O GLOBO - 13/12/11
Tudo que um governante mais deseja é uma desculpa para aumentar gastos. Quando ela vem embalada por uma teoria econômica, melhor ainda. Eis o que explica a popularidade do "desenvolvimentismo". Ninguém gosta de austeridade quando está no poder. A economia brasileira ficou estagnada no terceiro trimestre, e deve crescer menos de 3% este ano (o ministro Guido Mantega previa 5,5%). Falta ao país uma dinâmica sustentável de crescimento. Mas, como o governo não faz reformas estruturais que permitiriam um vôo de águia, resta retomar os estímulos artificiais e produzir novo vôo de galinha. Os "desenvolvimentistas" apontam apenas em uma direção. Nunca se lembram do termo "anticíclico" na era da bonança. É raro ver um deles pregando redução de gastos públicos ou aumento de juros durante os momentos de rápido crescimento e risco inflacionário. Nestas horas eles somem. Quando a economia ameaça esfriar, eles voltam demandando estímulos. O foco é sempre no curto prazo. Como disse o grande guru deles, "no longo prazo estaremos mortos". Esquecem que hoje é o longo prazo de alguns anos atrás. O governo Dilma já anunciou novos pacotes de estímulos e mais aporte de capital nos bancos públicos. Onde foram parar aqueles "cortes" prometidos de R$50 bilhões nos gastos públicos? E a redução dos empréstimos do BNDES? A "Bolsa-Empresário", ao contrário, vai receber mais recursos! O problema é que cada novo estímulo produz mais inflação que crescimento. O resultado pode ser a conhecida estagflação. O governo brasileiro parece mirar no modelo chinês, mas ignora diferenças cruciais. A China pratica a maior arbitragem de mão de obra da história, mergulhando tardiamente em sua revolução industrial, com um exército de chineses dispostos a trabalhar 18 horas diárias por salários pífios. O investimento passa de 40% do PIB, mais que o dobro do Brasil. Mesmo assim, há claros sinais de esgotamento do modelo chinês. A inflação incomoda e houve péssima alocação de capital, pois as decisões são políticas, com desrespeito ao livre mercado. O governo realizou um gigantesco programa de estímulo após a crise de 2008, mas a conta chegou. Será inviável continuar crescendo 10% ao ano. A desaceleração chinesa vai gerar impactos negativos em nossa economia, dependente da exportação de recursos naturais. O modelo mais parecido com o nosso pode ser, na verdade, o argentino, com acelerada inflação, controle estatal crescente e perda gradual de competitividade. O governo populista de Kirchner tenta quebrar o termômetro em vez de consertar os rumos da economia. O IBGE de lá, que calcula a inflação, foi politizado e perdeu totalmente sua credibilidade. Ainda não estamos nesse estágio. Mas quem garante que o governo, no desespero de salvar o crescimento imediato a qualquer custo, não vai seguir esta trilha? O risco claramente existe. A conta das políticas "desenvolvimentistas" vai chegar cedo ou tarde, com juros. Enfrentar a dura realidade não será tarefa fácil. O crescimento sustentável depende de investimentos em capital físico e humano, além de um ambiente favorável aos negócios. Tudo aquilo que nos falta. O governo brasileiro expande o crédito público, reduz os juros na marra, sobe o salário mínimo por decreto, arrecada imposto demais, e gasta muito mal. Trata-se claramente de um modelo insustentável, com foco demasiado no curto prazo. A economia brasileira ganhou na loteria chinesa e está gastando por conta, hipotecando seu futuro. Parece uma cigarra irresponsável, acreditando que o verão será eterno. Mas o inverno inexoravelmente chegará. O governo não tem como impedir este fato com mais estímulos. Isso pode apenas postergar um pouco o encontro com a realidade. Em contrapartida, aumentará o sofrimento futuro também. Não existe almoço grátis. O "desenvolvimentismo" nunca conseguiu produzir prosperidade de forma sustentável. Ele ignora as verdadeiras causas da riqueza das nações. Ao focar somente no curto prazo, e ao depositar uma fé ingênua na capacidade do governo de atuar como locomotiva da economia, a cartilha "desenvolvimentista" estará sempre fadada ao fracasso. Não será diferente desta vez. O Brasil pode estar na moda. Mas moda passa. Melhor aproveitar enquanto a festa continua, pois depois virá a ressaca e não vai adiantar culpar o "mercado" (vide a Europa). As sementes da próxima crise foram plantadas pelo próprio governo. Mas quem liga? O show precisa continuar. Afinal, vem eleição aí... RODRIGO CONSTANTINO é economista. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário