quarta-feira, janeiro 05, 2011

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Falta muito pro Carnaval? 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/01/11

E a grande frase do dia: "A Dilma toma posse, o Lula toma cachaça e o Temer toma Viagra". Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E a frase do dia: "A Dilma toma posse, o Lula toma cachaça e o Temer toma Viagra".
Aliás, um amigo meu jantou num restaurante ao lado da mesa do Temer e da miss. E eles não trocaram UMA palavra. Ela deve ser tipo batata frita, só serve pra acompanhar.
E esta é a Semana da Dieta. Depois daquele monte de bicho que a gente comeu! Engolimos um zoológico: peru, porco, galinha, tender. Alguém já viu algum tender vivo?
Semana Nacional Pra Fazer Força Pra Calça Fechar! Dá três pulos e no terceiro enfia! Vumpt! Semana do filé de frango! Pra diabético e sem glúten!
E posso fazer uma pergunta bem oportuna? Falta muito pro Carnaval? Rarará! Ai, que preguiça!
E o Lula? Vai virar síndico de prédio em São Bernardo. E lançar um PAC: Programa de Ajuste do Condomínio. Rarará!
O Lula vai tomar umas com o Zeca Pagodinho e ainda vai deixar o Zeca em casa! E será que a dona Marisa vai aguentar o Lula de cuecão andando pela sala? Cuecão e regata de metalúrgico! Acordei com saudades do Lula. De verdade! A gente cria apego!
E adorei esta placa que eu vi em Sauípe: "Temos Almoso Muqueca e Etc...". Rarará!
E aí eu volto da Bahia morrendo de saudades de São Paulo e quase morro afogado! Levando água por cima e por baixo! Parece que você tá embaixo dum chuveiro e sentado num bidê!
Aí perguntei pro taxista: "Falta muito pra chegar no Jardim Paulista?". "Cala a boca e continua nadando." IPVA devia se chamar Imposto Para Veículos ANFÍBIOS!
E eu já tô com saudades de 2010. Principalmente dos últimos dez dias. Eu quero aposentadoria por tempo de havaiana! Eu quero morrer na praia. Rarará!
O brasileiro é cordial! A Volta do Gervásio! Cartaz na empresa em São Bernardo: "Aqui não é circo para ter brincadeiras e risadinhas. Se eu pegar alguém aqui com palhaçada, vou amarrar o hiena boca mole e passar pena de pomba no pé até abrir ferida. Conto com todos. Assinado: Gervásio". Rarará!
Será que o Lula já encontrou com o Gervásio? "Se eu pegar o Lula de cuecão fazendo discurso na varanda do prédio, eu costuro a boca do sapo barbudo até ele engolir a língua toda. Conto com todos. Assinado: Gervásio." Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.

ROLF KUNTZ

Novo governo, luz e sombra
Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo - 05/01/2011

O novo governo começou com promessas de maior rigor na política fiscal, continuidade na política monetária e sinais pouco claros sobre a política externa. A presidente Dilma Rousseff consagrou a estabilidade como "valor absoluto" e essa expressão foi repetida pela ministra do Planejamento, Míriam Belchior. O novo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu a política de metas de inflação e prometeu o máximo empenho no combate à alta de preços. Pela primeira vez em muito tempo, fala-se no governo, claramente, em apertar a disciplina fiscal para reduzir o peso carregado pela política monetária. A presidente mudou o discurso oficial, também, ao insistir no tema da qualidade do gasto e da eficiência do setor público. A ministra do Planejamento declarou ser possível e necessário fazer mais com menos. Prometer maior produtividade no governo é mais que um avanço - é o abandono de um padrão dominante por muitos anos.
Também será mais que um avanço a recuperação da pauta de reformas políticas e econômicas, se as ações prometidas na posse forem concretizadas. Os efeitos serão importantes para a democracia e para a modernização produtiva. A modernização deverá elevar os padrões de competitividade - um tema retomado pelo novo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Nesse caso, prevaleceu a repetição. O ministro recitou a ladainha de seu antecessor, apontando os bem conhecidos obstáculos enfrentados pelo produtor nacional ao competir com o estrangeiro. O real valorizado é só uma parte do problema e ninguém no Ministério ignora esse fato.
Como nenhum dos obstáculos foi removido, o valor recorde da exportação, US$ 201,9 bilhões em 2010, é explicável principalmente pelas circunstâncias do mercado. As vendas de commodities - produtos básicos e semimanufaturados - proporcionaram 58,6% da receita (53,9% em 2009). O valor faturado com os básicos foi 44,7% maior que o de 2009. O obtido com os semimanufaturados, 37,1% superior. A receita geral cresceu bem menos, 31,4%. Em dezembro, as commodities estavam bem mais caras que um ano antes: café em grão 37,7%; óleo de soja, 29,1%; açúcar em bruto, 23%; carne suína in natura, 34%; e minério de ferro, 142,2%. São exemplos muito claros. As cotações devem continuar elevadas em 2011, mas não tem sentido, como política, depender do valor dos básicos para o equilíbrio externo.
Isto remete à diplomacia. A China, com seu enorme apetite por matérias-primas e bens intermediários, seria uma grande cliente do Brasil, na fase atual, por mera necessidade, não por causa da estratégia Sul-Sul do Itamaraty. Mas essa fantasia diplomática, somada aos problemas de competitividade, tornou o Brasil dependente, em grau excessivo, da fome chinesa de insumos. Se o País tem hoje uma relação de tipo colonial com alguma grande potência, é, sem dúvida, a relação com a China. Perspectiva de mudança? Por enquanto, a presidente e o novo chanceler prometeram continuidade na política externa, com prioridade para o mundo em desenvolvimento e, de modo especial, para a América do Sul. A importância atribuída à região é compreensível e defensável, se a integração envolver reciprocidade e uma clara definição de objetivos comuns. Isso não ocorreu até hoje.
Especialmente na América do Sul, o Brasil cedeu muito mais que o razoável, nos últimos oito anos, em troca do reconhecimento, nunca realizado, de uma liderança ambicionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto o Brasil cedeu, a China e outros concorrentes conquistaram espaços na região. A política em relação aos Estados Unidos foi um desperdício de oportunidades. Os Estados Unidos, é bom lembrar, ainda são, ao contrário da China, um importante mercado para manufaturados brasileiros.
Talvez a presidente e o novo chanceler estejam dispostos, embora sem dizê-lo, a ponderar todos esses fatos. Talvez o novo ministro de Relações Exteriores esteja inclinado a desenterrar as melhores tradições do Itamaraty. Talvez ambos alterem o rumo. Se não o corrigirem, o País continuará sendo o bobo da corte global, representado por uma diplomacia falastrona e sem noção de interesses nacionais. O único sinal de mudança, até agora, foi em relação aos direitos humanos. A presidente Dilma Rousseff deverá recusar apoio à execução de mulheres acusadas de adultério. Poderá recusar, talvez, manifestações de simpatia a alguns tiranetes obviamente sanguinários. Mas falta saber muito mais: continuará devolvendo atletas cubanos à ditadura de Havana, abrigando fugitivos da Justiça de países democráticos, apoiando na vizinhança aspirantes a ditador e aceitando seus desaforos?

ROBERTO DaMATTA

A luta com o papel
ROBERTO DaMATTA

O GLOBO - 05/01/11

Não há quem não tenha lutado com algum papel. Para muitos foi duro ser pai ou marido e foi mais complicado ainda ser democrata. Entre o papel e a pessoa há sempre um fosso e o seu preenchimento requer o entendimento do "axioma de Shakespeare". A observação segundo a qual o mundo é um palco e todos nós, homens e mulheres, somos meros atores. Todos temos nossas saídas e entradas e desempenhamos muitos papéis.

