quarta-feira, junho 15, 2011

ELIANE CANTANHÊDE - Ideli e os peixes miúdos


Ideli e os peixes miúdos
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA ONLINE

Durante toda a crise Palocci, falou-se, ou falamos, dos peixes graúdos da coligação que apoia a presidente Dilma Rousseff: do PMDB e do PT. Agora, depois que Dilma decompôs o núcleo duro do governo com Gleisi Hoffmann na Casa Civil e Ideli Salvatti na articulação política, é hora de lembrar que as águas profundas governistas incluem 13 outros partidos. E é aí que o trio feminino começa a pescar.

No primeiro dia de trabalho de Ideli, a terça-feira, Dilma, Gleisy e Ideli almoçaram no Palácio da Alvorada com os senadores do PR, enquanto o líder do partido na Câmara participava de uma reunião de líderes governistas para falar grosso com o governo.

Para se ter ideia do tamanho dos 'peixes miúdos', entre os senadores do PR incluem-se Clésio Andrade, o homem da CNT, a poderosa Confederação Nacional dos Transportes, Blairo Maggi, um dos reis do agronegócio do país, e Magno Malta, não apenas ligado aos articulados grupos evangélicos como também um senador bastante atuante.

Dá para brincar com gente assim?

Enquanto os senadores do PR pediam interlocução direta com Dilma e o Planalto, os líderes aliados na Câmara lembravam que representam 304 deputados e eram bem mais objetivos na cobrança: além de 'interlocução direta', pedem coisas bem mais concretas e palpáveis, especialmente às vésperas das eleições das prefeituras no ano que vem.

Quais sejam: a liberação das tais emendas parlamentares, para que possam voltar para casa anunciando pontes, jardins, postos de saúde, ruas asfaltadas, dessas coisas que geram expectativa e votos, apesar de nem sempre saírem da promessa para a prática.

Dilma, Gleisi e Ideli, portanto, têm tempos difíceis e trabalho duro pela frente. Precisam alimentar os tubarões do PMDB, que estão unidos como nunca antes, e do PT, desarticulados e metidos numa guerra interna poucas vezes vista. E precisam não descuidar das tainhas e lambaris, porque esses se movem rapidamente.

A oposição está à espreita, esfregando as mãos com as perspectivas de boa pescaria. Apesar de coadjuvantes da crise Palocci, o PSDB e Aécio Neves ganharam ânimo com ela.

A base parlamentar de Dilma é imensa, um recorde, mas não confiável. Não custa lembrar que quantidade não é qualidade. E, se hoje o cardume está com o governo do PT, já esteve também com o do PSDB. Pode ir para um lado ou para outro, dependendo das condições de temperatura e satisfação.

O maior desafio de Dilma é a articulação política.

GUSTAVO LOYOLA - Equilíbrio macroeconômico sob ameaça


Equilíbrio macroeconômico sob ameaça
GUSTAVO LOYOLA
VALOR ECONÔMICO

Os indicadores de atividade e a confiança de empresários e consumidores caracterizam uma conjuntura favorável para a economia brasileira no curto prazo, mantendo-se a trajetória de queda do desemprego que vem sendo observada desde a passagem do impacto mais forte da crise financeira internacional, no final de 2008 e no início de 2009.

Não obstante tal clima otimista, a economia vive um momento particularmente decisivo no que concerne à sustentação da trajetória de crescimento no médio prazo. Concretamente, os riscos de o país sofrer uma "parada súbita" no crescimento, pelos efeitos negativos da aceleração inflacionária, mantêm-se elevados, haja vista a presença de desequilíbrio entre oferta e demanda ainda não corrigido plenamente pelas políticas macroeconômicas praticadas pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central.

Em relação ao ano passado, é inegável que está havendo algum grau de desaceleração da atividade econômica, como indicam os dados recentes de produção industrial, oferta de crédito e vendas no varejo, entre outros. A moderação na atividade é fruto, em parte, do aumento acumulado dos juros básicos pelo Banco Central e da adoção das medidas de controle de crédito ("macroprudenciais"). Mas a própria aceleração inflacionária, ao corroer o rendimento real dos trabalhadores, está também contribuindo para moderar o crescimento da demanda até aqui.

Contudo, as evidências continuam indicando que a demanda agregada segue aquecida e que ainda se faz necessário continuar o ajuste da taxa básica de juros nos próximos meses, mesmo diante da perspectiva quase certa de trégua nos índices de inflação nos próximos três meses. De fato, grande parte dos fatores de desaceleração inflacionária entre junho e agosto são temporários e sazonais, como é o caso da queda do preço do etanol e de alguns alimentos, como carnes e grãos. A subida do índice de difusão e das medidas de núcleo de inflação, nos dados mais recentes que indicam queda do IPCA, corrobora a percepção de que se está ainda diante de um arrefecimento pontual e temporário das pressões inflacionárias.

Além disso, o segundo semestre deve observar uma forte pressão de aumentos reais de salários, em razão da concentração neste período de dissídios de importantes categorias de trabalhadores, como bancários, metalúrgicos e petroleiros, entre outras. Não bastasse isso, logo no início de 2012 teremos as pressões derivadas do turbinado aumento do salário-mínimo previsto pela regra em vigor, cujo percentual deve ficar em torno dos 14% nominais.

Nesse contexto, não deve haver hesitação por parte das autoridades econômicas no uso das medidas adequadas de política para o controle da demanda agregada, fugindo da tentação do experimentalismo e do hipergradualismo que caracterizaram a atuação do governo em 2010 e no início de 2011. Aliás, a necessidade de continuidade do ciclo de alta dos juros em 2011 é resultado direto da frouxidão fiscal do ano passado e da timidez do BC que encerrou prematuramente o processo de ajuste da taxa Selic. Contribuiu também para isso a cacofonia do discurso do governo no que diz respeito à política antiinflacionária, ora minimizando o papel dos juros no controle da demanda, ora enfatizando sua importância.

