quarta-feira, novembro 23, 2011

Férias frustradas - DENISE ROTHENBURG



CORREIO BRAZILIENSE - 23/11/11


Em janeiro, sem pressão dos congressistas, será a hora de a presidente mostrar quem manda. Se for Dilma a comandante, ela deve aproveitar para trocar as peças que apresentaram defeito ao longo deste ano. Se deixar quase tudo como está, o sinal de que se rendeu ao rame-rame da política estará dado.
Quem esperava sair de férias em janeiro, pode começar a mudar de ideia. Pelo menos para os que trabalham na Esplanada dos Ministérios. A intenção da presidente Dilma Rousseff é aproveitar o período para fazer mudanças na equipe. E isso não tem nada a ver com a pressão do PT para que ela libere logo o ministro da Educação, Fernando Haddad. Tampouco tem relação direta com o fato de ser, tradicionalmente, o mês em que muita gente aproveita para reorganizar a casa. 
Os motivos de Dilma para mudar o ministério apenas em janeiro são outros. Têm relação direta com o fato da calmaria de Brasília nesse período, leia-se o recesso do Legislativo e do Judiciário. Sem o barulho do Congresso, fica mais fácil mexer no ministério. Dilma poderá escolher sem ter, na porta do gabinete presidencial, a pressão dos partidos aliados e do próprio PT, que, vez por outra, espeta a presidente da República. 
Aquela história de criar um Ministério de Direitos Humanos, que iria reunir as secretarias de Políticas para as Mulheres e de Igualdade Racial está praticamente descartada. Afinal, onde Dilma iria colocar as correntes petistas? 
Embora as mudanças na equipe sejam mais pontuais do que as esperadas, na mesma época, Dilma pretende fazer as mudanças nas agências reguladoras. São seis cargos vagos, além da direção-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), de onde Haroldo Lima sai em dezembro deste ano. Tem cadeira nas agências da Saúde, na de Transportes Terrestres e até na Ancine. 
Se Dilma cumprir o que tem dito a alguns amigos, é melhor a turma da Esplanada se preparar, porque janeiro será de muito trabalho. Diz-se nos gabinetes de Brasília que, quando há mudança de chefia, no caso, de ministros, ninguém sai de férias, aquela turma que só chega atrasada no trabalho começa a aparecer na hora certa, ficar até mais tarde e por aí vai. Neste janeiro, será uma boa hora para verificar se é assim mesmo. 
Os deputados é que detestam ter que passar por Brasília nessa época do ano. Afinal, é quando muitos aproveitam para desovar as milhas acumuladas nos programas das companhias aéreas e levar a família para um bom período à beira-mar, nas estações de esqui da Europa ou mesmo na Disney, sem as filas de julho. Eles não costumam sucumbir aos chamados, a não ser quando há eleição para presidente da Câmara e do Senado, o que não é o caso deste ano. 
Portanto, reza a tradição, não tem mesmo época melhor para Dilma empreender uma reforma ministerial. Vai testar funcionários e parlamentares. Os políticos talvez não se animem muito a passar pela capital da República. Afinal, eles não têm tido muito sucesso na hora de promover indicações para a presidente Dilma. Há alguns meses, o PT tentou emplacar ex-parlamentares em agências reguladoras. Apresentou, por exemplo, o nome de Cida Diogo, do Rio de Janeiro, para uma das agências da Saúde. Dilma não aceitou. 
A presidente não se incomoda com indicações feitas por políticos, mas quer que os indicados sejam técnicos e do setor em que pretendem trabalhar. Até agora, ela se deu muito bem perante a opinião pública por ter a imagem de quem não compactua com malfeitos dos outros e que não se rende ao rame-rame da política. Ainda é cedo para dizer, mas, apesar da manutenção do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, nada indica que essa visão que o eleitor tem da presidente tenha sofrido alguma alteração. 
Em janeiro, sem pressão dos congressistas, será a hora de a presidente mostrar quem manda. Se for Dilma a comandante, ela deve aproveitar para trocar as peças que apresentaram defeito ao longo deste ano. Se deixar quase tudo como está, o sinal de que se rendeu ao rame-rame da política estará dado. O fato de ter praticamente desistido de enxugar a máquina pública para abrigar as tendências do PT é preocupante. Afinal, o número de ministérios não pode ser medido em função das acomodações partidárias e sim em razão da disponibilidade de recursos e das necessidades do país. Mas a ideia de fazer em janeiro para fugir das pressões políticas é um alento. Vamos ver quem vai vencer no fim, se o interesse partidário ou o público. Se for o segundo, o contribuinte agradece. 

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