Papéis são fórmulas. Impossível rir num enterro ou ficar triste num baile de carnaval. Neste primeiro dia do ano, assisti à "posse" de Dilma Rousseff no cargo de presidente da República. A passagem da faixa presidencial foi, como tudo no Brasil, o final de um processo gradual, iniciado com a diplomação pelo TSE e, dias depois, com a assinatura do livro de posse do cargo no Congresso. Dilma é a primeira mulher presidente do Brasil, mas ela assume o cargo sem nenhuma turbulência, inventada e abençoada que foi pelo carisma bem propagado do presidente Lula, que sai deixando a nova administração sob o signo da continuidade.



Lula falou em "desencarnar" do papel. Permanecer seria patológico e inviável



Inevitável observar essas transições que têm tantas consequências para as nossas vidas porque, afinal de contas, há teatro no poder, mas o poder não é teatro. Nas democracias, separar pessoas e papéis é algo fundamental, senão o seu fundamento. Nelas, não cabem os movimentos "fora X, Y ou Z" quando alguém é eleito para ocupar o papel de "supremo mandatário da nação", como diz a nossa autoritária fórmula cultural. Você pode ser contra um partido ou uma pessoa, mas não pode torcer contra a presidência ou contra o seu país.



Há papéis universais, como o de cidadão, pedestre, comprador, viajante, eleitor etc... - e papéis especiais. Quanto mais importante, mais difícil e desejado é o papel. Há papéis que enriquecem, há os que marginalizam e os que notabilizam, como o de artista ou de escritor premiado. Há os superexclusivos, a serem ocupados por uma só pessoa que, por isso mesmo, encerram biografias, como os de Papa, rei e presidente da República. Sem esquecer o de dita(dor)! Sua exclusividade é uma medida óbvia do seu poder de construir&destruir, daí a sua onipotência, a ser, se há bom senso, necessariamente controlada. Nos países de índole hierárquica que amam privilégios e o Estado serve para aristocratizar os membros do poder, esse cargo é incensado e a onipotência do papel contamina o seu ocupante. Uma imprensa livre e desinibida é o remédio contra essa dose de divindade e por isso ela é tão odiada quando uma pessoa se apossa da presidência.

Papeis exclusivos fecham biografias e obrigam a um abandono do mundo, conforme viram Max Weber e Louis Dumont. Ler certas vidas como exemplos de renúncia do mundo, conforme sugeri faz tempo, ajuda a compreender tipos como Antonio Conselheiro, Pedro Malasartes, Lampião, Leonardo Filho, Jânio Quadros, Getúlio Vargas e outros. Figuras reais e imaginárias filiadas à corrente dos que, por alguma tragédia, convicção ou decepção, foram obrigados a sair do mundo em que viviam.


Dir-se-ia que o papel de presidente da República situa a pessoa no centro. Mas é justo no centro onde jazem a maior solidão e as mais tenebrosas tentações. Como sabem as "celebridades", alguns papéis devoram seus ocupantes. No topo, qualquer movimento leva à planície. Por isso, as sociedades arcaicas cercavam a realeza com cargos dados ao nascer e perdidos ao morrer. No caso das democracias modernas, temos uma situação curiosa. O papel de presidente é perpétuo e todo-poderoso; mas a pessoa é, pela teoria, um cidadão falível e mortal. Sabe-se que o Congresso americano discutiu se o primeiro presidente do país, George Washington, deveria ser tratado como "Vossa Majestade" ou "Senhor". Ficaram, coerentemente, com a segunda fórmula. O resultado desse dilema entre um papel que transforma e a pessoa que a ele sobrevive é a idealização e o endeusamento dos que, num mundo de cidadãos, são elevados por tais cargos.

A percepção do limite da pessoa no papel e do papel na pessoa é uma arte. Ser o nº 1 de um país, tendo - como no caso do Brasil - todos aqueles puxa-sacos, mordomos, assessores, asseclas, aliados, secretários e empregados; poder gastar e usufruir de tudo secreta ou abertamente; estar sujeito ao aval de sua própria ética porque entre nós a presidência foi moldada numa cultura monárquica jamais discutida ou erradicada, é algo que poucos podem realizar com bom senso e honestidade. Por isso Lula falou em "desencarnar" do papel. Pois nele permanecer seria patológico e inviável. Até onde ele vai realizar isso, aceitando o tenebroso "ex" (há algo mais patético do que um ex-marido?), veremos. E até onde Dilma Rousseff vai nele se adaptar, será visto nos próximos quatro anos. A ambos o cronista deseja sucesso, pois, como um encarnado antropólogo cultural que sabe de duas ou três coisas sobre a vida coletiva, ele compreende como deve ser duro sair e entrar de um papel que canibaliza, esgota e coage ao ponto da tortura. Um cargo que obriga a ser presciente quando todos em volta nada sabem; que determina cautela quando não se tem tempo para decidir e inovação quando os hábitos exigem as velhas fórmulas; que determina impessoalidade num universo marcado pela ética da condescendência; que manda acreditar quando não se acredita. Um papel, enfim, eventualmente assassino, que pode crucificar o seu ocupante. Tal como ocorria com os messias, os profetas ou os velhos feiticeiros e hereges que eram queimados vivos nas fogueiras.

ROBERTO DaMATTA é antropólogo.

VINICIUS TORRES FREIRE

Chuva, lama e chantagem de verão
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/01/11
Faminto de ministérios e boquinha, PMDB dá o troco e ameaça tumultuar logo cedo as contas do governo Dilma

NÃO DEMOROU muito para o PMDB reagir ao fato de Dilma Rousseff ter encurralado o partido num cercadinho ministerial muito mais modesto que o imaginado logo depois de fechadas as urnas.
Perdidos alguns ministérios e algumas bocas notórias desde o "mensalão" e mesmo antes, o partido agora faz a chantagem de sempre a fim de abocanhar diretorias rendosas de estatais. Ameaçam tumultuar o Congresso de modo a fazer com que o salário mínimo seja fixado em R$ 560, pelo menos, em vez dos R$ 540 decididos pelo então governo Lula-Dilma, na "transição".
Ontem teve reunião "coisa nossa" do PMDB, na casa de Michel Temer. O pessoal falou grosso e cobrou a fatura na casa do vice-presidente da República, que corre o risco de se tornar ministro extraordinário da administração de chantagens e de outras manifestações de grandeza política e moral do PMDB.
Como foi publicado nestas colunas no dia de 17 de dezembro passado: "O PMDB está quieto demais depois de ter levado uma carraspana de Dilma. Quando virá o troco?".
Veio cedo. Haverá mais. Em breve, virá a eleição da Câmara, à qual o PT deve chegar estremecido, para não falar da birra do PSB. Vai haver fofoca até fevereiro, quando deve ser votado o mínimo. Haverá a briga pela boquinha de segundo escalão. Haverá a revanche devido aos cortes de emendas parlamentares. O governo vai ter de tocar votações no Congresso abrindo e fechando a torneira das emendas.
Não há dinheiro para um mínimo maior de R$ 540. O governo vai fazer mágicas e milagres para colocar o Orçamento no tamanho da arrecadação deste ano. Mesmo que o governo Dilma não tenha um plano de controle de gastos de médio prazo (uns quatro anos), é preciso organizar pelo menos as contas de 2011.
Conter gastos em 2011 equivale a comprar um seguro, ao menos, condição mínima para um governo mais ou menos tranquilo, sem escapadas preocupantes da inflação e altas de juros dispendiosas demais. Bom mesmo seria um plano organizado de reforma fiscal. Mas, na falta provável de um programa desse tipo, que pelo menos venha algum remédio, ainda que medíocre. De resto, em 2012 já tem eleição, e em 2014 haverá outra (anos de gastos maiores), com uma Copa pelo caminho, para piorar. Alguém duvida de que o governo fará gastos excepcionais para compensar atrasos e roubalheiras nas obras?
Isto posto, conclui-se que o PMDB ameaça chutar a escada de Dilma logo no início de seu mandato, num assunto muito sério.
Não há solução de curto prazo para esse tipo de coisa. Um meio de minorar o problema seria o anúncio de uma reforma da administração pública, alardeada de modo a encurralar moralmente o pessoal da barganha chantagista. A reforma não sairia imediatamente, mas daria um novo tom à conversa pública sobre o assunto. Andando a tal reforma, a alta administração federal seria aos poucos profissionalizada, seria reduzido o número de cargos à disposição da negociata, o que, de quebra, facilitaria a fiscalização das nomeações malandras.
Mas a coisa começou mal. O ministério Dilma tomou posse e tudo o que sabemos até agora é o nome dos ministros. Assumiram sem programas, sem compromissos, sem metas. Nada profissional

MERVAL PEREIRA

Reencontro 
Merval Pereira 

O Globo - 05/01/2011 

Os primeiros movimentos do novo governo estão explicitando uma situação política tão inusitada quanto estrategicamente previsível, com o petismo e o lulismo se reencontrando depois de alguns anos de separação forçada pelos escândalos protagonizados por uma cúpula partidária que se desmoralizou no processo de controle da máquina governista, ampliando o espaço para a atuação protagonista de Lula.

