quarta-feira, dezembro 14, 2011

Pimentel estupidifica seus aliados - ELIO GASPARI

FOLHA DE SP - 14/12/11


A defesa da Bolsa Consultoria que o ministro arrumou na Fiemg ofende a inteligência alheia



Admita-se que um admirador de Fernando Pimentel e de Robson Andrade, ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, atual titular da Confederação Nacional da Indústria, recorra aos dois doutores buscando argumentos para defendê-los. Em 2009, ao deixar a Prefeitura de Belo Horizonte (salário de R$ 18 mil líquidos), o atual ministro do Desenvolvimento contratou uma consultoria com a Fiemg e recebeu R$ 1 milhão por nove meses de sabe-se lá o quê. (Há três outros, que lhe renderam mais R$ 900 mil, com empresas privadas.)

Na sua primeira explicação, Pimentel disse o seguinte: "Não embolsei R$ 2 milhões. Entrou mesmo R$ 1,2 milhão, R$ 1,3 milhão que, dividido por 24 meses, equivale a R$ 50 mil mensais. (...) Foi a forma que eu tive de ganhar dinheiro e sobreviver".

Noutra oportunidade, foi mais explícito: "Estou dizendo, alto e bom som, sou amigo da maioria dos empresários de Belo Horizonte -e talvez de Minas Gerais. Se isso for crime, sou criminoso".

Pimentel sobrevivia com seu salário, mas fora da prefeitura, precisou de R$ 50 mil e metade veio da Fiemg, cujos cofres são alimentados por contribuições compulsórias coletadas na folha de pagamento das empresas. Os contratadores da P21 são todos amigos de Pimentel, mas nem no tempo das minas de ouro aspergia-se riqueza com semelhante liberalidade. Amizade não envolve necessariamente dinheiro. As panicats, por exemplo, são amigas de Rodrigo Minotauro por nada.

O contratador Robson Andrade defendeu Pimentel com dois paralelos. O primeiro foi comunicado ao ministro, que o repetiu: "Esteve lá o Fernando Henrique. Passou a manhã, conversou, tomou café, não me lembro se almoçou. Cobrou R$ 80 mil pela conversa, pela consultoria. E foi pago". Falso. FHC respondeu: "Eu cobro por palestras. Não recebi da Fiemg o referido montante nem qualquer outra remuneração, pois não fiz palestras lá. Devem ter se enganado de pessoa".

No segundo paralelo, o doutor Robson citou um caso real: "Em outubro, o ex-assessor de Obama, Lawrence Summers, cobrou US$ 150 mil para passar um dia com a gente". De fato, Summers esteve no Encontro Nacional da Indústria, onde fez uma palestra. Quem pagou para ele passar um dia "com a gente"? A "gente" que passou o dia com ele, ou a caixa dos pagamentos compulsórios? Perguntada, a CNI ainda não respondeu. Em abril virá a Pindorama para o show Lollapalooza a banda inglesa "The Arctic Monkeys". Certamente cobrará mais que o solo de Summers. Quem pagará? A "gente" que quiser ouvi-la, e ninguém terá nada a ver com isso.

O admirador de Pimentel e de Andrade ficará constrangido ao justificá-los com semelhantes argumentos.

Na blindagem do ministro, o presidente do PT, Rui Falcão, teve um momento de retórica desafortunada. Ele disse o seguinte: "Pela sua história de vida e conduta pública o ministro Fernando Pimentel está acima de qualquer suspeita". Falcão tinha 27 anos em 1970, quando os cinemas mostravam o filme "Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita", com inesquecível desempenho de Gian Maria Volontè e a participação, como vítima, da brasileira Florinda Bolkan. Obra-prima do cinema político italiano, ganhou o Oscar e a Palma de Cannes. Volontè era o assassino. Por mais pistas que tivesse deixado, ninguém admitia suspeitar dele. Simbolizava o poder de um aparelho corrompido.

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