberdade e a dignidade do homem. Note-se que, com a PEC, o tribunal que ficará sobrecarregado será o Superior Tribunal de Justiça, pois os habeas corpus serão a ele dirigidos. Observe-se, sobre o habeas corpus, que ele só poderá ser interposto após a expedição do mandado de prisão em segundo grau, não tendo, portanto, o condão de impedir que a liberdade seja sacrificada.
Não se pense, no entanto -e seria grande indelicadeza fazê-lo-, que o objetivo da PEC foi aliviar o STF em detrimento do STJ.
Em verdade, na busca de soluções para aliviar a sobrecarga do Judiciário, é preciso levar em conta suas causas reais, que não são os recursos, mas, sim, a burocracia, a carência de juízes e de funcionários, a inexistência de efetiva autonomia financeira, a incipiente informatização e, especialmente, a excessiva litigância da União.
Como pretendem incluir medidas pertinentes ao Judiciário em um novo Pacto Republicano, é conveniente e oportuno que dele se faça constar um compromisso da União de não utilizar recursos meramente protelatórios. Com isso, uma causa real da sobrecarga dos tribunais superiores será afastada, sem que seja suprimido da sua apreciação o valor fundamental do ser humano, que é a liberdade.
ANTÔNIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA é advogado criminal. Foi presidente da OAB-SP (1987-88 e 1989-90) e secretário de Justiça e Segurança Pública do Estado de São Paulo (governo Quércia).

VINÍCIUS TORRES FREIRE - Europa pensa o impensável

Europa pensa o impensável
VINÍCIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 13/07/11

A elita política e econômica da União Europeia começa a pensar em medidas de guerra contra o risco iminente de colapso. A feia necessidade levou o impensável para a mesa do debate sobre como evitar um calote desordenado.

Note-se que muita ideia impensável era apenas preconceito liberaloide ou defesa de interesse político-eleitoral. Note-se ainda que, já a partir de meados dos anos 2000, governos da União Europeia começaram a jogar no lixo o pacto fundador da união monetária, os limites de deficit e dívida públicos.

Isto posto, note-se agora o tamanho do desespero europeu.

A elite da União Europeia começou a perder a face em maio do ano passado, na primeira rodada de implosão da Grécia. Num certo dia de mercado em pânico, o BCE (Banco Central Europeu) disse que não compraria títulos da dívida de países semiquebrados, sem crédito no mercado, ou não os aceitaria como garantia para empréstimos.

Dois dias depois, com tumulto na praça, engoliu o que disse. Começou, na prática, a financiar a dívida desses países e/ou a ajudar a reduzir os juros que o mercado deles cobrava. O BCE agora está cheio de papel podre em sua caixinha.

Ontem, o colapso ameaçava a dívida de Itália e Espanha, com os juros indo à lua no mercado secundário. Era dia também de venda de títulos italianos, belgas e gregos (isto é, esses governos estavam pegando emprestado uns trocados na praça). Para evitar juros estratosféricos ou coisa pior, "alguém" ajudou o mercado a comprar dívida italiana, belga e grega. Houve o boato de que teria sido o BCE. E/ou a China.

Mas o impensável mesmo é discutido no comitê de salvação pública, a reunião quase permanente dos ministros de economia europeus, e em outros fóruns da União Europeia.

Primeiro, admitiu-se que o fundo para cobrir calotes da União Europeia possa ser usado para recomprar dívida grega no mercado, onde vale uns 50% do valor de face, "original". A dívida seria reduzida, os credores engoliriam perdas.

Isso não é fácil de fazer e até pode ser considerado "calote" por agências privadas de classificação de risco. Mas significa que a Europa assume parte da dívida grega.

É como se um devedor com bom crédito, a União Europeia, tomasse dinheiro a juro barato e emprestasse a um primo com o nome sujo na praça (Grécia, Portugal, Irlanda). Seria o início de uma união fiscal.

E se as agências ou credores reclamarem? Este é o segundo impensável: dane-se. Há gente dizendo que é preciso enquadrar as agências e ignorar o que elas dizem sobre governos em situação difícil, mas que recebem "ajuda". "Caloteiros" ou não, na concepção das agências, a dívida desses países quebrados seria aceita nos negócios oficiais daUnião Europeia.