Esse retorno do petismo sufocou os partidos aliados, notadamente o PMDB, e tirou da presidente Dilma a capacidade de controlar a formação de seu primeiro Ministério.
De um lado o ex-presidente impôs a escolha de grande parte do Ministério, e de outro o partido ampliou sua presença no primeiro escalão, tirando do PMDB ministérios importantes como Saúde e Comunicações, enquanto impedia que aliados como o PSB vissem recompensados na formação do governo os votos que tiveram nas urnas.
Como compensação, num movimento que se mostrou prejudicial e insuficiente, a presidente deixou que os partidos indicassem os nomes para os ministérios, dando força às bancadas no Congresso.
Temos então um governo em que PT e PMDB disputam entre si fatias de poder sem que a presidente tenha até agora conseguido segurar seus radicais.
Para colocar ordem na casa, suspendeu as nomeações dos segundo e terceiro escalões, numa clara demonstração de que não está controlando a situação.
Dentro desse quadro em que o PT volta a se impor ao governo, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, considerado os olhos e os ouvidos de Lula no governo Dilma Rousseff, é também sua boca, através da qual o ex-presidente vem revelando suas intenções políticas.
Mas Carvalho, que já foi cogitado para assumir a presidência do PT em vários momentos de crise na legenda, é também o porta-voz do partido dentro do novo governo e como tal está assumindo o papel de tentar domesticar o PMDB e, embora de maneira indireta, a própria presidente.
Gilberto Carvalho surpreendeu a todos em seu discurso de posse afirmando que seria capaz de “se matar” por Lula, o que deu a exata dimensão de sua adoração pelo líder. Ele não se acanha de, mesmo sendo ministro de Dilma, repetir a cada entrevista que Lula está no banco de reservas pronto para entrar em campo em caso de fracasso da titular acidental.
É como se quisesse lembrar a todo momento à sua nova chefe a quem ambos devem os lugares que ocupam.
E usa Lula também para advertir a oposição de que não se sinta muito à vontade caso o governo não vá muito bem das pernas, porque Lula estará sempre à disposição em 2014 para garantir que o PT não perca suas benesses no governo.
Embora o PT já seja conhecido como o “partido da boquinha” graças à alcunha de Garotinho, que pegou por refletir a realidade, o partido tenta recuperar a fama de puro que o elevou ao governo federal, perdida desde o escândalo do mensalão.
Visto com justiça como um partido fisiológico, o PMDB, ao contrário, tenta livrar-se da fama depois que conseguiu unirse para levar seu presidente Michel Temer à Vice-Presidência da República.
Mas o PT não está disposto a ajudar seu parceiro a lavar seu passado político e a todo momento utiliza o argumento da moralização do serviço público para tomar-lhe lugares nos diversos escalões da administração federal.
Foi assim que os Correios, loteado entre os aliados, mas sobretudo com o PMDB, passaram aos petistas para recuperar a imagem de empresa de excelência.
Nada mais exemplar dessa postura do que a defesa de Gilberto Carvalho, em uma reunião com a presença da presidente Dilma, da permanência de Silvio Porto, indicado pelo PT, para zelar pela “boa conduta moral na Conab”.
O vice Temer, que já apadrinhou Wagner Rossi na presidência da Conab, de onde saiu para voos mais altos, o próprio Ministério da Agricultura, sentiu- se ofendido pessoalmente.
Esta, no entanto, não foi a única ocasião em que Carvalho dirigiu suas baterias para o PMDB. Em entrevista à “Folha”, ele disse que o PMDB tem “a grande chance histórica” de mudar de imagem, de “romper essa tradição de um partido regionalista e que não foi até hoje alternativa de poder efetivo”.
Para bom entendedor — e o PMDB entende bem dessa política —, o novo secretário- geral da Presidência da República está dizendo que, se o PMDB refrear seu apetite por cargos, submetendose às ordens do PT, poderá se beneficiar da companhia e mudar sua imagem, hoje tida como fisiológica.
Por trás dessa guerra de palavras, está uma máquina pública historicamente com fortes vínculos políticos com o PT e a CUT, relação que foi aprofundada no governo Lula. Registrada no livro “A elite dirigente do governo Lula”, da cientista política Maria Celina D’Araujo, atualmente professora na PUC do Rio de Janeiro, com participação da também cientista política Camila Lameirão, a mais completa radiografia dessa máquina no âmbito do Poder Executivo nacional revela um forte vínculo com movimentos sociais, partidos políticos, especialmente o PT e sindicatos e centrais sindicais, principalmente a CUT.
Esse “sindicalismo de classe média”, em que predominam professores e bancários, tem sua base no funcionalismo público, que foi fundamental para reativar o sindicalismo brasileiro a partir da redemocratização nos anos 1980 e está na origem do Partido dos Trabalhadores.
Dados oficiais indicam que em julho de 2009 havia cerca de 80 mil cargos e funções de confiança e gratificações no Poder Executivo federal.
Desses, cerca de 47.500 eram cargos e funções de confiança na administração direta, autárquica ou fundacional, que podem ser preenchidos discricionariamente pelo Poder Executivo federal.
Segundo levantamentos não oficiais, o governo Lula dobrou a criação de cargos comissionados da administração federal no segundo mandato. São esses cargos que estão sendo disputados pelos partidos aliados, especialmente PT e PMDB.
E é essa partilha do butim do Estado que poderá explicitar na prática diária do Congresso a fragmentação da base aliada do governo.

DORA KRAMER

Modus vivendi Dora Kramer 
O Estado de S.Paulo - 05/01/2011


Em sua definição estrita, a expressão em latim "modus vivendi" traduz a existência de um acordo pelo qual partes de opiniões opostas concordam em discordar durante o tempo em que se obrigam a conviver, mediante acomodação dos respectivos interesses.

O PT e o PMDB ainda não chegaram lá. Ainda não conseguiram estabelecer os termos do arranjo de convivência, cuja marca de fábrica - já se vê, como esperado - é a tensão permanente entre os dois principais partidos de sustentação do governo Dilma Rousseff.

Brigaram durante a campanha toda, se estranharam na fase de transição e seguem a vida rodando sobre o mesmo eixo: a disputa do poder.

O PT com a vantagem de ter a Presidência da República e uma base de apoio parlamentar maior que a anterior; o PMDB com a primazia da força da pressão de grandes bancadas no Congresso e o comando do Senado.

Sem contar o fato de que a Vice-Presidência pode representar potencial fonte de problemas nas ausências da presidente.

Informa sobre esse sentimento latente uma frase dita por um dirigente pemedebista logo após a eleição, ainda apostando que o partido seria muito bem aquinhoado na divisão do poder: "A Dilma tem claro que de uma boa relação depende a tranquilidade para viajar, por exemplo, para a Bolívia."

