domingo, fevereiro 27, 2011

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J. R. GUZZO

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J. R. GUZZO
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O desafio da fidelidade
BETTY MILAN
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Como seremos amanhã?
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CARTA AO LEITOR - REVISTA VEJA

Carta ao leitor
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JOÃO UBALDO RIBEIRO

Entrevista de Sua Excelência
JOÃO UBALDO RIBEIRO 
O Estado de S.Paulo - 27/02/11

- É para o Fantástico? Me disseram que era para o Fantástico.

- Não, deputado, é para um especial que está sendo preparado.

- Mas não dá para passar no Fantástico? Assim um trecho, melhores momentos, uma coisa dessas? O Fantástico para mim é a melhor coisa da televisão, tem grande penetração, não perco um. Você tem certeza de que não dá para encaixar pelo menos um trechinho da entrevista no Fantástico? Não comente isso, não, mas, se for necessário dar um agrado a alguém, sabe como é, alguém lá na televisão, uma conversa, um agradozinho no bolso... Eu conheço essas coisas, sempre dá para resolver, com boa vontade se resolve tudo.

- Bem, infelizmente isso não é comigo. Eu acho que não é bem assim que funciona, mas, de qualquer forma, o senhor teria que falar com o pessoal da programação da emissora.

- Ah, está certo. Gostei de ver sua honestidade. Podia perfeitamente pegar a gratificação e depois dizer que não deu para fazer nada, você foi honesto, continue assim, só a honestidade salva este país. Já está gravando?

- Não, ainda não, mas já estamos prontos.

- É que acabei de bolar essa frase "só a honestidade salva este país" e achei que seria muito boa para marcar minha primeira entrevista. Só a honestidade salva este país. Curto, direto e verdadeiro, olhe aqui, fico até arrepiado quando digo isso, eu sou um homem emotivo.

- Podemos começar?

- Se eu errar alguma coisa, você me adverte?

- Como assim? Eu não posso ficar corrigindo o senhor.

- Não é corrigir, é me fazer um sinal, ou então regravar alguma coisa que eu faça errado. É minha primeira entrevista em rede nacional, a família toda vai assistir, o pessoal todo de minha terra vai assistir, é uma coisa de muita responsabilidade. Eu vou ser muito franco com você, eu estou nervoso, é natural. Você é profissional, eu não peço nada, apenas uma orientação.

- Mas minha pauta não tem nenhuma pergunta complicada, é para ser tudo espontâneo, como, por exemplo, suas primeiras experiências depois de empossado.

- Ah, eu ainda estou muito verde. Ainda não conheço nem meus direitos, todo dia eu descubro uma coisa nova que todo mundo já tem e eu por fora. Devia haver uma assessoria especial para o deputado novato. Do jeito que é, eu acho que o sujeito pode passar anos sem aproveitar seus direitos. Saia perguntando por aí e você vai ver que muitos outros deputados ainda não conhecem seus direitos todos, é muito direito, tem que administrar isso com responsabilidade. Se a verba está aí e o sujeito não usa a verba, ela não serve para nada, cai em exercício findo e não beneficia ninguém, isso é imobilismo, é preciso acabar com o imobilismo na Câmara. Já decidi que vou montar um programa de conscientização entre os parlamentares, essa área precisa de maior controle, é uma garantia para o equilíbrio do parlamentar. Quantos não estão pagando por coisas que podiam ter de graça?

- O senhor acha que seu partido encamparia essa iniciativa?

- Meu partido? Não, isso não é um problema partidário. O P... O P... O P... O P...

- O senhor está tentando lembrar o nome de seu partido?

- É, é o nervosismo, porque eu fiz questão de decorar com todo o cuidado, repetia o dia todo, até dirigindo o carro. E anotei, minha senhora anotou e botou no meu bolso, só que de outro paletó. Isso, aliás, é outra coisa que tem que ser revista: se a Câmara exige paletó e gravata, nada mais justo que um auxílio-vestuário, uns 15 ternos por ano, as pessoas não fazem ideia de como um deputado gasta roupa, é um absurdo. Eu mesmo só tinha um terno e tive de mandar fazer uma porção, sem o menor auxílio do governo, não é justo. É do interesse da sociedade que o deputado se apresente condignamente trajado, preserva a instituição. Esse é outro ponto...

- Desculpe, mas o senhor estava falando do seu partido.

- Ah, é verdade, é que essa questão do traje me empolga, você não faz ideia de quanto um bom alfaiate está cobrando por um terno. E a gente tem de morrer nessa grana, só para manter o decoro parlamentar. Mas, sim, o partido. Às vezes dá um branco, não há meio de eu lembrar. É o PTSB! Isso mesmo, PTSB! Não é?

- Assim de cabeça, não estou reconhecendo. São as iniciais de quê?

- Ah, aí você me pegou. Se eu tive dificuldade em decorar as iniciais, imagine o nome todo. É muito partido, é como os ministros, são tantos que ninguém toma pé. E, como eu lhe disse, o partido não vem ao caso, quando se trata desse programa de conscientização que eu estou planejando. Evidentemente que é uma questão suprapartidária. Não se trata de uma medida que vá beneficiar somente os deputados de alguns partidos, em detrimento de outros. Vai beneficiar todos, indistintamente, é um movimento de interesse da nação.

- Da nação?

- O que é do interesse dos deputados é do interesse do Brasil, são os deputados que representam o povo brasileiro. Nós ainda não estamos inteiramente acostumados à democracia. Na democracia, quem manda é o povo e, como quem representa o povo somos nós, o que é do povo é nosso. Já está gravando? Vamos começar, está na hora de trabalhar. É como eu já disse lá em casa, não fiquem pensando que o sujeito se elege somente para se fazer, tem trabalho também! Meu cabelo está despenteado?

ANCELMO GÓIS

Eike da folia 
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 27/02/11

O empresário Bell Marques, do grupo Chiclete com Banana, é uma espécie de Eike Batista da folia baiana. Seu faturamento no carnaval beira uns R$ 10 milhões. 

Eike do morro 
Zé do Carmo está cobrando R$ 500 para dar entrevistas de, no máximo, duas horas. É aquele que tem vários negócios no Dona Marta, no Rio. 

Alerta em terra 
Há algum ruído na nomeação de Rossano Maranhão, expresidente do Banco do Brasil, para a nova Secretaria da Aviação Civil, ligada à Presidência. Enquanto isso, os aeroportos estão ao deus-dará. 

Pernas do sucesso 
“De pernas pro ar”, novo sucesso do nosso cinema, já foi visto por 3,5 milhões de pessoas. 

Garota de programa 

Do historiador Marco Villa, diante do apoio unânime do PMDB ao governo na votação do salário mínimo: — A fidelidade do PMDB é igual à de garota de programa: tem tempo de duração e depende do serviço. É. Pode ser. 

Beija, Ronaldinho 
Se fizer gol hoje, na final entre Flamengo e Boavista, Ronaldinho Gaúcho deve comemorar com uma coreografia inédita do pagode “Beija, beija”. A música será gravada em estúdio esta semana pelo grupo Swing Simpatia, pelo funkeiro MC Ombrinho, autor do samba, e... pelo próprio Ronaldinho!