A tentação de se declarar vitória e abandonar prematuramente o campo de jogo, numa conjuntura em que os índices inflacionários estarão momentaneamente baixos, pode ser grande para um governo que não escondeu no passado seu viés gradualista no uso de medidas macroeconômicas de controle da demanda agregada. Porém, os equívocos cometidos em 2010 não devem ser reprisados neste ano, sob pena de a inflação se manter acima da meta em 2012, o que elevaria os riscos de disseminação maior da indexação na economia, inercializando ainda mais a inflação e elevando os custos reais para trazê-la de volta para a meta.

Ademais, continua preocupante a situação estrutural das contas públicas que aponta para uma redução relevante do superávit primário no ano que vem. O governo tem sido bem sucedido até agora na contenção da execução orçamentária, o que muito provavelmente assegurará o cumprimento da meta de resultado primário em 2011. Lamentavelmente, a situação para 2012 se apresenta muito mais complicada, principalmente em razão da inadequada e esdrúxula regra de reajuste automático do salário-mínimo que deve elevar substancialmente a conta do pagamento de benefícios sociais e previdenciários no ano que vem. Além disso, a contenção do gasto ora em curso tem características que dificultam a repetição desta estratégia no próximo exercício. É o caso, por exemplo, do corte das despesas de investimento às vésperas da realização dos grandes eventos esportivos no Brasil.

Em suma, o momento é de completar o ajuste da economia a um ritmo de crescimento que, embora menor no curto prazo, assegure um bom desempenho macroeconômico nos próximos anos, sem incertezas e volatilidades que prejudicam a economia, principalmente no diz respeito às decisões de investimento de longo prazo.

ANCELMO GÓIS - Lula é inferno astral


Lula é inferno astral
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 15/06/11



Maria Eugênia Castro, presidente da Sociedade de Astrologia do Rio, preparou um mapa astral da saída de Palocci e encaminhou por e-mail a Dilma. Os astros, diz ela, mostram que a presidente “terá muito sucesso” com a troca do ex-ministro por Gleisi Hoffmann, porque... “a escolha não teve a interferência de Lula”. Ah, bom!

Não é sem querer
O PR, em seu programa de TV, amanhã, vai homenagear as mulheres do Brasil, com Dilma de personagem central. O programa do PMDB, dias atrás, deu 40 segundos a Lula e nada para a presidente. O contraponto arranjado pelo PR agora não é sem querer. 

Chico digital
Toda a obra de Chico Buarque foi digitalizada e vai para o acervo do Instituto Antonio Carlos Jobim, no Rio. O instituto já guarda, além
da obra do próprio Tom, a de Dorival Caymmi. 

Salto com vara 

O Rio parece tomado pelo espírito olímpico, embora os jogos sejam apenas em 2016. Na Rua Teodoro da Silva, em Vila Isabel, funciona o Motel... Trampolim.

No mais
O que será que o Brasil fez de tão ignominioso no passado para levar os ex-presidentes Sarney e Collor a obterem a concordância de Dilma e manter eternamente em segredo os arquivos oficiais? O que será que andaram aprontando o Duque de Caxias e o Barão do Rio Branco? CPI neles.

Cristo do Peru

No Peru, veja só, a Odebrecht é santa. A empreiteira, que já faturou US$ 60 milhões em contratos com o governo de lá, está ajudando
a construir um Cristo de 37m, similar ao nosso Redentor, de frente para a baía de Lima.

Se liga, Serra
Julio María Sanguinetti, o ex-presidente uruguaio, em artigo no jornalão espanhol “El País”, pôs o bico no ninho tucano alheio. Disse que a oposição no Brasil teria tido mais chance na eleição presidencial de 2010 se o candidato, em vez de Serra, fosse “o carismático Aécio Neves”. 

Figurinha velha 
O álbum de figurinhas da Copa América põe Ronaldinho Gaúcho na seleção brasileira. 

O choro de Palocci 
No dia da vitória de Dilma, Palocci teve um choro copioso no Palácio da Alvorada. A história está no livro “A presidenta”, que o coleguinha Ricardo Amaral vai lançar em outubro. O dia da vitória é o último capítulo. 

Gangue em Ipanema
Sexta, por volta de 22h, em Ipanema, dois meninos de 14 anos — um deles filho do expresidente do Flamengo Márcio Braga — foram espancados sem razão aparente por uma gangue de uns 15 adolescentes um pouco mais velhos, todos brancos e supostamente bem nascidos. Segundo policiais da 14a- DP, onde Márcio registrou queixa, a gangue tem atacado garotos no Leblon e em Ipanema, e reuniria alunos de uma tradicional escola da Zona Sul. 

Terra do fogo
Independentemente da questão salarial, é como diz Caetano Veloso: alguma coisa está fora da ordem. No Brasil, um em cada quatro bombeiros pertence ao efetivo do Rio. O estado tem mais soldados do fogo que São Paulo — 16.550 contra 8.597. 

Segue... 
No total, há 67.029 bombeiros no país. Deste efetivo, 25% é pertencente ao Rio. 

Aliás... 
Sábado, na Paróquia da Ressurreição, no Rio, o padre Zé Roberto foi abordado por uma criança, que perguntou ao vêlo de túnica vermelha, e a igreja decorada da mesma cor, por causa de Pentecostes: 
— Padre, o senhor está apoiando os bombeiros?

Jardins do Rio 
O trabalho do paisagista francês Auguste François Marie-Glaziou, que projetou jardins do Rio como o Campo de Santana, será reunido em livro pela Manati. É organizado por Bia Hetzel e Guilherme Mazza.