O PMDB realmente não esperava que lhe fossem retirados espaços de poder e imaginava que a presença de Michel Temer concomitantemente na Vice-Presidência da República e na presidência do partido asseguraria um "upgrade" de posições em relação à participação nos dois mandatos de Lula.

Não foi o que ocorreu: perdeu em qualidade e quantidade. Perdeu Integração Nacional, Comunicações e Saúde. Permaneceu na Agricultura, de difícil instrumentalização política, ganhou uma fonte de problemas na Previdência, ficou com Minas e Energia, onde o controle de Dilma é total, e recebeu uma Secretaria de Assuntos Estratégicos com zero de orçamento e nenhuma inserção política.

Oficialmente, o governo e o PT não reconhecem a intenção de reduzir as áreas de influência do parceiro. Alegam que havia a necessidade de abrigar novos aliados, justificativa desmentida pela realidade: a redistribuição de cargos foi feita privilegiando primordialmente o PT.

Sob compromisso do anonimato, governistas de primeiríssimo escalão admitem: o parceiro foi propositadamente desidratado e por razões de probidade administrativa. Os exemplos citados são os antigos feudos na Saúde e nos Correios. Neste último pela identificação de relações heterodoxas com empresas privadas do setor.

Mas e o custo, o troco?

Está mais ou menos calculado. "Vamos pagar para ver", diz um petista altamente credenciado, lembrando que, se o governo estiver bem junto à opinião pública e forte no Congresso, o PMDB terá um campo de atuação restrito para retaliar.

Mas, se ainda assim endurecer, o governo acha que pode administrar as demandas abrindo e fechando torneiras e porteiras na medida da necessidade.

Cenografia. O governo brasileiro não acredita em crise diplomática para valer com a Itália por causa da decisão de negar a extradição do ativista Cesare Battisti e aposta que há mais jogo de cena que vontade genuína de brigar, na reação do governo italiano.

No Planalto a convicção é a de que o plenário do Supremo Tribunal Federal decidirá pela libertação de Battisti, uma vez que o próprio STF resolveu deixar a palavra final para o então presidente Luiz Inácio da Silva.

Cabral viu a uva. O sonho de consumo do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, seria ter em sua equipe o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame.

Dele e da maioria dos governadores com problemas graves na área.

De grego. Amiga muito arguta para questões de costumes observa a propósito da ideia da ministra da Pesca, Ideli Salvatti, de incluir o peixe na merenda escolar: "Criança odeia peixe."

ALON FEUERWERKER

Na marca da cal
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 05/01/11


A herança do ex-presidente no front externo não deve ser julgada apenas pelo pênalti perdido em Teerã. Até porque Dilma pode, se quiser, pedir para voltar e bater de novo


Foi sintomático de um estado de espírito que o ex-presidente tenha se despedido do cargo com ironias sobre o estado da economia dos países ricos. A mensagem foi clara: vocês que viviam nos receitando remédios esqueceram de cuidar da própria saúde. 
Não chegou a ser grande novidade, considerada a referência que mais atrás o presidente fizera aos loiros de olhos azuis como responsáveis pela crise de 2008. 
Nossa economia andou relativamente bem no último período, quando comparada a ela mesma dos anos 1980 para cá. É a comparação razoável a fazer. Mas seria honesto reconhecer pelo menos duas coisas. 
A prosperidade brasileira assenta-se na sólida disciplina fiscal, em bom grau imposta a nós na esteira das sucessivas crises dos emergentes nos anos 1990. E parte grande da nossa blindagem na recente conturbação decorre não de qualidades, mas de um defeito: o ainda baixo volume de crédito. 
Numa crise de confiança no sistema creditício vai melhor quem está menos endividado, e portanto tem mais credibilidade para honrar as dívidas. O crédito no Brasil é escasso e caro. Isso está longe de ser bom. Bancos com a saúde excessivamente fulgurante nem sempre são notícia alvissareira para quem não é acionista de banco. 
Mas esta coluna não é sobre a crise, é sobre um possível recalque que o Brasil possa ter carregado de certas frustrações recentes. 
Quando assumiu em 2003, e por bom tempo ao longo dos dois mandatos, o presidente trabalhou para projetar o papel de ponte, de liga entre o mundo rico e o mundo pobre. A simbologia foi carimbada logo depois da posse, com visitas acopladas a Davos, o Fórum Econômico Mundial, e a Porto Alegre, o Fórum Social Mundial. 
Era a senha para um conjunto de movimentos. Desde a operação para a vaga no Conselho de Segurança da ONU até o acordo de Teerã sobre o urânio enriquecido dos aiatolás. Passou pela imensa energia investida para tentar concluir a Rodada Doha e pelo esforço para fazer do G-20 um ator relevante na elaboração de uma nova arquitetura planetária das finanças. 
A administração anterior empregou belo capital em ações que pressupunham a possibilidade de um protagonismo multipolar. Confiou na inevitabilidade do multilateralismo, personificado nas instâncias que dão forma ao conceito. Tratou de humanizar a globalização. Os resultados foram fracos. Bem fracos. 
Mas nem sempre as iniciativas inovadoras dão resultados imediatos, e é preciso dizer que o hoje ex-presidente se esforçou para colocar o Brasil num papel mais compatível com nosso tamanho em território, economia e população. 
Os críticos apontam certa falta de medida. É complicado saber qual teria sido a medida "certa". Acaba virando um debate sobre engenharia de obra feita. 
Há também ressalvas na esfera dos direitos humanos e na relação com regimes ditatoriais, mas aqui seria igualmente necessário lembrar que não há, nem nunca houve, país que guiasse suas relações com outros principalmente por esse critério. 
Problema mesmo foi a trapalhada de Teerã. Nada havia de errado em tentar um último diálogo antes das sanções, mas ficou a impressão de a diplomacia brasileira e o presidente terem se apaixonado por si próprios e avançado o sinal sem necessidade. 
Não era apenas um possível acordo, a ser ainda submetido às grandes potências. Era o nascimento de um líder global apto a conseguir o que ninguém havia conseguido, a ter sucesso onde os demais haviam colhido apenas fracassos. Era, enfim, uma mudança radical de paradigma. 
Deu errado, e o Brasil saiu da história como o país para quem não é tão problema assim o Irã seguir na busca de um artefato nuclear para fins bélicos. E a fuga para adiante só piorou as coisas, quando o presidente foi dúbio e evasivo sobre a conveniência de uma proliferação nuclear global. 
Mas a herança de sua excelência na área externa não se resume a esse erro, assim como Zico não pode ser julgado só pelo pênalti perdido contra a França em 1986. 
Com uma vantagem agora: Dilma Rousseff pode pedir para bater novamente o pênalti e recolocar o tema no eixo do qual jamais deveria ter saído. Basta reafirmar que para o Brasil um Irã dotado da bomba é inaceitável, sem dubiedades. 
Afirmação que, por algum motivo, o antecessor não fez. 

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Vinho quente 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 05/01/2011

Confusão à vista. No mesmo dia em que a Justiça Federal negou mandado de segurança contra selagem de vinhos importados, impetrado pela Abrape (que reúne importadores de bebidas), outra associação conseguiu resultado contrário.

Em silêncio, sem alarde, a Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas obteve liminar a favor de seu pleito: seus associados não precisam obter selo da RF na entrada dos vinhos. Já os associados da Abrape, precisam.

A regra, editada no começo de dezembro, valeria para todos a partir do dia 1º de janeiro deste ano.

Vinho quente 2

A "invenção" deste selo foi patrocinada pelos produtores de vinhos do Rio Grande do Sul.

A princípio, a Receita Federal rejeitou a tese. No entanto, instância superior foi convencida pelo presidente da Federação das Indústrias do RS, Paulo Tigre. Justificativa? Evitar contrabando.