Merquior, 70 anos

A ABL vai fazer uma exposição para marcar os 70 anos de José Guilherme Merquior, falecido em 1991. A organização do evento está a cargo do editor José Mário Pereira, que foi amigo do grande pensador liberal.

Não deu sorte

Duas novelas com Antônio Fagundes (“Vale tudo” e “Rei do gado”) estão sendo reprisadas. Na primeira, o grande ator, de 61 anos, faz merchandising da construtora Encol. Na segunda, recomenda investir na empresa Boi Gordo.

Em comum...
Encol e Boi Gordo faliram depois, causando prejuízos a compradores e investidores. Homem com h Lindberg Farias, o senador, pôs um “h” no fim do nome e, agora, assina “Lindbergh”. Diz que não é superstição, numerologia nem nada, mas só desejo de voltar a ter o nome igual ao do pai. É que Lindinho foi batizado Luiz Lindbergh Farias Filho. É. Pode ser.

Michelle in Rio

Michelle Obama terá agenda diferente do marido no Rio, dia 20 de março. No roteiro, um museu. 

Crime e castigo

Sai amanhã no DO a demissão do delegado Ricardo Hallak dos quadros da polícia do Rio. Acusado de formação de quadrilha, corrupção e lavagem de bens, Hallak chegou a ser secretário de Polícia Civil no governo Garotinho. 

Viva o gordo!

Uma loja de material de construção, com oito filiais no Rio, não contrata gordinhos. Parece discriminação. E é. 

Chega de assaltos
Pelo menos duas empresas de ônibus estão blindando seus guichês de venda de passagens na Rodoviária Novo Rio. A Cometa e a 1001. 

Fiofó careca
Um profissional do ramo de clínicas de depilação definitiva voltadas para a clientela vip conta que, neste carnaval, 70% dos que têm procurado o serviço são... homens. E acredite: as depilações mais requisitadas por eles são as de... glúteo, perianal e anal. Na minha terra... deixa pra lá.

No mais
De nada adianta o BNDES disponibilizar milhões para ajudar pequenos empresários vítimas das chuvas na Região Serrana do Rio se os bancos não repassam os recursos. No Banco do Brasil em Itaipava, os comerciantes têm batido com a cara na porta.

ZONA FRANCA
 Antonio Marinho, Roberta Jansen e Simone Marinho lançam amanhã, às 19h, no Centro Cultural da Marinha, o livro “Nos limites da Amazônia azul”. 
 Acaba hoje, no Pepê, a Arena Claro Rock, com ação do Rock in Rio.
 Dia 1o-, o CEBDS debate agenda de sustentabilidade no Sebrae-RJ.
 O bazar da Novamente vai até amanhã, no Centro do Rio.
 A Origens traz para o país esculturas do português Francisco Pereira.
 O Flamengo terá sua equipe na Fórmula Truck em 2011.
● O Senac-Rio nas UPPs chega ao Tabajaras com cursos gratuitos.
 Carlos Fernando Andrade, superintendente do Iphan-Rio, faz show amanhã no Salsa e Cebolinha.
 No menu executivo do Colher de Pau Ipanema, o brigadeiro é grátis. 
 A Comissão do Direito do Consumidor, da OAB, presidida pelo vereador Roberto Monteiro, vai dar cartilhas no Largo da Carioca, dia 15 de março.

FERREIRA GULLAR

O povo desorganizado
FERREIRA GULLAR 
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/11

A fagulha que incendiou a nação egípcia foi o suicídio de um jovem, em resposta à repressão policial


O FIM da ditadura de Hosni Mubarak, no Egito, pode suscitar indagações acerca das consequências que podem advir dela, mas num ponto todas as opiniões parecem coincidir: foi o povo desorganizado que pôs abaixo o regime autoritário que durara 30 anos.
No Egito havia -e ainda há- numerosos partidos e organizações sociais que, de uma maneira ou de outra, vinham atuando na vida do país. Mas não partiu de nenhuma delas a mobilização popular que, concentrada na praça Tahrir, durante 18 dias, obrigou o ditador, obsessivamente apegado ao poder, a abrir mão dele. A fagulha que incendiou a nação egípcia foi o suicídio de um jovem, em resposta ao abuso da repressão policial.
Esse gesto desesperado despertou a revolta inicialmente de algumas dezenas de jovens, depois de centenas, de milhares e finalmente de milhões de cidadãos. Ignorando o poder repressivo do regime, foram para a rua, ocuparam a praça e receberam o apoio do povo egípcio. O povo desorganizado se mobilizou e através da internet passou a coordenar suas ações e seus objetivos. Parece um milagre? Pode parecer, mas não é. A razão disso é que o povo é, de fato, o detentor do poder, esteja ele organizado ou não.
Essa rebelião popular espontânea leva-me a refletir sobre o que chamo de "povo desorganizado". O que é, então, o povo organizado? Certamente aquelas parcelas da população que atuariam nos sindicatos e em outras entidades profissionais, estudantis e culturais. O objetivo de tais organizações, ao serem criadas, é defender os interesses das categorias e classes sociais que representam. A verdade, porém, é que isso nem sempre acontece e pode até mesmo ocorrer que tais organizações passem a se valer de sua suposta representatividade para atuar contra os interesses que deveriam defender.
Isso pode acontecer de várias maneiras, especialmente nos regimes autoritários. Por exemplo, no Brasil, quando os militares tomaram o poder, prenderam as lideranças sindicais e as substituíram por agentes do regime. A partir de então, essas entidades, que deveriam representar o povo organizado, agiam em sentido oposto, isto é, impedindo toda e qualquer manifestação contrária ao governo. Por isso que a primeira grande manifestação popular contrária à ditadura -a passeata dos Cem Mil- nasceu da mobilização espontânea de intelectuais e artistas que, em face da repressão policial, se concentraram num teatro e dali apelaram para a solidariedade da população, que aderiu a eles.
Mas essa noção da potencialidade política do povo desorganizado deveria ser acionada também no estado democrático, quando as entidades, que deveriam lutar pelos direitos da população, são cooptadas pelos que exercem o poder.
No Brasil, temos um péssimo exemplo: o de Getúlio Vargas, que, ao criar o imposto sindical, anulou a combatividade dos sindicatos de trabalhadores. Foi uma medida maquiavélica. Enquanto em outros países os sindicatos nascem da conscientização dos trabalhadores, que neles se organizam e os mantêm com sua contribuição mensal, os nossos, sustentados pelo imposto que é cobrado de todos os assalariados e controlado pelo governo, dispensam a participação efetiva dos assalariados.
Noutras palavras, são entidades-fantasmas, que não nasceram da necessidade dos empregados de se organizarem em entidades que defendam seus direitos. Por isso mesmo, poucos são os trabalhadores que delas participam, enquanto os oportunistas, com o apoio de minorais organizadas, passam a dirigi-las, impondo-se como lideranças fajutas.
Através delas, vinculam-se a partidos políticos, elegem-se deputados, tornam-se ministros e passam a atuar na vida política. Como a maioria dos trabalhadores ignora tudo ou quase tudo do que estou dizendo aqui, esses impostores passam por ser líderes de verdade e servem de "pelegos" para manter os trabalhadores submissos aos jogos de interesses.
Agora, mesmo esses falsos líderes apresentaram-se como defensores de um aumento do salário mínimo maior que o oferecido pelo governo, num jogo de cartas marcadas, demagógico, cujo resultado estava previsto.
E assim as coisas irão até que, um dia, o povo desorganizado perca a paciência e acabe com essas lideranças de araque e esses sindicatos de mentira.

