terça-feira, julho 05, 2011

ARNALDO JABOR - Os gays e a paranoia do mundo

Os gays e a paranoia do mundo
ARNALDO JABOR
O ESTADÃO - 05/07/11

As recentes paradas gay surpreendem - nunca pensamos que houvesse tanta gente "dentro do armário". São milhões pelas avenidas, atacados depois por evangélicos e caretas em geral, que criticam a falta de pudor.

Será ilusão ou estatística? Antes, havia três ou quatro homossexuais declarados no Brasil. Diziam: "Fulano é ‘mulherzinha’", ou "sicrano é pederasta", ou ainda "beltrano é fresco, fruta, maricas, invertido, perobo, tia e veado (ou ‘viado’?)". Creio que foi Millôr Fernandes quem escreveu uma vez que "quem escreve ‘veado’ em vez de ‘viado’ é viado". Acho-a a melhor palavra para definir homossexual em português, apesar dos traços pejorativos do nome.

Mas, por que "gay", que também revela sutilmente uma "finesse" falsa, um eufemismo em inglês meio preconceituoso? "Gay" é, originalmente, alegre, o que também é uma denegação do sofrimento que tiveram (e têm) de enfrentar.

"Viado" é uma doce palavra brasileira e devia ser assumida como oficial. "Sexo, por favor?". "Viado", responde a "santa".

Há muito tempo, procurei a origem da palavra que tanto inquieta o macho brasileiro. Cheguei uma vez a telefonar para Antônio Houaiss, que me disse que talvez a origem venha do particípio passado do verbo "venari" em latim (que significa caçar, ou seja, "venatus", o caçado).

Essa palavra já descrevia o corço desde o século XIII, mas o sentido de pederasta passivo surge com o carioca do século XX, talvez, me aventou o Houaiss, pelo fato de que o corço é seduzido pela corça, sendo, portanto, um macho passivo. Veado é a grafia certa, mas tira da palavra sua conotação sexual. Houaiss me autorizou a usar "viado".

Essa palavra me transtorna desde pequeno.

Lembro-me de que, na rua da infância profunda do Rio, escutei pela primeira vez: "Fulano é ‘viado’!". Senti que era um rótulo apavorante e, antes mesmo de saber o que era aquilo, era necessário não ser "viado". Era inquietante ver indícios na minha infância: garotinhos que davam atrás do muro, um fremir de medo diante da violência do futebol de rua, uma alvura de nádegas nos cantos de quintal. Era o pecado nascente nos subúrbios dos anos 50, quando tudo era pecado - gravidez de solteira era uma espécie de doença venérea que as mulheres podiam pegar.

Havia outros palavrões, claro, que íamos descobrindo. "Puta", por exemplo, carregava uma pecha brutal, mas pelo menos tinha contornos visíveis. Puta era supergráfica. Uma mulher era puta ou não era. Qualquer uma podia ser, menos a mãe da gente, claro. "Viado", não. "Viado" tinha uma sombra de ambiguidade, um quê de duplo, um desequilíbrio que assustava.

Acho que aprendi da complexidade da vida com a palavra "viado". A palavra dava medo porque nos fazia perder a identidade; não seríamos nem homem nem mulher. "Viado" era o ser dividido. "Viado" era o mistério.

Aprendi que não havia apenas o pai e a mãe; havia uma terceira coisa mais além, mais perigosa. Aprendi que a vida não era simples como pensávamos, que corríamos o risco de cair no mundo terrível de "Amélia", um mendigo "viado" que fazia trejeitos com os olhos pintados que, diziam, tinham dado mijo à mãe doente que lhe pedira água e, por isso, Deus o castigou. Lendo Proust, vemos que a barra era mais pesada ainda no início do século, quando ele próprio se referia ao homossexualismo como vício.

Ser "viado" nos anos 50 era uma permanente tarefa de ocultação. Os homossexuais tinham de se esgueirar entres dois mundos, o do macho e da fêmea.

Nos anos 50, os mais corajosos e livres chegavam no máximo à categoria de "bichas loucas", assumidas, mas mantendo uma caricatura de si mesmas, feita de trejeitos autoaviltantes.
Com os anos 60, o "gay" tornou-se a celebração viva do complexo, do múltiplo, de uma alegre liberdade, num parentesco com o mundo hippie e psicodélico.

Ser "gay" virou uma força política, a "gay power", um orgulho que só foi ferido com a chegada da Aids.

A epidemia virou a desculpa para a ressurreição rancorosa dos homofóbicos e conservadores, que puseram a culpa nas vítimas da doença, que viraram culpados. A partir daí, a sexualidade sofreu uma mutação sinistra para todos, pois na hora do amor e sexo pensamos no perigo de morte.

Hoje, o crescimento das marchas e bandeiras está assustando os heteros com a intensidade ideológica da luta dos "gays".

Uma amiga me disse: "Hoje só há três tipos de homem: os casados, os ‘roubadas’ e os ‘viados’".

Mas os "gays" têm uma importância política hoje, pois carregam a lâmina das incertezas. Eles são a prova de que o mundo não são dois. Eles provam que as causas e efeitos não se cruzam tão facilmente e celebram uma ambiguidade muito mais rica que o discurso feminista ou machista radical.

Segundo psicanalistas, o homossexual não entra no "mundo do pai". Fica no estágio mais seguro de um drama edípico não realizado. Fica em uma casa com a mãe imaginária, não sai para a vida da lei, do mundo real, da diferença sexual, da aceitação dos dois sexos.

Aí, arrisco minha humilde tese esquemática (bem o sei...): o mundo está virando uma barra tão pesada que a saída da casa (mãe) para a rua (pai) está cada vez mais apavorante. Como querer que uma pobre criança vire macho se os exemplos de macheza são dados pela estupidez terrível dos homens do poder? O sujeito olha o mundo lá fora, desmunheca e grita: "Nem morta!" E fica na saia da mãe.

A aceitação do homossexualismo ajuda a desenhar a constelação polivalente de hoje, a nebulosa de sentidos, as mil caras das injustiças.

Os "viados" são os didáticos habitantes deste mundo árido e confuso. São menos lineares, mais coloridos.

Estudando o caso do dr. Schreber, Freud argumentou que a paranoia seria talvez uma forma de defesa contra o homossexualismo latente.

Portanto, seguindo a minha linha simplista, acho que, se a paranoia era uma defesa contra a "viadagem", a "viadagem" é hoje uma defesa contra a paranoia.

JOÃO PEREIRA COUTINHO - Chora, coração

Chora, coração
JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 05/07/11 

No dia do casamento, o sentimento aconselhável é o temor. Os noivos devem entrar temerosos na igreja


SOU UM romântico, eu sei. Mas gostei de assistir ao casamento real de Albert 2º de Mônaco com Charlene Wittstock. E não apenas por razões freudianas, embora seja difícil desmentir o óbvio: se a princesa Charlene não é a cara chapada de Grace Kelly, o meu reino já não é deste mundo.

Gostei de ver a cerimônia porque desde o século 18 que uma família real não proporcionava semelhante espetáculo: um dos esponsais, neste caso a noiva, chorando copiosamente do princípio ao fim. E não era de felicidade. Era mais medo. Ou choque. Ou talvez horror profundo.

É a atitude correta, e George 4º era um especialista na matéria. Reza a lenda que, em 1795, arranjaram uma noiva ao então príncipe de Gales e futuro rei da Inglaterra. Seu pai, o demente George 3º, já não suportava os hábitos dissolutos do filho na companhia dos seus camaradas de armas.

Dito e feito: a senhora, Carolina de Brunswick, era prima do príncipe e foi importada da Alemanha. Em termos de beleza, estaria entre o Shrek e o Corcunda de Notre-Dame.

Mas o fato exótico que sempre cativou os historiadores era o seu gosto insaciável por cebolas cruas, um hábito adquirido no ducado germânico que nunca a abandonou.

Ela foi à Inglaterra. No primeiro encontro, o príncipe desmaiou ao vê-la e teve de ser reanimado com doses cavalares de brandy.

Sem sucesso. O pobre George lá teve que subir ao altar com o ogro e seus soluços de infelicidade interromperam várias vezes a cerimônia.

Fizeram-se poemas a respeito; algumas peças satíricas também; e a história do rei chorão correu a Europa letrada, que sentenciou com gravidade: um casamento banhado em lágrimas estava condenado ao fracasso, ou à tragédia.