Vinho quente 3

Se a medida for mesmo implementada, isso significa um literal "adeus" à qualidade dos vinhos importados. Quem entende de vinho sabe que é praticamente impossível fazer a operação em área portuária sem mão de obra muito qualificada.

Cada garrafa terá que ser retirada de caixa condicionada, conferida e selada sem que o manuseio e a temperatura ambiente comprometam o conteúdo. Algo parecido como importar queijos e selá-los um a um sem estragá-los.

Prontidão

Pouca gente percebeu, mas um princípio de incêndio aconteceu, anteontem, na Daslu do Shopping Cidade Jardim.

O alarme foi acionado e o cheiro de queimado invadiu o lugar. Em poucos segundos, a brigada isolou a área e debelou as chamas.

Consultada, a direção do shopping afirmou que o incidente foi provocado por curto-circuito em um dos transformadores e não afetou o funcionamento das lojas.

Hora extra

Para ir se acostumando com a dupla jornada de trabalho, Jorge Pagura marcou para hoje - data da sua posse na Secretaria de Esportes do Estado -, cirurgia no Einstein. Às 7 da manhã.

A transição do cargo está prevista para as 17 horas.

Ainda posse

Paulo Bernardo fez questão de prestigiar a posse do ministro dos Transportes, o primeiro a ser empossado, dia 1º, à noite.

Questionado sobre o que achou da decoração do edifício que dividirá com Alfredo Nascimento, o titular das Comunicações não titubeou.

Ante um auditório lotado de cortinas e tapetes roxos, adiantou: "Acho que vou ter que dar uma mexidinha por aqui...".

Posse 2

Bernardo, aliás, levou um banho de Alexandre Padilha, que derrubou copo d"água no colega das Comunicações, justo antes da posse de Dilma. Para compensar, o ministro da Saúde tirou do bolso cartão e quis pagar a conta do almoço.

Conseguiu depois dele ter, primeiro, encrencado na máquina...

Posse 3

A posse de Ana de Hollanda no Ministério da Cultura foi levada na batucada. Literalmente. O evento teve participação do grupo Fuá do Sertão, que desfilou boneco do mítico Calango Voador para saudar a nova ministra.

Além disso, incluiu bateria da escola de samba Aruc -a mais antiga do Distrito Federal-, apresentação de bumba meu boi e do rapper GOG.

Na frente

Beatriz Milhazes inaugura mostra na Beyeler Foundation. Dia 29, na Basileia, Suíça.

Carmen Magalhães e os fotógrafos Clara Giannelli e José Jabur abrem exposição hoje. Na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.Francis Hime lança o DVD O Tempo das Palavras Imagem com shows no Sesc Belenzinho. No fim de semana. Mania, cada um tem a sua. A de Dilma é segurar a pontinha da barra do tailleur e, às vezes, puxar as duas pontas uma para a outra.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Brasilprev cria fundo para ativos do setor imobiliário 
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 05/01/2011 

A Brasilprev criou um fundo para investir em ativos relacionados ao setor imobiliário. "É a primeira brasileira de previdência privada a ter ativos imobiliários em suas carteiras", diz Sérgio Rosa, presidente da companhia.
A Brasilprev tem um modelo de gestão denominado pelo mercado como "fundos de fundos". A empresa comercializa planos PGBL e VGBL com opção de alocação em diversos fundos de investimento em cotas (FICs), como o "Composto 49".
Esses fundos são uma composição de outros, que têm os ativos, que podem ser compostos de papeis de crédito, ou um fundo de ações, ou só de títulos públicos etc.
O fundo "Composto 49D" tem no mínimo dois fundos, um de ações, com histórico de pagamento elevado de dividendos, e um de renda fixa.
A partir de estudos, a Brasilprev entendeu que valeria a pena ter um fundo imobiliário para investir, em uma ótica de médio-longo prazo.
O fundo "Composto 49" passará a contemplar em sua carteira cotas desse novo fundo com ativos imobiliários, dentre eles Certificados de Recebíveis Imobiliários, Letras Hipotecárias, Letras de Crédito Imobiliário, cotas de Fundo de Investimento Imobiliário, além de ações de empresas representativas do setor imobiliário listadas na Bovespa e com participação no índice de ações do setor.
Não foi criado novo produto, mas a iniciativa vem de um modelo de gestão para ampliar investimentos em fundos de investimento de previdência privada aberta. A Brasilprev constituiu o fundo e registrou na CVM.
Um volume de recursos já foi alocado para que se comece a composição da carteira. As alocações começaram no último dia 22. A expectativa é superar, em 2011, R$ 100 milhões em patrimônio.

O QUE ESTOU LENDO

Conrado Engel, presidente do HSBC Bank Brasil

"Lords of Finance", de Liaquat Ahamed, (ed. Penguin Books) é um livro muito valioso porque retrata as decisões tomadas pelos principais bancos centrais, os da Alemanha, da França, dos Estados Unidos e do Reino Unido, no período entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. Decisões que tiveram grande importância na Grande Depressão de 29", afirma Conrado Engel, presidente do HSBC Bank Brasil.
Liaquat Ahamed recebeu um Prêmio Pulitzer.

Produção de asfalto registra queda em novembro

A produção brasileira de asfalto quebrou um ciclo de alta que vinha apresentando desde janeiro.
Na comparação com os mesmos meses do ano anterior, o setor registrou em novembro a primeira queda.
A produção ficou em 247,4 mil toneladas, 32 toneladas a menos que a de novembro de 2009.
Os dados são de levantamento realizado pelo Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada de São Paulo) e pelo grupo de vias da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de SP).
A queda reflete a conclusão do programa de obras do ano, que costuma ser acelerado e antecipado em época de eleição, além de uma forte redução de recursos para pavimentação pelo governo de São Paulo, segundo Manuel Rossitto, diretor do Sinicesp.
Aprofunda a queda "uma falta de projetos qualificados para pavimentação urbana, o que impede aplicação de recursos federais", de acordo com Rossitto.
Ainda assim, o consumo em 2010 deverá ultrapassar 3 milhões de toneladas, com acréscimo superior a 40% em relação ao ano anterior.

MÔNICA BERGAMO

MÃOS À OBRA
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/01/11


Caio Blat anda com as mãos manchadas de tinta há mais de um mês, por causa da peça "Um Coração Fraco", que estreia na sexta, no teatro Sérgio Porto, no Rio. O ator interpreta um copista no espetáculo dirigido por Priscilla Rozenbaum. "Não dá tempo de tirar a tinta das mãos. Todo mundo me pergunta na rua. Meu filho, de dez meses, fica olhando espantado, curioso", diz.


PARAÍSO ABERTO

Turismo em terras indígenas, em que o visitante pode fazer trilha na floresta com os índios, participar com eles de pescas artesanais e dormir em tabas servidos com comida preparada na própria aldeia. O projeto, em estudo na Funai (Fundação Nacional do Índio), deve ser implantado até o fim deste ano. Mesmo paraísos como Raposa Serra do Sol, em Roraima, deverão ser abertos ao público.

CONTROLE
Um piloto da proposta já está sendo implantado no sul do Amazonas, próximo de Humaitá, com os índios tenharim, que devem ser os primeiros a receber visitantes. A Funai pretende desenvolver turismo ecológico e sustentado, com número limitado de participantes e com os recursos sendo recebidos diretamente pelos índios. O Brasil tem hoje 650 terras indígenas.

FILA INDIANA
A chegada, ao mesmo tempo, de vários chefes de Estado ao Planalto para a posse de Dilma Rousseff gerou uma fila na porta do banheiro. Como havia apenas um toalete para as autoridades, Fernando Lugo, presidente do Paraguai, e Kim Hwang-Sik, primeiro-ministro da Coreia do Sul, entre outros, tiveram de aguardar a sua vez.

