sábado, dezembro 31, 2011
Qual será o tamanho da crise? - ROMEU CHAP CHAP
O Estado de S.Paulo - 31/12/11
Vivemos mais um momento de turbulência internacional. Muito além dos bancos, o que agora está em jogo é a União Europeia. O bom senso obviamente deverá prevalecer. Países são pessoas, e pessoas precisam ter condições de viver. Egos e fronteiras não estão acima disso. É claro que o Brasil não está imune. Mas não podemos sofrer por antecipação, ignorando nossas reais condições de desempenho econômico. Assim, há que colocar freio a alguns exageros, a um pânico fora de hora que em nada contribui para fortalecer o País e lhe garantir condições de superar mais essa crise.
O governo federal se mostra confiante. Como declarou recentemente o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda tem bala na agulha. E deve ter mesmo, pois, em termos de fundamentos, estamos bem resguardados. Basta lembrar como enfrentamos a crise de 2008.
No que se refere ao setor imobiliário, a munição é consistente, permitindo que a construção se mantenha na posição de carro-chefe do crescimento do PIB. E isso se deve a um vetor fundamental: crédito.
Conforme projeções, e considerados todos os tipos de financiamento existentes, os potenciais compradores de imóveis terão à disposição, em 2012, cerca de R$ 130 bilhões, montante mais de 20% superior ao aplicado em 2011.
Segundo estimativas da Câmara Brasileira da Construção Civil (Cbic) e da Caixa Econômica Federal - que responde por 75% das operações de crédito imobiliário em âmbito nacional -, esses recursos são suficientes para financiar mais de 1,5 milhão de unidades. Aliás, esse é o volume anual de moradias que o País precisa produzir, e durante os próximos 15 anos, para eliminar o atual déficit de habitações e atender ao natural crescimento da demanda.
Quanto à elevação dos preços dos imóveis, a tendência é de estabilização. A alta recente foi uma espécie de recuperação, retornando aos níveis dos anos 90. Agora, o fator determinante é o valor dos terrenos, que, cada vez mais escassos em cidades como São Paulo - até pela legislação do uso e ocupação do solo mais restritiva -, continua sendo o viés imponderável. E a opção das empresas, de construir em cidades vizinhas, só faz prejudicar problemas como o da mobilidade, uma vez que as pessoas continuam trabalhando na capital paulista.
De maneira geral, o cenário brasileiro, marcado por um nível baixíssimo de desemprego, favorece o mercado imobiliário. Com renda, a população busca realizar o sonho da casa própria e faz qualquer sacrifício para preservá-la, fato comprovado pelos atuais índices de inadimplência no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo: apenas 1,4%.
E não é possível pensar que o ambiente seja promissor apenas para as atividades imobiliárias. Certamente, outros segmentos produtivos também são beneficiados pelo consistente mercado consumidor doméstico, bem como pelas medidas anticíclicas que o governo adota para combater os riscos de desaceleração econômica, como redução dos juros e desoneração de impostos. Assim, fica a sensação de que vivemos desnecessária paranoia endêmica. Baixa o espírito da boiada e todos saem dizendo que o mundo vai acabar. Dizem tanto que terminam por precipitar o que nem sequer se anunciou de forma concreta.
Não devemos ingenuamente achar que tudo não passa de uma marolinha. Mas não podemos ser irresponsáveis em admitir um tsunami, parar de produzir e consumir, como se estivéssemos no final dos tempos. A situação mundial é complexa. Não cabe fazer pouco dela. Mas qual será o tamanho da crise para o Brasil? Aquele que decidirmos dar a ela.
Racionalmente, o Brasil precisa cuidar mais de si, até para poder ajudar aqueles países que se encontram em maior dificuldade. Tudo é questão de equilíbrio. Já tivemos os olhos maiores que a barriga. Houve quem encheu muito o prato, não deu conta de comer tudo e sentiu baque além do necessário quando o céu deixou de ser de brigadeiro. Porém, olhos medrosos e apertados acabam por deixar sobrar prato na comida.
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