quinta-feira, fevereiro 03, 2011

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O triunfo do 'business lunch'
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 03/02/11


Os países latino-americanos têm duas broncas comuns no comércio com a China. A primeira refere-se à moeda chinesa mantida excessivamente desvalorizada. A segunda é com a política de tarifas de importação do governo chinês, que encarece a exportação para lá de produtos industrializados. Entretanto, não há uma ação conjunta nem sequer uma articulação entre os governos para tratar disso com a China.

Este foi um dos temas que apareceram no Fórum Econômico da América Latina e Caribe, promovido na semana passada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em Paris.

A bronca com a moeda chinesa é universal. Mantendo o yuan artificialmente desvalorizado, o governo chinês dá uma vantagem competitiva expressiva aos seus produtos de exportação, especialmente os industrializados. Estes chegam mais baratos em todos os países, inclusive na América Latina, e não raro tomam mercado de fabricantes latino-americanos. Por exemplo, eletrodomésticos e roupas made in China substituindo made in Brazil na praça chilena.

A outra bronca é mais específica de quem exporta commodities, como é o caso dos mais importantes países da América Latina, especialmente aqui no Sul. A China já é a primeira ou segunda parceira comercial de diversas nações deste lado.

O problema, exemplificando, é o seguinte: quando o Brasil vende soja em grão para a China, a alíquota de importação lá é zero. Quando exporta óleo de soja, industrializado, com maior valor agregado e, pois, preço melhor, a alíquota sobe para 15%. Os chineses fazem isso com o cobre e os peixes que importam de Chile e Peru, com a soja da Argentina e por aí vai.

Trata-se de uma política que estimula a industrialização (e, pois, empregos) lá na China e trata de reservar à América Latina o papel de fornecedor de alimentos e commodities não elaboradas.

O que fazer para evitar essa relação desinteressante? Uma dica foi dada a este colunista por um executivo do governo chinês, quando perguntado sobre o assunto: "Bem", disse ele, "não é apenas a China, mas o mundo todo que precisa de cada vez mais comida, minérios e energia. Vocês têm isso".

A continuação óbvia desse comentário é a seguinte: cabe aos governos latino-americanos articular a diplomacia para obter vantagens dessa posição estratégica.

Eis um objetivo concreto e crucial para as economias locais. Mas até aqui muita gente deste lado, e os leitores sabem quem, perdeu tempo pregando uma união latino-americana ideológica, cujo resultado são uns discursos contra os ricos. Como se a China fosse aliada...

Resistência francesa

A organização foi inteiramente profissional e os participantes chegaram no horário para o Fórum promovido pela OCDE em Paris, na imponente sede do Ministério da Economia.

Autoridades de diversos governos e instituições, economistas, cientistas sociais, jornalistas, representantes do setor privado se encontraram informalmente no hall, já conversando sobre o andamento dos seminários.

Mas o que faz aquele funcionário ali à entrada, de fraque completo, preto, colete preto com rendas, uma longa corrente dourada? De repente, ele pede silêncio, começa a afastar as pessoas da entrada e organizar uma fila de recepção.

Era isso. O homem do fraque anuncia: senhoras e senhores, o presidente da Colômbia...; a ministra da Economia...

Lembrei de uma visita, tempos atrás, a um secretário do Tesouro dos EUA, sempre um dos homens mais poderosos do mundo. Os jornalistas foram admitidos na sala e ele, com uma lata de Coca-Cola na mão, foi levando todos para um mesão com uma frase mais ou menos assim: "Pô, o Brasil é fogo..."

O Fórum em Paris levou o dia todo. No intervalo, fomos todos advertidos de que se tratava de um almoço de trabalho, pois tínhamos não mais que uma hora. Pensamos: um bandejão.

Nada disso. Mesas postas, garçons esperando e... uma taça de champanhe já borbulhando em cada lugar. Entrada fria, prato quente, sempre duas opções e, naturalmente, trocando o champanhe pelo vinho tinto na passagem para a carne. Doce na sobremesa.

E faz tempo que almoço de trabalho é uma saladinha ou uma carninha sem graça e água mineral. Teriam os negócios melhorado com essa temperança? Há dúvidas. O Fórum em Paris trouxe informações ricas, bons debates, muita informação. Quem sabe as pessoas mais satisfeitas, sem excessos, pensam melhor?

Mas a verdade é que o business lunch está triunfando. Ali na mesa do Fórum muitos nem tocaram no champanhe, mal passaram de um gole de vinho. Não tiveram desempenho melhor.

Ah! Não serviram conhaque nem charutos. Isso só em jantares, me disseram. Com moderação. E, sim, há lugares para fumar.

Incorretos eles?

JANIO DE FREITAS

 Na contramão
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/02/11

O novo presidente da Câmara estreia com a informação de que iniciará a construção de dois anexos


CEDO AINDA para saber se a nova formação da Câmara dos Deputados melhora em alguma coisa a anterior, nada menos do que lamentável, já se tem um sinal de continuidade do seu desencontro com a opinião pública e com outras realidades.
Nesta altura em que o país retoma o crescimento, o emprego, melhorias sociais e, para mantê-los, precisa de maiores rigores, o novo presidente da Câmara estreia sua retórica com a comunicação de que logo iniciará a construção de mais dois anexos.
Foi a bandeira lançada por seu concorrente à presidência, em seguida adotada pelo afinal vitorioso. São anexos para abrigar gabinetes que substituam, com o conforto próprio da Casa, a alegada insuficiência da última leva construída.
Se adotada a providência inversa, de redução do número de gabinetes existentes, seria muito improvável qualquer efeito perceptível no funcionamento da Câmara.
Com a chegada a Brasília nas terças-feiras, algumas horas em plenário nas quartas, as refeições, o longo tempo livre, e o avião de volta já na quinta, o uso dos gabinetes pela grande maioria dos deputados deve ser o menor dos seus tempos na capital. Ou muito perto disso. As mesas sociais ganham com facilidade.
O novo presidente, o petista gaúcho Marco Maia, sabe que a opinião pública anseia por uma Câmara com menos motivos de desprezo e mais respeito pelo interesse público.
Tal percepção se comprova no acréscimo feito por Marco Maia, com ênfase, ao falar da obra de custo brasiliense: "A verba já está no Orçamento, então não haverá gasto para o Tesouro". Além de falso, o argumento, em instante assim inicial, pode valer também como prenúncio. Esteja ou não no Orçamento, a verba que saia do Tesouro é gasto do dinheiro dos contribuintes recolhido, à revelia, aos cofres públicos.
Sem mais obras, a Câmara já custa ao país muito mais do que lhe oferece.

O TALENTO
O Reynaldo Jardim morto ontem foi um dos jornalistas mais injustiçados do Brasil. Sua criatividade sem limite e incessante deixou legados que não lhe foram reconhecidos na medida própria, quando o foram em alguma medida.
Caso do Suplemento Dominical do "Jornal do Brasil", o célebre e celebrado SDJB, vanguarda em todos os sentidos, criado e sempre editado por Reynaldo (em associação com Ferreira Gullar), mas só nos últimos tempos retirado, por uma ou outra pesquisa, de falsos criadores.
Muitas das criações de Reynaldo Jardim nem são citadas, como a revolução que fez no rádio de estúdio, quando dirigiu a Rádio JB, e hoje tem traços marcantes em toda a radiofonia brasileira.
Poeta original, Reynaldo Jardim fez há pouco, como se pressentindo a urgência, uma espécie de vasta antologia de sua obra poética, sob o título característico de "Sangradas Escrituras". Escultor, cronista, gráfico, Reynaldo Jardim foi amigo generoso e afetuoso. Talento mais do que iluminado.