CORRIDA DE GARFOS
O almoço da 86ª São Silvestre reuniu, entre outros, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o secretário municipal de Esportes, Walter Feldman (PSDB-SP). José João da Silva, que venceu a corrida nos anos 1980, e o cônsul italiano, Marco Marsilli, sentaram-se à mesa na Fundação Cásper Líbero, presidida por Carlos Francisco Bandeira Lins.

NÃO FUI
Ilda Martins Silva, 79, ex-companheira de cela de Dilma Rousseff na prisão durante a ditadura, não foi à posse da presidente. "Não fui convidada, mas não fiquei chateada. Ela tem tanta coisa na cabeça, imagina se ia lembrar", diz ela, que mora em SP. A aposentada assistiu à cerimônia pela TV. "Adorei quando ela chorou."

NÃO FUI 2
A fotógrafa Nair Benedicto, 70, outra ex-colega de prisão de Dilma, também não foi convidada para a posse, mas cogitou fotografar o momento histórico. "Só não fui porque tive um problema no joelho." Ela também gostou de ver a presidente chorar. "É bom mostrar emoção."

O DEVER ME CHAMA
E o deputado eleito Gabriel Chalita (PSB-SP), que fez a interlocução de Dilma com lideranças religiosas durante a polêmica do aborto na campanha eleitoral, diz que não foi à posse da presidente porque tirou o final de ano para escrever novo livro.
"Serão correspondências fictícias entre Sócrates e Thomas More. Falará bastante de política." Entrega a obra no final de janeiro.

PRIMEIRO EU
Na posse de Bruno Covas (PSDB-SP) como secretário do Meio Ambiente, seu antecessor, Pedro Ubiratan de Azevedo, chamou atenção ao dizer, no discurso, que "a gente tem que homenagear quem sai, não quem entra". E enumerou 21 projetos de sua gestão e de Xico Graziano.

ORATÓRIA
Novo secretário de Energia do Estado, José Aníbal (PSDB-SP), começou seu discurso de posse citando o ex-governador Mário Covas, que dizia existir dois tipos de discurso: o longo e o bom. Aníbal falou por 35 minutos.

DOIS EM UM
Tanto José Aníbal quanto Edson Giriboni (PV-SP), novo secretário de Saneamento de Geraldo Alckmin, brincaram com o fato de que foram necessários dois homens para substituir uma mulher, Dilma Pena, ex-secretária de Saneamento e Energia.

DANÇA DO POSTE
A festa de lançamento do longa "Bruna Surfistinha", estrelado por Deborah Secco, acontecerá no dia 21 de fevereiro na famosa boate Love Story, no centro de SP. O filme, baseado na história real de uma garota de programa, teve uma de suas cenas rodada na casa noturna.

DANÇA DAS CADEIRAS
Convidados como os músicos Sandra de Sá e Jards Macalé assistiram à transmissão de cargo do ex-ministro da Cultura Juca Ferreira à sua sucessora, Ana de Hollanda. A cerimônia no Museu da República, em Brasília, anteontem, também foi presenciada pela cineasta Tizuka Yamasaki e pelo ator Sérgio Mamberti.

CURTO-CIRCUITO

O musical "Peter Pan" terá curta temporada, entre os dias 14 e 30, no teatro Alfa. Livre.

O fotógrafo Diego Kuffer inaugura a exposição "Caderno de Anotações", no sábado, no clube A Hebraica.

O clube Alberta #3 faz hoje a primeira festa Rocks OFF do ano. Classificação: 18 anos.

A loja Diane von Furstenberg, no shopping Iguatemi, faz venda especial com descontos de até 60%.

A festa SuperTrash, na sexta, no clube Vegas, na rua Augusta, terá como tema "Shakira X Ke$ha". Katylene, Cleycianne, Daniel MS, Armando Saullo e Marcele Becker serão os DJs convidados. Classificação etária: 18 anos.

com ELIANE TRINDADE (interina), DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

MÍRIAM LEITÃO

Água na fervura 
Miriam Leitão 

O Globo - 05/01/2011 

A inflação, sempre ela, volta a incomodar. A inundação da Austrália baterá em preços da carne e de grãos, porque o país é grande produtor. O aumento dos preços de metais continua. O petróleo sobe puxado pelo frio extremo do hemisfério norte. Há sinais de desaceleração da inflação como a FGV mostrou ontem, mesmo assim, heranças de 2010 podem complicar 2011.

Os preços estão sempre no meio do redemoinho. Um fato leva a outro, que leva a outro. O excesso de liquidez nos Estados Unidos e o aumento da demanda na China elevaram os preços das commodities. São dois fenômenos: o dinheiro demais nos Estados Unidos, para reacender a economia, aumentou o fluxo de capital especulativo, de hedge funds, fundos de índices, em negócios no mercado futuro de matérias-primas. A demanda da China, que continua crescendo, confirma esses preços altos. Dependendo do produto, é bom para a nossa balança comercial, veja-se o que aconteceu no ano passado que, apesar da queda do dólar, o Brasil teve exportação recorde. Mas há o efeito colateral da alta interna dos preços. O dólar em queda é um problema por um lado, mas atenua o efeito das pressões inflacionárias.
Alguns economistas calculam que os preços dos alimentos no Brasil podem subir menos do que no ano passado, mas é até difícil dizer isso. Um post do meu blog sobre essa previsão de desaceleração do ritmo dos preços foi respondido na segunda- feira por muita gente no Twitter contando que quando faz compras sente que os preços de alimentos estão numa escalada. A percepção das pessoas é de inflação em alta.
Em reportagem na CNN, analistas confirmam que há várias fontes de pressão de alta de preços de produtos cotados internacionalmente. Trigo, arroz, milho e soja tiveram aumentos de dois dígitos de junho a dezembro. Trigo aumentou 69% e milho, 53%. O temor é que a demanda nos países emergentes, somada à especulação dos fundos no mercado de commodities, reproduza o fenômeno que preocupou o mundo em 2008 com a inflação de alimentos, que afetou ao todo 61 países.
Algumas commodities metálicas também subiram forte nos últimos meses pelo mesmo efeito somado de demanda em países emergentes que crescem, e precisam de matérias- primas para suas obras de infraestrutura, e a onda de capitais em busca de alto retorno nos mercados de commodities.
Uma rodada pelo noticiário do mundo mostra que estão tendo ondas de altas de preços de alimentos países como Paquistão, Indonésia, Quênia, Austrália, Índia, Canadá e Estados Unidos. Em alguns casos, por causa de problemas climáticos, como a Austrália que enfrenta inundações. Como grande produtora de alimentos, o que acontece lá acaba se refletindo no mundo, como se viu nos quatro anos consecutivos de seca que o país enfrentou recentemente. No Canadá, a expectativa é que essa pressão acabe favorecendo a Bolsa de Toronto, onde metade das ações negociadas está relacionada com matériasprimas e energia.
O petróleo tem subido em parte pela pressão do aumento da demanda no hemisfério norte. Normalmente, no inverno americano e europeu há aumento do consumo de petróleo para aquecimento, mas este ano o inverno está particularmente rigoroso, como se vê no noticiário. Aumento de preço de petróleo acaba afetando também os preços dos alimentos e a avaliação de especialistas é que nem toda a alta do petróleo já está nos preços dos alimentos.
Apesar de o Brasil ter chances de ter nos próximos meses uma redução da inflação acumulada em 12 meses e queda dos preços de alguns produtos pelo fim da entressafra, o problema continuará no horizonte das preocupações.
O ano de 2010 terminou com um quadro ruim para a inflação e alguns efeitos são propagadores, como dos IGPs, que reajustam o aluguel e ficaram acima de 11%. Há ainda toda essa pressão internacional. Por tudo isso, é tranquilizador ouvir do novo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que a instituição continua convencida de que o crescimento sustentado decorre da inflação sob controle. Essa parece ser uma verdade simples, mas ela tem sido negada como se fosse uma improbabilidade teórica por integrantes do governo que permanecem na administração Dilma Rousseff. É isso mesmo, como tem dito o BC: não apenas não há conflito entre estabilidade de preços e crescimento, como é a única forma de garantir o crescimento sustentado.
Devemos ousar — como propõe Tombini — ter metas de inflação anual mais baixas se nem estamos conseguindo ficar no centro da meta atual? Sim, devemos. Já está na hora. O país está entrando no seu 17 o- ano após a vitória sobre a hiperinflação. Está entrando no 12 o- ano após a adoção da política de metas de inflação. Está na hora de ousar ser como todos os países do mundo que têm metas de 2% e ficam preocupados quando a taxa vai a 3%. Mas para isso não basta apenas elevar juros. É preciso ter gastos públicos mais controlados. O trabalho não pode continuar sendo todo do Banco Central, do contrário vamos refazer as tensões e as pressões sobre as instituições que o Brasil viu durante os oito anos da administração Henrique Meirelles. Foi tão dura a briga que ele terminou o mandato pedindo água. Como se viu, na cerimônia de posse.