ILIMAR FRANCO - Os royalties


Os royalties 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 15/06/11


Os governadores do Norte e do Nordeste cobrarão hoje do presidente do Senado, José Sarney, urgência para a votação do veto do então presidente Lula à lei que redistribui os royalties do petróleo. Para evitar a derrubada do veto, eles tentam convencer o governador Sérgio Cabral (RJ) a apoiar substitutivo do senador Wellington Dias (PT-PI), que mitiga as perdas dos estados produtores diante da proposta do ex-deputado Ibsen Pinheiro.

Índios invadem e levam no Mato Grosso
Oitenta índios araras e cintas- largas invadiram, no sábado, a usina de Dardanelos (MT). Ao final da ocupação, segundo boletim de ocorrência, furtaram sete computadores, quatro notebooks, três laptops, cinco radiocomunicadores, seis monitores e outros equipamentos. A sede da usina foi depredada. Os índios desocuparam a usina depois que a empresa Águas de Pedra concordou em construir 54 casas
na aldeia Arara e 30 na aldeia Cintas-Largas, doar um Fiat Uno para cada associação indígena, doar uma caminhonete F4 para a aldeia Taquaral e um caminhão 3 x 1 para a aldeia Arara. Os índios ainda queriam renda permanente de 5% da produção de energia e mesada de R$ 100 mil. 

"Mas que peixe cheio de espinha é esse?” — Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais, pergunta ao seu antecessor, ministro Luiz Sérgio (Pesca)

A CANETA. A presidente Dilma não trabalha com uma caneta qualquer. Sua preferência é por aquelas que escorregam no papel sem precisar fazer força. Quem quiser lhe agradar pode presenteála com sua marca favorita: a Staedtler Triplus Finelines (Dry Safe), de fabricação alemã. Como sinal de prestígio no Planalto, alguns ministros estão usando a mesma caneta e, o mais importante, dizendo que ganharam de presente da presidente.

Guerra no PV

Verdes independentes consideram um erro de Marina Silva ter se aliado a um grupo, o do deputado federal Alfredo Sirkis (RJ), que é minoritário. Dizem que, ao escolher um lado, seu discurso de democracia interna perdeu credibilidade.

Light
A presidente Dilma conquistou um aliado importante para a votação do Código Florestal. O senador Blairo Maggi (PRMT), que é ruralista, saiu do almoço com a presidente dizendo que a emenda do PMDB causa insegurança jurídica.

Tucano busca apoio do governo Dilma
O secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal, vai hoje ao ministro Edison Lobão (Minas e Energia) e à direção da Aneel. O tucano vai fazer um pedido inusitado: que o governo Dilma se associe ao governo Alckmin para dar uma prensa no Grupo AES, para que este invista na melhoria dos serviços da Eletropaulo. A empresa deixou parte dos consumidores às escuras no último temporal.
“Eles têm de investir. O lucro deles no ano passado foi de R$ 1,347 bilhão”, protesta Aníbal.

Direitos autorais
O Planalto teme que a CPI do Ecad desgaste a ministra Ana de Hollanda (Cultura). Por isso, não quer o autor do pedido, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), na relatoria. O senador Lindbergh Farias (PTRJ) costura para ser o relator.

No escuro 
No almoço ontem com a presidente Dilma, o senador Magno Malta (PR-ES) criticou a secretária de Políticas sobre Drogas, Paulina Duarte, por ter afirmado, em entrevista, que falar em epidemia de crack no Brasil é uma “grande bobagem”.

 RASGANDO SEDA. Os líderes aliados foram surpreendidos ontem. O líder do PT, Paulo Teixeira (SP), fez rasgados elogios ao líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que fez juras de amor ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).

 CAMPANHA. O líder do PMDB, Henrique Alves (RN), havia prometido dar um presente para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) se ele cortasse o cabelo. Ontem, na reunião de líderes, Alves, que quer presidir a Câmara, deu uma vodca russa para o colega.

● OS SEM VOTO. Com a ida de Gleisi Hoffmann para a Casa Civil, há 11 suplentes de senador no exercício do mandato, o que corresponde a 13% do Senado. 

MERVAL PEREIRA - Limites à democracia


Limites à democracia 
MERVAL PEREIRA
O Globo - 15/06/2011

Ninguém discute que os governos têm direito a manter segredos de Estado, mas o que está em jogo na discussão sobre a nova lei de acesso aos documentos públicos em tramitação no Senado é a limitação temporal desse direito, para que a História do país seja um patrimônio de todos os brasileiros.

O retrocesso de manter o sigilo eterno de documentos, a pretexto de preservar segredos da Guerra do Paraguai ou das negociações do Barão do Rio Branco que estabeleceram nossas fronteiras, colocará o país em situação secundária diante de nações que já adotam um sistema transparente, como o México, por exemplo, que saiu de uma política de secretismo ditatorial para uma legislação considerada a mais avançada do mundo.

O país é tão aberto que qualquer pessoa pode requerer documento mesmo assinando um pseudônimo, sem se identificar. A pressuposição é que os documentos governamentais devem ser públicos.

A presidente Dilma havia compreendido a importância de um movimento como esse, tanto que estava empenhada em sancionar a nova legislação no Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, em maio passado, para marcar uma nova fase no trato de documentos públicos.

O senador e ex-presidente Fernando Collor, que preside a comissão que analisava a nova lei, retardou sua liberação para votação em busca de apoio para manter a possibilidade de renovar indefinidamente a restrição à divulgação de certos documentos.

Chegamos a um ponto em que uma legislação moderna, que poderia ser conhecida como “a lei da transparência”, acabará chamada de “a lei do sigilo eterno”, mesmo que contenha avanços inegáveis.

O livre acesso à informação pública pressupõe que os sites tenham informações relativas às despesas da instituição, como salários de pessoal, gastos ou processos de licitação que devem ser apresentados de maneira mais detalhada e acessível possível.