VINICIUS TORRES FREIRE

Mais baixeza, por favor: CPI!
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/02/11

Disputa de PT e PMDB por boquinhas oficiais suscita vazamento de dossiês sobre bandalha em estatais


A OPOSIÇÃO quer arrumar uma CPI a fim de azucrinar logo de cara o governo de Dilma Rousseff. Trata-se de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os rolos de Furnas. Essa estatal elétrica é uma sesmaria que Lula havia concedido ao PMDB do Rio de Janeiro.
Nos anos Lula, os peemedebistas gastaram muita energia tentando, por exemplo, botar a mão na direção do fundo de pensão da estatal, pelo jeito com o objetivo de dar um choque de gestão na dinheirama dos investimentos do fundo.
O rolo do momento é a amizade desse deputado Eduardo Cunha (RJ), cabeça dos peemedebês do Rio, amigo de uma empresa que faz negócios de alta voltagem com a estatal. Cunha e cia. não querem largar a rapadura da estatal, beliscada pelos petistas do Rio. Como Dilma, parece, quer dar uma moralizada mínima nessa e noutras estatais, os petistas do Rio ficaram animados com a hipótese de a partida do PMDB abrir vagas de boquinhas.
O perrengue é justamente esse. O vice-presidente da República e ministro extraordinário para rolos do PMDB, Michel Temer (PMDB), dizia ontem que o zunzum sobre CPI é apenas fruto da disputa entre PT e PMDB pela boca rica. Segundo Temer, a situação vai se acalmar assim que houver uma "readequação e realocação de cargos no governo".
Como se escrevia aqui em dezembro: "O PMDB está quieto demais depois de ter levado uma carraspana de Dilma [broncas e perdas de ministérios]. Quando virá o troco?". Quando estouraria o escândalo? Quando houvesse "...gente interessada em colocar documentos no ventilador. Tal interesse surge quando há bastante gente contrariada. Um escândalo puxa outro. O grupo parlamentar pilhado numa bandalha logo pode revelar a lama da bancada vizinha."
O PT do Rio colocou papeis sobre Furnas no ventilador. Cunha, o elétrico, respondeu com ameaça de "vendetta", no Twitter. A desorientada e desmiolada oposição ameaça tirar uma casquinha da turumbamba. Pelo menos isso. Uns tipos parlamentares governistas, fazendo pose de estadistas do cafezinho e de entrevistas de corredor do Congresso, dizem que isso é "politização baixa" do problema, uma tentativa espírito de porco de fazer escândalo e de não apurar nada. É tudo verdade. Portanto, nada mais adequado à baixeza política do país.
Que venha a CPI. Não haverá provas conclusivas, ninguém será condenado, depoimentos e interrogatórios serão aquela vulgaridade oportunista e analfabeta que conhecemos, mas algum resultado haverá. Mas o circo das CPIs é uma instituição informal do país, uma versão carnavalizada da Justiça, pois a Justiça formal praticamente inexiste para os estamentos de cima: é um circo burocrático criado justamente para não chegar a lugar algum.
Na CPI, pois, haverá "wikileaks" de documentos e fichas sujas que jamais conheceríamos de outro modo, vazamentos em geral instrutivos. Algumas figuras das sombras ou sombreadas serão algo desmoralizadas e linchadas moralmente em público, dir-se-á que fulano ou beltrano é "ligado" a isso ou aquilo.
Mas, no fim das contas, alguns dos bandalhos sofrerão uma espécie de ostracismo político-midiático-moral provisório, que é a "pena" possível que conseguimos infligir aos desclassificados no poder.

ANCELMO GÓIS

NO BOLSO 
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 03/02/11

Lula não tem o que reclamar de seu novo patrão.
Mesmo de férias, o PT pagou seu primeiro salário de presidente de honra: R$ 13 mil.

NOIVA DISPUTADA 
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, desembarca hoje em São Paulo para convidar o prefeito Gilberto Kassab, do DEM, a entrar no PSB.

TEU CABELO NÃO NEGA 
Ontem, na abertura dos trabalhos no Congresso, uma coleguinha notou: os cabelos dos senadores Sarney e Edison Lobão estão cada vez mais... Pretos.

ALIÁS... 
Fãs de Eduardo Paes garantem que o prefeito também pintou os cabelos de castanhos.

DIÁLOGO DE MAIA 
Esse gaúcho Marco Maia, eleito presidente da Câmara, não consegue fazer um raciocínio sem usar a palavra “dialogar”.
Vale para tudo. A pauta do Congresso, por exemplo, tem que “dialogar” com a sociedade, e por aí vai.

CENA CARIOCA 
Outro dia, a equipe do Pânico na TV, o programa de bizarrices da Rede TV!, foi ao Vale do Cuiabá, um dos cenários da tragédia na região Serrana do Rio, e, ao ver um homem humilde, de apelido Fubá, que consertava seu telhado, tentou entrevistá-lo com aquelas gaiatices.
O cidadão, indignado, respondeu que só falaria com... Sabrina Sato, a boazuda do humorístico, que não estava.

O BARQUINHO FAZ 50 
Mestre Roberto Menescal parou outro dia para fazer as contas e constatou que, só agora, em 2011, sua música O barquinho, um dos símbolos da bossa nova, parceria com Ronaldo Bôscoli, faz 50 anos. Parabéns!

“LA CARLA DE SAMPA” 
Marcela Temer, a bela “segunda-dama” do Brasil, ganhou o maior espaço no semanário francês Courrier Internationale. A mulher do vice Michel Temer foi destaque de página inteira da edição 1.055, num texto cheio de elogios à sua beleza, com direito a uma comparação com Carla Bruni, sob o título “La Carla de São Paulo”.

É GRAVE A CRISE
Veja como são as coisas. Logo agora que a Bulgária tem uma “filha” na Presidência do Brasil (como se sabe, o pai de Dilma era búlgaro), a embaixada do país em Brasília está em crise.
Vários funcionários brasileiros foram demitidos em 2010 e, que feio, estão tendo de ir à Justiça para receber.

STJ X STF 
Sérgio Cabral só entrou na campanha de Luiz Fux ao STF depois que o também ministro César Asfor, do STJ, declinou da candidatura.

REI NO SAMBA 
Roberto Carlos, nosso eterno Rei, vai hoje à quadra da Beija-Flor acompanhar o ensaio da escola, da qual será enredo.

ALIÁS... 
Brincadeirinha de mau gosto de Wagner Montes para a colega Myriam Rios na posse dos deputados estaduais do Rio, segundo duas testemunhas:
– Myriam, você, que gosta de perneta, passe no meu gabinete depois.
Myriam, como se sabe, foi casada com Roberto Carlos, que, a exemplo de Montes, usa perna mecânica.

MÍRIAM LEITÃO

Forma e conteúdo 
MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 03/02/11

