sexta-feira, novembro 11, 2011

HÉLIO SCHWARTSMAN - Tráfico e violência


Tráfico e violência
 HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 11/11/11


SÃO PAULO - Sempre que um megatraficante é preso, setores da esquerda se apressam em apresentar a liberação das drogas como solução para o problema da violência urbana. Por razões filosóficas, defendo a legalização, mas isso não justifica propaganda enganosa. As evidências disponíveis sugerem que, se os tóxicos fossem legalizados, a violência, pelo menos num primeiro momento, aumentaria.
Roy Baumeister, por exemplo, mostra que a chegada do crack a Los Angeles, nos anos 90, reduziu as disputas entre gangues. Em vez de trocar tiros, antigos rivais passaram a vender entorpecentes juntos.
Algo parecido pode ter ocorrido em São Paulo. Estudiosos como a socióloga Camila Nunes Dias sustentam que um dos fatores que trouxeram relativa paz ao Estado foi a unificação do comando do tráfico sob o PCC. A centralização acabou com as rixas entre criminosos e impôs um rígido código de conduta aos bandidos. Quem cria confusão é punido.
Sem o lucro fácil das drogas, o mais provável seria que as quadrilhas se dedicassem a crimes violentos, como assaltos e sequestros, e se lançassem em disputas intestinas.
Não podemos, porém, pensar apenas em primeiros momentos. O tráfico é a mais rentável das atividades criminosas, e as organizações que o praticam usam o dinheiro que acumulam para adquirir armas pesadas, corromper autoridades e infiltrar-se nas estruturas do Estado. Em países como o México e a Colômbia, ameaçam a própria democracia.
A verdade é que não existe solução para o problema das drogas. Elas sempre existiram e sempre existirão, destruindo vidas no caminho. Não está ao alcance de legisladores mudar essa realidade bioquímica.
O que me faz pender para o lado da legalidade é a convicção filosófica de que existem limites para o poder de interferência do Estado sobre o cidadão. Como disse John Stuart Mill, "Sobre si mesmo, seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano".

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