A experiência de outros países mostra que, na realidade, os jornalistas são os que menos usam essas informações, porque o que interessa mesmo é o dia a dia dos cidadãos, que começam a se utilizar da legislação para defender seus direitos, e também os advogados começam a usá-la.

O exercício da cidadania na moderna democracia digital permite que a sociedade acompanhe passo a passo a atuação dos funcionários públicos e, por conseguinte, dos governos como um todo.

Por si só, essa prática faz com que o agente público, seja ele o mais graduado, saiba que um dia a História registrará suas decisões e suas conversas.

O sigilo eterno foi introduzido na legislação nos últimos dias do governo Fernando Henrique, e o ex-presidente admitiu o erro de decisão, alegando que foi induzido a ele sem que se desse conta da dimensão do problema.

O PT criticou muito a medida, mas o ex-presidente Lula não a alterou nos oito anos em que esteve à frente do Executivo, e agora mais uma vez a presidente Dilma parece estar se submetendo a pressões que vêm de áreas militares e do Itamaraty - que funcionaram mais no Senado porque encontraram acolhida nos expresidentes Fernando Collor e José Sarney.

É um equívoco comparar a liberação de documentos públicos com a atuação do WikiLeaks, ONG especializada em vazamento de documentos oficiais de governos.

Na verdade, o WikiLeaks só existe porque os governos procuram esconder suas decisões. Não será surpresa se, a partir de agora, existirem interessados em vazar esses mesmos documentos da Guerra do Paraguai ou do Barão do Rio Branco que tanto zelo estão exigindo.

A legislação de acesso à informação pública estava recebendo, por parte do novo governo brasileiro, um tratamento digno de sua importância.

A presidente Dilma Rousseff, aliás, ficará em situação delicada, pois havia sido convidada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para lançar a iniciativa global intitulada “Parceria por um governo aberto”, em setembro, na Assembleia Geral da ONU, que normalmente é aberta pelo presidente brasileiro.

Um dos primeiros atos de Obama quando assumiu a Casa Branca foi publicar um memorando chamado “Transparência e governo aberto”, que afirmava o comprometimento da sua administração com a transparência, em garantir a confiança pública e em estabelecer um sistema de participação e colaboração.

O site, lançado pela administração federal dos EUA, é consequência dessa política. No ar desde 2009, é um repositório de dados oficiais e permite o desenvolvimento de aplicativos por terceiros.

Atualmente, existem mais de 600 aplicativos de utilidade pública desenvolvidos por programadores externos.

É verdade que houve um retrocesso depois que o WikiLeaks divulgou recentemente aquela enxurrada de documentos sobre a política externa americana, e cresceu nos Estados Unidos a pressão conservadora para limitar essa transparência.

A nova legislação brasileira previa um máximo de 25 anos de sigilo para documentos classificados como ultrassecretos, com a possibilidade de apenas uma renovação pelo mesmo prazo.

Agora, nas negociações no Senado, será preciso recomeçar tudo novamente, para que não se perca todo o projeto. Se qualquer tipo de documento puder ter seu sigilo renovado eternamente, a nova legislação perde o vigor, ficando à mercê do governante de ocasião.

É inadmissível que a versão oficial da História do Brasil seja contada sem base em documentos, e com lacunas eternas.

MIRIAM LEITÃO - Unidos e desconfiados


Unidos e desconfiados 
MIRIAM LEITÃO

O Globo - 15/06/2011

Os Estados Unidos e a China vivem assim: unidos, mutuamente dependentes, mas sempre desconfiados do que está acontecendo na economia do outro. Ontem saíram dados chineses mostrando que o país pode ter uma desaceleração suave e a bolsa americana subiu depois de vários dias de queda. A China disse que os EUA estão brincando com fogo pela forma como lidam com a própria dívida.

Os EUA vivem a estranha situação de ser a dívida na qual mais se confia e ao mesmo tempo estar falando em “default temporário” ou “breve default”. É que o limite máximo de endividamento do governo está para ser atingido, e os republicanos, já nos debates da escolha de candidatos para a disputa eleitoral, não querem aprovar o pedido de elevação desse limite. Se não conseguirem autorização de emissão até dois de agosto, pode acontecer o impensável: os EUA não conseguirem rolar a dívida.

Um dos maiores compradores de títulos americanos é o banco central da China. Por isso é que um consultor do banco, Li Daokui, disse que os EUA brincam com fogo quando admitem essa possibilidade. Ontem, o presidente Barack Obama fez mais um apelo para que o Congresso aprove a ampliação do endividamento. Disse que vai trabalhar duro para superar o impasse: “Minha expectativa é que vamos fazer isso de forma sensata. Isso é o que o povo americano espera.”

O economista americano Albert Fishlow, a quem perguntei se achava possível um default, disse que realmente parece improvável, mas tudo na política dos EUA está indo na direção do confronto:

- Espero que depois de 200 anos de democracia a gente saiba como agir.

Há de fato necessidade de aperto fiscal mais forte na economia americana, ou pelo menos de um horizonte de queda do endividamento e do déficit, como na maioria dos países ricos. Mas foram os próprios republicanos que deixaram o rombo e o desequilíbrio nas contas do governo; agora, posam de austeros.

Os EUA estão com dívida líquida de cerca 64% do PIB. Ela parece pequena perto da dívida do Japão, que está em torno de 135% e vai continuar crescendo para 163% até 2016, conta Fishlow. A China tem dívida de apenas 17%, mas o economista sugere que não se confie neste número.

- Eles não incluem aí as dívidas dos estados - disse. Para Fishlow, atrás de números brilhantes, a China continua sendo um país em desequilíbrio:

- A poupança é muito alta, consumo limitado, e todos raciocinam em relação à China fazendo uma simples extrapolação da taxa de crescimento como se fosse durar para sempre. E não vai. O futuro do país pode sim ser positivo, mas a política vai se tornar cada dia mais importante; não vai ser fácil.