A presidente Dilma acertou em ir ao Congresso e ler sua mensagem. Nunca fez sentido a burocrática entrega do texto pelo chefe da Casa Civil, que houve em governos anteriores. O país precisava modernizar esse ritual. Mas o evento tem que ser mais simples, direto, menos propagandístico. Não é a hora certa de os tribunais falarem. E muito menos de o senador José Sarney dar-se a homenagem da última palavra. 
Nossa democracia é jovem, por isso é bom pensarmos sobre o evento de ontem. Democracia tem rituais e o Brasil está construindo os seus. Nos Estados Unidos, onde é tradicional esse evento, ocorre assim: o presidente vai ao Congresso, presta contas e apresenta suas metas. Depois, o contraponto é feito em discurso de um integrante da minoria. E só. Ninguém mais fala: nem representantes de outros poderes, nem mesmo os presidentes da Câmara e do Senado. Não é hora de linguagem empolada, nem de salamaleques. A oposição aplaude ou não aplaude e assim demonstra o que aceita e do que discorda. O Brasil não precisa copiar ninguém, mas pode pensar um pouco sobre a oportunidade desse momento. 
Na terça-feira, foi início do ano judiciário. A presidente lá esteve e, pela boa tradição, nada falou, apenas ouviu. É o momento do Poder Judiciário dizer o que tem que dizer e ponto. Os ministros do STF e TSE não tinham que falar ontem de novo. Na terça-feira, foi o dia das eleições nas duas casas legislativas e os eleitos falaram. Ontem, era o dia de a chefe do Poder Executivo apresentar a perspectiva do seu trabalho, prestar contas e pedir apoio a projetos que terão que ser aprovados pelo Congresso. Dilma fez isso. Errou no tom laudatório. 
O discurso foi, em certos pontos, uma repetição do que ela disse quando foi eleita e quando foi empossada. A esta altura, todo mundo sabe que o PAC 2 não representa um investimento de R$955 bilhões. O número foi fabricado para o palanque. No Orçamento de 2011, está previsto investimento de R$64 bilhões do governo federal. O resto é o truque de se somar investimento de estatais, estados, de empresas privadas e dívidas que as famílias assumirão para comprar seus imóveis. Era hora de falar sério sobre alguns terríveis desafios e olhar com sinceridade para os problemas que temos que superar. Obama admitiu que seu país está em nono lugar em estudantes formados em universidade, que está perdendo a corrida de tecnologia de energia solar para a China, que a Coreia do Sul bate o país em vários itens. Enfim, fez autocrítica que tornou os autoelogios mais críveis. 
A presidente admitiu um erro num país que pintou como quase perfeito: que os aeroportos estão ruins. No mercado de trabalho ela corretamente comemorou o fato de que pela primeira vez os trabalhadores formais são maioria. Há muito tempo isso não ocorria. Mas ficaria diferente da propaganda eleitoral se ela admitisse o alto desemprego de jovens. Em Salvador, a taxa chega a 22%. Desemprego de jovens hoje é um problema mundial e cada país está debruçado sobre esse desafio. 
O discurso teve alguns excelentes pontos. A presidente Dilma avisou que o governo implantará o sistema de alerta contra desastres naturais e que vai apoiar os estados nesse trabalho de identificação de áreas de risco. "Nenhum país é imune aos desastres naturais, mas não iremos esperar o próximo ano, as próximas chuvas pra chorar as próximas vítimas", disse a presidente. Ela propôs um pacto social para acabar com a miséria. Não bastará a transferência de renda, será preciso educação fundamental. Ao falar da educação, ela creditou ao país "nas últimas décadas" a universalização do ensino fundamental. Perdeu uma oportunidade de fazer um gesto à oposição: foi a campanha "Toda criança na escola", no governo Fernando Henrique, que atingiu esse objetivo. Fez bem em reafirmar o compromisso anti-inflacionário: "Não permitiremos em nenhuma hipótese que a inflação venha a corroer o tecido econômico." Seria esperar demais que ela fizesse justiça ao grupo político que realmente derrotou a inflação. Uma das bases da inflação baixa é o controle rigoroso dos gastos públicos, e naquele mesmo momento seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, estava defendendo a indefensável maquiagem nas contas públicas feita no ano passado. 
Ela foi aplaudida fortemente quando anunciou que tem na agenda as reformas tributária e política. É bom que ela saiba que aquelas palmas não significam aprovação. Nessas duas reformas cada um tem um projeto na cabeça, e uma reforma tributária passa por uma trabalhosa negociação com os estados. 
Temos razão para sentirmos orgulho da democracia e algumas razões de constrangimento. Os ministro Cezar Peluso e Ricardo Lewandowski falaram da razão de orgulho: uma robusta estrutura constitucional que permite ao país resolver os conflitos. A tragédia do Egito, que ontem se aprofundou com briga de rua incitada pelo governo, confirma os dois juízes. Só a democracia tem os canais de escape que permitem a solução negociada dos impasses. 
Ao fazer o longo e tortuoso discurso, o senador José Sarney lembrou das várias vezes que o Congresso foi fechado na História do país. Só se esqueceu de dizer que ele estava ao lado da ditadura que fechou a Casa em 1968 e 1977. O pior momento da cerimônia de ontem foi este: quando o presidente do Senado, em seu extravagante quarto mandato, deu a si mesmo o direito da palavra final. 

ILIMAR FRANCO

Funasa
Ilimar Franco
O Globo - 03/02/2011

O novo presidente da Funasa será Ruy Gomide, coordenador regional do órgão em Goiás. Ele é ligado ao deputado Pedro Chaves (PMDB-GO) e da confiança do ministro Alexandre Padilha (Saúde). A substituição na Funasa era motivo de tensão entre as duas siglas, desde que Padilha desalojou o PMDB da Secretaria de Atenção à Saúde para dar o lugar para o PT. Atualmente a fundação já é dirigida por um nome indicado pelo PMDB.

Reforma política: será que agora vai?

Os líderes dos partidos no Congresso são céticos quanto à aprovação de uma reforma política. Eles a consideram necessária, mas avaliam que ela só sai do papel se o Executivo entrar em campo apostando numa proposta. Ontem, tiveram um alento quando a presidente Dilma Rousseff afirmou que "trabalharemos em conjunto com esta Casa para a retomada da agenda da reforma política". Os mais incrédulos, no entanto, não se entusiasmaram, dizendo que o problema é construir maioria em torno de um projeto. Hoje apenas uma proposta, a do financiamento público das campanhas, teria condições de ser aprovada.

A oposição vai ter de levantar da cadeira e ir às ruas conversar com a sociedade" - Rodrigo Maia, deputado (RJ) e presidente do DEM, sobre o enfraquecimento da oposição no Congresso

NO GOGÓ. O governo brasileiro está cansado de esperar pela PDVSA na construção da refinaria Abreu e Lima (PE). A Petrobras está bancando sozinha a obra, com conclusão prevista para o final de 2012. "A PDVSA está com um pé fora da refinaria", contou o governador Eduardo Campos (PE). A empresa venezuelana quer investir na refinaria com dinheiro do BNDES, mas não ofereceu ainda as garantias para obter o empréstimo.

Concentração

O governo quer negociar um salário mínimo nacional para os trabalhadores da construção civil e pesada. O ministro Carlos Lupi (Trabalho) propôs a assinatura de um contrato nacional para as entidades patronais que representam o setor.

Haiti

O ministro Antonio Palocci (Casa Civil) ligou para o governador Tião Viana (AC) pedindo que ele tome as providências sanitárias necessárias em relação aos haitianos que emigraram para aquele estado. A preocupação é com o cólera.

Conselho

Na reunião da bancada do PT na Câmara ontem, o líder Paulo Teixeira (SP) fez um apelo para que nenhum petista assine o pedido de qualquer CPI. E fez uma recomendação, sobretudo aos novatos: "Não assinem nada nos corredores!"

Os dois PTBs

O PTB vai manter a presidência da Conab, mas as bancadas da Câmara e do Senado não se entendem. O líder do partido na Câmara, Jovair Arantes (GO), vai indicar para o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) o nome de Evangevaldo Moreira, ex-presidente da Ceasa de Goiás. Já o líder no Senado, Gim Argello (DF), quer a manutenção de Alexandre de Aguiar, originalmente apadrinhado pelo ex-deputado Armando Abílio (PB).

Diálogo

Frustração e exaltação na reunião de anteontem da ala do DEM que perdeu a eleição para a liderança da Câmara. No final, decidiram abrir diálogo com a ala do partido que elegeu o deputado ACM Neto para liderar o partido na Câmara.

PADRINHO. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, foi o responsável pela nomeação de Sergio de Castro para a Secretaria de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional.

TRONO. O cerimonial do Senado destinou à senadora Lídice da Mata (PSB-BA) a cadeira no plenário do Senado que era ocupada pelo seu mais ferrenho adversário, o ex-senador Antônio Carlos Magalhães.

NORDESTE. A presidente Dilma Rousseff vai à reunião de governadores do Nordeste, no dia 21, em Aracaju.

CLÓVIS ROSSI

O espírito de 1776
Clóvis Rossi
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/02/11

PARIS - Os graves incidentes de ontem no Cairo não mudam o essencial: a revolução em curso no mundo árabe ou, ao menos, na Tunísia e no Egito é profundamente ocidental na alma.

Ou, como prefere Nicholas Kristof ("New York Times"), escrevendo da praça Tahrir, hoje mundialmente famosa, o movimento egípcio fala "a linguagem de 1776", o ano da independência norte-americana, seminal na história da democracia (o que se fez depois com ela é outra história).