FABIANO MAISONNAVE

O táxi chinês
FABIANO MAISONNAVE 
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/11

Imagine-se desembarcando pela primeira vez em Guangzhou (Cantão). É madrugada.
Você toma um táxi a um preço razoável. No meio do caminho, o motorista para e diz que a corrida sairá mais cara. Há três alternativas: pagar o aumento, descer ou dizer que aceita, mas não dar a diferença na chegada.
De uma forma ou de outra, você perde, adverte o consultor americano Paul Midler, autor da parábola. Escaldado por anos trabalhando com fábricas chinesas, diz que a desagradável surpresa do viajante estava cuidadosamente calculada pelo taxista. É resignar-se, ficar sozinho no meio da rua ou discutir na delegacia em condições desfavoráveis.
Ressalvadas as proporções, o desafio do chanceler Antonio Patriota é parecido na viagem de dois dias que fará a Pequim a partir de quarta, com a missão de preparar o terreno para a visita de Dilma Rousseff, em meados de abril.
O novo governo estreia na China em meio a sinais de que ainda tateia em temas cruciais como a política cambial, limite de investimentos em mineração, aumento das barreiras contra a invasão de produtos baratos e se de fato o tema dos direitos humanos terá mais peso na política externa.
Não se trata apenas de reformulação, é também um problema de "herança maldita". O próprio ex-chanceler Celso Amorim admitiu em novembro que, mesmo após oito anos no cargo, não construiu um "conceito pleno de como será a relação com a China".
Já a China tem claro o que quer do Brasil: uma fonte confiável de minério de ferro, petróleo e soja, mercado para seus produtos industrializados e uma aliança em temas ligados ao aumento da participação de emergentes em organismos como o FMI e o Bird.
Sem uma agenda clara, Patriota encontrará ainda um regime mais arrogante e agressivo, ciente de que resgatou a economia mundial da crise financeira de 2008.
Internamente, reprime qualquer indício de oposição, como a onda de prisões de mais de cem ativistas nos últimos dias para minar uma inexpressiva tentativa de repetir na China a revolta no mundo árabe.
Fora, a China transformou o poder econômico em arma, caso do boicote à exportação de terras raras ao Japão durante crise diplomática por disputa territorial, no ano passado.
Num ambiente assim, Patriota certamente vai se cuidar para não melindrar o principal parceiro comercial do Brasil, com quem o país conseguiu um expressivo superavit de US$ 5,2 bilhões em 2010.
É justo registrar que o Brasil não é o único que hesita diante do desafio chinês. Numa frase já histórica revelada pelo WikiLeaks, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, pergunta ao então premiê australiano, Kevin Rudd, 11 meses atrás: "Como lidar de forma dura com o seu banqueiro?".

MARCELO GLEISER

Infinito, elétron e outras invenções
MARCELO GLEISER
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/11

Baseamos os nossos argumentos no que podemos medir. E o que vem a ser a coisa real? Talvez nunca saibamos

OUTRO DIA, meu filho de quatro anos perguntou: "Pai, você pode contar até infinito?" "Não posso, filho, não ia acabar nunca". "Mas quanto é infinito menos três?" "É infinito também". "Mas como se escreve o número infinito?" "É um oito deitado." "Mas isso é um número, feito um ou dois?"
O infinito é mais uma ideia do que um número. É um conceito que criamos para representar sequências infindáveis de números, ou um ponto no espaço ou no tempo infinitamente distante da nossa posição ou do nosso momento presente.
O infinito não é algo a que chegamos; é algo sobre o qual pensamos.
Uma representação de nossas limitações, já que somos finitos no espaço e no tempo. Por outro lado, é também exemplo da nossa criatividade.
Mesmo que arredio, o infinito está por toda parte. Em cosmologia, dados atuais indicam que o Universo é infinito. Se andarmos numa direção e mantivermos a rota, jamais retornaremos ao ponto de partida. Se o universo fosse finito, feito a superfície de uma bola (em 3D), poderíamos circunavegá-lo, como o fez Fernão de Magalhães com a Terra (ou os que restaram de sua tripulação.)
Podemos ter certeza de que o universo é infinito? Não. Sabemos apenas que a porção do espaço que podemos medir, o que chamamos de horizonte -a distância percorrida pela luz em 13,7 bilhões de anos- é plana (ou quase). E uma geometria plana, como a superfície de uma mesa, estende-se ao infinito. Mas nossa certeza termina aí.
É possível que nossa porção plana do espaço faça parte de um universo curvo gigantesco. Se não temos acesso ao que há fora do horizonte, não temos certeza do que existe lá. Podemos apenas inferir.
E os pontos e linhas da geometria? Conceitos estranhos, também.
Um ponto marca uma posição no espaço, mas não ocupa espaço: seu volume é nulo. Uma linha, ligando dois pontos no espaço, não tem espessura. E é feita de pontos adjacentes. Coisas sem volume, lado a lado, fazem uma linha sem espessura!
Portanto, representamos coisas no espaço usando coisas que não existem no espaço, mais ideias do que coisas. Representações matemáticas, como quando desenhamos pontos num papel e os conectamos com linhas, mesmo que ilusórias, funcionam extraordinariamente bem. O real baseia-se no intangível.
Quando procuramos pelos menores pedaços de matéria, encontramos ideias semelhantes. Átomos são formados de elétrons, prótons e nêutrons. Prótons e nêutrons são formados de quarks. Portanto, dizemos assim que a matéria é feita de quarks e elétrons.
Será que quarks e elétrons são feitos de coisas ainda menores? Um elétron não é simplesmente uma bola de energia com carga negativa.
Um físico de partículas diria que um elétron não tem estrutura interna, que não há nada "lá dentro". Mas não podemos ter certeza.
Baseamos nossos argumentos no que podemos medir. Podemos tratar o elétron como uma partícula "pontual", com carga elétrica negativa, mas devemos lembrar que esta representação é uma aproximação da coisa real. E o que é essa coisa real? Talvez nunca saibamos. Como pontos e linhas, os elétrons e quarks são construções que usamos para representar como vemos o mundo.
Eles são como os vemos.