Outros analistas são muito mais otimistas em relação à China, país que tem superado as expectativas positivas em termos de crescimento e compreensão das mudanças. O economista Antônio Barros de Castro, por exemplo, acha que aquele velho ditado que era usado para explicar a China - não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato - não é mais verdade:

- Hoje as autoridades chinesas estão querendo que o gato seja mais verde.

De fato, há fortes empreendimentos chineses em energia de baixo carbono, até porque o estoque de sua matriz é fortemente concentrado em fontes de alto carbono, como o carvão.

O embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, que representou o Brasil na China de 2004 a 2008, acha que ninguém como os chineses entenderam mais rapidamente a globalização, para tirar proveito dela.

A China se globalizou e o mundo ficou dependente da China. Ontem, todos estavam de olho nos indicadores que sairiam sobre o país. Eles mostraram pequena desaceleração do varejo, de 17% para 16%, o que elevou as bolsas porque o dado estaria confirmando que o país poderá fazer a transição para um nível mais sustentável de crescimento. A inflação subiu de 5,3% para 5,5% na taxa em 12 meses, o que é a maior alta em três anos, mas a aposta passou a ser que a China vai controlar a inflação reduzindo apenas ligeiramente o crescimento. Outros dados de produção industrial e de vendas de varejo, combinados com a decisão do Banco do Povo de dar mais um pequeno aperto monetário, convenceram analistas de que é possível uma redução gradual do crescimento, mas mantendo a taxa ainda “robusta”, como disse o “Financial Times”. Ainda bem, dizem analistas, porque da Europa, EUA e Japão não há como esperar que puxem o mundo. O motor que mantém o PIB mundial continua sendo a China. Isso é que faz cada dado chinês ser esperado com ansiedade.

Na Europa, a Grécia teve a classificação de risco rebaixada ao menor nível possível, e isso quer dizer que ninguém acredita mais no país. A diminuta economia grega não é relevante o suficiente para preocupar o mundo; exceto pelo fato de que bancos de outros países e o BCE compraram seus papéis, e quanto mais o país se afunda mais fica claro que a unidade monetária europeia tem dificuldades de se manter.

Com a Europa assim e o Japão tentando se levantar do tsunami-desastre nuclear, restam Estados Unidos e China. Mas como os EUA enfrentam até o inesperado risco de um “breve default”, tanto a economia americana quanto a do resto do mundo continuam de olhos bem abertos para o desempenho chinês.

ANTONIO PRATA - Nostalgia


Nostalgia
ANTONIO PRATA
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/06/11

"A nostalgia não é um dos sentimentos mais em voga na praça. Talvez porque, como já escrevi noutra crônica, ela seja uma espécie de caldo Knorr emocional: um tempero artificial, mistura de esquecimento com saudade, que garante cor e sabor a situações que, quando vividas, lá atrás, nem foram assim grande coisa.
Há também, acredito, outra razão para a desvalorização da nostalgia: por voltar nossos olhos ao passado, ela atua como uma âncora, impedindo o movimento "para o alto e avante", direção na qual nos empurram os impulsos mais de acordo com o nossa época: a ambição, a ganância, a curiosidade.
Eu tenho cá minhas ambições, minha ganância, muita curiosidade, mas confesso que levo sempre no bolso dois ou três tabletes de nostalgia. Não por pensar que o passado seja melhor que o porvir -torço pelo contrário; acredito no contrário-, mas porque o passado é a matéria da qual somos feitos; é só o que temos. Se pudermos optar, melhor conservá-lo mergulhado em poesia do que protegido por naftalina, não?
Ao contrário do que alegam seus detratores, a nostalgia -pelo menos, a vertente que eu pratico- não é necessariamente uma visão empobrecedora da vida. Fellini nada em rios de nostalgia e, no entanto, ninguém pode acusar "Amarcord" ou "8 e «" de edulcorarem a infância, pode? A violência está lá, a confusão, o desamparo. Mesmo assim, tudo é belo, trabalhado pelas mãos do grande artista.
Pragmático leitor, sejamos nostálgicos! Se não estivermos um tanto bêbados, de vinho ou poesia, como sugeriu Baudelaire, a vida vira um mero trajeto do pó ao pó, com escalas por unhas encravadas e planilhas Excel. Sem um mínimo de trapaça no olhar, nada resiste a um exame mais apurado. Roma é uma gritaria em meio a ruínas. Napoleão, um baixinho nervoso. Marilyn, uma bêbada chata. Muito provavelmente, Fellini nunca teve um tio doido e narigudo que subiu numa árvore, os bolsos cheios de pedras, gritando "Eu quero uma mulher! Eu quero uma mulher!", até ser resgatado por uma freira anã. Por isso temos a arte, para isso a nostalgia; para transformar o Miojo sem graça de nossas existências em algo mais próximo das "fotos ilustrativas" das embalagens, enfiando douradas coxas de frango e tenros filés onde havia somente farinha de trigo e gordura vegetal hidrogenada.
Penso essas coisas todas porque, em algumas semanas, mudo-me deste apartamento. Agora mesmo, enquanto escrevo, percebo-me melancólico como o diabo, olhando as paredes ou os vasos da varanda como uma paisagem da janela de um trem.
Passei aqui uma década. Cheguei com 23 anos -um aparelho 3x1 que ainda rodava as fitas gravadas na adolescência-, saio com 33 - previdência privada e alguns fios de barba branca. Debaixo deste teto, escrevi quatro livros, briguei com um amigo, fiz as pazes, tive o coração partido e colei seus pedacinhos.
Aqui, reencontrei o amor, casei e daqui me mudo, para uma casa maior, como convém, com um quintal e um gramado, onde correrão meus futuros filhos e os rios de nostalgia que, em seu devido tempo, brotarão por entre as plantas."