Terceiro: na sexta-feira sai o resultado do "teste de estresse" dos maiores bancos europeus. Isto é, uma avaliação sobre a suficiência de capital desses bancos. Se der chabu, se os bancos estiverem descapitalizados, a Europa avisa que vai logo cobrir rombos e "insuficiências" ou dar um outro jeito, "se não houver solução de mercado".

Nada disso foi decidido, claro. Está uma confusão horrível entre países e instâncias diferentes do "governo europeu". Mas bateu o desespero. "A imaginação está no poder."

ROBERTO ABDENUR - A persona internacional do Brasil


A persona internacional do Brasil 
ROBERTO ABDENUR
FOLHA DE SP - 13/07/11

Somos "Sul" num mundo em que não cabe a ideia de embate com um "Norte" hostil; não devemos elidir nosso caráter ocidental


A forma como um país se insere no plano internacional é expressão de dois tipos de fatores -características inerentes a sua dimensão, economia, sociedade e o modo como se posiciona nas organizações que conformam a "ordem" internacional.
O que se pode chamar de persona de um país é o conjunto dessas características, que vai além do conceito de identidade nacional. Algo que pode (e deve) mudar a cada nova fase da evolução interna e segundo o contexto internacional.
O poderio de um país se deve a fatores estáticos (território e recursos naturais). Mas seu poder é consequência da maneira como evolui internamente e de sua capacidade de, no plano externo, adequar-se a novas circunstâncias, projetando com ímpeto sua influência sobre questões da agenda internacional.
Como aponta Celso Lafer, há um modo de ser brasileiro nas relações internacionais. Isso se expressa pela crença kantiana de que, se não é fácil contemplar uma paz perpétua em escala mundial, por certo está materializado esse desiderato numa América Latina livre de armas de destruição em massa, do risco de conflitos armados e distante dos eixos de confrontação e insegurança. Vivemos hoje, aos olhos da comunidade internacional, um momento feliz, com os avanços no sistema democrático, a crescente vibração da sociedade civil, a estabilidade e o renovado dinamismo da economia.
Viemos ganhando peso crescente na área internacional, com maior capacidade de afirmação. Mais do que emergente, o Brasil é hoje ator global. Tem posição central nas organizações regionais e ponderável peso na busca de soluções para os problemas das finanças (G20, FMI, Banco Mundial), do comércio (OMC, Rodada Doha), do ambiente e da mudança climática, da energia, da segurança, de desarmamento e não proliferação, da reforma da ONU.
Para que ganhe mais ímpeto, a projeção externa requer o reconhecimento por nós mesmos do acentuado pluralismo de nossa persona, tal como se vê no plano externo. Somos "Sul", mas num mundo em que já não cabe a ideia de continuado embate com um "Norte" hostil.
E sermos "Sul" não deve levar-nos a elidir nosso caráter inerentemente ocidental, que urge afirmar. Somos país de renda média mais do que nação "em desenvolvimento". "Emergentes", temos interesses diferenciados em relação às potências estabelecidas, mas nem por isso deixamos de nelas ter parceiros estratégicos. Somos Bric, mas temos interesses diferenciados também em relação a China, Rússia, Índia e África do Sul. Somos América do Sul e estamos no Atlântico, mas cabe enfatizar nossa condição de maiores parceiros da Ásia na região.
Somos G20 na área financeira e na OMC, mas o que nos move é a ideia de reforma das instituições multilaterais, não uma postura de feições anticapitalistas na luta contra um malévolo "neoliberalismo". Nossa política externa, em evolução na continuidade, requer um cada vez mais nítido delineamento de nossa persona no seio da comunidade internacional. Que sigamos avançando nesse processo, para que o presente feliz momento se transforme em duradoura nova etapa em nosso desenvolvimento e em nossa projeção externa.

ILIMAR FRANCO - O rompimento

O rompimento
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 13/07/11

 A decisão da presidente Dilma de impor um ministro dos Transportes ao PR está sendo vista como um rompimento. Na defensiva, o partido não tem como reagir. Seus dirigentes ainda trabalham para recompor a relação política e esperam ser ouvidos quando for nomeado o novo diretor do Dnit. Um líder governista, apreensivo, disse ontem que a presidente Dilma está queimando parte da gordura que recebeu do ex-presidente Lula.