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "Criação Imperfeita"

VINICIUS TORRES FREIRE

Nos trilhos do bonde do Kassab
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/11

Movimentação para criar partido para o prefeito de São Paulo revela mudanças e confirma vícios da política


A CRIAÇÃO do partido de Gilberto Kassab, ora no DEM, é um caso mais interessante do que parece à primeira vista: um mero truque para burlar a lei que pune a troca de partido com a perda do mandato. O bonde do Kassab é mais do que uma metáfora engraçada.
Em primeiro lugar, o PDB de Kassab, o Partido da Democracia Brasileira, baldearia políticos nominalmente oposicionistas para o trem do governo ou vagões anexos. Trata-se de uma adaptação evolutiva à norma de 2007 que pretendia coibir o troca-troca partidário. Antes, o travestismo político era explícito.
Quando foi eleito em 2002, Lula contava com coalizão de 228 deputados federais. Um ano depois, às vésperas do fim do prazo de troca-troca para quem queria disputar a eleição de 2004, a coalizão inchara para 389 deputados, graças ainda à adesão de PMDB e PP.
Cerca de 25% dos deputados trocariam de partido, o grosso com o objetivo de aderir ao governo. Os futuros coadjuvantes do mensalão petista, PTB e PL, dobrariam de tamanho -o PT terceirizara o inchaço do governismo por meio de partidos de aluguel e de outros negócios. O PSDB perderia 14 deputados; o PFL, hoje DEM, perderia 20.
A norma de 2007 pretendia dar cabo dessa quizumba. Atenuou a mixórdia, decerto, mas a lei não dá conta das forças sociais e políticas que provocam tais mudanças.
Em segundo lugar, esse PDB, aliado do PSB de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, seria um veículo para novas lideranças políticas. Os "novos" não querem saber do DEM, pois o partido do velho reacionarismo definha. Mas por que não se juntam ao PSDB ou ao PMDB? Por que precisam de partidos "bi", "flex", meio governo hoje, talvez meio oposição amanhã? As perguntas não são triviais.
Sim, há mudança porque falta cadeira para tanto cacique, porque Kassab quer ser governador batendo-se com o PSDB, porque Campos quer juntar forças para ser vice do presidente do petismo em 2014 etc. Por isso a dispersão de "lideranças" por vários partidos. Mas não só por isso. Também porque a oposição, quase apenas o PSDB, não consegue organizar suas disputas internas, aglutinar lideranças e vem sendo derrotada em termos eleitorais e ideológicos. A oposição ora parece sem futuro nestes tempos de triunfo petista-desenvolvimentista e do Estado de Bem-Estar Tropical.
Por que os "novos" não querem o PMDB, ainda que o bonde do PDB possa baldear alguns passageiros para esse partido? O PMDB tem o inconveniente de estar com o nome cada vez mais sujo na praça. Mas não só. Observe-se que, apesar de ser o maior partido do país durante quase todo o último quarto de século, o PMDB não cria lideranças nacionais sérias ou candidatos presidenciais viáveis. Seus líderes, neocaciques da redemocratização de 1985, são na verdade quase todos candidatos a réu e a cassações.
Em terceiro lugar, o sucesso da criação do PDB deve misturar ainda mais as tintas dos já cinzentos partidos brasileiros. O socialista PSB (rir, rir) será tingido pelo pefelismo-demismo do PDB, agrupamento que será braço direito do petismo ou de uma força que talvez venha a bater o PT em 2014. O PDB-PSB, enfim, é um candidato a PMDB mirim, um veículo novo e por ora mais limpinho de agenciamento fisiológico.

SUELY CALDAS

Os pobres e os ricos do Nordeste
SUELY CALDAS
O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/02/11

Nos últimos dias o Nordeste ganhou destaque duas vezes na mídia: em Barra dos Coqueiros (Sergipe), a presidente Dilma Rousseff fez sua primeira reunião com governadores locais; na quinta, o Ministério da Justiça divulgou o Mapa da Violência 2011 - Os jovens do Brasil, despontando os Estados nordestinos como "campeões da violência", título tomado do eixo Rio-São Paulo.

Ao criar a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em 1959, o economista Celso Furtado queria levar progresso para a região mais pobre do País com projetos financiados com dinheiro público. Em sua cabeça, a justiça seria feita, transferindo renda de Estados ricos do Sul e Sudeste para desenvolver os pobres do Nordeste. Meio século depois, quase nada mudou e o Nordeste segue pobre, subdesenvolvido e subnutrido. Com exceção de José Sarney, do Maranhão, os coronéis, donos do poder naquela época, aposentaram-se ou morreram, mas a elite política local - com raras exceções - ainda usa a pobreza como argumento para arrancar dinheiro de Brasília.

Da presidente Dilma, ouviu-se um rotundo "NÃO" em resposta a duas demandas: criar uma nova CPMF para financiar a saúde e alterar o indexador para reduzir dívidas com a União, o que implicaria jogar no lixo a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ao contrário de seu antecessor, Dilma não fez demagogia, recusou os pedidos no ato, sugeriu que administrassem melhor o dinheiro da saúde e procurassem crédito em fontes como o Banco Mundial.

A pesquisa sobre violência mostra mudanças que refletem a ação ou omissão, competência ou fracasso das gestões estaduais de políticas de combate ao crime. Entre 1998 e 2008, enquanto São Paulo reduziu em 62,4% o número de homicídios, a Bahia aumentou em 237,5%; o Maranhão, em 297%; o Pará, em 193,8%; e Alagoas, em 177,2%. Segundo o pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, em São Paulo "o aparato repressivo foi recuperado, as polícias foram depuradas, as investigações ganharam nova tecnologia e o sistema de informação melhorou". Ou seja, a ação eficaz e a correta aplicação dos recursos deram bons resultados. Já no Nordeste, explica, surgiram novos polos econômicos, a população em torno cresceu, mas o Estado não acompanhou, manteve-se ausente.

A persistência da pobreza no Nordeste é muito mais decorrente da incompetente (e muitas vezes mal-intencionada) gestão dos políticos locais do que da falta de recursos públicos. O dinheiro sai de Brasília, passa pelo governo do Estado, mas não chega à população. Os serviços públicos não funcionam e a multiplicação de fraudes e escândalos de projetos fantasmas da Sudene prova que há uma elite de empresários, políticos e seus amigos e parceiros que retêm indevidamente o dinheiro. Há governadores que resistem e outros que cedem (ou são compadres) a lobbies para suprir gastos de campanha eleitoral ou engordar patrimônios privados.

A pesquisa aponta Alagoas como o Estado campeão em mortes e onde a violência quase triplicou - cresceu 2,7 vezes em dez anos. Em vez de gerir o dinheiro com eficiência, é um dos mais rápidos e persistentes em correr a Brasília quando a situação aperta.

Em 1995, quando a queda da inflação tirou a máscara da contabilidade dos governos, Alagoas tinha três folhas de salários atrasadas, as polícias (civil e militar) entraram em greve, as escolas fecharam, os hospitais entraram em colapso, o Judiciário entregou as chaves do tribunal ao STF. Alagoas vivia um caos nunca visto. O dinheiro nos cofres públicos pingava porque o ex-governador Fernando Collor abdicou da principal fonte de arrecadação de impostos ao isentar os usineiros de açúcar do pagamento do ICMS. O governador que o sucedeu, Divaldo Suruagy, correu a Brasília atrás de dinheiro. FHC negou e despachou para Alagoas um interventor federal para tirar o Estado do caos.

Pois bem. Na reunião com Dilma, na segunda-feira, foi justamente o governador alagoano, Teotônio Vilela (PSDB), o primeiro a defender a mudança do indexador para reduzir o pagamento das dívidas do Nordeste com a União.

Jornalista e professora da PUC-Rio

CLÓVIS ROSSI

Um fracasso global
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/11

Ouso discordar da manchete de ontem desta Folha, que dizia: "EUA atropelam a ONU e anunciam sanções à Líbia".

Na verdade, aconteceu mais ou menos o contrário: o mundo, o mundo todo, é que foi atropelado pelas revoltas árabes e, talvez por isso, demora uma eternidade para tentar conter os massacres.

Se alguém disser que previu a onda de revoltas que começou em dezembro na Tunísia, ou está mentindo ou o fez em voz tão baixa que ninguém ouviu.

O fato é que o mundo todo está feito tonto tentando entender o que está acontecendo e antever o futuro, pelo menos o futuro imediato.

Há especialistas que até se atrevem a fazê-lo, geralmente em tom apocalíptico.

Diz, por exemplo, Elliott Abrams, que serviu no Departamento de Estado sob George Walker Bush e agora é pesquisador do Council on Foreign Relations: "[Gaddafi] deixará para trás uma terra arrasada sem governo alternativo, sem verdadeiros partidos políticos, sem experiência em eleições livres, imprensa livre, tribunais independentes ou qualquer um dos blocos constitutivos da democracia".

Apocalíptico ou realista, o diagnóstico não deixa margem para corrigir o passado. Mas, quanto ao presente, deveria haver meios de intervenção que impeçam a terra arrasada. Nada contra impor sanções à Líbia, congelar contas do ditador, parentes e cúmplices.

Mas nada disso serve para enfrentar o problema imediato que é parar a sangria.

Aí entra-se no território da governança global, que, a rigor, inexiste. A exasperante lentidão com que se move a ONU, só pior no caso da União Europeia, denuncia essa inexistência. As sanções, tal como até agora propostas, parecem destinadas mais à consciência do público ocidental do que a evitar o sangue. Que, de resto, ninguém sabe onde mais vai correr.

DANUZA LEÃO

Tropa de elite 
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/11
A presidente Dilma simplesmente se levantou e saiu, seguida do seu séquito. Como assim?
FOI BONITA A FESTA, pá.
A nata do empresariado e do jornalismo esteve presente na comemoração dos 90 anos da Folha, na Sala São Paulo. Marcada para as 19h30, a noite se estendeu até a meia-noite, devido ao atraso das autoridades, faz parte. Mas são Pedro ajudou, e a tempestade diária, com direito a raios e trovões, nesse dia chegou mais cedo, foi às 3h da tarde.
Digna de registro a elegância dos convidados. Impossível não pensar que, se fosse no Rio, haveria homens e mulheres de jeans rasgados e tênis, como costumam frequentar o Municipal. Num universo de 1.500 pessoas, apenas uns três homens, se tanto, usavam camisa esporte; todos os outros, terno escuro e gravata, ponto para São Paulo.
Foi bacana o ato multireligioso, mas o cônego Aparecido Pereira não precisava -e não devia- fazer a plateia ficar de pé e rezar o Pai Nosso, já que os outros líderes religiosos não o tinham feito. Afinal, nem todos ali eram católicos.
Na hora de se levantar para fazer seu discurso, a presidente Dilma -distraída- não sabia para que lado ir, se esquerda ou direita. Elementar: faltou um assessor para acompanhá-la até a escada que levava ao palco.
Dilma não é boa de improviso; é bom mesmo que ela evite falar em público para não errar, como aconteceu. Mas em compensação, deve ter emagrecido uns bons cinco quilos; qual foi a dieta, presidente?
Se quiser ficar melhor ainda, precisa corrigir sua postura, pois dá a impressão de estar levando o mundo nos ombros. Pilates três vezes por semana resolveria lindamente o problema.
Legal ela ter mencionado o nome de FHC em seu discurso, mas o de Serra foi forçação de barra. Afinal, no momento, o ex-governador não ocupa nenhum cargo público; não convenceu.
Depois dos discursos, chegou a grande hora: a Osesp, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, orgulho da cidade, apresentaria, regida por Isaac Karabtchevsky, a "Sinfonia nº 6", de Villa-Lobos. Mas eis que se vê um pequeno agito onde estavam as autoridades; seria um atentado? Não; a presidente simplesmente se levantou e saiu, seguida do seu séquito. Como assim? Assim mesmo: ela se foi antes da apresentação da orquestra. E antes que eu me esqueça, elegantíssima, perfeita, a casaca do regente. O autor, maestro, o autor.
Voltando: foi uma grande indelicadeza, que fica maior ainda quando feita pela presidente da República. As pessoas se olhavam sem acreditar, e imagino que os músicos da orquestra tenham ficado decepcionados. Afinal, teria sido uma grande honra para eles se apresentar diante da mais importante autoridade da nação. E quando ouvimos, emocionados, o Hino Nacional, ficou mais pesada ainda a descortesia. Pegou mal.
Vamos falar a verdade: a sinfonia foi difícil de ser acompanhada por ouvidos mais leigos, mas o Hino, tocado por uma orquestra de tal ordem -afinal, só estamos acostumados a ouvi-lo em estádios de futebol- foi maravilhoso.
Na saída, os comentários. Um deles eu ouvi, e guardei para contar: duas pessoas -uma petista, a outra tucana- comentavam sobre a saída de Dilma (era o assunto geral).
Uma delas disse que a presidente saiu porque não sabia que a orquestra ia tocar o Hino Nacional, que não tinha sido culpa dela. A outra respondeu: "mas Alckmin, FHC e Serra ficaram". A primeira continuou defendendo Dilma, dizendo que se ela não sabia, era culpa do cerimonial, ao que a outra respondeu: "e desde quando o PT tem cerimonial?"

ILIMAR FRANCO

FH aprova
ILIMAR FRANCO
O GLOBO 27/02/11

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem simpatia pela intenção da presidente Dilma Rousseff de delegar missões externas a ex-chefes de governo. Diz que isso é próprio das “democracias maduras”. Considera que nas missões de interesse do Estado, “o chefe de Estado decide em que circunstâncias convidar um ex-presidente para exercer funções internacionais”; sendo que o ex “julgará a oportunidade de aceitar a incumbência”. 

Remando juntos no barco 
Brasil Pode não ser comum, mas existem exemplos no país de atuação internacional conjunta do presidente em exercício com ex-presidentes. Fernando Henrique lembra que, a seu convite, o ex-presidente José Sarney o acompanhou na posse de um presidente mexicano, e que o ex-presidente Itamar Franco representou o Brasil na entrega do Prêmio
Nobel a um líder do Timor Leste. O mesmo ocorreu na morte do Papa João Paulo II, quando o ex-presidente Lula, então na chefia do governo, integrou à comitiva de representantes do Brasil nos funerais os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco e José Sarney.

"O nosso pólo sempre fez da responsabilidade fiscal sua marca, e não o populismo” — Arnaldo Jardim, deputado federal (PPS-SP), criticando a postura dos partidos de oposição na votação do salário mínimo

O CAPITALISMO CHINÊS.
 Os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento), na foto, e Antonio Patriota (Relações Exteriores) estão indo para a China, amanhã, preparar a viagem da presidente Dilma Rousseff, em abril. O principal contencioso é que a China quer ser reconhecida como economia de mercado, mas, para tal, o Brasil faz exigências como o compartilhamento de estatísticas e dados sobre formação de preços.

Relatório reservado

Antes da reunião sobre a Copa do Mundo, sexta-feira, em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab teve uma conversa a sós com a presidente Dilma Rousseff. Kassab fez um relato de suas articulações para se incorporarà base do governo. 

Os dois PTs
Os petistas que ocupam cargos no governo estão exultantes com o fortalecimento do PSB. Já os ligados à ação partidária e que estão de olho nas eleições municipais do ano que vem, sobretudo paulistas, estão morrendo de raiva.

