sábado, novembro 26, 2011
É ela quem demite - LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 26/11/11
Nem mesmo Carlos Lupi tinha convicção de que iria resistir - até quando disse que "para me tirar, só abatido à bala" -, mas acabou ficando por obra e graça de Dilma. Então, acabou a falsa polêmica de que a mídia é a responsável pela queda de seis ministros
“Sempre que um grupo de pessoas é ensinado a odiar outro grupo, inventa-se uma mentira para insuflar o ódio e justificar um complô”
Trecho do livro O complô, de Will Eisner
Estamos combinados: Carlos Lupi é o exemplo definitivo do poder da presidente Dilma Rousseff em demitir ministros. Apesar de óbvia, tal constatação é necessária para acabar de vez com a história de que a imprensa é a grande detentora da força em defenestrar autoridades na Esplanada.
Nem mesmo Lupi tinha convicção de que iria resistir — até quando disse que “para me tirar, só abatido à bala” —, mas acabou ficando, por obra e graça de Dilma. Então, acabou a falsa polêmica de que é a mídia a responsável pela reforma ministerial com menos de um ano de governo.
Se Dilma demitiu seis ministros, as responsabilidades e as ações foram dela. Os jornais e as revistas apenas noticiaram as irregularidades — ou, pelo menos, no caso de Nelson Jobim, divulgaram a insatisfação do então titular da Defesa com colegas de governo e a simpatia demasiada pelos tucanos.
As denúncias contra Lupi não são mais ou menos graves do que as que envolveram os outros cinco ex-ministros — na conta, inclusive, pode ser incluído o resistente Mário Negromonte, das Cidades. Todas as suspeitas mostraram favorecimentos ou aparelhamento nas respectivas pastas.
A imprensa, até aí, fez o papel de apresentar e apurar as denúncias. Mas não, não vou ficar aqui a relembrar casos. É o trabalho de repórteres e editores investigar e apresentar a notícia da melhor forma — leia-se com equilíbrio e sem leviandades. E não me refiro aqui a opiniões parciais das reportagens.
Tais análises, em parte das vezes, são feitas por pessoas ligadas a grupos políticos, que valorizam ou desmerecem reportagens num grau que podem deturpá-las, esquentando-as ou esfriando-as além da conta. Opiniões são importantes, mas, como se sabe, não são reportagens com apuração.
Sanha
Atribuir à imprensa sanhas acusatórias e denuncismos é uma trapaça ideológica, que acabou cristalizada por dois motivos: a insatisfação de petistas com a “faxina” de Dilma e a truculência de aliados fanáticos contrários a qualquer notícia negativa em relação ao governo federal.
No caso do incômodo dos petistas, a lógica é de que todos os ministros demitidos por Dilma faziam parte do governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quanto à truculência, quando se apoia um lado, o outro está sempre equivocado e passa a ser visto como inimigo. Nada mais falso.
Os jornais erram, mas não se orgulham disso — ou pelo menos não deveriam. E, é verdade, existe uma disputa entre repórteres pela notícia, mas isso não pode ser confundido com uma simples guerra de irresponsáveis, que apontam armas para inocentes. De novo, quem tirou os ministros foi Dilma.
E por que a presidente agora mudou o rumo e, mesmo com as denúncias contra Lupi, mantém o pedetista na Esplanada — pelo menos por ora? Por um simples motivo: preferiu deixar o ministro ali depois de avaliar os pontos negativos e positivos de outra demissão na equipe antes de janeiro de 2012.
Entre esses motivos está o fato de que, ao preservar Lupi, os demais ministros ficariam imunes dos ataques da imprensa, afinal o pedetista estaria mesmo como a bola da vez. Com as novas denúncias contra Montenegro, porém, a estratégia se mostrou frágil. De qualquer forma, foi uma tentativa.
Aqui, as ações do Planalto são o que menos importa. Está nas regras o direito à defesa. Mas, nesse jogo, o personagem que define o futuro das peças — no caso, os ministros — é a presidente Dilma. A responsabilidade pelas quedas e manutenção é dela. Nunca de repórteres, por melhores que sejam.
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