PMDB e PT divergem no Senado
Os dois principais partidos da base do governo Dilma voltaram a bater cabeça ontem na reunião da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O PMDB queria deixar em suspenso os requerimentos para convocar a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e os petistas Expedito Veloso e Serys Slhessarenko para prestar depoimento sobre o caso dos “aloprados”. A proposta dos peemedebistas era que a votação fosse adiada para agosto, depois do recesso parlamentar. O governo e o PT não aceitaram, preferindo derrubar os requerimentos ontem. O presidente da comissão é o petista Delcídio Amaral (MS).

"A presidente Dilma teve a coragem de agir e de fazer. Tirou o que tinha que tirar. Fez aquilo que os seus antecessores, o sr. Lula e o sr. Fernando Henrique, não souberam fazer em seus respectivos governos” — Pedro Simon, senador (PMDB-RS)

ESPERTEZA. Com a decisão do STF, de que a Lei da Ficha Limpa não valeu nas eleições de 2010, a Mesa da Câmara restabeleceu o mandato, conquistado nas urnas, pela deputada Janete Capiberibe (PSB-AP). O PT perdeu uma cadeira, que era ocupada pela Professora Marivania. O líder do partido, Paulo Teixeira (SP), tentou evitar que isso ocorresse. Ele procurou a oposição para que seus representantes na Mesa pedissem vista do processo, para impedir que a decisão fosse tomada.

Mal-estar
A insatisfação na base aliada não está restrita ao PR. Depois que a presidente Dilma afastou o ministro Alfredo Nascimento após uma acusação contra ele, todo mundo acha que pode ser o próximo. Floresce o clima de desconfiança.

Briga pelo Dnit
O PR está dividido quanto ao futuro da diretoria-geral do Dnit. Enquanto o senador Blairo Maggi (PR-MT) quer a permanência de Luiz Antonio Pagot, o senador Clésio Andrade (PR-MG), presidente da CNT, quer indicar um aliado seu.

O quarto senador do Rio

O vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, chegou ontem ao Senado acompanhado do senador Aécio Neves (PSDB-MG), a quem recorreu para pedir a votação de um empréstimo para o estado. Em plenário, Aécio fez piada com sua fama de ficar mais no Rio do que em Minas. “O empréstimo é extremamente relevante para o Rio, representado pelos senadores Lindbergh, Crivella e Dornelles, e, como uma quarta opção eventual, com o apoio de todos nós”, disse o mineiro, rindo.

Ganhando tempo
O governo brasileiro não apoia o projeto de decreto legislativo do senador Roberto Requião (PMDB-PR) que anula a concessão da Ordem do Cruzeiro do Sul ao ex-presidente Alberto Fujimori. Por isso, segurou sua votação na Câmara. 

Marina, a volta 
Os militantes históricos do PV, como o ex-deputado Fernando Gabeira (RJ) e o líder Sarney Filho (MA), acreditam que a ex-ministra Marina Silva voltará para o partido. A ordem entre os verdes é não hostilizar sua candidata a presidente.

 SOBRE a insatisfação do PR na Câmara com o governo, o líder do PTB na Casa, Jovair Arantes (GO), minimiza: “Isso é igual queijo, cura com o tempo.” 
 ORGULHO DE MIM. Num aparte, ontem, no Senado, Cristovam Buarque (PDT-DF) fez um elogio a si mesmo: “Fico orgulhoso de ver o aparte que eu lhe dei escrito aqui publicado junto com seu (Pedro Simon) discurso.”
● A MINISTRA Miriam Belchior (Planejamento) contesta informação publicada aqui: “Nego com veemência. O ministério não encaminhou qualquer tipo de proposta para criação de um segundo secretário-executivo.” 

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Telefone sem fio
SONIA RACY
O ESTADÃO - 13/07/11

O sindicato paulista da Polícia Federal prepara questionamento formal a ser apresentado no Ministério Público do Trabalho. Tudo por causa de um Termo de Conciliação Judicial firmado entre MPT e União que deixou de fora 4,7 mil terceirizados que atuam na PF em todo o Brasil. Esse termo prevê substituir cerca de 2,7 mil funcionários terceirizados de vários ministérios por outros concursados. O sindicato quer saber por que a PF não foi incluída no bolo.. Indagado, o MPT afirma desconhecer que havia essa necessidade na PF.

