sábado, novembro 05, 2011

LEONARDO CAVALCANTI - Haddad partido


Haddad partido 
LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 05/11/11

Como se a confusão fosse pouca, o Ministério da Educação acabou envolvido em mais um imbróglio. Refiro-me à contratação de empresas de fachada pelo Inep, o mesmo instituto responsável pelo Enem. Esse sim, o assunto que parece mais difícil de ser explicado na Esplanada



Fernando Haddad se movimenta em dois cenários públicos. No primeiro, o petista é o candidato ungido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a prefeitura de São Paulo. No segundo, ele é o ministro alvejado por críticas contra o que seria a principal vitrine da gestão à frente da pasta da Educação.

Os cenários, apesar de próprios, em vários momentos são uma extensão do outro. Haddad, o que era de se esperar, está pouco confortável nos dois papéis: o de candidato produzido por Lula e o de ministro levado às cordas. A estratégia é tentar encenar um personagem por vez, o que não é, convenhamos, tarefa fácil.

Na última semana, Haddad foi levado para o centro das controvérsias por causa da pressão exercida sobre Marta Suplicy para abandonar a disputa eleitoral em São Paulo e do vazamento da prova do Enem. Os dois assuntos podem até ser tratados em separado, mas apenas nos casos de esperteza intelectual.

Um candidato — dispute ele o cargo de síndico de prédio ou de presidente da República — leva com ele todas as ações e características. O exemplo recente é o de Dilma Rousseff, que, na campanha do ano passado, teve de responder sobre denúncias contra a então chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, a auxiliar mais próxima.

O cenário onde Haddad inicia os primeiros passos como candidato tem coadjuvantes de peso e um enredo instigante, incluindo a história de uma personagem abandonada, no caso Marta Suplicy — “não existe fúria no inferno igual à de uma mulher desprezada”, diria o dramaturgo inglês William Congreve (1670-1729).

Marta foi retirada à força da disputa com a desculpa de que nada poderia contrariar Lula enquanto o ex-presidente se trata de um câncer. É um argumento, mas que não garante a vitória de Haddad. Aliás, pacificar petistas e obter o apoio de Marta e dos aliados dela em São Paulo talvez seja a parte mais difícil da história.

Jogo de luzes
Ao pular para o cenário onde reluz o vazamento do Enem, Haddad conquistou uma pequena vitória. Ontem, como se sabe, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região suspendeu a liminar que anulava as 13 questões do exame para o todo o país, que se tornaram inválidas apenas para alunos de um colégio de Fortaleza.

Nem a desistência de Marta nem a decisão da Justiça, porém, melhoram a situação de Haddad. E, como se a confusão fosse pequena, o Ministério da Educação acabou envolvido em novo imbróglio. Ao longo desta semana, Haddad se viu numa enrascada maior do que a disputa com petistas e o vazamento das provas.

Trata-se da contratação de empresas de fachada pelo Inep, o mesmo instituto responsável pelo Enem. A repórter Alana Rizzo, deste Correio, mostrou que uma das empresas de informática tinha capital de R$ 3 mil, mas assinou contratos de R$ 12,5 milhões. Uma outra tem como donos músicos sertanejos.

A cada dia, o caso ganha novas nuances, como se fosse um saco sem fundo. O laranjal do Inep é hoje o assunto mais difícil de ser explicado na Esplanada.

Marquetagem
A história do deputado estadual Marcelo Freixo (PSol) de deixar o Rio de Janeiro em busca de proteção contra as milícias parecia uma das mais geniais ideias de marketing político. Mas deu tudo errado. O camarada disse que iria embora do país por conta das ameaças de morte. Passaria um mês fora, com o apoio da Anistia Internacional. O jornal O Globo descobriu, entretanto, que Freixo, pré-candidato a prefeito do Rio, foi convidado a dar palestras sobre a atuação das milícias.

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