terça-feira, novembro 15, 2011

CELSO MING - Alívio no crédito


Alívio no crédito
CELSO MING
O ESTADÃO - 15/11/11

No início da noite de sexta-feira, o Banco Central tomou algumas medidas com intenção de empurrar o crédito. São decisões não esclarecidas, na contramão de justificativas anteriores.

Em termos práticos, o Banco Central aliviou exigências que compunham pacote que, no final de 2010, foi baixado para explicitamente eliminar riscos excessivos na distribuição de crédito pelos bancos. Assim, foram chamadas de medidas macroprudenciais.

Ou seja, naquele momento, essas providências não vieram para conter o consumo, embora pudessem ter colateralmente algo desse efeito. Elas foram adotadas para coibir a inadimplência dos tomadores e impor mais cautela na concessão de financiamentos por parte dos bancos - que, na ocasião, se dedicavam a ampliar agressivamente sua própria fatia no mercado de crédito.

Mais ainda, ao longo destes meses, autoridades do Banco Central avisaram que a expansão do crédito em 2011 não deveria ser maior do que de 15%. No entanto, o crédito acumulado em 12 meses tem crescido acima disso, perto dos 20%. As últimas informações do Banco Central apontam expansão de 19,6%, em 12 meses até setembro, como se vê no gráfico.

Informação mais recente divulgada nesta segunda-feira não é do Banco Central, mas da Serasa Experian: retração de 4,6% na procura do crédito em outubro ante setembro. No entanto, procura é bem diferente de concessão de crédito. Em setembro, por exemplo, o Banco Central anunciou elevação de 2,1% nesse item, enquanto a Serasa Experian registrou recuo de 10,7%.

Mas se, depois disso, uma eventual retração do crédito passou a preocupar o governo, não ficou explicado por que decisões com propósito macroprudencial foram revertidas de repente, como se não fossem mais necessárias, apesar da crescente inadimplência geral do sistema (considerados atrasos superiores a 90 dias nos pagamentos contratuais). Em dezembro de 2010, esse indicador era 3,5% entre pessoas jurídicas e 5,7% entre pessoas físicas. Em setembro, avançou para 5,3% e 6,8%, respectivamente.

A contenção da procura de crédito é compreensível. O próprio governo não para de alertar para o enorme agravamento da crise econômica global. E, sob nuvens tão carregadas, é natural que o tomador de crédito esteja mais retraído.

Pode-se perguntar, também, se um dos principais segmentos de procura de crédito pelo consumidor, o financiamento de automóveis, não está em retração e é, de novo, o setor que o governo quer atender diante do aumento dos estoques. Em todo o caso, se as vendas de veículos estão caindo, não é pela contração do crédito, mas porque, nos últimos meses, o consumidor foi induzido a antecipar compras que hoje não pretende retomar.

Independentemente da falta de explicações do Banco Central, o relaxamento das medidas macroprudenciais acontece num ambiente de progressiva redução dos juros. Se a ideia do Banco Central foi reativar a demanda com nova rodada de expansão de crédito e se esse objetivo for alcançado, os juros poderão cair menos do que o governo gostaria.

CONFIRA

Discussão acatada. Foi com certa dose de orgulho que o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, anunciou nesta segunda que a Organização Mundial do Comércio (OMC) aceitou discutir o dumping cambial como prática desleal de comércio e, como tal, artifício passível de retaliação.

Saiu daqui. Foi o governo brasileiro que solicitou esse debate, depois de Estados Unidos e Japão intensificarem a desvalorização de suas moedas com o objetivo de reativar exportações.

Vai dar em algo? No entanto, uma coisa é admitir a abertura de ponderações sobre um tema. E outra, bem diferente, é obter um mínimo de consenso. Os Estados Unidos, por exemplo, há anos denunciam, sem sucesso, a política de excessiva desvalorização cambial operada pela China. Afora isso, ao contrário do que às vezes parece, o Brasil tem grande interesse nas fortes exportações chinesas, à medida que garantem exportações de suas matérias-primas.

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