Não esteve. George 4º deixou como descendente uma única filha, Charlotte, fruto de uma única noite, e, depois da missão cumprida, o jovial George regressou tranquilamente à sua vida habitual. Longe de Carolina. Longe das cebolas.

Há quem lamente a sorte de George 4º. Mas existe algo de simbólico e universal nela: para que sorrir no dia do casamento quando o futuro é incerto e a conjugalidade monogâmica não é para toda gente?
No dia do casamento, o sentimento aconselhável é outro: temor. Os noivos devem entrar temerosos na igreja ou no registro civil. Devem trocar os seus votos de fidelidade com voz trêmula e algum ceticismo à mistura. Devem recusar as alianças e optar sensatamente por apólices de seguro.

E os convidados devem abster-se de jogar pétalas ou grãos de arroz. A atitude correta é rezar em conjunto um pai-nosso e uma ave-maria no momento em que o casal parte, enfim, para uma vida a dois.

Tal não significa que as relações humanas não mereçam festa pública. Merecem. Mas é mais sensato celebrar quando há certezas definitivas. Quando há, por exemplo, um divórcio definitivo.

Como explicar que todo o dinheiro e toda a energia sejam investidos em festas de casamento quando seria mais avisado festejar o momento glorioso em que duas almas decidem pôr um fim aos seus tormentos?
Hoje, os divórcios são burocráticos, anônimos, envergonhados. Injustamente. E por isso não admira que, na semana em que a mídia voou a Mônaco para cobrir um casamento, quase ninguém tenha prestado atenção à belíssima história de Tomoharu e Miki, no Japão.

Eis os fatos, relatados pela melhor imprensa: a 11 de março, o Japão foi devastado por um terremoto letal. E foi a partir desse dia que Tomoharu e Miki começaram a pensar na vida que tinham. Ou, melhor dizendo, na vida que não tinham. Nada como um desastre cósmico para repensar prioridades.
Convidaram a família. E os amigos. Reuniram-se em um restaurante de luxo. Assinaram os papéis do divórcio. E, com um martelo na mão, partiram o anel às marretadas, perante os aplausos dos presentes.
Bebo a eles. E bebo à princesa de Mônaco. Hoje, é tempo de chorar, sobretudo quando o priápico Albert continua a contribuir clandestinamente para o aumento da diminuta população de Mônaco.

Mas chegará o dia em que, de martelo na mão, Charlene poderá quebrar os sagrados laços do matrimônio e, quem sabe, a cabeça do seu esposo. Os sorrisos devem ser guardados para a hora certa.

VINÍCIUS TORRES FREIRE - MUXOXOS SOBRE O BRASIL


MUXOXOS SOBRE O BRASIL
VINÍCIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 05/07/11

Nos centros do mundo, aparecem alertas sobre endividamento excessivo e outros defeitos do país

No final da década passada, houve uma bolha de interesse pelo Brasil. A inflação de informações positivas ficou evidente em 2009, quando se notou que o país não iria à breca devido à crise financeira no centro do mundo, como de costume.
Uma imagem sintomática e caricata dessa mania foi a capa da revista britânica "The Economist" de novembro de 2009, aquela do Cristo Redentor decolando como um foguete. Faz uns dois, três meses, começaram a aparecer furos na bolha de simpatia pelo país.
Críticas a respeito de taras e defeitos nacionais nunca cessaram, é verdade. Mas, quando o país cresceu e muita gente ganhou dinheiro, os muxoxos ficaram mais discretos, maquiados pelo jorro de dinheiro, de investimento direto, empréstimos ou aplicações em títulos de dívida.
Agora, a gente pode ouvir e ler estrangeiros a reclamar do seguinte:
1) A economia brasileira está "superaquecida". Cresce acima de suas possibilidades, o que causa inflação e pode provocar "bolhas";
2) O real está supervalorizado. O país, ainda pobre, é agora um dos mais caros do mundo. Isso seria sinal de desarranjo grave da política econômica e/ou da bonança temporária, resultado de excesso de crédito barato no mundo e de preços exageradamente altos de commodities que exportamos. Pior, o real forte dá mais impulso à bolha e prejudica a indústria;
3) Os consumidores estão superendividados. A inadimplência cresce mesmo com a renda ainda alta e o desemprego historicamente baixo. Isso é sinal de que os consumidores não sabem administrar seu caixa e também de que os bancos concederam crédito ruim.
Mas o "superaquecimento" passou. A economia se desacelera, embora exista grande controvérsia sobre o ritmo adequado do PIB, as taxas de juros, a política fiscal, mas se trata do assunto de sempre.
O real está de fato fortíssimo, pelos motivos apontados pelos nossos críticos (crédito mundial, commodities, desarranjo da política econômica). No caso de alguma reviravolta, podemos levar um tombo feio. Numa crise financeira aguda, com seca de capitais ou com a queda abrupta do preço de commodities, pode haver desvalorização, inflação e anos de crescimento medíocre, para pensar apenas no curto prazo.
O alerta mais interessante trata do excesso de endividamento dos consumidores. Não porque seja mesmo verdade, mas porque o assunto é novidade.
As estatísticas de endividamento das famílias pelo mundo são complexas de fazer, entender e comparar. O nível de endividamento médio pode ser indicador enganoso (o do Brasil é baixo, na média).
A capacidade dos novos consumidores brasileiros de crédito de lidar com suas dívidas e rendas é uma incógnita, assim como a distribuição do peso da dívida pelas famílias (pode haver gente sem dívida e gente pendurada, "fora da média").
A Febraban soltou ontem um comentário a respeito. Diz que não há risco de estouro da inadimplência (tudo o mais constante), que os bancos têm provisões enormes (reservas para cobrir calotes) e que o crédito que mais se expandiu (consignado e veículos) é dos mais seguros, e que o crédito imobiliário é pífio. O risco maior, diz a associação dos bancos, é o de haver menos espaço para o consumo crescer via crédito.

RAYMUNDO COSTA - Ameaçada a cota de Lula no governo


Ameaçada a cota de Lula no governo
RAYMUNDO COSTA
Valor Econômico - 05/07/2011

Para registro: Alfredo Nascimento (Transportes) é o segundo ministro indicado por Lula para a equipe de Dilma a enfrentar dificuldades no governo. O primeiro, como se recorda, é Antonio Palocci, que entrou em processo de combustão quando se tornou público o notável talento do ex-ministro da Casa Civil para ganhar dinheiro como consultor de empresas privadas. Entre Palocci e Nascimento, o ministro Aloizio Mercadante (Ciências e Tecnologia) é a confirmação de que, em se tratando de Dilma, o melhor é dar satisfações que simplesmente acusar a oposição denuncista.

Trata-se de mera coincidência, segundo quem conhece Lula desde a época de sindicalista e mantém boas relações com Dilma e ministros adjacentes. O que lhes chama a atenção é outro aspecto: ao nomear seus ministros, Dilma disse que eles eram livres para aceitar indicações partidárias, ao contrário do que rezava a lenda sobre o tecnicismo da nova presidente. Mas advertiu cada um deles de que a fatura seria cobrada do ministro, em caso de denúncia de corrupção.

Alfredo Nascimento bem que tentou remanchear, mas recebeu ordem de Dilma para afastar todos os diretores envolvidos numa denúncia de que 4% do valor de obras pagas pelo Ministério dos Transportes engordam o caixa do PR. O ministro não está confirmado no cargo. Ganhou apenas uma sobrevida para tentar livrar o governo de uma crise provocada por uma disputa pelo controle do caixa do Dnit entre correntes do Partido da República.

Palocci, o primeiro-afilhado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cair, pagou pelos próprios erros. O ex-ministro escondeu-se no Palácio do Planalto e passou mais de 20 dias sem dar uma resposta exigida por seus companheiros de partido e a opinião pública. Quando deixou a clandestinidade, já estava consumido pela crise. Nem o PT do Senado se dispunha mais a assinar um manifesto de apoio à sua manutenção no cargo. A senadora Marta Suplicy bem que tentou.

Assombrado por um antigo fantasma, o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) tratou de correr ao Congresso para explicar sua participação no dossiê dos aloprados. Acabou usando um argumento que tem audiência no Palácio do Planalto: o fervor dos "heroicos" militantes petistas em defesa do partido (contra Palocci pesou o fato de sua rendição ao lucro ter sido pessoal e não partidária). Mercadante entrou e saiu ministro do corredor das comissões da Câmara dos Deputados.

