sexta-feira, dezembro 02, 2011
Sentinelas da ética - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 02/12/11
É possível que quando este artigo sair do forno o país já tenha um novo ministro do Trabalho. Possível e desejável.
A pá de cal pode ter sido a decisão da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, quarta-feira. Por unanimidade, os sete conselheiros recomendaram a exoneração do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, acusado, com fartura de provas, de ter relações íntimas demais com ONGs que mantêm convênios com o seu ministério.
Dilma Rousseff não é obrigada a concordar com as recomendações da comissão. Ela teria dito que agirá sem pressa e sem pressão. Entende-se: quem ocupa o mais alto cargo político e administrativo do país obviamente detesta tomar decisões que não sejam de sua própria iniciativa e sim propostas - alguns diriam que, neste episódio, seria mais correto falar em exigências - de partidos políticos, com evidente apoio da mídia e da opinião pública.
Uma solução possível para o impasse seria a demissão voluntária do ministro. Mas Lupi, pelo menos até agora, tem insistido em jurar inocência, com apoio do PDT. Deputados do partido reagiram à decisão da Comissão de Ética de duas maneiras: publicamente, defenderam o seu ministro - "a comissão é muito politizada", chegou a dizer um pedetista - mas, reservadamente, lamentaram que ele ainda não tenha protegido o partido largando o ministério.
Para a presidente, obviamente a melhor solução seria a demissão espontânea de Lupi. É sabido que ele não sobreviverá à reforma do Ministério marcada para janeiro. Mas é óbvio que ele prefere sair numa reformulação da equipe por motivos políticos - e não porque foi denunciado por mau comportamento.
Se Dilma decidisse atender à recomendação da Comissão de Ética, estaria, sem nenhum prejuízo para a autoridade do Executivo, prestigiando um órgão que certamente merece ser levado a sério pelo Executivo - e sem com isso dar qualquer sinal de fraqueza do Planalto.
Afinal de contas, se Lupi está destinado a ser mandado para casa - e ninguém duvida que isso acontecerá no mês que vem - a demissão antecipada seria simplesmente o reconhecimento de que a presidente reconhece a importância da existência de sentinelas da ética em Brasília.
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