sexta-feira, novembro 11, 2011

STERGIOS SKAPERDAS - Como deixar o euro


Como deixar o euro
STERGIOS SKAPERDAS
O ESTADÃO - 11/11/11

A moratória e o retorno ao dracma oferecem a melhor oportunidade à Grécia de crescimento econômico e criação de empregos

Depois de ter sido conduzida por uma espiral descendente e cada vez mais trágica pela zona do euro e pelo próprio governo, a Grécia se vê agora diante de duas escolhas, ambas dolorosas: manter o curso, ou declarar moratória e deixar a união monetária.

Cada uma das alternativas apresenta dificuldades e incertezas, mas, no longo prazo, não há dúvida que a moratória, e o retorno ao dracma, oferecem a melhor chance de crescimento econômico e criação de empregos.

Manter o curso - algo que, apesar da mudança iminente no governo, continua a ser o plano da Grécia - significa a continuidade da austeridade e do desemprego no futuro discernível.

Os mais jovens e mais talentosos sairão do país, deixando para trás uma população mais velha, menos produtiva e-mais necessitada,que terá de enfrentar uma dívida esmagadora.

Enquanto isso, todas as decisões econômicas importantes serãotomadas em Paris, Berlim e Bruxelas.

Uma moratória declarada por iniciativa grega, em comparação, permitiria à Grécia influenciar o próprio destino.

O processo seria regido em boa medida pela legislação grega, em vez de se tornar uma questão de debates particulares entre a chanceler alemã e o presidente francês, levando assim a um fardo mais sustentável representado pelo endividamento.

Por causa dos problemas com o financiamento dos bancos gregos e dos fundos de pensão, uma moratória provavelmente significaria também o abandono do euro. Mas isso é algo positivo, pois daria aos gregos o controle sobre a própria política monetária. Trata-se de algo especialmente importante no momento, com as severas restrições ao crédito e à liquidez na Grécia, principalmente no vital setor das pequenas empresas.

Além disso, como o "novo dracma" - provável novo nome da moeda pós-euro - seria desvalorizado, tanto o turismo quanto as exportações seriam beneficiados, reduzindo ao mesmo tempo as importações. Tudo isto faria da Grécia um país mais competitivo.

Assim sendo, por que os líderes gregos decidiram se ater ao euro? Em parte, isso decorre do fato de a ideia de declarar moratória e abandonar o euro após quase uma década ser tão intimidante.

Mas, apesar de ter seus custos, o processo seria relativamente claro, especialmente se preparativos forem iniciados nos bastidores.

Para reduzir o número de dias em que os bancos teriam de permanecer fechados, a decisão de adotar o novo dracma deveria ser tomada numa sexta-feira.

Os depósitos bancários e a dívida doméstica seriam imediatamente convertidos em novos dracmas seguindo a taxa de câmbio inicial. Caberia aos tribunais gregos determinar se o endividamento público anterior a 2010 seguiria o mesmo rumo, mas não há motivo para imaginar que este seria tratado de maneira diferente da dívida doméstica.

Mas os empréstimos concedidos pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional seriam provavelmente mantidos em euros.

Isso é um problema pois, quando a Grécia deixar a união monetária,o próprio euro vai aumentar muito de valor - e, por isso, o custo dos empréstimos em dracmas também aumentaria.

Mas, como a renda da população também seria reduzida se o país permanecesse na zonadoeuro, não haveria grande diferença nos recursos reais e produtivos necessários para quitar os encargos desse endividamento.

Mas, afora essas medidas, a transição levaria tempo. Seriam necessários talvez meses até que fossem impressos dracmas suficientes para sustentar as transações domésticas e, durante esse período, os euros permaneceriam em circulação. Os bancos também precisariam de tempo para ajustar a contabilidade, seus computadores e seus procedimentos.

Ainda assim, excluídos alguns detalhes específicos ao euro, o processo de administrar a transição de uma moeda para a outra é bem compreendido: a mudança de moeda que se seguiu à partilha da Checoslováquia, por exemplo, levou várias semanas e transcorreu bem, de acordo com a maioria dos relatos.

É verdade que tal decisão impediria o acesso aos mercados internacionais de obrigações, tornando os empréstimos bilaterais solicitados a outros países a única opção da Grécia no exterior. Mas isso é menos preocupante do que pensam alguns, porque espera-se que a Grécia logo apresente um superávit primário no orçamento (um superávit no orçamento do governo, excluído o pagamento de juros sobre a dívida), algo que tornaria suficientes os empréstimos domésticos.

Inicialmente, as reservas de divisas internacionais seriam escassas, dificultando a importação de artigos essenciais. Assim sendo, no curto prazo, a Grécia teria de limitar a saída de capital estrangeiro, uma prática agressiva, mas não incomum. A dívida externa privada de bancos e outras empresas, denominada em euros, também precisaria ser sustentada por garantias do governo.

Algumas dessas medidas podem parecer desafiadoras, mas não são muito diferentes daquilo que a Grécia enfrentava antes de aderir ao euro. Seja como for, as políticas seguidas até o momento fracassaram claramente. A Grécia precisa encarar a possibilidade - e depois a realidade - de sair da zona do euro. Quanto mais rapidamente a transição ocorrer, melhor será para todos. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

É PROFESSOR DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA EM IRVINE

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