Nascimento ainda precisa mostrar serviço, se quiser permanecer no governo. A situação do ministro é difícil, quando seu chefe de gabinete é um dos suspeitos de operar o esquema do PR nos Transportes. Para a presidente resta o desafio de tirar um ministro, se for o caso, cuja permanência no cargo garante uma cadeira no Senado para um compadre de Lula, o senador João Pedro (PT-AM).

Há riscos no estilo que a presidente revela ao país: no limite, pode estimular o denuncismo, seja da imprensa - o primeiro suspeito dos petistas - seja entre os aliados adversários entre si. O estouro do esquema do PR no Ministério dos Transportes permitirá que Dilma demonstre que falava sério quando, junto com a liberdade de escolha, deu responsabilidade ética a seus ministros.

No campo dos direitos humanos, a agenda legislativa da presidente Dilma prevê a criação da Comissão Nacional da Verdade, antes da votação do projeto de lei de acesso à informação. Se as negociações entre governo, oposição e representantes da sociedade chegarem a bom termo, o Congresso vota a criação da comissão já em agosto, em regime de "urgência urgentíssima"

O projeto de lei do acesso, por esse cronograma, ficaria para depois. No entanto, o Palácio do Planalto já dá como certo que prevalecerá o texto votado na Câmara, ano passado, que acaba com o sigilo eterno. As únicas restrições, por enquanto, são aquelas verbalizadas pelos ex-presidente José Sarney e Fernando Collor.

A redação da Câmara estabelece o prazo de 25 anos para os documentos ultrassecretos, prorrogáveis por igual período. Atualmente, o prazo dos ultrassecretos é de 30 anos, prorrogáveis indefinidamente.

Governo e oposição já abriram negociação para votar em agosto o projeto que cria a Comissão Nacional da Verdade. Nelson Jobim (Defesa) e José Genoino, assessor especial do ministro e ex-deputado federal do PT, já conversaram formalmente com os líderes do Democratas e do PPS. As conversas com o PSDB se deram com alguns notáveis tucanos, mas logo também devem adquirir um caráter institucional.

O plano é chegar ao plenário com um acordo fechado entre Palácio do Planalto e a oposição. Há consenso, entre as partes, que a Comissão Nacional da Verdade não é matéria para chegar a seco à votação dos congressistas, mas já costurada no método e no mérito entre o governo, os partidos e representantes da sociedade. Se houve muito debate, acredita-se que a comissão será enterrada antes de nascer.

O potencial de crise embutido com a instalação da Comissão Nacional da Verdade é muito grande: a comissão pretende dar alguma satisfação aos familiares dos mortos, torturados e desaparecidos durante o regime militar, mas ninguém será processado - ou punido - por esses crimes, que estão cobertos pela lei da anistia, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nas conversas ocorridas até agora, a principal divergência é sobre a composição da comissão: os parlamentares querem indicar um representante da Câmara e outro do Senado, aos sete integrantes que serão designados pelo Executivo (representantes dos familiares e do ministério público protestam por um número bem maior, na casa dos dois dígitos, como ocorreu em países como a África do Sul e Guatemala, o que está fora de questão).

CELSO MING - Tratamento dúbio


Tratamento dúbio
CELSO MING
O Estado de S. Paulo - 05/07/2011

Há uma boa dose de hipocrisia na nova relação entre as autoridades da União Europeia e os bancos.


Por determinação do presidente da França, Nicolas Sarkozy, e da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, os bancos estão sendo obrigados a rolar "voluntariamente" cerca de 70% dos títulos da dívida grega que mantêm em carteira, contentando-se em receber menos em troca. O argumento é o de que o credor privado tem de assumir a sua parte no resgate da Grécia e, eventualmente, de outras economias enfartadas.

Os bancos têm de observar uma rigorosa relação entre capital próprio e empréstimos para que se mantenham saudáveis se um cliente importante ou um conjunto deles deixar de honrar seus pagamentos. Ou seja, têm de observar os tais critérios de Basileia nas suas operações ativas no mercado.

No entanto, as novas determinações feitas aos bancos caracterizam uma política de critério duplo. De um lado, as autoridades nacionais exigem que eles preservem seu patrimônio e se escorem nas melhores técnicas de administração de risco. Em outras palavras, exigem que os bancos não assumam ativos podres. Também impõem que os bancos acusem imediatamente em seus balanços eventuais perdas, façam provisões, cubram devedores duvidosos e se capitalizem para que estejam em condições de enfrentar com segurança problemas com eventuais calotes e tal. E, por outro lado - como está acontecendo agora -, exigem que os bancos assumam como bons títulos ou já fortemente tóxicos ou, então, com grande probabilidade de se tornarem tóxicos em futuro próximo (non-performing loans), como é o caso da dívida da Grécia.

A Standard & Poor"s, uma das mais importantes agências de classificação de risco, já avisou que a proposta de reduzir o pagamento da dívida soberana da Grécia equivalerá a um "default seletivo", portanto, a um certo calote.

É claro que nessa rolagem da atual posição em dívida grega, os bancos serão desobrigados de dar a esses ativos tratamento de créditos de segunda ou terceira classe. Se assim procedessem, não só estariam admitindo previamente alguma proporção de calote - o que seria um desastre para toda a operação de salvamento soberano -, mas também teriam de reforçar seu capital.

Até agora, nas suas operações com instituições financeiras, os bancos centrais nacionais e o Banco Central Europeu vêm aceitando títulos da Grécia (e de outros integrantes da sigla Pigs) como se tivessem a mesma qualidade de um título da Alemanha. E a partir do momento em que algum default fosse oficialmente reconhecido, os bancos centrais não poderiam mais trabalhar com a mesma qualificação.

Mas que sentido haverá em exigir a observância dos critérios de Basileia, se as próprias autoridades obrigam os bancos a engolir títulos podres ou próximos de apodrecerem? E que sentido terão os tais testes de estresse, destinados a aferir a saúde dos bancos, se as mesmas autoridades que os aplicam entendem como saudáveis títulos que hoje têm uma boa probabilidade de não o ser?

Enfim, o novo mundo em que vivemos não está apenas passando por grandes transformações financeiras. Vai mudando, inclusive, a maneira como as autoridades soberanas vêm administrando suas relações com os bancos.

CONFIRA

Não para de cair. Mesmo num dia meio morno, como o de ontem (feriado nacional nos Estados Unidos), os preços do dólar voltaram a escorregar. É a mais baixa cotação de fechamento desde 18 de janeiro de 1999.

Precisa mesmo?
Por que o empresário Abilio Diniz não vem a público para avisar que não precisa de tanto dinheiro do
BNDES e que, para atender às suas necessidades da operação de fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour, pode se abastecer de crédito com outros bancos ou com tantos outros fundos de equity que existem por aí?