CELSO MING

Ainda falta muito 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 05/01/2011

O carro elétrico está sendo apresentado ao mundo como um ser dotado de excelências.

"É o veículo do futuro", garante o presidente da Renault e Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn. É o carro ecologicamente correto, de manutenção mais barata, silencioso... e por aí vai acumulando atributos.

Mas nada assegura nenhuma dessas qualidades. Nem que será necessariamente o veículo do futuro. E, mais do que isso, são tantos os problemas que hoje o projeto do carro elétrico é uma grande interrogação.

A primeira dúvida é se realmente se trata de uma resposta mais adequada à qualidade do meio ambiente. Para isso, não basta deixar de emitir poluentes pelo escapamento. Essas mesmas emulsões podem sair por chaminés. Na matriz energética global, a energia elétrica produzida por meios de baixo impacto ambiental corresponde a apenas 32%. Ou seja, 68% da energia é produzida por termoelétricas que queimam carvão ou derivados de petróleo. Como não há nenhuma possibilidade imediata de que essa proporção seja revertida, o risco é o de que, por via indireta, o carro elétrico seja tão ou quase tão poluente quanto o movido a gasolina.

Mesmo países como o Brasil, que obtém mais de 60% de sua eletricidade por fonte hídrica, poderão ter graves problemas com o abastecimento elétrico. Se apenas 30% da frota brasileira de veículos (hoje de cerca de 30 milhões de unidades) rodasse a eletricidade, seria preciso, para garantir energia para esses carros, construir mais 13 usinas do tamanho de Itaipu. E, é bom relembrar, usina hidrelétrica não é essa maravilha ambiental que alguns imaginam. Basta levar em conta o comprometimento ecológico produzido pela destruição de florestas e pela agressão produzida pela construção de barragens de milhões de metros cúbicos de água.

Outro grave problema do carro elétrico é sua baixa autonomia. Até agora as baterias construídas pela indústria oferecem, em média, autonomia para cerca de 100 km. A recarga demora, no mínimo, meia hora. Mas pode levar mais de seis horas, se for feita em tomada convencional de 240 volts.

A troca de baterias, como antigamente se trocavam os cavalos nas estalagens ao longo das estradas, parece uma possibilidade remota. Cada montadora vai desenvolvendo o seu próprio modelo não substituível pelo da outra. Além disso, como a bateria corresponde a 34% do valor do veículo, parece improvável que o proprietário se sujeite a trocas de bateria do seu veículo sem conhecer o estado de conservação e as condições de durabilidade da que será incorporada. Nem mesmo as companhias de seguro deverão aceitar algo desse tipo.

Há mais problemas e riscos associados à bateria. Ela é um componente muito pesado (cerca de 500 kg), o que compromete o desempenho do veículo. Há quem argumente que, dentro de mais alguns anos, os engenheiros terão conseguido desenvolver baterias menores, mais baratas e mais duráveis. Mas esse é apenas um palpite ou, talvez, uma aposta. O fato é que as montadoras vêm desenvolvendo o carro elétrico há pelo menos 15 anos e, até agora, não conseguiram grandes progressos nesse quesito.

Enfim, Carlos Ghosn pode estar carregado de razão. O veículo elétrico tem tudo para ser o carro do futuro. Mas esse futuro parece estar muito distante.


CONFIRA

Insatisfatório demais

Na sua edição do dia 26, uma das mais respeitadas publicações da Europa, a revista alemã Der Spiegel, publicou matéria sobre o carro elétrico. Lá ficou dito que os projetos apresentados pelas montadoras vêm desembocando em produtos pesados demais, caros demais, complicados demais e insatisfatórios demais.

Mudança de padrão

E avisa que o carro do futuro, movido a eletricidade, não pode ser um modelo qualquer de hoje dotado de uma superbateria. Tem de partir de padrões completamente novos.

Leve mas caro

A única montadora que projeta um carro elétrico com essa filosofia é a BMW. A ideia é substituir a carcaça de aço pela de um polímero reforçado com fibra de carbono (PRFC), um material que apresenta a metade do peso do aço, mas cujo custo é 50 vezes maior. Por aí já se pode conferir qual é o problema dessa solução. Mas há outro. Se o PRFC for a solução para o carro elétrico, é mais ainda para o carro convencional.

JOSÉ NÊUMANNE

Mão estendida para saudar ou para beijar?
José Nêumanne 

O Estado de S.Paulo - 05/01/11

As primícias de Dilma Rousseff na Presidência provocaram neste Quase-Velhinho de Uiraúna esperanças próprias da Velhinha de Taubaté, mas também frustrações. Antes, a boa notícia: seguindo roteiro traçado em casos clássicos, como o de Eurico Dutra, em 1946, e os mais recentes de Tancredo Neves ao inaugurar a Nova República e Itamar Franco ao substituir Collor, ela prometeu um governo de "união nacional". E estendeu a mão aberta para a oposição, dizendo-se "presidenta" (céus, teremos de conviver com esse barbarismo por, pelo menos, quatro anos!) de todos os brasileiros, um truísmo que não quer dizer necessariamente inclusão, mas, pelo menos, respeito. Aliás, a mão pode estar sendo estendida não para ser apertada em sinal de concórdia (ah, se fosse!), mas, sim, para ser beijada por súditos leais e fiéis. Posso estar enganado, mas há entre os discursos bem-intencionados de Sua Excelência e a prática de seus primeiros quatro dias uma distância que pode ser comparada com a dos fossos dos castelos medievais, protegendo-os de intromissões da planície.

O pontapé inicial de seu antecessor e eleitor-mor da República Luiz Inácio Lula da Silva jogou para escanteio dúvidas que poderiam ainda subsistir quanto à prudência com que comandaria a política econômica, ameaçada pelo medo da ruptura com o mercado; e, sobretudo, com a estabilidade monetária e fiscal. Se a sucessora quisesse provocar surpresa similar, poderia, em vez de estender a mão, ter acenado com alguns gestos que, do alto da tribuna da primeira magistratura, sinalizassem ao povo todo, e não só aos militantes postados sob chuva na Praça dos Três Poderes, que a passagem da faixa presidencial poria fim aos hábitos de perdoador-geral de amigos e aliados de ocasião e inquisidor-geral dos adversários do patrono.

Nada indica que algo mudará na Corte da filha do búlgaro. Antes mesmo de ser empossada, ela leu nos jornais que seu escolhido para o Ministério do Turismo, o deputado Pedro Novais, do PMDB, que representa o Maranhão e mora no Rio (sendo esta a única condição que o aproxima do tema da pasta), pagou uma conta de R$ 2.156 num motel em São Luís. A mão estendida poderia ter sido usada para indicar ao incauto o rumo da porta de saída. Tivesse ela um assessor para cobrar gestos capazes de garantir que suas belas promessas se confirmariam com fatos positivos, teria dado o bom exemplo. É de duvidar que os paraninfos do indicado, José Sarney e Henrique Eduardo Alves, não tivessem à mão uma miríade de afilhados, alguns mais bem dotados para o posto, para substituí-lo. Mas ela não o fez.

