quinta-feira, dezembro 15, 2011
Remendo na periferia - CLAUDIA ANTUNES
FOLHA DE SP - 15/12/11
RIO DE JANEIRO - A comparação mais frequente entre Rio e São Paulo põe a primeira como a cidade da convivência entre classes, imperfeita que seja, em contraste com a segregação paulistana.
O Rio, no entanto, tem sua periferia distante, bairros da zona oeste (Campo Grande, Santa Cruz, Realengo, Bangu) que ficam a até 45 km do centro. Rural e industrial no passado, a área ganhou densidade com a ocupação das vizinhas baixadas litorâneas da Barra e de Jacarepaguá, nas últimas quatro décadas.
Os conjuntos habitacionais de Vila Aliança e Vila Kennedy, para onde o governador Carlos Lacerda (1960-65) removeu moradores de favelas da zona sul, prenunciaram a concentração na área de migrantes e pobres. O movimento coincidiu com a degradação da rede ferroviária e a desativação dos 400 km de trilhos de bondes.
Incluindo as duas baixadas, abertas à exploração imobiliária sem planejamento de acesso por transporte de massa, a zona oeste é onde o Rio mais cresce. Tem 41% dos cariocas, mas só duas UPPs. É terra de milícias e a única com terrenos acessíveis ao programa Minha Casa, Minha Vida, tornado exílio de trabalhadores.
Grande parte dos gastos do Rio para a Copa e a Olimpíada será ali. O plano tenta remendar e, ao mesmo tempo, reforça o padrão equivocado de expansão da cidade.
Os prédios da futura Vila Olímpica pretendem, no pós-competição, atrair mais classe média para o ponto nobre da zona oeste, perto do mar. Para transportá-la, e aos vizinhos menos afortunados, o predomínio rodoviário será mantido. Está em construção um rabicho de metrô, até o início da Barra, mas a solução dada para o gargalo do tráfego serão os BRTs, ônibus com faixas exclusivas.
Especialistas têm apontado que a capacidade desse sistema tende a se esgotar rápido. Se isso se confirmar, o Rio terá perdido a oportunidade de integrar todo o seu território.
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