JAIRO MARQUES - Vovô voou na vala


Vovô voou na vala
JAIRO MARQUES
FOLHA DE SP - 05/07/11

"O tido como "gordo tosco" Germain, interpretado pelo cada vez melhor Gérard Depardieu, arranca lágrimas quietinhas da gente no cinema em um momento singelo de "Minhas Tardes com Margueritte".
Ele entrega à velhinha que dá nome ao filme -na vida real, Gisèle Casadesus- uma bengala, de gosto duvidoso, mas que tinha o objetivo sincero de sustentá-la e protegê-la no caminhar naturalmente vacilante de quem já viveu 95 Carnavais.
Pena que a delicadeza da cena da película francesa não seja assim tão bem vista, ainda, por idosos em geral. Precisar de um apoio, de uma adaptação, de uns óculos mais diferençados, de uma cadeira de rodas para não estatelar a cara no chão pode beirar o vergonhoso, o derrotado, o resto do tacho... tips, tips.
O resultado de visões tão imperativas diante de uma realidade óbvia da existência humana -a de que o amanhã, provavelmente, nos deixará mais capengas do que hoje- tem provocado um fuzuê, quando não um chororô, na casa de muitas famílias.
É só olhar ao redor e é possível encontrar histórias de velhinhos que se quebraram por inteiro ao escorregar no piso lisinho, no tapetinho solto do banheiro, ou que caíram ao não verem o degrauzinho da cozinha, ou que ganharam um galo na cabeça ao toparem com a gaiola do periquito na varanda. Isso quando o relato não é mais dramático, como o vovô que voou ao não ver a vala da calçada malcuidada na esquina.
Estudo recente da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo mostrou que 43% das quedas dos idosos rolam dentro de casa e que 63% do público entrevistado já caiu mais de uma vez. Ou seja, é preciso dar um jeito de segurar os velhinhos em pé, sentados, apoiados, amparados, pois, se caírem, o resultado pode ser broca, quando não uma perda total.
No momento em que se começa a atravessar o "cabo da Boa Esperança", como costuma dizer minha mãe, é hora de repensar a disposição dos cacarecos dentro de casa, a rotina das tarefas e as prioridades da vida. Querer achar que, para conviver bem com o envelhecer, basta comprar tablete Santo Antônio para tingir o cabelo não é lá muito recomendado.
Mesmo nos lares de vovós saradas, lavadas e bem passadas, é interessante ter um ambiente livre de "coiserada" espalhada, com piso antiderrapante e banheiro com barras de apoio. Para os que vivem sozinhos, é bacana ter sempre à mão contatos de gente que pode acudi-los na hora do aperto. Quando for encarar a rua, ligar o regime máximo de atenção. Ter um desequilíbrio e ficar vulnerável a um capote pode ser comum para quem já queimou muita pestana.
Madame Margueritte, do filme, é apaixonada por literatura e por aproveitar "as coisas simples da vida" -que dá nome a outra trama fantástica, japonesa. Ela acredita que terá pouco tempo mais de luz, pois uma doença acomete suas vistas. Por outro lado, rearranja o futuro por meio de Germain, que ganha gosto pela leitura das grandes obras e amor fraterno pela amiga.
As fases da vida, sejam quais forem, podem ser mais bem aproveitadas quando a gente entende que são únicas em suas necessidades e que é possível contentá-las em tardes de conversas ao sol ou com medidas simples do dia a dia".

MERVAL PEREIRA - Tempo de conciliação


Tempo de conciliação
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 05/07/11 

Estamos em tempos de conciliação política e consequente revalorização da importância do Plano Real na História do país. O reconhecimento da presidente Dilma Rousseff do papel fundamental do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no fim da hiperinflação e consequente estabilização econômica, que permitiu a retomada do planejamento para o desenvolvimento do país, e os generalizados aplausos na morte do ex-presidente Itamar Franco, reconhecido como o responsável pela implantação do Plano Real, fazem parte desse novo cenário que recupera a História do Brasil.

Não é por acaso, portanto, que o excelente livro de Miriam Leitão "Saga brasileira, a longa luta de um povo por sua moeda" está em primeiro lugar na lista dos mais vendidos no país há seis semanas seguidas.

Além da sua qualidade intrínseca, o livro chega numa hora em que o país redescobre seu passado, abafado há quase dez anos por campanha política negacionista que tinha o fim único de exaltar o governo petista pela anulação dos méritos de governos anteriores.

Pura tática marqueteira que deu certo até que dois acontecimentos tiveram a capacidade de destampar o passado recente: os 80 anos de FH e a morte de Itamar.

Ele e Fernando Henrique, corresponsáveis pela mais exitosa ação político-econômica do Brasil moderno, foram separados pela disputa política, mas nunca chegaram a romper, como aconteceu com Lula e FH.

A tradicional disputa entre criador e criatura deu-se mais uma vez. Mas, se dependesse de Itamar, o candidato do Plano Real teria sido o então ministro da Previdência, Antonio Britto, hoje afastado da política partidária e presidindo a Abifarma.

E não há dúvidas de que Itamar levou para o túmulo mágoas que seu espírito trêfego não conseguia superar, como a certeza de que sua importância na História do país havia sido reduzida pelo protagonismo de Fernando Henrique, a quem não perdoava por ter aprovado a reeleição quando ele, Itamar, considerava-se no direito de ser o candidato à sucessão.

A partir de então, passou a confrontar Fernando Henrique, primeiro tentando ser o candidato do PMDB contra a reeleição de sua "criatura". Foi humilhado pela direção nacional do PMDB na convenção nacional, que decidiu apoiar a reeleição.

Um depoimento isento é o do ex-ministro da Fazenda Rubem Ricupero, que afirma que a importância de Itamar para a estabilização da economia foi decisiva porque, naquele momento de transição, ele era o único que acreditava que seria possível dar um golpe definitivo na inflação.

Mas Ricupero sabe que Itamar não "tinha uma ideia clara" de como fazer isso e andava em busca de um novo Plano Cruzado. "Inclusive, depois que o real foi introduzido, Itamar ainda queria um congelamento de preços", lembra Ricupero em entrevista à BBC.

Por diversas vezes o ex-presidente Itamar o classificou como o "sacerdote" ou "apóstolo" do Real, mas Ricupero desconfia que "ele fazia isso principalmente para retirar um pouco do crédito pelo Plano Real da equipe de Fernando Henrique Cardoso."

Havia muita mágoa. Itamar era político interessante, imprevisível, reagia espontaneamente a tudo, tinha algumas ideias fixas - umas bem atrasadas como um nacionalismo que não se modernizou: era contra todas as privatizações, embora tenha sido no seu governo que a CSN foi privatizada.

A ideia do relançamento do fusca não tinha cabimento, mas embutia a proposta de um carro popular, o que mais tarde foi feito com carros economicamente viáveis.

Ele tem todos os méritos por permitir que o Plano Real se efetivasse, mas durante sua gestação várias vezes atrapalhou, como quando quis o congelamento de preços a que se referiu Ricupero.

Seu sonho dourado era a popularidade que o Plano Cruzado trouxera ao ex-presidente José Sarney, e, se dependesse dele e de seus assessores, a República do Pão de Queijo, seriam tomadas medidas populistas que prejudicaram o Cruzado e inviabilizariam o Real.

Tinha uma visão política muito provinciana, mas tinha também vantagens competitivas que eram inerentes a seu caráter e formação, qualidades que infelizmente hoje são mais relacionadas a políticos à moda antiga, que morriam pobres como ele morreu, qualidades ressaltadas em um tempo em que poucos anos de atividade parlamentar, até mesmo a vereança, já levam políticos a ficarem milionários.

Conseguiu participar de um governo que foi impedido pelo Congresso por corrupção sem se envolver nas falcatruas, o que permitiu fazer a transição política para o governo FH.

Reuniu todos os partidos em torno dele, apenas o PT ficou de fora. Itamar tinha uma intuição política muito aguçada, que alguns consideravam apenas sorte, mas Tancredo Neves classificava de "destino".

Estava sempre no lugar certo na hora certa. Ser vice de Fernando Collor, tudo indicava, era estar no lugar errado naquela corrida presidencial de 1989, mas ele teve a intuição de que aquela aventura daria certo.

Collor tinha razões importantes para colocar um político como Itamar na vice, para dar credibilidade à sua candidatura.

Várias vezes o mercurial Itamar renunciou ao cargo durante a campanha, como um Jânio vice de outro Jânio.

Conseguiu se manter em posição de neutralidade durante o curto governo, o que não prejudicou sua carreira e, em vez de ter sido contaminado pelo que ocorria nos bastidores, soube se manter distante e se qualificou para comandar um governo de união nacional que foi fundamental para a realização do Plano Real.

MÍRIAM LEITÃO - Números que contam


Números que contam 
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 05/07/11

Quando se quer ter uma dimensão da crise espanhola, costuma-se usar o número do desemprego: 20%. Quando se quer mostrar que o Brasil está muito bem, um dos dados exibidos é a menor taxa de desemprego da série iniciada em 2002. Em maio, ela foi de 6,4%. Naquele mesmo mês, para uma jovem de 18 a 24 anos, negra, a taxa brasileira ficou em 20%.

O mercado de trabalho brasileiro está num bom momento, sem dúvida. Há maior formalização, maior oferta de oportunidades, a renda está em alta e os empresários estão reclamando que falta gente para contratar. Mas, como tenho sempre registrado aqui, ele não é igual para todo mundo. Ainda que esteja ficando melhor para todos, as distâncias permanecem marcantes.

Veja os dois gráficos abaixo preparados com dados fornecidos pelo IBGE na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de maio. Um homem branco tem taxa de país com pleno emprego, 4,2%; mas uma mulher negra (preta e parda na classificação do IBGE) tem taxa pior do que os Estados Unidos, 9,5%. Se a pessoa, de qualquer cor ou sexo, for jovem, entre 18 e 24 anos, o número chega a 13,5%. Se for jovem, mulher e negra, aí é que a taxa chega a ser espanhola, 20%.