A solução dada para o incômodo foi tipicamente lulista. Com a mesma desfaçatez com que o ex e atual presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, argumentou que homenageava o molusco ao dar o nome de Lula ao campo de petróleo que se chamava Tupi, o ministro de Relações Institucionais, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), disse que não se vai a um motel necessariamente para fazer amor. Com a gratidão garantida de todos os adúlteros que, flagrados entrando ou saindo dessas hospedarias de alta rotatividade, poderão argumentar que foram lá apenas para disputar um ingênuo torneio de gamão, o responsável pelas relações entre os Poderes Executivo e Legislativo chamou todos os brasileiros de idiotas. E seguiu à risca o cânone petista de tergiversar quando não há como explicar: ninguém está interessado - a não ser a mulher dele - no que o ministro foi fazer no motel. A questão é que pagou a conta com dinheiro público.

Aliás, a "gerentona" Dilma não perdeu outra oportunidade de mostrar que repetirá a prática das duas gestões Lula de fugir pela tangente, contando com o entorpecimento do público pagante, causado pela bonança econômica. A ministra da Pesca, Ideli Salvatti, derrotada na eleição para o governo do Estado de Santa Catarina, recebia auxílio-moradia, mesmo residindo em imóvel funcional. Como no caso de Novais, ela recorreu à heterodoxia habitual no PT: acusou um assessor de haver cometido um erro administrativo, não o identificou e reembolsou a viúva. Foi assim confirmada a jurisprudência petista para o abuso de poder: a devolução é a única exigência para o aliado ser perdoado.

Esse contraste entre as boas intenções e as práticas nefandas foi mais chocante na festa da posse. Pois, logo após ter prometido combate implacável à corrupção e aos malfeitos, a presidente recebeu cumprimentos no Palácio do Planalto de duas pessoas que não poderiam estar entre os dignitários da República ou do exterior que tiveram acesso a ela. José Dirceu responde no Supremo Tribunal Federal (STF) à acusação de ter chefiado uma quadrilha. Pode ser absolvido, mas ainda não o foi. Por que não esperar para brindar na festa da eventual absolvição? É possível argumentar que o ex-chefe da Casa Civil controla a máquina do Partido dos Trabalhadores (PT), na qual Dilma é neófita. Mas, mesmo assim, sua presença afrontou a boa moral republicana.

Nem essa atenuante existe para o caso de Erenice Guerra. Demitida da Casa Civil por suspeita de corrupção, ela é politicamente um zero à esquerda e só entrou no primeiro escalão federal por indicação da própria Dilma, que, aliás, negou tal fato mais de três vezes na campanha eleitoral.

Iniciados os trabalhos, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, com desenvoltura de porta-voz oficioso de Lula, em entrevista à Folha de S.Paulo lançou de novo a precoce candidatura do ex-chefe, cujo gabinete chefiou, em alerta à oposição de que este seria "um Pelé na reserva". Reincidente na afronta a Dilma e à Nação que a elegeu e torce muito pelo sucesso do governo dela, e não pelo malogro que tiraria o ex-presidente do banco, o protagonista do escândalo de Santo André não foi sequer admoestado.

Para ter apertada ou beijada a mão estendida Dilma deveria ser mais assertiva e menos retórica: a ação precisa corresponder à fala.

ESCRITOR E JORNALISTA, É EDITORIALISTA DO "JORNAL DA TARDE

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

A cizânia
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/01/11

Na temporada de conspirações que precede a eleição da Mesa da Câmara, o PT já desconfia até dos seus. No caso, de Arlindo Chinaglia (SP), que estaria insuflando opções ao correligionário e candidato oficial, Marco Maia (RS). Petistas enxergam o dedo de Chinaglia, ex-presidente da Casa, na especulação de que Sandro Mabel (PR-GO) poderia concorrer.
Outros, porém, atribuem o projeto Mabel aos peemedebistas Henrique Alves (RN) e Eduardo Cunha (RJ), interessados em dar um susto no PT devido aos reveses sofridos na montagem do governo de Dilma Rousseff. Mas só um susto, porque, para levar a presidência em 2013, o PMDB teria de apoiar o PT agora.


Diagnóstico Durante reunião com Marco Maia e mais uma dezena de correligionários, no domingo passado, Chinaglia disse considerar a eventual candidatura de Aldo Rebelo (PC do B-SP) "boa" para o postulante petista, pois ela teria o poder de inibir "aventureiros". A declaração deixou os colegas com a pulga atrás da orelha.

A postos De Aldo, sobre a perspectiva de vir a disputar o comando da Câmara: "Eu estou com as tropas na fronteira. Não cruzei, mas elas estão acantonadas".

Pode esquecer Desalojados de postos na Saúde pelo novo ministro, Alexandre Padilha (PT), os peemedebistas avisam: agora é que não existe chance de o partido apoiar a recriação de um imposto para o setor.

Conta outra 1 De um cardeal petista, sobre o mais novo defensor de um salário mínimo superior a R$ 540: "2011 chegou e, de repente, o PMDB passou a se preocupar com os trabalhadores".

Conta outra 2 De um cardeal peemedebista, sobre o que lhe parece ser a estratégia do PT: "Eles tentam construir uma narrativa segundo a qual, para se mostrar dura e correta, Dilma tem que extirpar o PMDB da máquina. Como se Zé Dirceu e Erenice nunca tivessem existido".

Eu não José Sarney (PMDB-AP) nega ligação com Alexej Predtechensky, diretor-presidente do Postalis. "Conheço-o apenas superficialmente". À frente do fundo de pensão dos Correios, ele fez investimentos em empresas controladas por pessoas que, segundo a PF, são ligadas a Fernando Sarney, filho do senador.

Agenda verde Depois de reunir mil pessoas no evento de transmissão de cargo mais concorrido da sucessão paulista, o secretário Bruno Covas (Meio Ambiente) se empenha em pregar cooperação com o PV, que desejava a pasta e acabou ficando com o Saneamento.

Linha direta Fábio Feldmann, cotado inicialmente para a secretaria, prefere considerar que o compromisso com as 43 propostas "verdes" foi selado diretamente com Geraldo Alckmin: "Fui secretário e sei que é o governador que administra os conflitos do cargo."

Palacianos Com a ida de Fábio Lepique para a Secretaria Particular de Alckmin, o advogado Orlando de Assis Baptista, fiel escudeiro do governador nos mandatos anteriores e na campanha eleitoral, assume assessoria especial no Bandeirantes.

Filtro O tucano escalou Rubens Cury para a Subsecretaria de Relações com os Municípios, responsável pelas demandas dos prefeitos.

Regra 3 O colegiado de Assembleias Legislativas fará reunião extra para adotar conduta uniforme na convocação de suplentes. A dúvida é se privilegiam partidos ou coligações na lista de espera.

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Erenice festejava a posse da amiga, o sepultamento da sindicância e, quem sabe, a volta do filho pródigo às hostes do Planalto."
DO DEPUTADO OTÁVIO LEITE (PSDB-RJ), sobre o reencontro da ex-ministra da Casa Civil com Dilma Rousseff um dia antes de ser absolvida na investigação interna sobre a prática de tráfico de influência no governo.

contraponto

Na mosca


Na noite da frustrada tentativa de aprovação do projeto que legaliza os bingos, em dezembro passado, José Eduardo Cardozo (PT-SP), agora ministro da Justiça, chegou todo esbaforido ao plenário:
-Eu não poderia deixar de vir votar!
-Votando a favor, né?-provocou um colega.
Ao que Chico Alencar (PSOL-RJ) comentou:
-Ele quer evitar mais problemas na pasta...
Cardozo sorriu, balançando afirmativamente a cabeça, e um outro deputado completou:
-Acertou, Chico. Bingoooo!!!