domingo, novembro 27, 2011
Corda bamba - UGO GIORGETTI
O Estado de S.Paulo - 27/11/11
O Corinthians deve ganhar este Campeonato Brasileiro. Não vou torcer por isso, mas não posso deixar de torcer pelo Tite. O que no fundo é a mesma coisa, porque se o Corinthians realmente ganhar o torneio foi porque sua diretoria, num lance extremamente inteligente, firme e clarividente, bancou o Tite depois daquele fiasco na Libertadores. Foi uma atitude exemplar reconhecendo que a culpa não é sempre do treinador. Deu no que estamos vendo. Com um time apenas bom, sem nenhum jogador excepcional, Tite leva o time às portas do título.
Na minha opinião Tite, com título ou sem, é o grande treinador deste campeonato pela maneira como enfrentou as contestações e os contestadores que não param de ressurgir à primeira derrota. O segundo melhor treinador do campeonato é o Caio Junior. Pegou um Botafogo menos que médio, com vários jogadores dispensados de outros clubes, para muitos candidato ao rebaixamento no início do campeonato e, pouco a pouco, foi acertando o time, levando-o para um inesperado lugar na classificação.
Iludida pela colocação e por algumas convocações sempre estranhas de Mano Menezes, a diretoria do Botafogo começou a ver o que não existe. Talvez a torcida também. E começaram a exigir não apenas uma colocação digna, que é tudo o que o time do Botafogo merece, mas o título, sem ver que o time estava, para usar uma expressão do saudoso Mario Moraes, "jogando o que não sabe". E, quando reveses chegaram faltando três jogos para o final demitiram Caio Junior. Talvez se olhassem a tabela veriam mais claramente o erro que cometeram.
Os três times que disputam o título são dirigidos por treinadores que lá estão desde o inicio do campeonato, considerando-se que Abel Braga já estava contratado pelo Fluminense e só aguardava a data prevista para assumir o time. Corinthians, Vasco e Fluminense têm treinadores com retaguarda na diretoria e isso a meu ver explica a colocação na tabela. É muito difícil treinadores aparecerem no Brasil e ganharem destaque. Quase todos os times são iguais no procedimento que adotam com os técnicos e a atitude do Botafogo, longe de ser exceção, é a regra. Os exemplos são inúmeros.
Cuca, Adilson Batista, Silas, Carpegiani, Caio Jr, Jorginho, Dorival Jr, e mesmo Tite, já foram ou são alvo de injustiças, e vêm suas carreiras frequentemente dificultadas por dirigentes assustados e que "têm que fazer alguma coisa".
O Atlético Mineiro trocou Dorival Jr. por Cuca. Progrediu muito pouco. Cuca por sua vez foi vítima de uma das maiores injustiças que jamais vi, quando tirou o Fluminense praticamente da Série B e, depois de alguns maus resultados foi demitido de maneira indigna. Dorival Jr. foi demitido do Galo e acertou o time do Internacional. Resta saber o que espera a torcida e a diretoria do Inter. Porque todo clube se julga muito melhor que o treinador.
O treinador chega, não com a obrigação de fazer um bom trabalho, mas de realizar os sonhos de grandeza, às vezes tresloucados, de dirigentes e torcedores. Por isso no Brasil temos um clubinho seleto de treinadores acima de toda e qualquer crítica: são três, talvez quatro. Talvez. E noticia-se com escândalo quanto ganham. Fazem muito bem. Fosse eu pediria até mais. Porque conseguiram um feito quase impossível. Transpor a tremenda barreira estabelecida pelo clube e também, infelizmente, pela imprensa, por nós.
É comum a análise de resultados depois dos jogos. Acho que se a critica é um dever, é preciso, ao mesmo tempo, tomar muito cuidado. Fulano mexeu mal, beltrano substituiu errado, o outro agiu na hora errada. É fácil dizer isso depois da partida, quando é conhecido o resultado e não pode ser mudado.
Acho que pelo menos o benefício da dúvida deveria ser concedido mais frequentemente aos treinadores. Uma substituição pode ser boa e não dar resultado, isto é, virar o jogo. Gosto muito mais quando a opinião é dada no decorrer da partida, muitas vezes antes das substituições, como fazem Neto e Müller. Aí sim me agrada, porque correm os mesmos riscos dos treinadores e, como eles, dão a cara pra bater.
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