Um leitor mandou e-mail considerando como possível explicação para o desemprego alto de mulheres negras e jovens o "absenteísmo causado pela licença-maternidade". Na verdade, até para os homens a taxa nesta faixa etária é alta. É alta para todos dessa idade, mas é incrivelmente elevada para jovens negras.

O mercado de trabalho brasileiro está todo cheio de coisas estranhas como mostram as taxas de desemprego por faixa de instrução. Elas são menores para quem tem pouca ou tem muita instrução; o perigo é ficar no meio. Com até um ano de estudo, a taxa é de 3,2%; até três anos, 3,3%. Com ensino universitário é de 5%. Mas com oito a dez anos de estudo é de 7,9%. Para mulher negra nesta faixa de escolaridade é de 13,2%.

Entre pessoas com baixa escolaridade, as diferenças também estão presentes. Se for homem branco, de um ano a três anos de estudo, o desemprego é 1,9%; se for mulher branca, é 5,5%; se for mulher negra, é 6,7%. Se tiver de oito a dez anos de escolaridade, os homens brancos têm 5,8% de desemprego; as mulheres brancas, 9%; as mulheres negras (pretas e pardas), 11,1%.

O mercado de trabalho prefere homens brancos e que já tenham concluído o período de treinamento. Quem não concluiu o ensino médio, quem está procurando o primeiro emprego, mulheres, principalmente as negras, amargam número de país em crise, mesmo no nosso melhor momento.

Alguns números não querem dizer o que parecem, precisam ser explicados; mas os da taxa desagregada de desemprego querem dizer exatamente o que dizem: o mercado de trabalho no Brasil, mesmo num momento em que tantos empresários se queixam de falta de gente, se dá ao luxo de preferir e preterir. O mercado prefere homens brancos, deixa em segundo plano mulheres, tenta evitar os muito jovens e cria ainda mais barreiras para mulheres negras. Pode-se explicar o fenômeno com qualquer contorcionismo, mas seria preferível ver o que os números contam. Eles contam que o mercado de trabalho no Brasil discrimina. E este seria o melhor momento para superar essas barreiras, afinal, as empresas se queixam de "apagão de mão de obra". É a melhor hora para a inclusão.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA



No tempo certo
RENATA LO PRETE
RANIER BRAGON(interino)
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/07/11


Depois de exigir o afastamento da cúpula dos Transportes, Dilma Rousseff decidiu não pedir oficialmente a entrada da Polícia Federal no caso com o objetivo de evitar confronto ainda maior com o PR -o ministro Alfredo Nascimento é presidente licenciado do partido, um dos mais fiéis da base. Além do mais, o Planalto avalia que cedo ou tarde a PF será acionada, pelo Ministério Público ou pela Controladoria-Geral da União, com quem mantém parceria.
Já aponta nessa direção a nota divulgada ontem por Nascimento, que passou o dia buscando sustentação no PR e em aliados. Ligou, entre outros, para Michel Temer e Henrique Eduardo Alves, do PMDB.

Relações 
Na conversa com Nascimento, Dilma deixou claro que a permanência dele está ligada ao fim da influência de Valdemar Costa Neto (SP) na pasta. E que o perfil dos substitutos dos afastados também contará.

Assim é... 

Apesar das críticas palacianas, aliados lembram que Costa Neto foi "reabilitado" no início do atual mandato. Frequentou o Planalto para discutir cargos com Antonio Palocci.

...se lhe parece
No embate sobre o Código Florestal no Congresso, o secretário-geral do PR também foi acionado para ajudar o governo.

Blindagem 
Em relato feito ontem, Nascimento disse que o seu chefe de gabinete, Mauro Barbosa, não era pessoa de seu círculo de confiança. Sobre o assessor Luís Tito Bonvini, afirmou que nem sequer o conhecia.

Dentro... 

Recuperando-se da queda do cavalo, Aécio Neves, 51, brincou ontem com Fernando Henrique, 80, no velório de Itamar Franco. Disse que o ex-presidente estava "todo, todo" por tê-lo apoiado na escadaria.

...e fora 
Suplente de Itamar, o presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella (PDT), não recebeu o tratamento dado a outras autoridades. Encarou fila durante o velório.

Babá Gleisi 
Hoffmann reativou a Subchefia de Articulação e Monitoramento da Casa Civil, tendo nomeado até agora seis técnicos que cuidarão do acompanhamento de ações prioritárias nos ministérios. O órgão havia perdido suas atribuições na gestão Palocci.

Menu 
Geraldo Alckmin convocou os deputados federais do PSDB paulista para encontro em que pedirá atenção a três temas: a possibilidade de a PEC 300, a do piso dos policiais, estimular outras áreas do funcionalismo, eventuais mudanças no ICMS e a defesa dos Estados produtores na questão dos royalties do pré-sal.

Verde virtual 
Mesmo com sua saída já anunciada em verso e prosa, Marina Silva continua como estrela do site nacional do PV. Na página de abertura, há vídeos, fotos e links da ex-senadora.

Pomar 
Com o PSD acusado de "ressuscitar" eleitores para se tornar viável, Gilberto Kassab anuncia como reforço de seu novo partido Aragão Júnior, prefeito de Matinhas (PB), conhecida como a "Terra da Laranja".

Não, obrigada Célebre pelo desabafo na internet em defesa dos professores, a potiguar Amanda Gurgel se recusou a receber o prêmio "Educadora de Valor", oferecido ontem pelo Pensamento Nacional das Bases Empresariais. Em carta, afirmou que o órgão é ligado aos empresários que diz combater.

Visita à Folha 
O senador Eduardo Braga (PMDB-AM) visitou ontem a Folha. Estava com Carlos Colonnese, assessor de imprensa.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Dilma mantém a estratégia praticada há oito anos pelo PT: quando se admite um ilícito, só quem paga são os coadjuvantes."
DO LÍDER DO PSDB NO SENADO, ÁLVARO DIAS (PR), sobre a manutenção, por ora, de Alfredo Nascimento no Ministério dos Transportes, após o afastamento da cúpula da pasta, envolvida em denúncias de fraudes em licitações.

contraponto

Tapetão

O presidente do STF, Cezar Peluso, participava de seminário na Faap sobre o uso da conciliação para agilizar o Judiciário, quando surgiu o tema da arbitragem, em que as partes escolhem uma pessoa para decidir a causa, com posterior homologação pela Justiça.
O ministro ponderou que tal sistema poderia não ser muito bem recebido em São Paulo. E completou:
-É que os são-paulinos não estão muito felizes com a arbitragem...- explicou, numa referência ao recente 5 a 0 do Corinthians sobre o tricolor, que teve um jogador expulso ainda no primeiro tempo.

DORA KRAMER - Estranho no ninho

Estranho no ninho
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 05/07/11

Nesses tempos esquisitíssimos de reconhecimentos tardios e consolidação de valores invertidos, Itamar Franco se vai deixando o legado da celebração de seu período na Presidência da República como aquele em que o Brasil finalmente conseguiu pôr fim à inflação que infelicitava a todos - a maioria - que não viviam de seus maléficos efeitos.

Disso muito se falou. Várias páginas foram preenchidas com relatos sobre o político Itamar desde sábado de manhã, quando o ex-presidente morreu vítima de um AVC no Hospital Albert Einstein, onde se internara em junho para o tratamento de leucemia.

Faltou, no entanto, ressaltar suficientemente o que se poderia chamar de a última façanha de Itamar: sua atuação durante quatro meses no Senado.

Se nada mais ele tivesse feito, só o desempenho na volta à Casa em que atuara antes de ser vice, presidente e governador, já teria valido uma vida.

Um homem de temperamento mercurial, mas, em compensação, de conduta vertical.

Nem sempre agradável no trato. Muitas vezes francamente desagradável com aqueles que não incluía no rol dos santos de sua devoção e que tampouco conferiam a ele tal deferência.

Mas, mesmo a esses, Itamar Franco fez mudar a percepção a respeito dele quando por diversas vezes nesse curto período deu repetidas lições do que significa ser um congressista digno da delegação recebida nas urnas.

Em alto em bom som, registrou seu desagrado ao constatar a queda de qualidade e a perda do sentido de autonomia do Parlamento em relação à época em que havia sido senador.