Friends

Hillary Clinton demonstrou, novamente, seu apreço por Antonio Patriota. No lançamento anteontem da Parceria para Governos Abertos, em Washington, sapecou um "meu querido Antonio" ao ver o chanceler.

Cadeia produtiva
No programa Via Rápida de Emprego, a ser anunciado amanhã. Alckmin reservou 1.500 vagas para presos próximos de ganhar liberdade. Por três meses, farão curso para pedreiro, mestre de obras e outros.

Ainda não...
A defesa enfática de FHC pela descriminalização da maconha não é consenso no PSDB. Além de Serra, Antonio Anastasia é contra. Alega que "o Brasil ainda não está pronto".
Aécio não se posicionou.

Xeque-mate
Em guerra, a Argélia perdeu o posto de maior importador do Brasil entre os países árabes. Segundo a Câmara de Comércio Árabe, foi desbancada pela Arábia Saudita - aumentaram em 64% suas compras.

Fora do tom
Estão em rota de colisão Frank Shipway - ex-assistente de Lorin Maazel na Ópera de Berlim e ex-diretor de orquestras como a Royal Philharmonic e a Philharmonia - e Arthur Nestrovski, da Osesp. No fim de semana, o maestro inglês foi surpreendido com o cancelamento de seu programa com a orquestra, contratado há meses.

E está postergada, indefinidamente, a gravação de Shipway à frente da Osesp, com direito à Sinfonia Alpina de Strauss. Especialidade do inglês.

Tipo exportação
Depois de aprovar, em 2009, a universalidade de seu sistema de saúde, a China quer mais. Da conversa que teve com Chen Zhu anteontem, em Pequim, Alexandre Padilha registrou a vontade do ministro da saúde chinês em ter um SUS para chamar de seu.

Hoje o país tem três modelos - muitas vezes, conflitantes.

Ecos da Flip
Claude Lanzmann perdeu o mediador de sua mesa, hoje, no Centro da Cultura Judaica. Traumatizou Márcio Seligmann-Silva, que conduziu a conversa com o cineasta na Flip.

Entra em cena a corajosa Alessandra Pascaud.

Ecos da Flip 2
A viagem de valter hugo mãe ao Brasil acabou sendo bem produtiva. O escritor escolheu aqui o nome do seu próximo romance, que deve sair em setembro em Portugal: o filho de mil homens.

Mapa das artes
São Paulo ganha mais uma galeria a partir do dia 30.

Marcelo Secaf, em sociedade com os curadores Carmo Marchetti e Lucas Ribeiro, inaugura a galeria Logo. Em Pinheiros, na antiga Raquel Arnaud.

Rendição?
MV Bill, conhecido pelos CDs independentes, fechou com a Coqueiro Verde Records a distribuição de seu último álbum, Causa e Efeito.

A gravadora prepara ainda o primeiro "Best Of" do rapper e líder comunitário da Cidade de Deus.

Na Frente

Pioneiro entre os fundos sustentáveis na América Latina, o Fundo Ethical escolheu seu novo presidente do conselho: Fábio Barbosa.

Finalizadas as negociações da DPZ com a Publicis, Roberto Duailibi sai de cena por alguns dias. Internou-se ontem no Sírio-Libanês para cirurgia de hérnia.

Joana Mariani, que apresenta seu curta O Cavalo hoje em Paulínia, prepara o primeiro documentário. Marias vai retratar a história da Virgem.

Floriano Pesaro foi eleito representante dos parlamentares judeus da América Latina no World Jewish Congress, em Jerusalém.

A AlmapBBDO comemora seus prêmios em Cannes quinta-feira, no Jóquei.

Russian Ice Stars apresenta o espetáculo A Bela e a Fera. Dia 20, no Via Funchal.

Oskar Metsavaht teve seu perfil publicado no jornal de negócios francês La Tribune no final da semana passada.

Vai dar samba. A Bombril decidiu patrocinar a Vai-Vai.