segunda-feira, dezembro 05, 2011

Incidente em Limeira - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA

Os políticos brasileiros, e gente que ocupa cargos públicos em geral, talvez devessem, para seu própno bem, prestar um pouco de atenção numa dessas histórias que aparecem e somem rapidamente do noticiário situado entre o mundo do crime e o da política - coisas cada vez mais parecidas, neste Brasil de hoje. Aconteceu na semana passada em Limeira, no interior do estado de São Paulo. A mulher, dois filhos e duas cunhadas do prefeito Silvio Félix, presos num rapa que dias antes havia colocado no xadrez onze pessoas ligadas à prefeitura, por denúncias de corrupção grossa, quase levam uma surra ao sair da cadeia; a Justiça, obviamente, mandou soltar todos assim que terminou o prazo de cinco dias da prisão temporária, e muita gente não gostou. Um grupo de cidadãos irados foi esperar os acusados na porta da delegacia, acertou umas pancadas em uns e outros e só não bateu mais porque a polícia não deixou. Sobrou, como imagem-símbolo dessa cena ruim, a cara apavorada da primeira-dama, refugiada no fundo de um carro da PM - além, é claro, do desconforto, comum a todos os outros, de ser chamado de "ladrão" e ter de ficar quieto.

Limeira está longe de ser um fim de mundo. Ao contrário, é um modelo daquilo que se costuma chamar, no interior, de "cidade boa". Fica a 150 quilômetros de São Paulo, tem um pouco menos de 300000 habitantes e faz parte do colar de comunidades prósperas que se estende pela região. É a mais rica do interior paulista. É a terra de nomes históricos da indústria nacional - Prada, Fumagalli, Varga. Sua economia combina as vantagens de uma área industrial dinâmica e os avanços do agronegócio. Tem boas faculdades e seu Índice de Desenvolvimento Humano, medido pela ONU, está na categoria "elevado", entre 0,800 e 0,900 - abaixo apenas do grau máximo que se pode alcançar. Infelizmente, não conseguiu ter, em termos de desenvolvimento político, os belos índices que construiu em termos de desenvolvimento humano. Limeira, nesse aspecto, é um retrato exemplar do desastre moral que marca a vida diária de tantos municípios pelo Brasil afora. Longe da atenção nacional, rouba-se numa quantidade cada vez maior de cidades e, pior ainda, rouba-se cada vez mais. Foi-se o tempo em que prefeito e vereadores se contentavam com mixaria - o dinheirinho ganho com a venda de certificados de "habite-se" ou de licenças para instalar um forno de pizza, em geral a preços moderados. Hoje em dia os delinquentes entram no ramo com a firme decisão de ficar ricos. Querem comprar fazenda, iate de 50 pés, SUV importado.

A conclusão é que Limeira vai ficando cada vez mais parecida com o Brasil da corrupção por atacado, e um número crescente de municípios vai ficando cada vez mais parecido com a Limeira de hoje. No caso que acabou explodindo na semana passada veio aos olhos do público uma história de horrores. A mulher do prefeito, os familiares e os demais envolvidos são acusados oficialmente de furto qualificado, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, falsificação e formação de quadrilha. Em seu período de atividades, segundo o Ministério Público, compraram mais de cinquenta imóveis e juntaram acima de 20 milhões de reais. O prefeito, por sua vez, não está numa situação muito melhor - foi afastado do cargo por noventa dias, por envolvimento na mesma trama. Imagina-se a recepção popular que terá se voltar à prefeitura. Quanto aos outros, o pior parece que já passou - o pior para eles, claro. Escaparam de ficar na cadeia, e é muito pouco provável que voltem para lá com uma condenação. Tudo o que podem esperar como castigo é o incômodo de ficar pagando advogado e se aborrecendo com o processo, coisa que promete ir longe; esse bonde, quando começa a andar, não para.

É muito pouco, para a população de Limeira - e é contra isso, justamente, que se levantou a sua cólera. O problema nem é tanto a corrupção. É a certeza de impunidade penal para os acusados, por conta de um Poder Judiciário e um sistema de leis organizados de maneira a impedir, na prática, que os corruptos recebam qualquer punição verdadeira, seja qual for o galho que ocupam na árvore pública; funcionam, dia e noite, exatamente para isso. Em Limeira não houve linchamento - como ocorreu, na mesma semana, com um motorista de ônibus de São Paulo, morto a pancadas depois de ter provocado um acidente, numa dessas quebradas da periferia aonde a polícia sempre chega depois. Mas a exasperação é a mesma.

É bom tomar nota.

7 comentários:

  1. Anônimo3:17 AM

    moro em Limeira e pude sentir o quanto estamos próximos das falcatruas q assolam nosso país. Q pena

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  2. Anônimo8:53 AM

    É uma pena que tenha acontecido isso com Limeira. Adoro essa cidade! passava as férias aí , na casa dos meus avós e dos meus tios! Uma cidade maravilhosa e gostava muito de passear na praça, ir ao mercado, pois minha cidade não tinha. Enfim será que Limeira vai se tornar uma Brasilia?

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  3. Anônimo10:29 AM

    É uma pena que a população seja tão ignorante a ponto de pensar certas coisas e tirar conclusões precipitadas. É triste que as pessoas não entendam que na política existam golpes. Foi o que aconteceu com eles, certamente. Também moro em Limeira e acho muita injustiça o que estão fazendo com essa família. NADA foi provado, nada foi concluído; temos que aguardar antes de tirar nossas próprias conclusões antes de irmos atras dos promotores. Espero que a população fique atenta a isso e seja menos manipulada pela imprensa.

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  4. Anônimo11:14 AM

    Gente, chequem o link abaixo:
    http://jus.com.br/revista/texto/5599/nao-pode-o-ministerio-publico-realizar-investigacao-criminal

    Como o ministério público, o GAECO, não pode investigar o prefeito pois é alçada do STJ, caso eles fizessem isso eles perderia o caso, e como eles odeiam o prefeito há tempo, o jeito foi fazer estas investigações camufladas para desmoralizar o prefeito galera! Ainda por cima, como que a GLOBO já havia ido na assembléia atrás da Constância e na casa de todo mundo antes de eles serem presos e já mostrar tudo na quinta (qdo teve a prisão) e tb no domingo? Com todo aquele negócio inventado de primeiras damas do crime: lógico, caso colocassem algo do prefeito o GAECO perde o caso e nada acontece pq realmente foi golpe de promotor irritado. abs

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  5. Anônimo4:25 PM

    Claro, acreditar que todos esses bens e posses vieram do suor e trabalho árduo da família é uma opção.

    Não poder provar nada não quer dizer que não está na cara.

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  6. Anônimo4:47 PM

    tem gente sem nocao! Ha milhares de documentos que provam que eles sao culpados... TUDO ta provado.

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  7. Anônimo6:14 PM

    Tudo voltou ao normal . O prefeito voltou pra prefeitura , independente da opinião popular . É isso ae.

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