Não se queimaram bandeiras de Israel e dos Estados Unidos, o que tira o conflito Israel/palestinos do foco de uma revolta árabe, talvez pela primeira vez na história. Mesmo quando se sabe que as cápsulas de gás lacrimogêneo disparadas pela polícia contra os manifestante traziam a inscrição "made in USA", o movimento não gritou "Yankees, go home".

Ao contrário, pedem que os ianques os apoiem e abandonem o ditador Mubarak de uma boa vez. Fazem questão de usar slogans em inglês, para que as TVs os filmem e o público ocidental os entenda.

De alguma maneira, e guardadas as imensas diferenças geográficas, históricas, culturais etc., é a reprodução do levante húngaro contra o comunismo de 1956 e do movimento dos alemães orientais que acabou levando à queda do Muro de Berlim, primeiro, e a do comunismo não muito depois.

Demonstra que a ideia de democracia goza de extraordinária saúde, a ponto de David Brooks, no "International Herald Tribune" de ontem, ter contabilizado mais de cem levantes democráticos nas duas últimas décadas, a queda de mais de 85 regimes autoritários e a instalação de 62 novas democracias, ainda que definidas de maneira frouxa.

O Ocidente não tem o direito de desperdiçar a chance de dar conteúdo a uma ideia que é tão sua, por mais deturpada que tenha sido.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! A múmia Sarneykamon! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/02/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E olha a placa atrás do Fórum de Pindamonhangaba: "DOUTORA MAZINHA, advogada". Rarará! Essa é predestinada mesmo!
E o Éramos revela: uma das pragas do Egito sobrevive até hoje no Brasil. SARNEYKAMON. Avô do Tutankamon! Rarará! Isso! A Múmia Brasileira: Sarneykamon. E ele vai começar os discursos assim: "Egípcios e egípcias"! Rarará!
E vamos lançar a campanha: "Vamos Enfaixar o Sarney". E mandar pro Egito! Mas como gritou o outro: "Enterra bem fundo!". Rarará!
E o pessoal fica revoltado com o Sarney eternamente no Senado. Mas ele não é imortal? Literalmente! O Moribundo de Fogo! O Finado Vivo! Mas sabe o que ele parece mesmo? Uma coruja empalhada. E a declaração dele: "É a minha última vez". Mentira!
Diz que a família Sarney tem embrião congelado. Pro senado de 2030! E o Brasil quer saber: quando o Sarney morrer, se ele morrer, na hipótese remota de ele morrer, o Maranhão fica pros filhos dele ou volta pro povo? Rarará!
E o Egito? E o Agito? Manchete do Sensacionalista: "Brasil manda Capitão Nascimento pro Egito: Mubarak, pede pra sair". Rarará! E o Cabral vai instalar uma UPP no Egito! E esse Mubarak vive no universo paralelo?
E o encontro da Dilma com a Cristina Quiche! Primeiro, fizeram um acordo nuclear. Pra ver quem explode primeiro. Rarará!
Depois Dilma e Cristina Quiche conversaram sobre o Mercosul, menopausa e a última receita de pão de ló da Ana Maria Braga!
E um amigo meu tá preocupado: um mês de governo Dilma e nenhuma TPM! Tenho medo que acumule. TPM acumulada. Rarará!
E eu sei como vai ser a gestão Dilma: quatro anos de piadas machistas. Rarará!
O Brasileiro é cordial! Mais uma do Gervásio. Cartaz na empresa em São Bernardo: "Se eu descobrir quem é o fofoquito abelhudo que fica falando onde eu vou com a minha família nos finais de semana, eu vou fazer esse Nelson Rubens do Paraguai comer uma banana de dinamite acesa. Conto com todos. Assinado: Gervásio".
Vamos mandar o Gervásio pro Egito: "Se esse cabrunco do Mubarak não se picar, eu vou fazer ele engolir aquela tintura negro corvo e sentar na ponta da pirâmide e escorregar até a base. Conto com todos!". A situação tá ficando egípcia. Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

DEMÉTRIO MAGNOLI

Iguais a nós
Demétrio Magnoli 
O Estado de S.Paulo - 03/02/11

Existe um mundo árabe? "Revolução, revolução, como um vulcão, contra Mubarak, o covarde", cantavam os manifestantes de Alexandria, há uma semana. Da Tunísia ao Egito, uma tempestade de areia deu a resposta à indagação. Em 17 de dezembro, na cidade tunisiana de Sidi Bouzid, o vendedor de rua Mohamed Bouazizi imolou-se em fogo para protestar contra o confisco de seu carrinho de vegetais. O martírio de Bouazizi deflagrou um levante popular que, quase um mês depois, arrancou os dentes da polícia e do exército, provocando a fuga do ditador Zine Ben Ali. Dias mais tarde, jovens dançavam diante dos tanques nas cidades egípcias, enquanto Hillary Clinton lamentava a garantia que dera na véspera, ao proclamar a "estabilidade" do regime de Hosni Mubarak.

Poucas coisas são mais poderosas que a experiência histórica compartilhada. Em 1989, a abertura da fronteira entre Hungria e Áustria, em maio, prenunciou a queda do Muro de Berlim, em novembro, e a extinção do "socialismo real". A derrubada de Ben Ali exerce, entre os povos árabes, uma influência similar à da remoção das barreiras húngaras de arame farpado na esfera de poder soviético. O mundo árabe ergue-se sobre uma língua e uma literatura comuns, uma tradição que atravessa fronteiras. Bouazizi não é um nome, mas uma experiência, para os cidadãos de Túnis, do Cairo, de Argel, de Aman, de Sanaa, de Cartum e até de Riad.

Abusa-se do conceito de cultura. Mundo árabe, na visão de Bernard Lewis, é uma coleção de valores arraigados, que derivam do Islã e conflitam com a tradição ocidental. O "príncipe dos orientalistas" enxergou um defeito irremediável na cultura árabe-muçulmana: uma resistência visceral à mudança, que condenaria os árabes à exclusão da modernidade. "A doutrina ocidental do direito de resistir a um mau governo é estranha ao pensamento islâmico", assegurou Lewis no estilo categórico que lhe granjeou uma reputação imerecida. Hoje, na larga faixa que se estende da África do Norte ao Oriente Médio, árabes muçulmanos exigem liberdade, democracia, direitos, respeito à coisa pública. "Eles" são, no fim das contas, iguais a "nós".

Lewis é um intelectual engajado, o inventor da noção de "choque de civilizações" e o inspirador da ocupação americana do Iraque. Do seu teorema principal ele extraiu o corolário de que os árabes só poderiam ser resgatados para a modernidade pela negação de sua própria cultura. O significado político disso é que o Ocidente teria a missão de libertar os árabes das amarras do "pensamento islâmico", conduzindo-os - pela força, se preciso - até a colina das Luzes. Sob o influxo de tais ideias, os EUA continuaram a sustentar as ditaduras pró-ocidentais no mundo árabe, que se apresentam como paliçadas defensivas contra o avanço do fundamentalismo islâmico. A revolução em curso é uma evidência de que Lewis está errado: nas ruas do Cairo reivindica-se a liberdade, não o retorno do Profeta.

A revolução árabe desenvolve-se nas brechas abertas por um cenário mundial em mutação. Ben Ali caiu não só porque os "de baixo" se insurgiram, mas também porque os "de cima" se cindiram quando ficou patente que a França se esquivava de salvar seu regime. Há menos de dois anos, na Universidade do Cairo, Barack Obama delineou uma nova política dos EUA para o mundo árabe-muçulmano. O presidente rejeitou os dogmas do orientalismo, apontou as contribuições da civilização islâmica para a Renascença e as Luzes, tocou cuidadosamente nas teclas da liberdade e da democracia. O discurso de Obama pode ter sido esquecido no Ocidente, mas continua a reverberar no Egito, tanto entre os "de cima" quanto entre os "de baixo".