Atendo-se ao regimento, à lógica, à hombridade e ao respeito aos fatos protagonizou meia dúzia de embates memoráveis com José Sarney, com colegas de governo e oposição, fazendo-os ver o quanto a submissão do Congresso ao Executivo é nociva para a democracia.

Na comparação com a altivez dele, ressaltava-se a pequenez do colegiado. Esteve nesses quatro meses como um estranho no ninho, com tudo o que de positivo há nessa definição.

Quanto ao Plano Real, merece o crédito. Não o dístico de “pai do Real”, pois não foi dele, e sim de seu quarto ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso - cuja obra de governo é agora recuperada depois de anos de desconstrução -, a iniciativa de reunir uma turma de excelentes economistas e respaldar a execução de um processo de combate à inflação com a adesão da sociedade e a introdução da estabilidade econômica como conceito indissociável da vida nacional.

Mais correto não seria atribuir a Itamar Franco a paternidade, mas a inspiração do Plano Real. Deve-se a ele justamente a percepção de que alguém que não sendo economista, mas tendo a sensibilidade do sociólogo experiente e do intelectual forjado por décadas de estudos do Brasil, poderia fazer uma tentativa exitosa.

Deve-se a Itamar a ideia e a insistência, a nomeação quase à revelia de um Fernando Henrique que àquela altura já urdia na mente a hipótese de uma candidatura presidencial, mas, preocupado com a monstruosidade do problema, resistia a aceitar uma missão à época vista como impossível.

A mágoa
Itamar e os mineiros que o cercavam acusavam Fernando Henrique de “ingratidão”. Por considerar que FH não havia sido generoso o bastante no tratamento reservado ao grupo no novo governo e à insuficiência de reconhecimento em sua contribuição ao combate da inflação.
Mas o maior desgosto de Itamar Franco em relação a Fernando Henrique foi a quebra da promessa que o sucessor havia feito ao antecessor de fazê-lo candidato à Presidência em 1998. Já no segundo ano de governo o PSDB passou a engendrar o plano da reeleição para assegurar a continuidade sem a troca de presidente.

Biônicos
Com a posse do suplente de Itamar, chegam a 15 os suplentes de senador a assumir cadeira no Senado sem ter chegado lá com o capital de um único voto.

Praticamente 20% da Casa.

MÔNICA BERGAMO - INVERNO OFICIAL

INVERNO OFICIAL
MÔNICA BERGAMO 
FOLHA DE SP - 05/07/11

Geraldo e Lu Alckmin abriram no fim de semana a temporada de inverno de Campos do Jordão. O primeiro-casal recebeu no Palácio Boa Vista convidados como o maestro Frank Shipway, Andrea e Maria Pia Matarazzo e Paulo Zuben, do Festival de Inverno.

CASARÃO HISTÓRICO

O casarão da avenida Higienópolis que por anos abrigou a Secretaria de Segurança de SP, na esquina com a rua Albuquerque Lins, pode virar museu. O governo de São Paulo negocia nova destinação do imóvel com a Brookfield, empresa que adquiriu o prédio para ampliar o shopping ao lado, do qual é dona.

LINHAS TORTAS
As conversas estão sendo conduzidas pelo secretário da Cultura, Andrea Matarazzo. A ideia é instalar o Museu da Democracia no casarão. Com curadoria do jornalista Roberto Pompeu de Toledo e do historiador Marco Antonio Villa, a instituição pretende narrar "a trajetória do povo brasileiro até o Estado Democrático de Direito". Fotos, filmes, documentos e textos mostrarão desde movimentos como a Inconfidência Mineira até os comícios das Diretas Já.

ANTES TARDE
No voo de volta a São Paulo, depois do velório de Itamar Franco, o ex-presidente Lula comentou que acha uma injustiça Itamar "ter que morrer" para ter seu papel na estabilidade econômica reconhecido.

CARONA
Lula providenciou jato particular para ir ao velório, em Juiz de Fora. Levou de carona o ministro Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, e o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

NO CAMINHO
Parte do dinheiro do célebre assalto da organização guerrilheira Var-Palmares ao cofre do ex-governador de SP, Adhemar de Barros, sumiu. Mas pelo menos US$ 100 mil estão enterrados na região do ABC. "Construíram uma estrada em cima e agora não dá mais para desenterrar", diz Tom Cardoso, que vai lançar em outubro "O Cofre do Dr. Rui", livro sobre a espetacular ação.

PARALELAS
Cardoso vendeu os direitos do livro ao produtor Rodrigo Teixeira. O personagem central será Gustavo Schiller, que participou da ação e era sobrinho de Ana Capriglione, a amante que Adhemar chamava de "doutor Rui" e que guardava seus cofres. Dilma Rousseff, que integrava a Var-Palmares, não estava no assalto. Mas aparece trocando dólares do cofre num banco.

PARALELAS 2
Um outro filme, do diretor André Klotzel, também pretende contar a história do assalto. Será baseado no livro "O Cofre do Adhemar", do jornalista Alex Solnik, com depoimento de Antonio Roberto Espinosa, que participou da ação.

PASSO A PASSO
O ministro Orlando Silva Jr., do Esporte, procura fisioterapeuta em Brasília. Precisa concluir o tratamento de seu tornozelo direito, fraturado em maio, mas não consegue fazer as sessões em SP. O ministro está sendo acompanhado pelo médico do Corinthians, Joaquim Grava.

ROUPA BOA A GENTE DOA
A socialite Ana Paula Junqueira e o promoter Beto Pacheco fizeram festa em prol da Campanha do Agasalho. Para entrar na boate Mynt, era preciso doar uma peça de roupa.

UNIDOS HÁ 235 ANOS
A comunidade americana no Brasil comemorou os 235 anos de independência dos EUA na sexta, na Amcham. O embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, recebeu o senador Eduardo Suplicy e o prefeito Gilberto Kassab, entre outros.

QUEM QUER DINHEIRO?
A Coordenação das Subprefeituras alugou um imóvel da Silvio Santos Participações por R$ 30 mil mensais. O piso comercial tem 926 m2 de área útil e fica no Edifício Grande SP, no Anhangabaú. O contrato de locação é de dois anos.

NIPO BRAD PITT
O ator Tsuyoshi Ihara, um dos maiores galãs do Japão, vem ao Brasil para a pré-estreia mundial do filme "Corações Sujos", no Festival de Paulínia. Ihara, que protagonizou "Cartas de Iwo Jima", de Clint Eastwood, chega ao país amanhã. Ele estrela o filme, baseado no livro de Fernando Morais.

CABEÇA DE FUXICO
O estilista Carlos Miele virou embaixador para a América Latina de ação da Unesco para incentivar jovens artistas. Customizou, ao lado de nomes como o designer Karim Rashid, bonecos que serão leiloados em Londres.

CURTO-CIRCUITO

A exposição "Bom Retiro e Luz: Um Roteiro, 1976-2011" será aberta hoje, às 20h, no Centro da Cultura Judaica.

A Frente Parlamentar de Defesa do Audiovisual será lançada hoje, às 17h, na Câmara dos Deputados.

A Mostra Black terá, de hoje até o dia 12, ingressos de meia-entrada para quem doar um agasalho.

Fernanda Takai e a banda Aterciopelados fazem hoje, às 13h e às 19h30, show de abertura do projeto "Soy Loco por Ti América", do CCBB. Livre.

A pizzaria Mercatto terá até o dia 31 uma unidade de 145m2 em Campos do Jordão.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

JOSÉ SIMÃO - Selecinha! Patrocínio Gol Zero!