JOSÉ SIMÃO - Vulcão! Vou pra Péssimos Aires!


Vulcão! Vou pra Péssimos Aires! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/06/11

E a fumaça não vem do vulcão. É show de reggae. Tá tendo um show de reggae no Chile! Rarará!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! A explosão do vulcão! O Pum da Gretchen! O vulcão chileno de nome impronunciável continua espalhando cinzas pelo continente. Buenos Aires vira Péssimos Aires! E área VIP em aeroporto quer dizer: Vai Isperá Pacas!
E a fumaça não vem do vulcão. É show de reggae. Tá tendo um show de reggae no Chile! Rarará!
E o que paira no ar não é a fumaça do vulcão. É o pó das bandeiras do Vasco! Rarará! Ficaram guardadas cem anos, aí tiraram pra comemorar o campeonato e PUF! O pó espalhou pelo Cone Sul!
E o jogo Santos x Peñarol em Montevidéu? O Santos botou o cabelo do Neymar pra espanar as cinzas. Pegou aquela vassoura de churrasqueira e espanou as cinzas.
E o periquitério da Dilma? Eu sei por que tiraram a Ideli Salvatti da Pesca. Porque ela tava pescando com dinamite! E o novo ministro da Pesca? Um dos poucos homens no periquitério: mandaram ele pescar! Homem? Manda pescar! Diz que levaram o novo ministro da Pesca prum aquário, pra se habituar com os peixes, e ele se assustou com uma tainha. "O que é isso?". "Uma tainha". "Socorro!". Rarará!
Com dez ministras mulheres, a Dilma contratou um ginecologista. Pra evitar a TPM coletiva. Primeira providência do ginecologista: receitou calmantes e mandou retirar canetas e objetos cortantes das reuniões ministeriais. Canetas, objetos cortantes, grampeadores, furadeiras e britadeiras. Rarará! E aí me perguntaram: "Qual o problema de ter tanta ministra mulher?". Não é problema, é ineditismo!
Vulcão! Acenderam um baseado. E a manchete do Twiteiro: "FHC viaja ao Chile para agradecer apoio de vulcão no debate sobre maconha". Esse vulcão de nome impronunciável Puyehue! Devia se chamar MORRÃO FUMEGANTE!
E a manchete do Sensacionalista: "Fernando Henrique, sobre nuvem de fumaça de vulcão chileno: "Proibir não é a solução. Precisamos regulamentar'". Rarará!
Vulcão na Libertadores. Olha o painel eletrônico do aeroporto. "Avaí x América. Ressacada. Previsto. Inter x Palmeiras. Beira Rio. Previsto!" Rarará!
E mais um pra minha série Os Predestinados: superintendente da ouvidoria do Bradesco Seguros: Guilherme Callado. Rarará! Pra trabalhar numa ouvidoria, só mesmo um callado. Rarará! Nóis sofre mas nóis goza.

ROBERTO DaMATTA - Dois filmes



Dois filmes
ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 15/06/11


O filme O Discurso do Rei (dirigido por Tom Hooper) tem vários denominadores comuns com um outro filme, seu competidor, Cisne Negro (dirigido por Darren Aronofsky). Ambos lidam com temas referentes a matrizes importantes daquilo que se chama de "cultura" termo que no contexto artístico denota, com todos os preconceitos, refinamento ou "alta cultura". O filme sobre George VI, avô desse príncipe recém-casado com pompa e circunstância, lida com os dramas da aristocracia; já Cisne Negro trata da produção de uma nova versão do balé O Lago do Cisne, de Tchaikovsky. Em ambos os enredos, precisa-se de alguém capaz de desempenhar simultaneamente dois papeis e de realizar dois discursos.

No caso do rei, cujo apelido era Bertie, é preciso torná-lo capaz de falar em público com a segurança requerida de um príncipe e de um rei, algo tranquilo não fosse a gaguez impeditiva de realizar a banalidade que vira proeza. Pois Bertie só é capaz de produzir um discurso - o do filho e do marido. Algo trágico na medida em que ele é alçado ao papel de rei pela renúncia de seu irmão maior, o herdeiro do trono.

No Cisne Negro, o drama se assenta na incapacidade de uma bailarina tecnicamente perfeita, porém incapaz de desempenhar o papel do Cisne Negro, a dimensão transgressora do Cisne Branco. Porque ela não é capaz de realizar o papel infrator, mesmo num balé, nos mostra como o bloqueio desencadeia em Nina todo um surto psicótico que conduz à sua própria destruição.

Pela mesma lógica dos impasses emocionais, Bertie não é capaz de falar (e de ser um "Rei Branco") porque a sua dificuldade em discursar o leva a ser uma contradição em termos: um rei que personifica seu povo é impedido de comunicar-se com ele.

Como vencer esses impasses semelhantes ao do professor que detesta dar aulas (conheci alguns); do acadêmico que não consegue escrever livros geniais prometidos anos a fio (conheci vários), do amante que tem um surto de impotência num encontro amoroso mais do que sonhado (sei de três ou quatro casos e conheço um intimamente); do comandante congelado pelo medo no campo de batalha (vi isso no cinema muitas vezes); do amor realizado por ódio e por vingança contra o marido da ex-namorada (li isso num livro do Kundera); do herói acusado de um crime que procura sua culpa (leia Kafka), do culpado em busca de castigo (leia Dostoievski); ou da moça que escolhe não escolher mas, em vez de transformar-se em Anna Karenina ou Ema Bovary, vira a Dona Flor do saudoso e grande Jorge Amado - é isso que constitui a trama desses filmes. E por isso, emocionam.