Ministra quer reforma de conselho
No momento em que o Conselho de Direitos Humanos da ONU se prepara para aprovar uma moção contra o Irã, a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), em seu discurso amanhã, na reunião de abertura, pretende criticar o próprio conselho afirmando que os regimes ditatoriais do Oriente Médio, que vivem uma convulsão social, nunca foram alvo de resoluções condenatórias do
órgão por violações aos direitos humanos.

Diálogo
As centrais sindicais serão chamadas para um encontro com a presidente Dilma Rousseff esta semana. Na pauta, a correção da
tabela do IR, o reajuste das aposentadorias, o fim do fator previdenciário e a desoneração da folha salarial.

Segundo escalão
O deputado e ex-governador Anthony Garotinho (PR-RJ) tenta emplacar Elias Assed, ex-Cedae, na superintendência do Dnit no Rio. Ele quer desalojar Marcelo Borges, apadrinhado do deputado Valdemar da Costa Neto (PR-SP).

 TERROR. A nova direção do DEM, sob o comando do senador José Agripino (RN), vai pedir o mandato de todos os seus filiados que aderirem ao partido que o prefeito Gilberto Kassab pretende criar.
 CAÇAS. O ex-presidente Lula conversou com a presidente Dilma Rousseff sobre a compra dos caças para a FAB. Apesar do adiamento, a preferência no governo continua sendo o Rafale francês.
● O EDITOR desta coluna, Ilimar Franco, estará em férias de 28 de fevereiro a 13 de março. No período, a coluna será editada por Fernanda Krakovics.

CELSO MING

Troca tributária
CELSO MING 
O Estado de S.Paulo - 27/02/11

A presidente Dilma Rousseff só anunciou a parte boa. Anunciou que vem aí a desoneração da folha de pagamentos. O objetivo é aumentar a competitividade da empresa brasileira e, também, incentivar o emprego formal (com carteira assinada), desestimulado pelo alto custo dos encargos sociais.

Mas não disse ainda como vai compensar a perda de arrecadação da Previdência Social, já que a ideia é substituir uma tributação nociva por outra, preferencialmente menos nociva.

Uma das propostas que surgiram por aí é a taxação por meio do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), sobre uma base ainda a ser definida. O problema é que o IOF é um tributo regulatório, ou seja, serve para calibrar fluxos financeiros e não para arrecadar. Por exemplo, o IOF de 6% na entrada de capitais destinados às aplicações de renda fixa foi determinado com o objetivo de conter a entrada de recursos.

Em princípio, o uso de um tributo regulatório com o objetivo arrecadatório não seria impedimento definitivo. Mas seria uma distorção que complicaria sua utilização quando fosse necessário aplicar uma regulagem qualquer.

A proposta de aumentar as alíquotas do PIS/Cofins e/ou da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) esbarra na objeção irrespondível de que seria desonerar o setor produtivo de um lado para onerá-lo, logo em seguida, de outro.

Outra lembrança recorrente é a volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). É a opção preferencial do governo, porque é o imposto mais fácil de arrecadar: cai diretamente na conta do Tesouro a cada movimentação bancária, sem necessidade de declaração e sem esforço de coletoria.

As distorções que provoca são conhecidas. É um imposto cumulativo (incide em cascata sobre todas as fases da produção e da distribuição); onera o produto de exportação; incentiva a desintermediação financeira, na medida em que leva o contribuinte a pagar "por fora" para fugir do imposto; e é uma permanente tentação para que o governo aumente a alíquota a cada pleito por mais verbas.

Dia 22, o advogado Ary Oswaldo Mattos Filho, em fórum sobre simplificação tributária realizado na sede do Sindicato da Indústria da Construção Pesada, defendeu a volta da CPMF. O argumento dele é o de que o efeito cascata da CPMF é bem menos acentuado do que o dos encargos sociais sobre a folha de pagamentos. E o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel entende que a permanente tentação ao aumento de alíquota poderia ser eliminada por meio de imposição de uma trava, do tipo "não pode passar de X%".

Os políticos querem a CPMF não para substituir um tributo, mas para aumentar a arrecadação. Na segunda-feira passada, por exemplo, em encontro com a presidente Dilma Rousseff, os governadores do Nordeste defenderam a volta da CPMF alegadamente para "financiar a saúde". É uma desculpa velha de guerra e é sempre canalha porque todos sabem que as despesas com saúde são financiadas por dotação orçamentária. E o resultado da arrecadação de uma CPMF qualquer acaba sempre no caixa do Tesouro.

Em todo o caso, os cães de guarda contra a fúria arrecadatória que se preparem. Terão trabalho nas próximas semanas, quando o governo definir como vai substituir a arrecadação sobre a folha de pagamentos. Provavelmente não vai se limitar a trocar um imposto por outro. Se ninguém reagir, pretende arrecadar mais.

Reservas na infraestrutura?

O leitor Sérgio Bresciani pergunta: se o carregamento de reservas é tão caro para o País (foi de R$ 26,6 bilhões em 2010), por que, em vez de aplicá-las em títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que rendem menos de 2% ao ano, não usar essa moeda estrangeira para comprar equipamentos de portos ou para montar a infraestrutura de que o Brasil tanto precisa, o que, de quebra, poderia reduzir os custos produtivos de toda a economia?

É ou não é?

Aí há dois problemas. O primeiro é de conceito. Reserva é reserva. Não é para usar nem em despesa corrente nem em investimento. Tem de ficar disponível para as horas de necessidade e de crise.

Questão de demanda

Em segundo lugar, se é para importar equipamentos para infraestrutura e se o importador não comprar dólares internamente para pagá-los, a demanda por moeda estrangeira ficará mais baixa e o real poderia se valorizar ainda mais.

MERVAL PEREIRA

O novo Iuperj
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 27/02/11

Depois de longa crise financeira que culminou com a transferência de todo o seu corpo docente para o Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ, em meados do ano passado, o Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), ligado à Universidade Cândido Mendes, está se reorganizando sob a direção do cientista político Geraldo Tadeu Monteiro.

Considerado patrimônio das ciências sociais, durante os últimos 45 anos foi fundamental para o desenvolvimento da sociologia e da ciência política do Brasil. Criado em 1964 como instituto de pesquisas, cinco anos depois se transformou em centro de pós-graduação e pesquisa.

O projeto do Novo Iuperj, explica Tadeu Monteiro, quer preservar o que era sua marca, a excelência acadêmica, representada no conceito 7 da Capes, mas modernizando-se e buscando maior impacto, abrindo-se para a sociedade. Um dos problemas de gestão do antigo Iuperj era sustentabilidade, uma vez que, em se tratando de um curso de pós-graduação, despesa sempre será maior que receita.

Foi preciso reestruturar salários e instituir o pagamento de mensalidades para que seja possível fechar a conta. Foi feito um processo seletivo para a escolha de novos docentes e, entre mais de 40 candidatos, foram selecionados 20 professores que começaram a trabalhar nos novos cursos de mestrado e doutorado, reconstituindo linhas de pesquisa.

Foram agregados ao Iuperj o Cesec, o Centro de Estudos das Américas, e o Centro de Estudos Afroasiáticos, assinado um acordo sobre a Revista Dados e criado um novo Regulamento para a pós-graduação. Também foi incorporado ao Iuperj o antigo Instituto de Humanidades da UCAM, com cursos de graduação em relações internacionais, ciências sociais, história, letras, etc.

Além da renovação do convênio com a Escola de Políticas Públicas e Governo, de Luiz Salomão, para dar continuidade à parceria, será criada a Escola Brasileira de Governo e Políticas Públicas San Tiago Dantas (EBGP), que, segundo Tadeu Monteiro, pretende se converter em uma grande escola de governo para aprimorar a qualidade da gestão das políticas púbicas no Brasil.

Em poucos dias serão lançados os editais das 4 novas turmas, duas de mestrado e duas de doutorado em ciência política e relações internacionais e sociologia. Em março mais de 20 cursos de pós-graduação serão abertos nas mais diferentes áreas das ciências sociais. A Biblioteca do Iuperj, com 33 mil volumes de livros especializados e mais de 3 mil periódicos especializados em ciências sociais (hoje é a segunda maior biblioteca de ciências sociais do Brasil), vai ser instalada numa loja no térreo do prédio da Praça Pio X e será tornada pública.
Tadeu Monteiro considera este "um momento crucial dessa trajetória", às vésperas do lançamento das novas turmas. Ele, que foi diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), é especialista em análises eleitorais, autor de vários livros, como do Manual do Candidato às Eleições, publicado pela Gramma em 2010, e ajudará a dar continuidade aos estudos das eleições brasileiras, uma das principais especialidades do Iuperj, que tem um dos melhores bancos de dados das eleições brasileiras.

Acompanhando o debate sobre reforma política, ele diz que, embora o sistema político brasileiro comporte ajustes pontuais, não é passível de ampla reforma com medidas radicais que vão de encontro à nossa tradição política e cultural. Considera que, pelo menos em parte, o que acontece é jogo de cena puramente retórico de alguns políticos que querem "dar uma resposta" à sociedade que repudia a insensibilidade de uma classe política que só aparece nos jornais pelas disputas de cargos, pelas vantagens e pelo aumento de 63,8% nos salários.

Por outro lado, diz Tadeu Monteiro, há os "aprendizes de feiticeiro" que defendem certas medidas de "ouvir dizer", como a lista fechada ou o voto distrital misto. "Fala-se genericamente em fortalecer os partidos através da instituição da lista fechada e de acabar com a corrupção com a instituição do financiamento público de campanha". No entanto, lembra Tadeu Monteiro, "os nossos partidos estão longe de ter identidade programática (para não falar em "ideológica") e são, em sua maioria, dominados por oligarquias".

Como a lei partidária remete os mecanismos internos aos estatutos dos partidos, o que existe, na sua opinião, é centuado centralismo nas decisões partidárias, e em geral, as executivas decidem e as instâncias deliberativas homologam. Tadeu Monteiro ressalta que a lista fechada é adotada por poucos países no mundo e só teria sentido com partidos reformados, dotados de amplos mecanismos democráticos internos, como as primárias, que garantissem igualdade de acesso dos seus militantes às decisões partidárias e, particularmente, à colocação na lista partidária.

Para ele, o método proporcional de escolha que adotamos, utilizado praticamente em toda a América Latina, em Portugal, na Espanha, Itália e Suiça, entre outros países, "a despeito dos casos Enéas e Tiririca, funciona muito bem na maior parte dos casos, e permite fiel representação do eleitorado".

O "distritão", diz Tadeu Monteiro, é que provocaria distorções e, sobretudo, individualização das campanhas na medida em que o candidato só depende de si mesmo para se eleger, e não do resultado da lista do seu partido. Esse sistema é típico dos países de tradição anglo-saxônica do velho Commonwealth (Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e Índia) e funciona bem em contextos bipartidários com distritos de menor dimensão.

Os EUA são divididos em 435 distritos congressuais de aproximadamente 600 mil eleitores, que elegem um deputado cada, o que garante certa igualdade entre distritos. Colocar todos os candidatos no mesmo "distritão" vai subrepresentar o Interior do Estado, por exemplo, em favor da Capital, como aconteceria no Rio, onde a Grande Tijuca tem mais eleitores que Campos.

Para Tadeu Monteiro, em vez do financiamento público de campanha, deveria haver o estabelecimento, pela Justiça Eleitoral, de um teto de gastos para cada Estado e cargo. Outra reforma simples seria impedir doações de pessoas jurídicas a candidatos. O cidadão - pessoa física - pode e tem direito de financiar seu candidato, até o limite determinado por lei, mas não uma empresa, que não tem outro interesse que não comercial.

MÔNICA BERGAMO

O beijo do aranha 
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/11

Campeão mundial contratado pelo agora empresário Ronaldo, Anderson Silva , conhecido como "Spider" nos Estados Unidos, alterna lutas e treinos pesados com cremes e clínica de estética
A chegada ao Brasil, no último dia 13, marcou Anderson Silva com um episódio que ele vem contando desde então. Ao entrar em sua casa, em um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio, viu um paparazzo em cima do muro, tirando fotos. "Eu disse: "Que p... é essa? Velho, tu vai cair daí! Quer foto, a gente tira"." Fez duas poses para o fotógrafo, mas recusou o pedido para simular um "flagra" em que seria clicado tirando as malas do carro.

A cena ilustra o status de celebridade que o lutador de MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas, o popular vale-tudo) ganhou no país após ter vencido, em 5 de fevereiro, o combate contra Vitor Belfort, disputado em Las Vegas e anunciado como "luta do século". Derrubou o rival em menos de três minutos, com um chute de esquerda no queixo. Voltou ao Brasil uma semana depois para ver a família, dar entrevistas e promover a si próprio e à 9ine, empresa de marketing esportivo lançada pelo ex-jogador Ronaldo em sociedade com o grupo WPP e Marcus Buaiz. É o primeiro contratado da agência.

"Tudo bom, meu gato?", diz ele ao repórter Diógenes Campanha enquanto almoça um sanduíche de peito de peru com queijo e salada, acompanhado de Coca Zero. Cumprimenta todos com essa expressão e uma voz fina que não combina com seus 105 quilos, 1,89m de altura e o cinturão de campeão mundial do UFC, principal torneio de MMA. O assédio do qual agora é alvo por aqui, conta, só havia conhecido nos Estados Unidos, onde tem casa e é conhecido como "Spider" (aranha em inglês).

"Uma vez, estava com a minha família na Disney e o cara sentou do meu lado na montanha-russa, tirando foto. Outra vez, fui convidado para uma festa da Paris Hilton e os os caras "pa, pá, pá" enquanto eu saía do carro." Lá, é amigo de celebridades como o rapper Usher e o ator Vin Diesel, que treinam jiu-jítsu com o campeão. Outro fortão do cinema, Steven Seagal, se ofereceu para ensinar alguns movimentos e o ajudou a aperfeiçoar o chute que derrubou Belfort. "É como uma Ferrari. Eu sou o piloto, e tem os mecânicos que ajudam a andar mais rápido", compara Anderson, que também tem outros cinco treinadores, de diversas artes marciais. "Eu via os filmes do Steven Seagal, mas nunca pensei que fosse aprender alguma coisa com ele."