Selecinha! Patrocínio Gol Zero! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 05/07/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: suplente do Itamar é o presidente do Cruzeiro. Retrocesso: presidente do real substituído pelo presidente do cruzeiro!
E adorei o nome do atacante da Venezuela: FEDOR! Fedeu mesmo! E o apelido: Miku. Miku Fedor! E a declaração: "A Venezuela chega com outro ar", opinou Fedor!
E a fusão Pão de Açúcar-Carrefour? Carrefour em francês quer dizer encruzilhada. Pão de Encruzilhada. Pão de Macumba! Isso não é uma fusão, é um despacho.
Placa no supermercado Condor de Curitiba: "Pé de moleque com açúcar MASCADO". Mascado por quem? Pelo dono do supermercado?
E a Selecinha Dormonid do Mano? Não é que os meninos jogaram mal, eles apenas queriam agradar ao patrocinador: GOL ZERO. Patrocínio da Selecinha: Gol Zero!
E é muito topete. O Neymar parece o Mamute de "A Era do Gelo". E o topete do Robinho? Parece uma xereca empinada. Muito topete pra pouco jogo. Moral da seleção: muito topete pra pouco jogo! E o cachorro que entrou em campo? Melhor momento do jogo. Na seleção de Pato e Ganso, o melhor momento ficou com o cachorro. Rarará!
E sabe por que as meninas do futebol arrasaram com os meninos do futebol? Porque eles é que entraram de salto alto! Topete e salto alto. Tira tudo o que vive em lagoa! Rarará!
E o Galvão mais rouco que a foca da Disney? Frases mais faladas por ele: "O torcedor é de uuuma criatividade". E "conversei com ele no saguão do hotel". E o Casão chamando o Ganso de Paulo Henrique? Parece a mãe dele! O Casão é a mãe do Ganso? Paulo Henrique, já pra casa!
E mais predestinados. Direto de Pernambuco, a delegada Josineide Confessor. Vai encarar? Rarará!
E, em Fortaleza, tem o ginecologista Walter Moraes Rolla. É que no Ceará tem a família Rolla. Já fui assistir a um show no teatro José de Alencar no camarote da família Rolla. Aí todo mundo sentou e o Rolla ficou em pé. Rarará!
E o brasileiro é cordial! Olha a placa do Gervásio na empresa em São Bernardo: "Se eu souber que alguém tá fazendo dietinha milagrosa pra ficar com corpo de mancebo, vou fazer esse cinturinha de Faustão comer cal, areia e cimento até ficar como pau de virar tripa. Conto com todos. Assinado: Gervásio".
Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar meu colírio alucinógeno!

FERNANDO DE BARROS E SILVA - PR trabalhando, cuidado!

PR trabalhando, cuidado!
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SP - 05/07/11

SÃO PAULO - O PR (Partido da República, hahaha!) concentra o que há de pior na política brasileira.
Não é à toa que esteve no centro do mensalão. Chamava-se, então, PL, que viria se fundir ao Prona em 2006. Também não é à toa que o PL-PR está no comando do Ministério dos Transportes desde o início do governo Lula, de 2003 até hoje.
A pasta está cronicamente associada a escândalos de corrupção. Mas Dilma Rousseff acaba de fazer o que seu antecessor nunca fez. Diante de reportagem neste final de semana sobre esquema de propinas cobradas de empreiteiras e empresas de consultoria, demitiu liminarmente a cúpula do ministério, sem esperar esclarecimentos.
Caíram o poderoso diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, o presidente da Valec Engenharia, José Francisco das Neves, e o chefe de gabinete do ministro, Mauro Barbosa Silva, além de um assessor. Sobrou Alfredo Nascimento, a cabeça do ministério pendurada no ar.
Em maio, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), também aliado do governo, disse em público que Nascimento era "inepto, incompetente e desonesto". Disse ainda que o Dnit era uma "quadrilha". Ontem, a presidente disse em nota confiar no seu ministro (hahaha!).
Nascimento pode (e deve) até cair, mas o PR já cobra antecipadamente a conta. Diz que foi humilhado por Dilma. O peso do partido está no Congresso: 40 deputados e 5 senadores. É isso o que vale o PR.
O subtexto da chantagem é mais ou menos o seguinte: Dilma (que agiu, neste caso, como manda o figurino republicano) não foi eleita para ser honesta. Ela não está aí para isso. Se Lula, que pairava acima dos partidos e tinha controle sobre sua base, deixava que o Dnit fosse o que é, como é que essa mulher, que não tem o mesmo poder sobre os aliados, quer vir estragar a festa?
A governabilidade tem um preço, literalmente. O caso parece didático para mostrar quanto cobram da República partidos como esse no presidencialismo à brasileira.

ILAN GOLDFAJN - Excesso de endividamento


Excesso de endividamento
ILAN GOLDFAJN 
O Globo - 05/07/2011

Há razoável consenso de que houve excessos durante a crise financeira internacional, que geraram várias consequências deletérias na economia. Mas o problema principal é o excesso de endividamento. Esse processo de reduzir as dívidas, que o mercado chama também de desalavancagem, já começou. Os endividados estão pagando sua dívida e o sistema financeiro concedendo crédito com mais rigor. Porém, para pagar as dívidas, é necessário reduzir o consumo. É a direção correta, mas exacerba o problema no curto prazo, pois reduz a demanda que impacta a produção e o emprego.

Se o processo de desalavancagem for muito rápido pode levar a uma recessão profunda. Para evitá-la, a tendência natural dos envolvidos, inclusive dos governos, tem sido tentar suavizar o processo. Além de implementar políticas monetárias (juro zero) e fiscais expansionistas, transfere-se a dívida dos excessivamente endividados para os outros. Assim, na medida em que se alivia a pressão sobre os excessivamente endividados, diminui-se a velocidade do ajuste custoso (e necessário) na economia.

A transferência mais comum é a do setor privado para o setor público. Há vários mecanismos, diretos e indiretos, pelos quais essa transferência é efetuada. Um deles é a intervenção dos governos no sistema financeiro para evitar quebras e corridas bancárias que aprofundem a recessão. Outro é a compra de ativos depreciados no mercado pelos bancos centrais (que incham e pioram a qualidade dos seus balanços). A emissão de dívida para resgatar os bancos, assim como a aquisição de ativos problemáticos, eleva a dívida bruta dos governos.

Troca-se dívida por outra. Desde que os novos devedores tenham capacidade de absorver este novo ônus, há alívio para a economia, pelo menos no curto prazo. Mas os novos devedores às vezes não têm essa capacidade, como ficou claro em vários países periféricos da Europa.

Outro tipo de transferência ocorre entre países. Economias com alta poupança (superavitários, como a China) têm sido "convocadas" para adquirir dívidas dos países com endividamento excessivo. Além disso, há pressões para que países menos endividados venham a se tornar deficitários (ou menos superavitários), de forma a ir acumulando dívidas (ou diminuir seu ativo), para compensar o processo de desalavancagem dos excessivamente endividados. Uma manifestação dessas pressões (neste caso, de mercado) é a depreciação do dólar e apreciação das outras moedas, que tende a pressionar os balanços de pagamento na direção de suavizar o processo de desalavancagem.

Esse processo de desalavancagem (redução do endividamento excessivo) é um processo longo, de vários anos, possivelmente décadas, em que quebras privadas e públicas são possíveis.

De fato, há evidências de que uma recessão após uma crise financeira tende a ser mais longa e custosa (vejam o ótimo livro de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, "This time is different"), e é seguida de crises soberanas (quebras dos governos). Haverá perda de produto de forma permanente, além de um possível aumento da taxa de desemprego natural (aquela que não será revertida mesmo com a retomada econômica). Além disso, a taxa de crescimento potencial será reestimada em várias das economias afetadas.

Pode ser uma forma de defesa, mas os mercados resistem a encarar esta nova e dura realidade. As bolsas de valores ficaram mais voláteis, ciclotímicas. Quando a economia cresce um pouco há ânimo total, quando desacelera volta-se a falar no risco de recessão. Os analistas e o mercado ainda resistem a encarar o novo futuro, aquele com um crescimento menor e desafios maiores.

Não está claro ainda como a economia mundial irá solucionar seu problema de excesso de endividamento ao longo do tempo. Uma amortização muito acelerada das dívidas pode levar a uma depressão e deflação, piorando tudo. Para suavizar o processo, tem havido transferências de dívidas, algumas mais bem-sucedidas que outras. Mas temos de ter em mente que há também o risco do contrário: exagerar na suavização do processo impedindo o ajuste necessário e a resolução do problema.

GIL CASTELLO BRANCO - Newton que se cuide...


Newton que se cuide... 
GIL CASTELLO BRANCO
O GLOBO - 05/07/11

A piada da moda em Brasília é que o governo, com a maioria que possui no Congresso Nacional, se desejar, pode alterar até a Lei da Gravidade. Que dirá a lei 8.666, das licitações.

A prova disso é que o Parlamento está prestes a aprovar, com poucas modificações, o texto que o Executivo enviou-lhe sobre o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), apesar dos questionamentos contundentes de diversas entidades da sociedade civil, da Ordem dos Advogados do Brasil e do Ministério Público.

