segunda-feira, dezembro 12, 2011
O enigma da social-democracia - PAULO GUEDES
O GLOBO - 12/12/12
Prosseguem as quedas de ministros envolvidos em denúncias de corrupção. A opinião pública esclarecida apoia a presidente na remoção dos suspeitos de envolvimento nas práticas políticas degeneradas expostas pela mídia. Os anjos caídos sempre se escudam em ameaças à governabilidade. Seus ressentimentos podem se traduzir em eventual retirada de apoio parlamentar. Mas se o governo não quer ser pautado pelo noticiário e precisa de sustentação no Congresso, tem também o bom-senso de deixar claro que não aprova as manobras dessas criaturas do pântano. Por que não ocorre então a reforma política? Esse é o enigma que devora a social-democracia hegemônica.
Uma linha lógica costura os fatos nos últimos 40 anos de nossa História. Os militares no Antigo Regime e a social-democracia hegemônica desde a redemocratização empurraram os gastos públicos de menos de 20% para quase 40% do produto interno bruto brasileiro. Infelizmente, a hipótese de corrupção sistêmica tem aqui suas raízes profundas, penetrando muito além da superfície política. Envergonhou os militares, devastou a "direita" fisiológica e desmoralizou a social-democracia brasileira, atingindo sucessivamente os grandes partidos de "esquerda" - PMDB, PSDB e PT -, que se revezam no poder há sete mandatos presidenciais, com uma breve interrupção de um presidente que sofreu o impeachment... teria sido por corrupção ou por isolamento?
É lamentável que se possa pensar de boa parte da classe política brasileira o que disse a historiadora Barbara Tuchman a propósito dos papas renascentistas: "Eles se recusaram a mudar, mantendo com estúpida teimosia o sistema corrupto existente. Não podiam mudar porque eram parte, cresceram e dependiam da corrupção. A ambição, o abuso de poder e a certeza da impunidade dirigiam seu comportamento."
Os esforços pela construção de uma sociedade aberta são registrados pela mídia. Tínhamos antes os "escândalos temáticos": o impeachment, os Anões do Orçamento, o Mensalão, os Sanguessugas, a Operação Navalha e outros mais. Como a exposição "temática" dos atos de corrupção foi perdendo seus efeitos práticos ante a persistente degeneração da política, a indignação inaugurou uma nova fase, a da "guilhotina midiática", que pega um pescoço de cada vez. Mas, de pescoço em pescoço, chegaríamos a uma maneira decente de se fazer política?
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