O Egito é o núcleo do mundo árabe. A primeira, frustrada, revolução árabe começou lá, mais de meio século atrás, com a ascensão de Gamal Abdel Nasser. No Cairo, de uma costela da Irmandade Muçulmana surgiram os arautos originais do jihadismo de Osama bin Laden. A estratégia geral dos EUA para o Grande Oriente Médio foi definida pela decisão de Anuar Sadat de romper com Moscou para firmar uma aliança com Washington, após a segunda derrota militar ante Israel. Mubarak não é um ditador secundário, como Ben Ali, mas um dos pilares da ordem geopolítica regional. Há razões para Hillary Clinton insistir ainda numa transição controlada, sob a égide de um "diálogo nacional". Mas curvando-se a tais razões Obama renegará seu discurso do Cairo e posicionará os EUA no lado errado da história.

Nenhuma corrente islâmica está à frente da revolução árabe. Os levantes emanam da sociedade civil, especialmente das organizações de advogados e de estudantes e das centrais sindicais. A oportunidade para os fundamentalistas surgiria de uma violência repressiva prolongada. Na Tunísia, a dissolução acelerada da unidade do exército propiciou a queda de Ben Ali. Algo parecido está ocorrendo no Egito, desde o dia em que os chefes militares rejeitaram a ordem de matar seus compatriotas. A revolução árabe não obedece à cartilha de Osama bin Laden nem reproduz a trajetória da revolução iraniana de 1979.

Mohamed ElBaradei, um dos líderes da oposição egípcia, acertou duas vezes: ao clamar pela saída incondicional do ditador e ao firmar um pacto democrático com a Irmandade Muçulmana, uma corrente perseguida que renunciou ao terror há quatro décadas e condena sistematicamente a violência jihadista. "Obama precisa entender que se continuar com essa política perderá credibilidade diante de toda a população do Oriente Médio", alertou ElBaradei. Ele poderia reforçar seu argumento convidando o presidente americano a olhar atentamente para as imagens dos manifestantes que tomaram as cidades árabes. Aquelas pessoas não são diferentes dos poloneses, alemães orientais, checos e húngaros de 1989, nem dos iranianos de 2010. São iguais a nós - apenas falam e rezam em outra língua.

SOCIÓLOGO E DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP.

DORA KRAMER

Mera constatação
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/02/11


O País todo sabe desde a campanha eleitoral que Dilma Rousseff pretendia fazer um governo de "continuidade". Para a eleição isso bastou.

Nos primeiros dias de governo da presidente soubemos que a manutenção do conteúdo implicaria uma alteração significativa da forma, marcada pela diferença de estilo em relação ao antecessor.

De um governo, no entanto, exige-se (ou deveria ser exigido) mais que conceitos vagos e mudança de maneiras. É preciso que o País tenha claro quais são seus objetivos, aonde vai e como pretende chegar lá.

Isso, mais de um mês depois, ainda não se sabe a respeito do governo iniciante. Chamá-lo de "novo" seria uma impropriedade linguística, em face da opção pelo uso de material usado em sua composição.

Ao apresentar suas diretrizes ao Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff poderia ter alterado essa percepção, mas escolheu não fazê-lo, perdendo uma excelente oportunidade de explicitar seu projeto de Brasil aos brasileiros.

Ficou na repetição dos feitos passados, no diagnóstico de metas, nas proposições genéricas - erradicação da miséria, ampliação de oportunidades, política econômica consistente - e nas constatações óbvias.

Entre elas prioridades às áreas de educação, saúde e segurança, apresentadas sob o invólucro do surrado apelo ao "pacto social", à formação de "parcerias sólidas" e "ações integradas" entre municípios, Estados e União.

Pois bem, mas como o governo pretende desatar os nós que amarram o Brasil ao passado? A presidente reafirmou compromisso com a estabilidade econômica esquecendo-se de que só se chegou a ela mediante um programa muito nítido de reformas estruturais iniciado no governo Fernando Collor, aprofundado nas administrações Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, precisando ainda ser consolidado com a conclusão das reformas restantes.

Sobre elas a presidente referiu-se de passagem, citando apenas duas (política e tributária) e, ainda assim, sem especificar o que realmente quer o governo.

Mostrou disposição de trabalhar em prol dos "superiores interesses do Brasil", em conjunto com o Congresso, o Judiciário, a sociedade. Faltou dizer em que termos.

De maiorias. Nem se pode dizer que o governo tenha feito barba, cabelo e bigode no Congresso, pois não houve disputa de coisa alguma nas eleições das presidências da Câmara e do Senado.

A rigor, não houve sequer troca de comando. Na véspera o senador José Sarney e o deputado Marco Maia já ocupavam os postos para os quais foram eleitos no dia seguinte.

A maioria agora acachapante funcionará como dantes: eficaz como instrumento de defesa no caso de escândalos que requeiram CPIs e similares, mas dependente de negociações específicas no caso de votações de projetos de interesse do governo.

Faro fino. O PSDB reivindicou e conseguiu ocupar a 1.ª secretaria do Senado. Ali, de onde o ex-senador Efraim de Morais (DEM-PB) saiu carregando acusações de contratação de funcionários fantasmas e fraudes em licitações, estão concentradas as causas dos escândalos administrativos da Casa.

É de se observar qual será a atitude dos tucanos para compreender o motivo da ambição pelo posto, porque só há duas possibilidades: consertar os malfeitos ou tirar proveito deles.

Capitania. José Sarney mobiliza sua tropa, incluídos ministros de Estado, para "ajudar" na tentativa de eleger Renan Calheiros seu sucessor na presidência do Senado.

Ao mesmo tempo o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, já se comporta em público como futuro presidente da Casa, em cumprimento ao acordo de alternância com o PT.

Portanto, o PMDB está firme no propósito de daqui a dois anos acumular a Vice-Presidência da República com as presidências da Câmara e do Senado.

MERVAL PEREIRA

Mudança de rumo
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 03/02/11


A onda de revolta que está abalando os países árabes está também colocando em discussão a complacência com que as maiores potências ocidentais lidam com os ditadores da região, a pretexto de prevenir a ascensão de governos radicais islâmicos. Nas ruas do Egito ou da Tunísia, ou da Jordânia, ou do Iêmen, os protestos encontram ressonância numa juventude que aparentemente nada tem de radical e se espelha nas democracias ocidentais, ajudada por uma rede de relacionamento social que não tem fronteiras no Facebook ou no Twitter.

Também começa a tomar corpo, nos meios políticos e intelectuais de países como a França, a ideia de que não há mais condições de aceitar apoiar governos que não levem em consideração os direitos humanos como valor universal.

O editorial do "Le Monde" de ontem, por exemplo, vai direto ao ponto: "É preciso chamar um ditador de ditador", é seu título, que reflete esse debate que se instala nos países responsáveis pela sustentação política de ditaduras como as de Mubarak no Egito.

Diz o jornal francês:"Por ter se recusado a apontar publicamente a natureza do regime tunisiano - uma cleptocracia brutal - a França pagará um preço na Tunísia do futuro. Por ter sustentado o regime de Hosni Mubarak, os Estados Unidos estarão na defensiva no Egito de amanhã".

Os jornais estampam, cheios de culpa, as mansões que a família Ben All tem na França, em especial o "hotel particulier" no 16° distrito, ou a da família Mubarak em fandres, como já o fizeram com vários outros ditadores nos últimos anos, provas da leniência com que têm sido tratados nos últimos anos pelos governos europeus e dos Estados Unidos.

Há uma especulação de que o presidente americano Barack Obama poderá aproveitar a ocasião para reafirmar a política de direitos humanos que foi implantada pelo ex-presidente democrata Jimmy Carter, retirando dos republicanos radicais a bandeira de criticar a relação do governo com ditaduras árabes ou a China.

O novo governo brasileiro, por seu turno, está assumindo uma posição de acordo com essa tendência Internacional, que deve se aprofundar dependendo do desfecho da revolta popular no Egito.

A proposta oficial brasileira para que a ONU passasse a tratar os países que violam os direitos humanos com mais condescendência, evitando críticas públicas aos regimes autoritários, não foi levada em consideração por aquele organismo internacional e, pelo visto, será abandonada pela nova gestão do Itamaraty, embora o chanceler Antonio Patriota, como secretário-geral da antiga administração, não possa ignorar a iniciativa.

Ele mesmo, no Fórum Económico de Davos, questionado sobre o fato de que o governo brasileiro nunca havia levantado questões sobre a transgressão dos direitos humanos em países "amigos" como Cuba ou Venezuela, alegou que em alguns momentos agir nos bastidores é mais efetivo, a mesma justificativa da gestão de Celso Amorim.

Mas, como a demonstrar que alguma coisa mudara, Patriota ressaltou que, quando for necessário, o Brasil não se negará a reagir de público contra a transgressão aos princípios democráticos em qualquer país.

A própria presidente Dilma Rousself afirmou recentemente que não terá nenhum problema em criticar Cuba em caso de violação dos direitos humanos, que ela considera um ponto inegociável para seu governo. Ao usar, e permitir que o governo use, seu exemplo pessoal de ex-torturada para garantir que não transigirá nessa matéria, a presidente Dilma Rousself está se empenhando pessoalmente nessa diretriz de nossa política externa.

Precisa ainda comprovar suas palavras com ações em relação a Cuba e a Venezuela, mas em relação ao Irã ela já deu provas de que não se deixará levar pelos interesses puramente políticos na questão dos direitos humanos.

A aproximação com o governo de Barack Obama, que visitará o país em março, também demonstra uma mudança de ventos no Itamaraty.

Muito mais que decisões pragmáticas, se abster em votações contra Cuba com relação à violação dos direitos humanos ou mesmo votar contra uma condenação do governo do Sudão sobre Darfur, onde um conflito étnico matou mais de 200 mil pessoas, fazia parte de uma política de Estado que o governo Lula vinha adotando, mudando um padrão de votação no Conselho de Direitos Humanos da ONU, seguindo geralmente interesses geopolíticos e comerciais.

O respeito aos direitos humanos como condição preliminar para o diálogo entre as nações é consensual entre intelectuais e acadêmicos de várias partes do mundo, e prevalece a tese de que eles não podem ser entendidos como instrumentos de dominação ocidental, como muitos governos, como o da China e vários países árabes, tentam caracterizá-los.

A Identidade coletiva é uma característica do mundo atual, e o sociólogo Renato Janine Ribeiro chama a atenção para o fato de que a necessidade de pertencimento a um grupo está muito presente hoje, e, mais do que significar uma escolha individual, significa que a identidade coletiva precede toda forma de liberdade.

Em vez do cartesiano "penso, logo existo", a definição seria "nós somos, logo eu sou". Ou "eu pertenço a esse determinado grupo porque livremente o escolhi".

Seria esse o renovado conceito de relações sociais trazido pelos novos meios de comunicação que viabilizou as manifestações em diversos países do mundo árabe, o que caracterizaria a origem espontânea, fora dos partidos políticos tradicionais, das revoltas da Tunísia e do Egito.

O difícil é Identificar neste momento se esse movimento espontâneo terá força política suficiente para levar adiante a mudança, e se dele surgirá um líder que possa negociar com as demais forças politícas.

Ou se os movimentos políticos mais organizados se aproveitarão do momento para assumir o vácuo de poder que uma eventual saída de Mubarak deixará. Por isso, os países europeus, e principalmente os Estados Unidos, querem controlar uma translação política, para ter garantias de que a substituição não mudará os rumos do Egito no Oriente Médio.

CELSO MING

Mais devagar
CELSO MING
O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/02/11


O levantamento mais recente da produção industrial do Brasil, cujos resultados foram ontem divulgados pelo IBGE, mostra que a indústria vai desacelerando suas atividades mais rapidamente do que o esperado.

O resultado acumulado do ano passado ainda foi bastante positivo: crescimento de 10,5% em relação à produção do ano anterior. Mas a redução do ritmo vem se acentuando desde março-abril de 2009 e se aprofundou no último trimestre do ano. Não é fenômeno restrito apenas a três ou quatro subsetores. O enfraquecimento da produção está generalizado.

Um tanto paradoxalmente, ao contrário do que acontece nos países ricos, onde a atividade industrial está sendo retomada sem aumento do emprego, no Brasil a atividade industrial está se enfraquecendo numa situação de quase pleno emprego. Isso significa, também, que desta vez o empresário da indústria não pode contar, como no passado, com redução dos custos trabalhistas direta ou indiretamente (por meio da maior rotatividade da mão de obra).

Dá para dizer que esse desempenho bem mais fraco da indústria sentiu o fim da redução tributária concedida à venda de bens de consumo duráveis cujo resultado aparente mais importante foi a antecipação do consumo.

Esses benefícios haviam sido concedidos pelo governo federal durante a crise de 2008 como política anticíclica, de maneira a criar demanda em segmentos mais atingidos pela crise. O começo do enfraquecimento do desempenho coincide com o fim dessas vantagens fiscais.

Mas a desaceleração da produção também está relacionada com a perda de competitividade do produto brasileiro em relação ao fabricado lá fora. Reflete tanto a valorização do real como o aumento da agressividade do produtor externo num mercado global estreitado pela crise. Ao longo de 2010, o aumento das importações de bens de consumo duráveis pelo Brasil foi de 29,9%. Nem mesmo o forte crescimento do crédito, de 20,5%, foi suficiente para garantir demanda crescente para a indústria.

Sempre que, no passado, a indústria brasileira perdia espaço para o concorrente internacional, o governo rapidamente compensava esse atraso com "mais câmbio", ou seja, com desvalorização da moeda para que o produto nacional ficasse mais barato em dólares e o fabricado no exterior, mais caro.

Esse recurso já não é mais possível porque nada consegue reverter a atual fase de valorização do real. Tudo o que o governo tem conseguido é apenas retardar essa valorização. Este é um tema já várias vezes comentado nesta Coluna, que será objeto de nova avaliação dentro de alguns dias.

Em todo o caso, a saída é conhecida. É desoneração fiscal (menor carga tributária), acesso mais rápido a serviços de infraestrutura mais eficientes e baratos, além de redução dos juros. Ou seja, é proporcionar, por meio de diminuição de custos, os mesmos efeitos que antes eram produzidos por meio da desvalorização cambial. O problema é que isso exige renúncia a receitas tributárias e corte nas despesas correntes que o governo reluta demais em colocar em prática.

CONFIRA

Tiro no pé

Quando se deu conta de que a internet se transformara em canal de mobilização das classes médias contra seu governo, o ditador do Egito, Hosni Mubarak, tratou de bloquear os provedores locais. Mas parece ter percebido que este foi um tiro no pé porque, sem internet, também entrou em pane a comunicação com os apoiadores do governo. Na quarta-feira, a maioria dos serviços nessa área já havia sido restabelecida. O Egito tem 80 milhões de habitantes, dos quais 23 milhões (29%) com acesso à web.

Faltou dizer

Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que não dá para reduzir as importações. Ele não disse por que não dá. Mas, aparentemente, Mantega está falando que a queda das importações implicaria menor oferta de produtos e, portanto, mais inflação. Por isso, acrescentou ele, as contas externas têm de ser melhoradas com o avanço das exportações. Faltou dizer como isso será feito numa paisagem em que o real se valoriza.

ALON FEUERWERKER

Uma arquitetura boa

 Alon Feuerwerker
CORREIO BRAZILIENSE - 03/02/11

Notei aqui há duas semanas que o governo Dilma Rousseff estava propenso a economizar na rubrica nos grandes embates legislativos, para não anabolizar a base a um ponto em que os aliados se vissem suficientemente fortes e colocassem o Palácio do Planalto contra a parede.

O ritual de reverência às "reformas inadiáveis" não vai ser deixado de lado no discurso. Mas a tática será outra. É uma tática inteligente, e também prudente.

O ultrarreformismo pátrio sustenta-se numa hipótese: de que, sem as "grandes reformas", o país não vai a lugar nenhum. Será?

O debate não é novo, é recorrente nesta coluna, mas um detalhe talvez mereça maior atenção. É consensual que os últimos anos foram de um governo bem-avaliado. Até por ter sido um bom governo, que combinou crescimento econômico razoável e políticas (salário mínimo e Bolsa Família) agressivas de combate à pobreza.

Interessante é a administração petista ter feito isso sem precisar promover nenhuma mudança radical nas leis herdadas do antecessor governo tucano, tão atacado pelo novo establishment político.

O PT agarrou o manche estatal e colocou para funcionar de acordo com as políticas definidas pelo partido, nas condições concretas da aliança governamental.

O que faz suspeitar de que a arquitetura político-insitucional brasileira talvez não seja tão ruim assim. Afinal, ela permite a alternância eficaz de poder sem limitar insuportavelmente as opções de quem governa.

Imaginem-se as dificuldades de uma situação na qual a alternância precisasse vir acompanhada, a cada quatro ou oito anos, de um pacote de mudanças constitucionais e infraconstitucionais de peso.

Nenhuma democracia resistiria.

A obsessão pelas reformas também ajuda a esconder a inapetência gerencial. Governo muito ocupado com o Legislativo não tem tempo para governar. Palavra que costuma ser sinônimo, nos países normais, de executar o orçamento.

Mas essa política embute também um risco. Se as pessoas - e a opinião pública - têm menos motivo para prestar atenção no Legislativo, será natural que invistam mais energia no acompanhamento do que anda pelo Executivo.

Que precisará, portanto, executar.

A execução, comprovadamente, não era o forte do governo anterior, que apesar disso conseguiu eleger a dita principal responsável pela execução. Funcionaram o prestígio e a popularidade do presidente da República, com o natural desejo de continuidade de um governo bem avaliado.

Nesse ponto, Dilma será ajudada, por ironia, no contraste com a administração que a elegeu.

Outro risco teórico é o Congresso ficar excessivamente "solto", estimulado a buscar uma pauta própria. Em tese, uma coisa bonita. Onze entre cada 10 políticos investem tempo diante de câmeras e microfones para a apologia da independência do Legislativo.

Na prática, porém, costuma ser uma fonte de dores de cabeça para o governo, especialmente para o encarregado de cuidar da chave do cofre.

Congresso solto gosta de gastar. Neste começo de corrida, a pressão será um pouco menor, com a base procurando mostrar serviço para não perder espaço na largada. Mas a hora chegará.

Inclusive porque é sabida a permeabilidade do novo presidente da Câmara dos Deputados a pressões setoriais. Trata-se de uma preocupação do Palácio do Planalto.

Há também a ameaça de CPIs. Mas falta à oposição número para dar a largada nelas, vai depender de conseguir arrastar um pedaço importante da base.

Acontecerá em duas circunstâncias. Uma acusação suficientemente grave e razoavelmente comprovada. Ou uma situação de profundo incômodo nos aliados. A segunda variável é mais fácil de controlar do que a primeira.

Cansaço
Dilma esteve ontem no Congresso, onde falou-se a palavrinha típica das luas de mel ou das grandes crises: "pacto".

Mas nunca serviu para nada.

Governo governa e oposição faz oposição. Uma receita simples e comprovada.

Onde vem sendo praticada há mais tempo com regularidade e sem interrupção, tem tido bastante sucesso.

MÔNICA BERGAMO

PEÇA DE MUSEU
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/01/11

O Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) quer entrar na Justiça para que as obras de arte de Edemar Cid Ferreira fiquem definitivamente em museus. Algumas instituições têm a guarda provisória de parte do acervo do ex-banqueiro, mas só podem expor as peças com autorização judicial. O Ibram consultou a Advocacia-Geral da União para saber que medidas tomar. "Os museus estão usando dinheiro público para manter, conservar e restaurar essas obras. Seria uma violência se elas fossem a leilão, com a possibilidade de ir para fora do país", diz o presidente do órgão, José do Nascimento Júnior.

ATALHO
O Ibram também está fechando um convênio com a Polícia Federal. Sempre que a PF pedir um mandado de busca e apreensão de bens de um figurão, solicitará ao juiz que eventuais obras sejam expostas imediatamente em museus. O acordo prevê apoio nas áreas de segurança e patrimônio museológico.

DINHEIRO NA MÃO

Para acalmar os ânimos no Pontal do Paranapanema depois das recentes invasões, a secretária de Justiça de SP, Eloisa de Sousa Arruda, vai a Brasília negociar a reabertura de convênios com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Após garantir verbas para os assentamentos, ela visitará a região em que os sem-terra realizaram uma série de ocupações entre 9 e 16 de janeiro. Duas áreas permanecem invadidas.

TOLERÂNCIA ZERO
O tema da Parada Gay 2011 deve ser a criminalização da homofobia, em função dos recentes ataques a homossexuais na avenida Paulista, palco da festa. Neste sábado, os organizadores do evento e a Coordenação de Políticas para Diversidade Sexual da Secretaria de Justiça e da Defesa da Cidadania se reúnem para bater o martelo.


PRIMEIRA FILA
As modelos Emanuela de Paula, Ana Bela, Cassia Avila e Carolina Bittencourt embelezaram camarins, salas de desfiles e festas da São Paulo Fashion Week. A primeira-dama de São Paulo, Lu Alckmin, conferiu a coleção de Lino Villaventura. Luiza Setubal também circulou pelo evento.

A EXTRADIÇÃO DE FLUFFY, O HAMSTER DA FILHA DE DIDI WAGNER
Didi Wagner teve uma surpresa ao desembarcar em Guarulhos, no domingo à noite, vinda de Nova York. O hamster Fluffy, de sua filha Laura, 7, foi impedido de entrar no país. Didi havia tirado a documentação para trazer o roedor, inclusive uma carta de dez páginas de uma veterinária atestando que o animal é saudável . Mas foi informada de que faltava um carimbo. No Twitter, o caso virou polêmica: "O governo defende e apoia o terrorista Battisti [Cesare] e cisma com o hamster da Didi", postou uma seguidora da apresentadora. Ela falou à coluna:


Folha- Por que o Fluffy foi deportado em Guarulhos?

Didi Wagner- Faltou um carimbo do Ministério da Agricultura [americano]. As regras para se trazer um hamster não são claras. Era domingo. Explicamos à oficial brasileira do Ministério da Agricultura que não conseguiríamos o documento antes de segunda. Ela não quis saber e mandou o Fluffy de volta para o pátio da Delta [companhia aérea]. Não existe uma sala de quarentena para acomodar animais com documentação pendente. Ela alegou que Fluffy representava risco à saúde nacional, mas deixou ele no pátio.

Que tipo de risco ele poderia representar à saúde pública?
Ele poderia transmitir Tularemia [doença bacteriana]. A veterinária americana viu o Fluffy cinco dias antes da viagem, fez um laudo. E não quiseram aceitar. Ele saiu do JFK [aeroporto de NY] sem problemas, né? E lá eles nem são rígidos com as leis [risos].

Onde está o Fluffy?

Por sorte, conhecemos um motorista brasileiro em Nova York que foi buscá-lo no aeroporto. Ele está na pet shop onde o compramos. Estamos tentando descobrir qual o documento que falta. Minha vontade era entrar com um mandado de segurança para trazer o Fluffy! [risos]. Minha filha está triste. É um ratinho, mas é o bichinho de estimação dela.

OUTRO LADO

A assessoria do Ministério da Agricultura informa que a lei não obriga a manter nenhum animal sem documentação no país e que não há necessidade de uma sala de quarentena nos aeroportos. E que uma carta de um veterinário particular não é suficiente para permitir a entrada de um roedor no Brasil.