O chute em Belfort é motivo de piadas entre Anderson e o novo patrão, Ronaldo. "Eu tô numa briga acirrada com ele. Falo que também faço gol de bico." Outra brincadeira ainda não teve coragem de mostrar ao chefe: ele inventou uma emissora fictícia, chamada "Rádio Loucura", e costuma imitar a voz do Fenômeno, simulando uma entrevista para a rede. A pedido da coluna, faz uma demonstração de um minuto. "Vê lá, hein? Você vai me complicar, o patrão vai me mandar embora."

Na sala do publicitário Sérgio Amado, presidente da agência Ogilvy (que pertence ao WPP, sócio da 9ine), em SP, Anderson faz planos. Espera fechar contratos com dois patrocinadores de Ronaldo: Hypermarcas e Nike. "A gente não tinha um grande nome dentro desse esporte, que poderia levar a marca [a Nike] como a gente gostaria. Agora temos. Será um grande gol para a Nike e para o Anderson", diz, na terceira pessoa, como também fazem alguns boleiros.

No pulso direito, usa uma pulseira amarela, que promete aumentar o equilíbrio e é mania entre famosos como David Beckham. "Tenho um patrocínio da [fabricante do adereço] Power Balance, mas não é nada. Uso quando quero. Sei lá, acho que não funciona."

Nascido há 35 anos no bairro paulistano da Barra Funda, Anderson diz que sua origem tem "tudo a ver" com a de Ronaldo. Foi criado por uma tia-avó, em Curitiba. Os pais tinham menos de 20 anos quando ele nasceu e não poderiam lhe dar uma boa educação. "Cara, é uma coisa muito louca. Minha tia teve dois filhos antes, que morreram. Na sequência disso tudo, eu fui para lá com quatro anos. Meu irmão George foi depois, com dois. A gente acredita que tem um quê aí por trás." Sempre soube dos pais biológicos, com quem mantém contato.

"Tenho um carinho, uma admiração muito grande por eles. Entendo que tenham uma frustração porque não conseguiram ficar comigo. Mas agradeço a consciência e a humildade de me deixarem ir, porque tudo que eu me tornei eu devo a essa decisão deles."

Em Curitiba, aprendeu artes marciais. Conheceu o racismo no primeiro emprego, como balconista de uma rede de lanchonetes. "Eu estava no balcão num domingo, a maior correria, e chegou um senhor: "Tem alguém para me atender?". Eu disse que eu poderia, e ele disse que não queria ser atendido por um negro." Anderson chamou o gerente e explicou a situação. O chefe disse ao cliente que, se não fosse atendido pelo garoto, não seria por mais ninguém."Confesso que fui para casa meio mal. Conversei com a minha tia e chorei. Mas foi bom, eu cresci como pessoa." Ele diz que aborda o tema com os cinco filhos: Kaori, 14, Gabriel, 13, Kalil, 12, Kauana, 10, e João, 6. Chama a prole de "a turma do Didi".

As crianças moram com a mulher dele, Daiane, 29, na capital paranaense. "Lá eu não tenho casa. Quem manda é ela. Digo que a gente é muito mais amigo do que marido e mulher." Na véspera da entrevista, Anderson foi homenageado por Ronaldo com um jantar na casa do craque, em São Paulo. Daiane cercou o campeão: ligou perguntando onde ele estava e a que horas havia chegado.

Anderson usa brincos brilhantes nas orelhas, que não são marcadas como a da maioria dos lutadores. As deformações ocorrem pelo atrito do órgão com o chão ou o corpo dos adversários, durante treinos e lutas, provocando hematomas. "A real é que, por muito anos, criou-se um mito de que quem tem a orelha estourada é casca grossa, pitbull. Tenho alunos de jiu-jítsu que passavam toalha na orelha para ficar assim." Repreendeu os garotos. "Não tenho a orelha estourada e espero que continue bonitinha. Você vai chegar na casa do pai da tua futura namorada assim?" A filha mais velha, Kaori, começou a namorar recentemente. "A primeira coisa que olhei foi a orelha dele."

Além de cuidar das orelhas, Anderson mantém no banheiro um estoque de cosméticos. "Tem creme para o rosto, para as mãos, isso que as mulheres usam para ficar bonitas e que os homens deveriam ter também. Meus amigos falam: "Cara, isso não é coisa de lutador, é coisa de boiola"." Conta que, numa época, começou a sumir entre as sessões de treino, sempre por volta das 15h. Os amigos o seguiram e o encontraram em uma clínica de estética, "com um negócio no rosto", para tirar as olheiras. "Aquelas coisas meio modernas, que lutador não usa", brinca. "Mas como eu sou um lutador moderno, que quebra barreiras, estava lá." Ainda assim, desconfiou da ideia do fotógrafo Eduardo Knapp de clicá-lo sem camisa e com uma rosa nas mãos. "Você está de sacanagem", disse, antes de topar.

JOSÉ SIMÃO

Carnaval! Só Como na Rua! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Tensão no Mundo Árabe! Últimas Notícias! Breaking News: Arroto de quibe do Habib's espalha guerra bacteriológica no mundo árabe! Rarará! Tensão no Habib's. Daqui a pouco vai ter Rebelião no Habib's. Já imaginou se ele aumenta o preço da esfiha? A esfiha agora custa R$ 8,99! BUM! Derruba!
E o chargista Zedassilva revela os três piores inimigos dos ditadores árabes: Orkut, Facebook e Twitter! E essa foi a semana do Gaddafi, ops, Kagadhafi! Que tá a cara do Seu Madruga! E sempre com aquele traje típico: Baiana do Quibe. De turbante e tudo. Quem é a estilista do Gaddafi? A filha do Dunga. Rarará.
E o Berluscome, o Maluf Pornô? Adorei que as surubas do Berlusconi se chamam Bunga Bunga. E adivinha quem ensinou o Berlusconi a fazer bunga bunga? O Gaddafi, o próprio. Por isso que teve rebelião na Líbia. O povo também quer bunga bunga. Esfiha barata, bunga bunga e internet.
Ou seja, tudo o que um ser humano precisa pra ser feliz. É como aquele cartaz no boteco em Minas: "Aqui nóis tem fumo, cachaça, rapadura e rapariga". Ou seja, tudo o que um ser humano precisa pra ser feliz.
E o Romário que só dorme nas sessões do Congresso. Vai ter que mudar o nome pra Roncário. E esse Carnaval que não chega? Vou pular no Bloco da Ansiedade. E três frases clássicas de todos os carnavais: 1) se a Gretchen soltar um pum num saco de confete, é carnaval o ano inteiro. Então o que ela tá esperando? 2) transar com uma mulher só é trair todas as outras. 3) Faça sexo seguro. Segura aqui, ó! Rarará!
E tô adorando os Blocos 2011! Direto do Rio: Já Comi Pior, Pagando. Isso não é um bloco, é uma verdade insofismável! E uns coroas de Búzios que fizeram um bloco chamado Os Tremendo! Mal de Parkinson com delirium tremens! E uns corretores de Copacabana: Os Imóveis! E direto de São Gonçalo: Passa a Mão Mas Não Mete o Dedo! Isso, vamos elevar o nível do Carnaval. Mais respeito com o Carnaval.
E direto de Olinda: Bloco Gastronômico Só Como na Rua! Rarará! E direto de Minas: As Virgens do Formigueiro Quente. Devem ser a Susana Vieira, a Monique Evans e a Angela Bismarchi!
E tá certo; o Carnaval é um formigueiro quente! Nóis sofre mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!