Pois cada impasse produz um posicionamento. Há os que abrem e os que fecham. O do rei foi positivo. Em vez de fechar-se em si mesmo, ele, com ajuda da mulher, (sua grande ponte para o mundo) procura um terapeuta que, sendo um amigo especial - uma pessoa à qual se conta tudo -, engendra a confiança. Essa corda que permite descer pela janela sem o esborrachar-se no piso do radicalismo e da negação. E todo radicalismo é, de fato, uma negação. Já o caso da bailarina é mais complexo. No seu mundo, há apenas um diretor ambicioso, amigas competitivas e uma mãe dominadora e ex-bailarina competitiva que impede que a filha faça um caminho diverso do seu.

Eis um quadro curioso, cuja simetria me lembra um daqueles saudosos ensaios de Claude Lévi-Strauss. De um lado, um príncipe gago que não pode ser rei porque só se entra nesse papel produzindo um solene juramento numa abadia, num ritual que é apenas pompa e circunstância - essas coisas cuja emoção é justamente suprimir a emoção. Do outro lado, temos a bailarina ultrapreparada, mas incapaz de revelar as emoções necessárias ao papel de um cisne transgressor. Num caso, um excesso de emoção impede o desempenho de um papel herdado e, vejam a tragédia, não escolhido, mas que tem de ser desempenhado. Noutro, há uma ausência de emoção a qual corresponde a um excesso de técnica que, por sua vez, impede o desempenho de um papel escolhido e desejado.

Em paralelo, há uma ênfase no ouvido e na visão. No entendimento pela conversa franca e honesta que liberta e tira o pó debaixo do tapete, pois até mesmo aristocratas têm problemas, a dificuldade é ultrapassada. No caso do cisne, entretanto, há uma predominância do olhar cujos reflexos reiteram ao personagem as distorções de sua vida.

Alguém disse, faz tempo, que a passagem do ouvido e da leitura para a imagem nua e crua era o começo de tragédia e um prenúncio de fim de um mundo. Esses filmes, especialmente o segundo, não chega a tanto. Mas acentua a necessidade do outro como um guia. Como um ouvinte que impede destruir as pontes entre nós e esses outros que se escondem dentro dos nossos corações.

MÔNICA BERGAMO - LINHA FINA


LINHA FINA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/06/11



Mais uma pedra no caminho do Itaquerão, o estádio do Corinthians: o Ministério Público Federal enviará à Transpetro, subsidiária da Petrobras, recomendação para que não inicie a remoção dos dutos no terreno onde será construída a arena. O MPF considera ilícito que a empresa assuma os custos da transposição. E diz que, sem contrato que deixe claro que o Corinthians pagará pela obra, estará sujeita a futuros embates jurídicos acerca da responsabilidade pela sua execução.

POR FAVOR
O procurador José Sérgio de Oliveira, que assina a recomendação, diz que, se a Transpetro assumir os custos da remoção, estará configurado dano ao patrimônio e favorecimento ilícito a empreendimento privado, com recursos públicos. Em comunicação com o MPF, a empresa disse que a obra, de R$ 30 milhões, será bancada pelos empreendedores do projeto.

SILÊNCIO

Até ontem, Lula não tinha enviado mensagem nem telefonado a Fernando Henrique Cardoso para cumprimentá-lo por seus 80 anos. De acordo com um interlocutor direto do ex-presidente, "o Lula respeita muito o FHC, mas tem mágoas por causa dos ataques feitos a ele em diversas ocasiões".

ESTRANHO AMOR
O ex-presidente, em suas palestras, diz o interlocutor, até reconhece a continuidade da política econômica. Mas não a ponto de rasgar elogios a FHC, como fez Dilma ao defini-lo em carta como "acadêmico inovador", "político habilidoso", "ministro-arquiteto" de plano econômico, jovem idealista e grande democrata.

DO JOGO

Já na opinião de tucano próximo de FHC, "nem ele nem Lula" assinariam carta com tantos elogios a um adversário, mesmo concordando com eles. "Os dois são estrategistas. Sabem que texto como este vira peça de campanha na primeira eleição."

A CIDADE VESTIDA
A São Paulo Fashion Week começou anteontem no prédio da Bienal, em SP. As atrizes Giovanna Antonelli, Mel Lisboa e Fiorella Mattheis foram ver os desfiles do primeiro dia do evento, que segue até domingo. O primeiro show, da grife Animale, foi aberto pela modelo Raquel Zimmermann, considerada a 14ª manequim mais famosa da história pelo site Models.com.

DOSSIÊ ABERTO

O empresário Houssein Jarouche e o promoter Fabio Queiroz inauguraram a festa Dossiê 73, na boate The Society, no fim de semana. A stylist Vanessa Monteiro foi à balada, em que tocou o DJ Bibi.

PASSOU EM BRANCO
Duas marcas ignoraram a cota de 10% de modelos negros em seus desfiles, no primeiro dia de SP Fashion Week. A grife Tufi Duek usou 26 modelos, sendo duas delas negras. Na passarela do estilista Samuel Cirnansck, havia 26 manequins. Todas brancas. A SPFW diz que a cota é apenas uma sugestão.

TOQUE DE MODA

O Instituto Se Toque, presidido por Monica Serra, tentará que os convidados da Colcci coloquem as mãos sobre o peito durante o desfile da marca. A ONG atua na conscientização sobre o câncer de mama.

NO FORNO

Quase 20 anos depois do best-seller "Na Sala Com Danuza" (1992), que teve 40 edições, Danuza Leão volta a falar sobre um mundo que virou do avesso no século 21, nesses tempos de iPads, superpopulação mundial, Google e "ex-pobres", como define. A colunista da Folha, que já tinha lançado três livros pela Companhia das Letras, assinou agora com a Ediouro. Sua nova obra deve sair entre outubro e novembro. O título ainda é segredo.

MARCO ZERO

André Sturm, do extinto cinema Belas Artes, inaugura sua gestão no MIS (Museu da Imagem e do Som) abrindo "filiais" do museu em Campos do Jordão, em julho, e Paranapanema, em agosto.