ALMOÇO INDIGESTO

O chef Jefferson Rueda esteve ontem pela manhã no restaurante Pomodori, no Itaim Bibi, para retirar seus livros, facas e outros pertences, na companhia do advogado. Ex-sócio, Rueda foi expulso do salão, anteontem, pela dona, Marina Thompson. Por contrato, ele ficaria até agosto. "Ela é bipolar. Numa sociedade, um fica feliz com o sucesso do outro. Ela tinha inveja por eu sair nas revistas." Marina não respondeu à Folha.

VERDE, ROSA E AZUL
A cantora mangueirense Rosemary desfilará neste ano também na Beija-Flor, no Carnaval carioca. Ela será uma das divas do carro da escola que representa o amor na homenagem a Roberto Carlos. Rosemary participou do projeto "Elas Cantam Roberto", em 2009.

SELVAGEM

Geisy Arruda vai dividir o estúdio com um poodle rosa em seu programa, "Rosa-Choque". Vão contracenar à la Louro José e Ana Maria Braga, aos domingos, na TV Cidade, de Fortaleza. A estreia é prevista para este mês.

TROPICAL
Mesmo com as altas temperaturas do verão paulistano, Christina Aguilera não larga uma caneca térmica para tomar chá -quente- o dia todo em suas andanças.

TUNTZ TUNTZ

A banda de música eletrônica Morcheeba desembarca no Brasil no mês que vem. Os britânicos se apresentam no HSBC Brasil, no dia 26.

CURTO-CIRCUITO

Ivaldo Bertazzo reestreia amanhã o espetáculo "Corpo Vivo - Carrossel das Espécies", no Sesc Belenzinho. A temporada irá até 6 de março. Livre.

O cantor Seal se apresenta no dia 17 de março, às 21h30, no Credicard Hall. 14 anos.

Victor & Leo fazem show hoje no Villa Country. 18 anos.

Bettina Quinteiro é a nova superintendente do shopping Cidade Jardim.

A grife Bo.Bô lança hoje sua coleção de inverno 2011, no shopping Iguatemi, com coquetel a partir das 17h.

O cantor Tony Gordon fará shows nos dias 11 e 25 deste mês, no The Orleans, na Vila Madalena. 18 anos.

A festa Discotexxx comemora seus três anos no sábado, às 23h, no Astronete. 18 anos.

com ELIANE TRINDADE (interina), DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

ROBERTO MACEDO

Congresso - "salários" como num assalto
Roberto Macedo 

O Estado de S.Paulo - 03/02/11

O abusivo aumento de 61,83%(!) da parcela que os congressistas se dão como "salário", ampliada para R$ 26.723,13, veio em 15/12/2010. Deixei o assunto para este início de legislatura, esperando contribuir para que não caia em esquecimento, como querem os que mais uma vez legislaram em causa própria e à custa alheia. E que custos!

A ação lembrou um assalto, premeditada para o apagar da sessão legislativa e coincidente com o fim de ano, época de recesso universal. Isso minimizou ainda mais a reação de um povo traído por maus representantes que no Congresso Nacional, templo de cultivo da fé na democracia e na República, nessa e noutras causas ficam do lado dos que abusam e debocham dos que mantêm a crença. Buscou-se, também, reduzir a reação da imprensa.

A ação veio como numa noite em local mal iluminado e carente de vigilância. Rapidíssima, coisa de minutos, e tomada por encapuzados, pela ausência de votação nominal. Ao comando da capital, foi logo seguida por arrastões nas Assembleias estaduais e Câmaras Municipais, com o mesmo objetivo. Assim, em poucos dias o cidadão comum foi vítima três vezes de uma (des)apropriação de dinheiro sem seu consentimento. Este alguém acha que houve? Que tal um plebiscito?

Onde a ação foi percebida, poucos e abafados gritos. Com nitidez só ouvi os do miniminoritário PSOL, que também protocolou ação contestadora na 5.ª Vara Federal de Brasília.

Suspeitos foram entrevistados, inclusive um novo ocupante do Congresso, de alcunha Tiririca. Viu na ação uma bênção, mas está superada sua pregação usual de que pior do que estava não ficaria. No Congresso já ficou. Quanto aos demais, ressalvadas poucas exceções, empenharam-se em dar à ação um sentido de justiça, mas lembrando justiceiros.

Passemos ao injustificável. Nossa Constituição diz que, nos cargos, funções e empregos da administração pública não organizada sob a forma de empresas, os ganhos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) devem ser os mais elevados. Ou seja, há esse teto. Mas a destemida ação viu no teto um piso, indicando que no Congresso o regime é um de pernas para o ar. Para confundir as coisas, houve porcentuais ainda maiores para os até então de fato irrisórios salários do presidente da República e de seus ministros, trazendo sua remuneração para o mesmo valor citado, que também chegou ao vice-presidente.

Ora, o trabalho dos parlamentares não tem as mesmas responsabilidades e os mesmos requisitos de qualificação e de carreira dos ministros do STF, nem o mesmo regime de dedicação exclusiva, que também alcança o presidente da República e seus ministros. Parlamentares costumam manter outras ocupações, num espectro que varia de trabalhadores sindicalistas a empresários empregadores, passando por agropecuaristas, profissionais liberais e outras, e não há nem acompanhamento nem fiscalização do tempo que gastam e do que ganham nessas atividades, direta ou indiretamente. Aliás, pesquisa recente do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) mostrou que empresários representam 47,9% dos deputados federais e 33,3% dos senadores da nova legislatura.

Em geral os parlamentares ficam três dias por semana em Brasília e não sei de um rígido controle de ausências e de seus descontos. E há recessos e folgas de montão, inclusive para cuidar de reeleições. Ademais, salários autênticos não são determinados pelos próprios assalariados. Também por não corresponder a uma clara contraprestação por trabalho prestado, sujeito ao comando de um empregador, esse nome não cabe a rendimentos de parlamentares, daí as aspas colocadas. Honorário tampouco serve. Sugiro excelenciário, pois no Congresso todos são excelências, e nem mesmo os petistas se tratam como companheiros, trabalhadores ou assalariados. E há as demais verbas auto-outorgadas pelos congressistas, de maiores valores (até R$ 98,3 mil mensais para deputados federais e R$ 119,8 mil para senadores), e distorções. Em larga medida custeiam mordomias e equivalem ao financiamento público de campanhas permanentes, ao qual não têm acesso candidatos sem mandato. Para esse adicional proponho excrescêncio.

O que fazer? Na imprensa tradicional, o assunto sumiu neste início de ano. Uma razão é ela ser muito voltada para novidades, relativamente às notícias passadas. A opinião não é só minha. A jornalista Arianna Huffington, cofundadora e chefe de redação do jornal digital Huffington Post, e referência nesse tipo de jornal, disse à Folha de S.Paulo (23/12/2010): "A mídia tradicional introduz uma notícia e depois a abandona." Adicionou que para gerar impacto na web o jornalismo digital precisa "manter os assuntos vivos de forma obsessiva". De fato, o digital também oferece notícias estocadas, permitindo que recebam novos aportes, o tal "follow-up", e facilita a interação com leitores. Portanto, que esses e outros assuntos gravíssimos, mas moribundos no noticiário, recebam essa atenção da mídia digital, com a contribuição das redes sociais, e sem prejuízo do enorme e indispensável papel da tradicional.

Também usando a web se pode inundar com e-mails de protesto os gabinetes parlamentares. As conexões são: www2.camara.gov.br/participe/fale-com-o-deputado e www.senado.gov.br/noticias/opiniaopublica/fale_senado.asp. Cuidado com a primeira, pois se abre com a opção de elogiar, a inicial, já marcada com uma bolinha. A de protestar é a última.

De "seu lado", em geral a "oposição" ficou calada. Quanto ao PSOL, merece cumprimentos, mas espera-se que seja coerente e que seus parlamentares devolvam mensalmente o que veem como excedente, num procedimento a que os demais inconformados deveriam aderir. Ficando hoje apenas no excelenciário, e contando os referidos três dias por semana, um valor de 3/5 (R$ 16.033,88) do teto estaria de bom tamanho para não gazeteiros.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP, É VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO