O silêncio de Palocci
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/05/11
SÃO PAULO - Desde que foi revelado que é mais um novo milionário da política, o ministro Antonio Palocci não se dignou a dar nenhuma explicação a respeito dos serviços de consultoria privada que prestou enquanto era deputado. Da sua boca nenhuma palavra foi ouvida.
Tudo o que fez foi divulgar uma nota por engano -destinada a subsidiar a tropa de choque, foi parar nas mãos de todos os congressistas. Nota assinada por um assessor palaciano, pago com dinheiro do contribuinte, mas ali escalado para explicar os negócios privados do chefe da Casa Civil. E nem isso ocorreu.
Pego de calças curtas, no trecho mais revelador da sua carta acidental o petista evoca a companhia de intelectuais-banqueiros do tucanato, gente, como ele, de "enorme valor de mercado", como quem diz, para livrar a cara: "Olha o respeito, isso aqui é uma tradição nacional".
A própria comparação com a trajetória dos tucanos é capenga e joga a favor da confusão, deixando intactas as dúvidas que o ministro teria a obrigação ao menos moral de dirimir: que tipo de consultoria prestava? Para quem trabalhava?
Quem sabe daqui a pouco apareça algum grande banco para contar uma história do tipo: "Contratamos a empresa Projeto por $ milhões para nos fazer um parecer técnico sobre a criação do Sudão do Sul".
Ajudado pelos líderes tucanos, que atuam no caso para salvar Palocci, o fato é que o Planalto desde o início trata do assunto com ligeireza. A Comissão de Ética Pública da Presidência simplesmente concluiu que não caberia investigar a evolução patrimonial do ministro. E o secretário-geral, Gilberto Carvalho, veio dar o arremate: "Nós estamos muito satisfeitos com esse resultado. Vamos para frente".
Fala mais apropriada a um jogador de futebol. Só faltou dizer: "Com certeza, a equipe está coesa e a professora Dilma confia no capitão". Onde, aliás, está Dilma, que não toca no assunto? Este era um governo discreto, agora ficou omisso. Era circunspecto, agora é opaco.