As subsedes funcionarão como cinemas e podem vir a oferecer oficinas de capacitação para a população local.

CHOQUE-REI

O cantor Roberto Carlos deve assistir hoje ao show "No Tom do Tom", de Tom Cavalcante. No espetáculo, o humorista, devidamente paramentado, interpreta "Como É Grande o Meu Amor por Você" e "Emoções".

MAÇÃ DO SOM

O selo Apple Records, criado pelos Beatles em 1968, volta às lojas do Brasil nesta semana. O CD "Come and Get It: The Best of Apple Records" reúne músicas de artistas que os integrantes da banda selecionavam, como Mary Hopkin e Brute Force.

CURTO-CIRCUITO


O Museu do Futebol abre no sábado a exposição "Olhar com Outro Olhar", com curadoria de Leonel Kaz, às 12h.

O comediante Marcelo Marrom participa do jantar Stand Up Music, hoje, no Cafe de la Musique. 18 anos.

A AM Galeria Horizonte abre a mostra coletiva "Contemporaneidade", com Adriana Rocha, Amilcar de Castro e outros. Hoje, às 10h.

O livro "Você e a Leucemia: Um Dia de Cada Vez" será lançado hoje no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, às 9h30.

A PUC faz, hoje, às 19h30, o evento Dinâmicas Territoriais no Brasil Contemporâneo.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

RENATA LO PRETE - PAINEL


Devagar com o andor
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/06/11



Apesar da "limpeza" prometida pela nova ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) nas "prateleiras" do Planalto, o discurso interno de Dilma Rousseff recomenda não esperar mudança radical no trato dos pedidos da base. Nas reuniões com o novo núcleo do governo, a presidente de fato pediu a Ideli e a Gleisi Hoffmann (Casa Civil) um levantamento dos cargos de segundo escalão ainda pendentes.
Deixou claro, no entanto, que o objetivo é "ter ciência" do que está parado e que ela própria decidirá o ritmo das nomeações. Dilma aproveitou para advertir: os postos nas agências reguladoras devem ser mantidos a salvo do apetite dos aliados.

Na ponta do lápis 
Em almoço com senadores do PR, Dilma fez questão de discorrer em detalhes sobre o elevado grau de fidelidade do partido em votações no Congresso desde a era Lula.

Cadê? 
No encontro com o PR, a presidente levou consigo Ideli, Gleisi e Gilberto Carvalho. No Congresso, ninguém entende a ausência do vice Michel Temer (PMDB) nesse tipo de evento.

Meca 
Diante da sugestão de visita dos líderes da Câmara a Ideli, como forma de contornar o mal-estar causado pela ausência da ministra em almoço do colegiado, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) brincou: "Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé".

Como assim? 
"Eu não entendo mais nada", desabafou um senador petista ao ser informado de que Ideli dera entrevista sugerindo que a presidente mudou de ideia e agora é a favor do sigilo eterno de certos documentos oficiais. Horas antes, a bancada do PT fechara questão pelo fim do sigilo.

Foguetório
Inconformados, parlamentares dizem que, até agora, o único empenho concreto de emendas, em torno de R$ 44 milhões, foi feito para pagar as tradicionais festas juninas.

Em cima... 
A oposição em SP reclama que, a menos de três semanas do início do recesso do Legislativo, Geraldo Alckmin (PSDB) ainda não enviou à Assembleia o projeto de reajuste salarial dos professores. A primeira parcela, de 13,8%, valeria a partir de 1º de julho, segundo anúncio feito em maio.

...da hora 

A Secretaria da Educação diz que o projeto está "saindo do forno" e que, em sua avaliação, será aprovado antes do recesso.

Dicas 
Prefeitos do interior paulista devem receber amanhã guia sobre acessibilidade e inclusão nas cidades. O material é da deputada Mara Gabrilli (PSDB).

Fogueira 
Diante do escândalo de corrupção em Campinas, o prefeito Dr. Hélio (PDT) publicou na mídia local artigo em que se compara a vítimas da Inquisição.

Solo 
Em resposta a colegas de STF incomodados com a percepção de que a PEC dos Recursos seria endossada pelo conjunto da Corte, o presidente Cezar Peluso esclarece que jamais apresentou a proposta -pela qual os processos judiciais seriam finalizados e executados depois da decisão em segunda instância- como sendo do plenário. Acrescenta que sempre se referiu a ela como "uma contribuição pessoal ao debate".

Visita à Folha 
Shirin Ebadi, Nobel da Paz de 2003, visitou ontem a Folha, onde foi recebida em almoço. A ativista iraniana dos direitos humanos estava acompanhada de Flávio Azm Rassekh, representante da Comunidade Bahá'í em SP.
com LETÍCIA SANDER e RANIER BRAGON

tiroteio
"O PV demonstrou grande insensibilidade política ao não se empenhar em uma negociação séria com uma candidata que nos deu quase 20 milhões de votos."
DA DEPUTADA ESTADUAL ASPÁSIA CAMARGO (PV-RJ), sobre a ameaça de Marina de deixar a sigla devido a atritos com o presidente, José Luiz Penna.

contraponto

Bolsa Cadeado

Em reunião na Secretaria de Esporte de São Paulo, discutia-se verba para reformar um ginásio em Lavínia, a 587 km da capital. A certa altura, o prefeito Rodolfo Mansan (PSDB) foi questionado sobre o número de habitantes da cidade. "Cerca de 6.000", respondeu.
-E mais 3.500 detentos nas penitenciárias- acrescentou o deputado Carlão Pignatari (PSDB).
Como o Fundo de Participação dos Municípios leva em conta o porte da população, um assessor brincou:
-Fala para o Alckmin encanar mais 500. A cidade passa de 10.000 e receberá mais dinheiro do FPM!