A tramitação desta medida provisória na Câmara dos Deputados transformou-se em verdadeiro Fla x Flu legislativo. No Senado, não deverá ser diferente. Os partidos da situação e da oposição tratam o assunto politicamente, confundindo a opinião pública. A razão passa ao largo. Na verdade, radicalismo à parte, o texto tem aspectos positivos e negativos.

A intenção de reduzir os prazos de implementação das obras brasileiras é ótima, seja para a Copa 2014, as Olimpíadas 2016 ou qualquer outra finalidade. No Brasil, da decisão de realizar uma grande obra ao seu início efetivo decorrem 3 anos e 2 meses. A preparação dos lotes, a licitação e a contratação do "projeto" levam 2 anos. Quanto à "obra", incluindo os preparativos, o processo licitatório e a celebração dos contratos, o tempo médio é de 14 meses, conforme estudos do Banco Mundial.

Assim sendo, a proposta do RDC de licitar o projeto e a obra juntos é interessante, até porque vários países já o fazem. Da mesma forma, a ideia de começar a licitação pela abertura das propostas, para depois ser efetuada a habilitação, não é desprezível. A inversão das fases poderá reduzir os recursos interpostos pelos concorrentes na primeira etapa do certame (habilitação), quando cada participante tenta desclassificar os demais adversários.

A questão crucial, porém, não está no que o governo pretende, mas sim na forma como deseja viabilizar a sua intenção. Sem o projeto básico detalhado e sem anunciar o valor que pretende aplicar, haverá uma "babel de propostas", tornando o julgamento extremamente subjetivo, porta aberta para a corrupção. Quanto valerá no submundo a informação privilegiada do valor que o governo efetivamente quer gastar? Com o rumo carnavalesco que a discussão do assunto tomou, o essencial debate sobre o detalhamento do chamado "anteprojeto de engenharia", contido no instrumento convocatório, foi relegado a segundo plano. O prazo fixado de 30 dias para a entrega das propostas também merece discussão, por ser absolutamente incompatível com a elaboração de projeto sério e responsável. Outros aspectos técnicos devem ser aprofundados para que a legislação cumpra a sua finalidade, sem afrontar os princípios da ética e da transparência.

É claro que pagamos hoje a conta da inépcia, da incompetência e da falta de planejamento. Há 3 anos e 8 meses o Brasil sabe que realizará a Copa. Também já se vão 2 anos que conhecemos, inclusive, as cidades-sedes. Com o atraso evidente, restou ao governo improvisar nova lei, batizada ironicamente de "regime desesperado de contratações", pelo procurador Júlio Marcelo de Oliveira. Aliás, é óbvio que a regulamentação do RDC deveria ser objeto de instrumento legislativo próprio, e não embutida como um "bacalhau" na medida provisória que dispõe sobre a aviação civil e a criação de cargos em comissão.

A pressa na aprovação do novo regime não é o único problema a ser superado. Existem dúvidas se os gestores e os órgãos de controle estarão capacitados para a implantação imediata do novo modelo, inaugurado em megaobras e com prazos exíguos. E valerá a pena estender os novos critérios a todas as obras públicas no país, como pretendem os governistas?

Apesar dos atropelos na aprovação do RDC, é provável que algumas obras permaneçam lentas. Afinal, continuarão a existir as demoradas licenças ambientais, as frequentes paralisações sugeridas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), os inúmeros recursos judiciais nas licitações, as eventuais intervenções do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), entre outros óbices - legítimos, diga-se de passagem - para que as obras deslanchem.

Desta forma, se após o RDC as obras continuarem demoradas, com a aproximação dos megaeventos e a folgada maioria que o governo possui no Congresso Nacional, outras medidas provisórias poderão surgir. Pelo visto, vamos realizar os eventos, custe o que custar. Newton que se cuide...
GIL CASTELLO BRANCO é economista e fundador da organização não governamental Associação Contas Abertas. E-mail: gil@contasabertas.org.br.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Restrição à venda de terra já prejudica novos negócios
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 05/07/11

Indefinição em projeto de lei em estudo pela AGU (Advocacia-Geral da União), que restringe a venda de terra a estrangeiros, tem causado insegurança e levado empresas a desistir de projetos de novas fábricas em áreas rurais. Até agosto de 2010, não havia restrição à compra de terras por empresas brasileiras de capital externo. "Não importava a origem do capital", lembra o advogado Ivandro Trevelim, do escritório Souza Cescon.
"Ainda não há nada definido, mas traz desconforto e alguns clientes já desistiram", diz a advogada Maria Cristina Cescon. "A compra pode vir a se tornar nula, e o comprador fica com crédito com quem recebeu."
Para Cescon, "a intenção [ao que parece] não é retroagir, mas gera insegurança para novos negócios". É o caso da fabricante de papel International Paper, que tem três fábricas no Brasil, onde chegou em 2000, ao comprar a Champion.
"Se tivéssemos de fazer agora um investimento no Brasil, teríamos de analisar melhor", diz Jean-Michel Ribieras presidente da companhia na América Latina. "E quem estiver para entrar, pode desistir por causa da lei." Para Ribieras, é correto evitar especulação, mas sem prejudicar investimentos.

"É preciso diferenciar o que é investimento produtivo do que é especulativo [na compra de terras por empresas brasileiras com capital estrangeiro]"
JEAN-MICHEL RIBIERAS,
presidente na AL da International Paper na AL

ALÉM DO PAPEL
A International Paper, multinacional fabricante de papel, vê espaço para a consolidação do setor de embalagens no Brasil. "Temos interesse em 'joint ventures' para entrar nesse mercado. Estamos abertos a parcerias", diz Jean-Michel Ribieras, presidente da companhia na América Latina.
Além do investimento médio anual, de cerca de US$ 80 milhões, a companhia destinará US$ 90 milhões para a construção de uma caldeira de biomassa na fábrica de Mogi Guaçu. A empresa exporta cerca de 50% da produção brasileira. A taxa de câmbio, porém, não favorece as vendas para o exterior, segundo Ribieras. "Exportar manufaturado com um dólar a R$ 1,57 é um desastre."

Nota 

A agência de classificação de risco Austin Rating elevou a nota da cidade de Jundiaí (SP) de A+ para AA. É a terceira vez em dois anos que o município tem a sua avaliação melhorada.

Distribuição

A Natura fechou parceria com a empresa Panalpina para melhorar a distribuição de produtos na França e na América Latina. O acordo prevê ainda armazenamento em Cajamar (SP).

Cobrança 

O crédito deve chegar a 60% do PIB até 2015 no Brasil, segundo o Igeoc, instituto de empresas de recuperação de crédito. Esse dado será apresentado hoje no 9º Congresso Latino-americano de Crédito e Cobrança realizado na Argentina.

Médico 
A Bradesco Saúde lança nesta semana um plano voltado para empresas e que poderá ser adotado em todos os Estados brasileiros

MAIS R$ 125 MI EM 'RESORT'
O espanhol Fiesta Hotel Group investirá cerca de R$ 125 milhões na expansão de seu "resort" na praia de Imbassaí, na Bahia. O grupo acaba de obter licença ambiental para uma área litorânea de 70 mil m2, onde serão construídos 210 quartos, dois restaurantes e uma piscina.
Aberto em novembro passado com um custo de obra de R$ 249 milhões, o Grand Palladium Imbassaí Resort & Spa é o primeiro da companhia no continente. "Nossas atividades no Brasil não deverão ficar restritas a esse hotel. Por questões climáticas, queremos ter mais negócios no Nordeste", afirma o diretor do grupo para a América Latina, Oscar Mas.
O hotel será levantado em duas fases, pois a companhia não conseguiu licença ambiental para construir perto da praia em 2010. Até o momento, 85% dos hóspedes são brasileiros. "Temos que pagar muitas taxas no Brasil, então é difícil competir com o México e o Caribe", diz Mas.

BENEFÍCIOS
Aumentar a satisfação dos empregados no trabalho é o principal objetivo dos empresários brasileiros que concedem benefícios, segundo estudo da empresa MetLife feito com 4.472 pessoas.
Dos entrevistados brasileiros, 83% afirmaram que essa é a meta principal. Em outros três países analisados, a satisfação dos trabalhadores fica na segunda colocação. Aumentar a produtividade dos empregados e manter o trabalhador no posto são prioridades nos outros quatro países pesquisados.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