domingo, dezembro 18, 2011

Viúva Livre - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 18/12/11
A viúva da Mega Sena diz que tentou convencer o marido a se mudar para MG antes de ser assassinado; ela pode herdar R$ 100 milhões e diz que agora só pensa nos filhos e neta

Justiça inocentou Adriana Almeida, 34, acusada de ter matado o marido, Renné Senna, em 2007, depois de ele ter ganhado R$ 52 milhões na Mega Sena. Mas, diz ela, o drama em que sua vida se transformou está longe de acabar. "Eu não descanso enquanto não pegarem o culpado", diz à repórter Thais Bilenky enquanto toma café da manhã numa padaria em Arraial do Cabo (RJ), onde vive.

De calça legging verde limão, regata cinza e cabelos soltos, a loira pede à balconista Nazaré "o [pão com] ovo que ela sabe que eu gosto". Mais café com leite e suco de laranja. Diariamente, Adriana sai de casa em sua Pajero prata às 9h30. Passa na padaria e segue para a academia Hidro Center, onde malha por duas horas.

Ela retomou a rotina há dias. No início do mês, o Tribunal do Júri de Rio Bonito, na baixada litorânea fluminense, decidia se Adriana era mandante do assassinato de Renné. Foram cinco de dias de tensão, sem que soubesse se passaria os próximos anos na cadeia. "Foi a maior barra da minha vida. Só eu sei."

Ex-lavrador, Renné Senna ganhou o prêmio em 2005. Ele não tinha as duas pernas, devido ao diabetes.

Em 2006,
 Adriana e ele começaram a namorar. Logo decidiram se mudar para a fazenda que o novo milionário havia comprado, próxima a Rio Bonito.

Em 2007, Renné Senna foi morto a tiros em um bar da cidade. Suspeita, a ex-cabeleireira chegou a ficar presa por um ano e meio.

A viúva da Mega Sena, como Adriana ficou conhecida, acusa Renata Senna, filha de Renné, pela morte do marido. "Ela já ganhou, em quatro anos, R$ 2 milhões com o inventário da fazenda [dinheiro que a Justiça liberou para manutenção da propriedade]. Agora, você já viu como tá a fazenda? Completamente abandonada. E eu? Não tirei dinheiro nenhum com essa história até hoje. A quem interessava a morte do Renné?", pergunta.

A defesa de Renata nega sua autoria e diz que vai atuar para a anulação do julgamento da viúva.

Adriana afirma que não sente raiva. "A mídia consegue denegrir a reputação das pessoas. Pintaram uma imagem de monstro pra mim. Disseram que eu tinha acabado de conhecer o Renné. É por isso que eu confio na justiça de Deus. Pode demorar um ano, cinco ou dez anos, mas vai acontecer."

"A minha consciência está limpa. Eu e todo mundo que me conhece está tranquilo. Por isso, eu ando de cabeça erguida e vou continuar andando. Porque a justiça de Deus pode tardar, mas não falha." Cercada por jornalistas nas últimas semanas, Adriana evita ficar à toa na rua, mas não deixa de fazer suas coisas, como levar o filho à escola. "Sou uma pessoa tranquila. Não oscilo."

A fazenda que Renné comprou era "maravilhosa". Adriana diz que tentou convencê-lo a se mudar para Minas Gerais. "Ele queria morar em área rural. E aqui era muito conhecido. Mas gente de mais idade, hoje eu entendo, não troca o certo pelo duvidoso, sabe?" Renné foi assassinado aos 54 anos; Adriana tinha, então, 30.

Pouco antes do crime, Adriana comprou o apartamento onde mora até hoje com os dois filhos menores (ela tem três, e uma neta). É um dos quatro dúplex da cobertura do edifício Stillu's, que se destaca em Arraial do Cabo pelo elevador, artigo de luxo que raros edifícios locais têm. Fica no valorizado bairro da Prainha. Tem três suítes e dois lavabos. Está avaliado em cerca de R$ 230 mil. O condomínio é de R$ 300. Ela gosta de Búzios, mas lá só pode morar quem tem "muuuuuita condição".

Adriana tem optado por fazer suas coisas sempre de carro, escondida pelos vidros escuros da Pajero com placa de Curitiba.

Os vizinhos, que tanto falam dela, raramente a veem conversando com alguém. Passa um bom tempo na academia. Mas nem lá se solta. "A Adriana é objetiva. Chega na academia e faz o que tem que fazer, não fica de papo. Por isso melhora o condicionamento físico rápido. Às vezes, ela faz exercício aeróbico, mas foca na musculação", diz o instrutor, que se apresenta como Chuchu.

Pernas grossas, bronzeado discreto, lábios carnudos: Adriana conquistou esse corpão nos últimos anos. Quem a conhecia antes de se mudar para Arraial diz que ela era magrinha, sem graça. Os cabelos longos, loiros e alisados estão sempre com aparência limpa e arrumada. Uma vez por mês vai ao salão Elle et Lui fazer luzes.

O pedreiro da rua, Daniel Santos, acha que ela bonita "só de rosto. O corpo não gosto, não. As pernas são muito arcadas, parece de jogador". O estudante Gustavo Lins, 18, que está passando as férias em um apartamento do Stillu's, acha a vizinha "uma gata". A "viúva negra", como diz, é também simpática: "Sempre me dá bom dia".

Vaidade ela tem. Mas não como André Castilho, com quem acaba de terminar o namoro. "Ele era desses caras que não têm condições [financeiras]. Quando ganha um dinheirinho, gasta para retocar a tatuagem. Pô, brocha qualquer um, né? Não sei se fui eu que amadureci, mas ele é infantil demais. Por isso que eu gosto de homens mais velhos", diz Adriana. A ex-cabeleireira admitiu, em depoimento à Justiça, ter tido casos extraconjugais enquanto estava casada com Renné. Justificou-se dizendo que, por conta da diabetes, ele não conseguia ter relações sexuais. Desde sua morte, teve outros namorados.

"Estou solteiríssima. Não me vejo com homem nenhum agora. Estou bem sozinha, com meus filhos e minha neta. É incrível como ela parece comigo. É a única loira da família. Acho que foi de tanto eu oxigenar."

Adriana tem planos para o futuro, como viajar para o exterior. Mas nada é pra já. Diz que só vai fazer isso quando considerar que o caso da Mega Sena estiver encerrado. O Ministério Público entrou com recurso contra sua absolvição. Se a Justiça acatar, seu julgamento será retomado -hipótese "muito pouco provável" para seu advogado, Jackson Costa.

A herança de Renné Senna hoje é avaliada em R$ 100 milhões. Mas o dinheiro ainda não tem dono. Se Adriana for definitivamente absolvida, terá direito a metade da fortuna; a outra metade ficaria com a filha dele, Renata. "Eu vou continuar com o meu jeito de ser. Com R$ 1, R$ 2, R$ 1.000 ou R$ 100 milhões. Vou continuar levando a vida do meu jeito, fazendo as coisas que eu gosto. Claro, se ficar [com a herança do marido], algumas coisas vão mudar. Mas não vou deixar de ser eu por dinheiro nenhum."

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